Anunciado cerca de um ano atrás, Darksiders: Genesis é o novo projeto da THQ Nordic em parceria com a Airship Syndicate. Diferente dos títulos habituais, esta nova proposta da franquia aborda um estilo diferente do costumeiro hack n’ slash em terceira pessoa. Tendo por base os eventos que antecedem o primeiro game da saga, Genesis nos coloca no papel de Guerra – mais uma vez – e o ilustre Strife, sendo este o último Cavaleiro do Apocalipse que ainda não recebeu seu game próprio.
Em suma, Darksiders: Genesis visa expandir a história que já conhecemos, contando um pouco mais da trajetória dos Cavaleiros do Apocalipse após a guerra contra sua própria raça. Inclusive, o game é um prato cheio de referências quanto ao universo da THQ Nordic, e em alguns pontos, complementa parte da narrativa abordada nos jogos subsequentes.
Sua história coincide com tudo que ouvimos anteriormente – onde Guerra e Strife de fato causaram um massacre sem igual. Embora o game traga diversos elementos característicos da franquia, existem vários pontos onde Genesis se diferencia dos demais. A começar – evidentemente – pela própria química que existe entre os dois Cavaleiros do Apocalipse. Enquanto presenciamos Guerra sempre “carrancudo” e pouco apto à conversa, Strife faz o tipo brincalhão, onde sempre há espaço para uma nova anedota.
É um tanto difícil abordar a história sem essencialmente comentar alguns spoilers, mas no geral, é mais do que visível as grandes conexões que o game apresenta. Inclusive, vários personagens que já conhecemos – como Vulgrim e até mesmo Samael – estão presentes durante a jornada.
Um formato diferente que veio bem a calhar
O grande destaque de Darksiders: Genesis fica por conta da mudança súbita no estilo do jogo. Onde antes desfrutávamos de um hack n’ slash frenético, agora temos uma espécie de shooter/slasher top down, com visão isométrica. Como fã de Darksiders, devo dizer que a mudança pode parecer estranha à primeira vista, mas com o tempo, parece que a franquia poderia facilmente seguir o rumo deste título.
E isso porque, graças ao trabalho exímio da Airship Syndicate, mantém recursos fieis à fórmula de Darksiders. Apesar das drásticas mudanças em torno do gameplay, o título não descarta sua raiz em termos de mecânicas. Por consequência, se torna difícil notar diferenças entre o formato isométrico e o estilo costumeiro, já que a jogabilidade funciona tão bem quanto nos jogos anteriores.
O fato de ser possível alternar entre Guerra e Strife expande ainda mais as possibilidades de jogo. Seja em torno dos enigmas ou até mesmo nos confrontos, o jogador se beneficia de uma troca constante entre um Cavaleiro e outro. No fim das contas, tanto as mecânicas de Strife quanto Guerra possuem certas semelhanças, e a única diferença notória se trata do tipo de ataque que cada um dispõe.
Enquanto Guerra pode aniquilar hordas de inimigos no combate corpo-a-corpo, as pistolas de Strife são um ótimo adereço para manter os inimigos distantes – e durante um ocasional “bullet hell“, isso pode facilitar a busca por almas que recuperam sua vida.
Em função de comparação, é como se Guerra fosse um Bárbaro ou Guerreiro em Diablo. Enquanto isso, Strife seria um Caçador de Demônios ou similar.
Inclusive, aqueles que conhecem a obra Ruiner – da Reikon Games – sentirão certas semelhanças entre o título e a jogabilidade de Strife.
Os acertos de Darksiders transmitidos em outra perspectiva
Felizmente, Darksiders: Genesis implementa muito da fórmula original, e isso corresponde com as expectativas.
O game traz um pacote completo: composto por cenários enormes, segredos para serem descobertos, chefões misteriosos e muito mais. Sendo assim, a Airship Syndicate conseguiu reproduzir com maestria boa parte dos elementos que tornaram Darksiders tão bem quisto.
O mesmo pode ser dito quanto as batalhas que envolvem chefões colossais – e outros, nem tanto. Embora o jogador tenha à disposição um ótimo leque de habilidades, ainda assim, Darksiders: Genesis se mostra mais do que desafiador. Inclusive, existem confrontos onde é necessário interagir com o cenário e prestar atenção na movimentação dos demônios ao redor. Desta forma, o combate ocorre de forma frenética, mas ainda é possível compreender e analisar o comportamento de seus adversários.
Como um adendo ao título, a Airship também trouxe de volta as características execuções dos personagens, permitindo a exibição de animações interessantes. Caso o jogador opte por executar um inimigo com Guerra, terá uma animação específica, enquanto Strife realiza outro tipo de movimento para aniquilar seu oponente. Este recurso se estende desde os inimigos mais simples até os chefões, e se usado de forma estratégia, uma execução pode salvar seu personagem de uma morte iminente.
E para tornar seus Cavaleiros mais poderosos, Genesis traz um sistema inédito, composto pela essência dos inimigos derrotados.
