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Oxenfree – Review

Temos ouvido muito ultimamente sobre desenvolvedores que deixam grandes publishers e vão para a concorrência ou abrem sua própria empresa e logo de cara anunciam um projeto bem bacana que já o coloca no radar de fãs da sua companhia anterior. O caso mais recente é o de Hideo Kojima que saiu da Konami e abriu sua própria empresa, que trabalha em conjunto com a Sony, mas há muitos outros “desertores” espalhados pelo mercado, como o pessoal da Deep End que está por trás do aguardado Perception, ou ex-desenvolvedores da Blizzard que anunciaram recentemente Broken, e mais alguns deles estão na Night School Studio, empresa que nos trouxe o belíssimo Oxenfree.

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Criado por ex-funcionários da Disney e Telltale, Oxenfree é uma aventura sobrenatural que une um ótimo roteiro e uma atmosfera de suspense com elementos já conhecidos dos jogos da Telltale como a seleção de falas e as escolhas que interferem diretamente no rumo do jogo que são aplicados com perfeição numa história que é centrada em um grupo de adolescentes.

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No jogo controlamos Alex, uma jovem que vai com seu meio-irmão Jonas, seu melhor amigo Ren e mais duas amigas (Nora e Clarissa) até Edward Island, uma ilha militar desativada apenas para se divertir. Durante uma das explorações pela ilha, Alex descobre a entrada para uma caverna e acidentalmente abre uma brecha espectral e desperta forças sobrenaturais. A partir daí já podemos imaginar o que acontece com a viagem super divertida dos jovens certo?

Mesmo com a introdução da história ter a cara padrão de filmes de terror adolescente, Oxenfree é muito mais do que isso e consegue ir além com a ajuda de um belíssimo roteiro e uma ótima construção de personagens. Aqui, cada personagem age, na maioria das vezes, como adolescente, sem pensar antes de falar algo estúpido ou que possa magoar o outro e colocando a aventura à frente da segurança ou bom-senso. No jogo podemos escolher as falas de Alex e é fácil perceber como o relacionamento dos personagens se desenvolvem de acordo com nossas escolhas. As conversas entre todos aqui são bem naturais e se identificam bastante com o vocabulário e o comportamento de adolescentes que mesmo imaturos e irresponsáveis, sabem que tem de lidar com seus problemas. Cada personagem tem seu humor e características próprias, o que faz com que suas ações e diálogos sejam diferentes, sempre respeitando o jeito de ser de cada um.

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Este sistema de escolha de falas, apesar de lembrar os jogos da Telltale, se diferencia bastante, e para um lado bom. Nos jogos da Telltale, geralmente nossas falas são introduzidas no momento certo, quando alguém te faz uma pergunta ou é sua vez de falar (exceto em meio a discussões), já em Oxenfree é comum nossas falas se sobreporem a de outro personagem que mal terminou de fazer sua pergunta ou a fez e já começou outro assunto, afinal, estamos falando de adolescentes, que adolescente consegue manter uma linha de diálogo apenas? – nem a gente do Critical Cast consegue. Aqui também temos a sensação de que as melhores opções de falas foram colocadas em cada cena, já que em games da Telltale eu quase sempre pensava “Eu não diria nada disso numa situação dessas!”

Vendo algumas das conquistas do Steam pude comprovar uma suspeita que eu já tinha: você pode ser o tipo de pessoa que quiser em Oxenfree. Ao contrário de outros jogos em que você termina sempre sendo a mesma pessoa, em Oxenfree você pode fazer com que Alex seja aquela que só quer ver o circo pegar fogo, e brigar com todo mundo, ou seja a amigona da vizinhança, assim elogiando e apartando brigas. Isso certamente interfere diretamente no andamento e no final do jogo, então é bom pensar bem antes de magoar alguém se não quiser andar por uma ilha infestada de espíritos malignos sozinho.

Para aqueles que se interessam por toda a história que um jogo pode fornecer, Oxenfree é um prato cheio. Temos várias companhias durante as caminhadas pela ilha, e cada uma delas tem uma coisa diferente para falar e fala sem parar. Eu mesmo parei diversas vezes na frente de um objetivo só para saber onde o diálogo dos personagens ia dar, principalmente porque na maioria das vezes eles mudam o rumo do jogo.

