Quando The Last of Us Part 2 foi anunciado pela Naughty Dog, eu não tinha certeza se o jogo seria uma boa ideia, afinal de contas, o primeiro game terminava de um jeito que não dava muita margem a uma continuação, e parar por ali talvez fosse a melhor ideia. Com a chegada do segundo jogo, e a oportunidade de fazer o review dele, eu entendi perfeitamente porque a história continua, e qual a mensagem que ela traz. Hoje, falaremos sobre como este é um jogo necessário.
Em The Last of Us Part 2, você controla novamente Ellie, a sobrevivente imune à infecção, mas não apenas ela. Além de Ellie, você também contra Abby, uma nova personagem com fortes ligações à trama do primeiro jogo. No game, a história das duas se cruza, e, como os trailers revelaram, Ellie quer vingança. Cabe agora a você levar essa vingança a cabo.
Apesar de contar com uma premissa bastante simples para começar, The Last of Us Part 2 conta com uma história que vai ficando cada vez mais profunda, e cada vez mais provocando sentimentos conflitantes dentro de você. A primeira metade do jogo é bastante direta, e você talvez fique até pensando que não havia necessidade deste jogo ter sido desenvolvido, mas tudo acaba mudando no segundo ato, e se você tiver um pouquinho de maturidade que seja, você vai percebendo como esta é uma história onde ninguém ganha nada, exatamente como uma vingança costuma ser.
É complicado colocar em palavras o quão profunda é a história do jogo sem entregar os principais acontecimentos dela, mas ela está facilmente em uma das experiências mais únicas que eu já joguei na vida. Ninguém é perfeito dentro do jogo, assim como no primeiro, mas estes defeitos e motivações são o que tornam cada um dos personagens únicos dentro desta jornada, e o desfecho dela certamente vai impactar você.
Diferente do primeiro The Last of Us, onde a história tem sua profundidade, mas que não parece tão original assim em alguns pontos, o novo jogo aborda um milhão de questões que estão muito longe de ser preto no branco e tão diretas assim. Se você achou o final do jogo ambíguo moralmente, prepare-se, pois este jogo faz aquele acontecimento parecer fichinha perto do que está pela frente. Há diversos momentos em que você será pego de surpresa pelo que vai acontecer, e que vão mudar constantemente a opinião que você tem sobre este ou aquele personagem.
Vale ressaltar ainda que este é um jogo cheio de flashbacks que não acontece em ordem. Em vários momentos você vai jogar uma parte do presente, voltar alguns anos no passado, seja em momentos paralelos ao primeiro jogo, seja em momentos entre os 5 anos que se passaram entre ele esta continuação. Estes flashbacks são certamente algumas das melhores partes do jogo, ajudando a desenvolver os personagens principais da história e mostrar como, dentro do seu próprio mundo, cada um tem a justificativa de fazer o que quer fazer.
Boa parte de The Last of Us Part 2 se passa em Seattle. Em termos de gameplay, o jogo evoluiu consideravelmente em relação ao primeiro título da franquia, lançado lá em 2013. É muito mais fácil trocar tiros com os adversários e mirar neles, mas exatamente por causa disso, os inimigos vivos estão mais inteligentes e vão aumentar o seu desafio.
Durante as jornadas de Ellie e Abby, você irá encontrar três grupos de sobreviventes, os Lobos, um grupo militar que derrotou o governo americano naquela região do país, os Cicatrizes (ou serafitas, como eles preferem ser chamados) e um terceiro grupo chamado de Cascavéis. Cada grupo tem suas características e armamentos próprios, ou seja, usar a mesma abordagem com todos não é uma boa ideia.
Além deles, é claro, você também encontra os infectados, que apresentam os corredores, estaladores e baiacus do primeiro jogo, além de dois tipos novos de infectados que se somam a esses e tornam as coisas ainda mais difíceis para você. Apesar de não serem tão frequentes assim, os encontros contra eles são bem tensos em alguns momentos, e você certamente vai também ter que usar a cabeça para se virar e não ser devorado pelos inimigos.