Quando um adversário é eliminado e o mesmo deixa um orbe no chão, este item serve para melhorar os atributos de Guerra e Strife respectivamente. Através de um menu dedicado, é possível escolher qual dos dois levará vantagem – ou então, é possível deixa-los em equilíbrio, organizando seus orbes da melhor forma.
Para o decorrer da jornada, aumentar seu nível é algo crucial, e assim a exploração se mostra eficaz, permitindo transitar pelo mapa em busca de almas e experiência.
Mas Darksiders: Genesis também peca em alguns aspectos
Infelizmente, nem tudo é um mar de rosas, e Darksiders: Genesis também possui seus defeitos.
Por exemplo, a Airship pode ter adquirido boa parte dos bons elementos da franquia, mas ao mesmo tempo, herdou um grande problema com relação ao mapa. Embora seja possível visualizar a área em que você está, não há qualquer sinal do jogador que ofereça uma posição definitiva. Além disso, é extremamente fácil se perder em meio a tantos locais para explorar, e infelizmente, o guia de missões acaba deixando à desejar se tratando de objetivos específicos.
Neste caso, posso citar uma das situações que ocorreu enquanto desbravei a campanha. Após pouco mais de 8 horas de jogo, me deparei com um mausoléu onde eu deveria encontrar meios para liberar um portão trancado. Este foi um dos momentos de maior frustração que eu tive com o game, devido a falta de informações sobre o que eu precisava localizar. Após pouco mais de 1 hora explorando o mapa, descobri que meu objetivo encontrava-se em duas salas secretas, que não foram mencionadas pelo objetivo, e sequer apareciam como um local explorável.
Infelizmente nesse quesito, o mapa de grandes proporções não age em prol do jogador, resultando em buscas por algo que pode estar mais próximo do que aparenta.
Outro aspecto que pode decepcionar o jogador é a falta de cutscenes devidamente apresentáveis – tais como o vídeo de introdução. Ao se deparar com a abertura (digna de uma animação da Blizzard), é de se esperar que veremos outras cenas como esta. Infelizmente, este não é o caso, e toda a questão de cutscenes se mantém com o tradicional uso do formato em quadrinhos.
Isso acaba se tornando um balde de água fria, considerando que a adição de mais cenas como a abertura poderia resultar em momentos icônicos e memoráveis.
Em função de outros aspectos, Darksiders também peca no quesito de bugs e problemas de performance. Por vezes presenciei meu personagem “congelado” no mapa durante um confronto, ou então, ambos os cavaleiros conseguiam planar sem utilizar suas asas – que ressurgiam após uma leve pausa.
Darksiders: Genesis faz jus ao nome?
Para o bem ou para o mal, Darksiders: Genesis não se distancia de outros jogos da franquia. Embora seja um game com formato isométrico, o título da Airship Syndicate reproduz aquilo que esperamos da franquia em termos de jogabilidade e história.
É importante ressaltar que o estúdio criou algumas soluções criativas para o projeto não cair na “mesmice” e sofrer comparações errôneas. Como exemplo disso, o game apresenta diversos momentos onde é necessário transitar de uma área para outra solucionando puzzles e utilizando alguns dos atributos que os Cavaleiros possuem. No fim das contas, é como se Darksiders: Genesis soasse tão familiar quanto os títulos numerados que já jogamos.
Embora traga alguns problemas também característicos da franquia, Genesis consegue inovar ao ponto da própria THQ ter liberdade para considerar outro jogo neste mesmo formato. Sua ação frenética pode agradar até mesmo quem não conhece a franquia, enquanto o estilo isométrico propõe algo diferente para aqueles que já acompanham os Cavaleiros do Apocalipse. A união de uma história coerente, personagens interessantes, jogabilidade divertida – e as piadas infames de Strife – resultam em uma experiência proveitosa para novos jogadores. E por fim, Darksiders: Genesis atribui ainda mais valor para um futuro título focado no 4º Cavaleiro.
Resumo para os preguiçosos
Em resumo, Darksiders: Genesis pode ser considerado um jogo digno dos fãs, e bom o suficiente para atrair novos jogadores. Embora tenha alguns problemas com relação a exploração e o mapa confuso, ainda é possível desfrutar de uma jornada única com direito a dois personagens de peso. Além disso, Genesis também expande a trama de Darksiders, e inclui alguns fatores que podem se tornar importantes no futuro da franquia.
Mesmo sendo um jogo isométrico, ele pouco se assemelha à títulos como Diablo, e se agarra aos elementos que auxiliaram na popularização de Darksiders.
Neste caso, se você gostou dos jogos anteriores, certamente se sentirá à vontade com Genesis.
Prós
- Combate frenético
- Jogabilidade digna de um Hack N’ Slash
- Exploração aflorada
- Cenários exuberantes que expandem o universo da franquia
Contras
- Mapa confuso
- Objetivos que carecem de informação
- Falta de uma abordagem mais ampla quanto aos personagens secundários
- Falta de cutscenes fora do formato em quadrinhos