Vivemos numa época em que a indústria do vídeogame intenta, quase que constantemente, em trazer grandes títulos do passado de volta a vida. Em alguns casos trata-se somente de uma repaginada marota nos gráficos aqui, uma refinada nos controles acolá; mas existem também aquelas situações mais ambiciosas onde um grande título do passado e trazido de volta e totalmente ressignificado.
A Bethesda conseguiu fazer um bom trabalho com Doom e Wolfenstein, dois grandes nomes que formaram os pilares do que se conhece como FPS hoje em dia. Enquanto Doom vai conseguir sua primeira – e aguardada sequência ainda este ano, Wolfenstein acaba de receber seu primeiro spin-off, Wolfenstein: Youngblood, baseado nas filhas gêmeas de B.J Blazkowicz, e que aparentemente, ninguém pediu.
Wolfenstein: Youngblood é um jogo interessante, que consegue misturar os melhores e os piores elementos da série em um produto único, que tinha tudo pra ser original se não fosse os incontáveis elementos de gameplay repetitivos, missões secundárias superficiais e uma tentativa bem esquisita de seguir alguns aspectos de Destiny – os que não deram muito certo, infelizmente.
Pra começar, vamos falar do enredo. Youngblood começa alguns anos depois de Wolfenstein 2, mostrando um B.J Blazkowicz mais velho e suas duas filhas adolescentes. O início do game realmente te faz pensar que as gêmeas tem personalidade de sobra, mas só pra te decepcionar mais tarde com uma série de piadas sem graça e situações constrangedoras que fazem o papel exatamente oposto do que se propõem.
Seguindo a trama, um dia as gêmeas descobrem que Blazkowics sumiu e decidem investigar o caso junto com Abby, filha de Norman Caldwell e Grace Walker. Após uma curtíssima investigação, as três resolvem inciar a busca na cidade de Paris, a fim de descobrir a relação entre o “Homem que Matou Hitler” e um tal de “Laboratório X”.
Ok, as mecânicas de jogo são explicadas, você entende que no final das contas as diferenças entre as duas irmãs são em sua grande maioria estéticas – o que em teoria dá mais equilíbrio ao multiplayer, e nos são apresentadas enfim as Power Suits. Logo na primeira missão você se dá conta de que o objetivo do game não é só mais matar a maior quantidade possível de nazistas da tela, mas sim matar nazistas da forma mais eficiente possível.
A mecânica de combate é de fato divertida. Os inimigos são divididos em tiers e você precisa se virar para aprender qual tipo de arma é mais eficiente para cada inimigo. Além disso, é possível investir dinheiro ganho dentro do jogo na personalização de suas armas, do que dá um toque pessoal ao gameplay e permite adaptar-se à algumas situações de combate.
Conforme você avança no jogo, descobre que existem três raids importantes que devem ser realizadas para enfim encontrar o pai das garotas. A base da resistência tem como sede as famosas Catacumbas Parisienses, e te permitem explorar o cenário através das ruínas de metro. Mas antes sair por ai completando as quests principais, o jogo praticamente te obriga a fazer uma série de missões secundárias para ganhar experiência e XP, o que não é de maneira alguma ruim.
Ruim mesmo é dedicar tanto tempo nestas tarefas para ter a sensação de que elas simplesmente não possuem serventia nenhuma a não ser te dar a falsa sensação de que o jogo é maior do que realmente é. É claro que ao final de cada uma o jogador é recompensado, mas a falta de quests mais profundas e de tarefas que exijam uma maior exploração do cenário dão a impressão de que Youngblood repete-se mais do que deveria, desperdiçando um grande potencial de aproveitar o cenário ricamente construído e, bizarramente bonito para uma cidade destruída.
O lore do jogo também te faz ficar interessado em seguir em frente. A Paris “Alemã” dos anos 80 tem sua própria mitologia, com locais que apresentam sua própria história e tudo mais. Mas, infelizmente, essa é outra oportunidade desperdiçada já que dificilmente você encontrará um inimigo “diferente” dos demais visitando estes locais.
Aqui eu peço licença para explicar exatamente o que quero dizer. Em alguns momentos, o jogo me passou a impressão de que determinadas quests secundárias se aprofundariam numa trama mais bem trabalhada, com a possibilidade enfrentamento de um “mini-boss” ou algo do tipo. Mas não. A grande maioria delas se resume em andar do ponto A ao B, matar tudo que vê pelo caminho e voltar. Algumas até liberam um novo NPC na base da resistência, que acaba tendo como serventia… te dar novas quests similares.
O gameplay foi claramente desenvolvido para ser aproveitado em multiplayer, mas funciona perfeitamente se jogado sozinho também. Algumas ações exigem a colaboração das duas irmãs para permitir o avanço da dupla, mas nenhuma delas é realmente difícil ou desafiador.
Ao avançar no jogo e liberar as melhorias das armas, combater nazistas começa a ficar cada vez mais interessante. As mecânicas de combate são realmente divertidas e até o sistema de vida compartilhadas é aceitável, por mais estranho que pareça. Alguns adversários mais fortes exigem estratégia, o que faz o combate de Youngblood ficar ainda mais interessante do que nos jogos anteriores. O problema de fato é sua repetitividade excessiva, que desaponta qualquer jogador que espere um gameplay mais profundo e com mais objetivo.
No fim, fiquei confuso com a sensação que tive ao terminar Youngblood: não sabia se o fato da campanha principal ser tão curta me agradava, ou me libertava. Acredito que de certa forma, fiquei aguardando uma maior evolução do gameplay ou que pelo menos a história fosse melhor trabalhada e desenvolvida. Eis que então, nesse momento fui surpreendido por uma guinada impressionante onde o game deixa de ser um FPS comum para se tornar uma espécie de “Destiny de Bethesda”.
Após o fim da campanha, o jogador pode refazer algumas quests e até se aventurar em outras inéditas. O intuito do game é, claramente, oferecer mais possibilidades ao jogador. Mas enquanto em Destiny e similares as aventuras são recompensadas com itens, dinheiro e recompensa, em Youngblood a falta de loot dá a impressão de que a recompensa deve ser a jornada em si, o que não é tão cativante já que as próprias missões são tão repetitivas.
Wolfenstein: Youngblood é um produto da atual Bethesda, um game sem muita personalidade que tenta usar a desculpa da “liberadade do jogador” para oferecer conteúdo superficial e repetitivo, que dificilmente vá constar nas listas de melhores do ano, mesmo oferecendo sólidas mecânicas de combate.
Review elaborado com uma cópia do jogo para PS4 Pro fornecida pela Bethesda.