Uma grande diferença no combate de The Last of Us Part 2 em relação ao primeiro jogo é que ele volta e meia te coloca em situações onde o melhor a se fazer não é enfrentar o inimigo de cara, é sair correndo mesmo. O stealth inicial, que logo dá vez ao combate direto continua aqui, mas nem sempre matar todos os inimigos e limpar uma área é a melhor ideia disponível. Dessa forma, em vários momentos é melhor você tentar atrair os inimigos para armadilhas e ir separando eles para resolver o problema aos poucos do que gastar os seus escassos recursos como balas e kits de cura ou até mesmo sair correndo pela própria vida.
Vale ressaltar ainda que cada personagem tem o seu estilo de combate e armamento próprio durante o jogo. Ellie por ser uma jovem magra e baixa, é mais ágil, e menos indicada para enfrentar infectados e soldados de frente. Já Abby, é uma mulher musculosa e alta, e o estilo de jogo dela lembra bem mais o que você usava com Joel no primeiro game, ainda que ela tenha alguns golpes que certamente deixariam o antigo protagonista com inveja.
Outro ponto importante a ser ressaltado é na quantidade de inimigos em que você enfrenta. É comum ter que dar cabo de grupos de 15 ou 20 inimigos por vez, colocando assim pressão constante no jogador e fazendo você pensar duas vezes em começar um enfrentamento frontal, já que provavelmente vai chover bala ou infectado de tudo que é lado. Além disso, uma das coisas mais legais desse jogo é que nem sempre ele avisa quando o combate vai começar, e você pode acabar sendo surpreendido por inimigos assim como você faz com eles.
No geral, dá para classificar o combate de The Last of Us Part 2 como uma evolução do primeiro jogo, e uma correção da maioria dos problemas e envelhecimentos que ele veio a sofrer após estes quase sete anos de lançamento. Um ponto a ressaltar aqui é que os infectados acabam não aparecendo tanto assim no jogo. Eu realmente senti que poderíamos ter mais encontros com eles, mas pode ser simplesmente pelo fato da humanidade finalmente estar conseguindo contra-atacar a infecção e eles estarem diminuindo de número.
Fora o combate, a jogabilidade de The Last of Us Part 2 mudou pouco em relação à do primeiro jogo. Ele se alterna entre combate e exploração dos cenários, com recolhimento de recursos, procura de colecionáveis e rotas para atravessar os diferentes cenários em que você navega. As novidades aqui são algumas mecânicas de pulo que parecem mais “Uncharted sem a agilidade sobreumana de Nathan Drake”, além de uma área no jogo que é uma espécie de sandbox onde você tem uma rota principal para seguir, mas se preferir, é possível dar uma explorada para coletar mais recursos e alguns upgrades que farão toda a diferença mais pra frente.
Além da navegação vertical e também da tradicional do primeiro jogo da franquia, The Last of Us Part 2 ainda conta com algumas partes aquáticas, agora que Ellie aprendeu a nadar. Estas ainda contam com alguns segmentos usando barcos, mas nada que seja realmente muito extenso, é mais ir do ponto A ao B ou tentar evitar grupos de inimigos que estariam em vantagem caso um tiroteio começasse.
Outros pontos que retornam e são um pouco expandidos neste jogo são as mecânicas de crafting do primeiro jogo. Aqui, você continua fabricando kits de primeiros socorros, bombas e assim por diante. Cada personagem tem seus itens únicos que podem ser criados, além de características úncias de sobrevivência que podem ser melhoradas com os suplementos que você encontra no jogo.
Uma modificação, principalmente da primeira metade do game, são os cofres e portões com senha que você vai encontrando por aí. Diferente do primeiro jogo, você precisa digitar (e consequentemente lembrar) a senha para poder prosseguir, ou seja, se você encontrar um guia com as senhas, por exemplo, não é necessariamente preciso encontrá-las, mas se você está distraído, como eu, ou tem várias senhas em um papel para tentar, você fatalmente vai acabar tendo que chutar qual a certa até acertar.
Graficamente, The Last of Us Part 2 é um jogo extremamente belo. As animações dos personagens, mesmo em diálogos durante a sua aventura, ou seja, fora de cutscenes, são realmente impressionantes. Cada personagem tem sua linguagem corporal e expressões únicas, e o que a Naughty Dog fez aqui é simplesmente estupendo.
Os cenários do jogo também estão muito bonitos e coloridos. Os ambientes externos evoluíram bastante em relação ao primeiro jogo, já os internos se parecem com os do primeiro jogo, e pouco mudaram nesse sentido. Há algumas partes com novidades de navegação, como andar se arrastando, por exemplo, mas as mudanças aqui são muito mais incrementais do que revolucionárias.
A trilha sonora de The Last of Us Part 2 é outro ponto extremamente forte do jogo. Por possuir uma história emocional, o jogo não poderia contar com uma trilha fraca, e felizmente as músicas das cutscenes realmente ajudam a criar esse clima. Há diversas composições que são apenas um violão tocando, e que fazem toda a diferença nas cenas em que elas acontecem. Por causa dessa trilha sonora, é de suma importância você jogar com um fone de ouvido, para captar todos os sons do jogo.
https://www.youtube.com/watch?v=GAZUEv3UQIY
A dublagem do jogo é outro ponto que também merece destaque. Eu costumo jogar 100% dos meus jogos em inglês e foi assim nesta vez também. A performance de todos os atores de voz que participam do jogo está sem repreendimentos, principalmente nos protagonistas da história, como Joel, Ellie e Abby. Eu dei uma conferida na dublagem em português também para ver como ela estava, e apesar de boa, a minha recomendação seria que você jogasse o jogo com o áudio em inglês e as legendas em português, já que a Naughty Dog dá essa oportunidade ao jogador.
Mas e aí, The Last of Us Part 2 vale a pena?
The Last of Us Part 2 é a combinação perfeita de um enredo cheio de profundidade e que vai fazer você ficar pensando nele por um bom tempo após o final do game. Isto é aliado a um gameplay que sofreu uma evolução em relação ao seu antecessor e corrigiu a maioria dos problemas que faziam ele não estar à altura da história. O resultado disso é uma união que poderia ser chamada de “o melhor do cinema com o melhor do videogame”, algo que já foi tentado ser feito no passado, como em Death Stranding, mas que acabou não dando tão certo assim.
Enfim, este é um jogo especial, que mostra como a Naughty Dog é uma empresa com uma capacidade invejável de criar narrativas e histórias grandiosas, e que certamente vai entrar com força para a candidatura de melhor jogo da geração.
Review elaborado com uma cópia do jogo para PS4 Pro fornecida pela PlayStation do Brasil.
Resumo para os preguiçosos
The Last of Us Parte 2 é a combinação perfeita de um enredo cheio de profundidade e que vai fazer você ficar pensando nele por um bom tempo após o final do game. Isto é aliado a um gameplay que sofreu uma evolução em relação ao seu antecessor e corrigiu a maioria dos problemas que faziam ele não estar à altura da história. O resultado disso é uma união que poderia ser chamada de “o melhor do cinema com o melhor do videogame”, algo que já foi tentado ser feito no passado, como em Death Stranding, mas que acabou não dando tão certo assim.
Enfim, este é um jogo especial, que mostra como a Naughty Dog é uma empresa com uma capacidade invejável de criar narrativas e histórias grandiosas, e que certamente vai entrar com força para a candidatura de melhor jogo da geração. Assim como seu antecessor, ele poderia muito bem ser chamado de melhor jogo da geração, e isso não seria nenhuma injustiça com outros ou exagero com este. Recomendadíssimo.
Prós
- Diversas evoluções no gameplay que o tornam desafiante, divertido e viciante
- Uma história digna de Oscar dentro de um jogo de videogame
- Atuação impecável dos atores de voz
- Belíssimas animações e gráficos
- Trilha sonora emocional e que combina muito bem com o clima do jogo
Contras
- Há um momento que parece que o jogo vai acabar e não acaba e você pensa “ok, ele tá se alongando demais”, mas logo você entende o motivo dele. Inicialmente isso é meio estranho e pode causar fadiga no jogador.