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Obviamente não vou largar spoilers aqui sobre a narrativa do jogo. O modo envolvente como ela se desenvolve nos faz sempre querer saber mais sobre o que realmente está acontecendo aqui, se aquilo que vimos é realmente real e se o que dissemos lá atrás irá interferir mais pra frente. A narrativa consegue ser surpreendente do começo ao fim, tanto que ela conseguiu chamar a atenção de Robert Kirkman – sim, o cara do The Walking Dead – que quer transformar o jogo em um filme.

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Eu como sou um cagão de nascença posso classificar Oxenfree como terror, mas a maioria dos jogadores encara o jogo apenas como suspense, ou melhor, terror psicológico, já que é isso que ele faz com perfeição. O terror psicológico funciona aqui por meio de efeitos no visual como chiados e troca de cores ou inversão da câmera. É muito bacana perceber que os desenvolvedores do gênero estão largando os jumpscares e utilizando elementos que combinem com o estilo de seus jogos e sejam mais sutis, mesmo que ainda assustadores. Com o passar do tempo acabamos nos acostumando com estes efeitos e é aí que acontece algo inesperado: tudo começa a dar certo.

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Dica para a vida: Quando tudo estiver dando certo, desconfie. Essa mesma dica vale para Oxenfree onde nada é o que parece e nunca sabemos se o que estamos jogando é real. Em diversas vezes eu passei por situações que me fizeram descartar cuecas novas e pensei: aí está a minha recompensa, mas infelizmente eu estava errado. O jogo conta com coisas como time-loopings, teletransporte e viagens no tempo que mudam nossa perspectiva de realidade constantemente e sempre deixam o jogador com uma pulga atrás da orelha.

Essa experiência de horror é proporcionada pelas espíritos que saíram pela brecha espectral. A única coisa que podemos fazer para nos defender deles é usar o nosso rádio, que é capaz de resolver quebra-cabeças e abrir/fechar fendas quando sintonizamos na frequência certa. Esse sistema de “rádio-chave” é o maior elemento de gameplay que temos aqui e podemos perceber como os criadores conseguiram atribuir diversas funções a um único objeto, foi uma solução bem criativa.

A utilização do rádio é bem simples: o ligamos e passamos pelas estações que podem apresentar músicas, chiados, vozes macabras ou qualquer outra coisa. É interessante ver o quanto o trabalho audiovisual faz o uso dessa ferramenta ser desconfortável. Somos guiados pelas frequências do rádio, além dos sons, por cores e vibrações que tornam-se mais fortes e mais assustadores conforme chegamos na sintonia certa. Sempre que temos de usar nosso rádio sabemos que algo vai acontecer, ou um portal do sexto inferno vai se abrir/fechar, ou alguém vai ficar possuído ou coisa do tipo.

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Além do rádio temos também interação com objetos e pessoas que se assemelha bastante a de jogos point and click. Esses objetos, aliás, geralmente nos fazem ter aquela sensação que faz a ponta da orelha mexer – sabe do que eu estou falando? – de quando percebemos que algo está errado. Às vezes passamos por uma área que está vazia e quando voltamos há uma poltrona ali, colocada como se estivesse sempre ali, mas no fundo sabemos que não estava, e isso colabora, e muito, com o terror emocional em que o jogo nos coloca.

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Tudo, eu disse, tudo, o que ocorre no jogo nos deixa em estado de atenção. Como tudo o que dá certo tem um extremo potencial para dar errado, sempre andamos desconfiados, prontos para levar um susto ou ver um chiado na tela – o que significa que algo vai dar muito errado. Isso é o que simplesmente chamamos de atmosfera imersiva, quando o jogo te absorve e te introduz nele de tal forma que se o seu cachorro latir enquanto você estiver jogando o resultado será uma parada cardíaca, no mínimo. Essa atmosfera me acompanhou durante todo o jogo até o final, durante os créditos e até depois dos créditos.

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Terminei Oxenfree em cerca de quatro horas, e sinceramente? Me pareceram vinte. Fiquei tão imerso no jogo que não percebi que acabou tão rápido e a possibilidade de ver outros finais contribui muito com a campanha curta para tornar o jogo rejogável. No fim podemos ver algumas estatísticas globais das consequências de nossas decisões, o que revela o que podemos fazer de diferente na próxima jogatina. Do jeito que o jogo termina, parece que de alguma forma ele chama o jogador para jogá-lo mais uma vez, mesmo sem oferecer nada de novo que não seja a possibilidade de agir diferente, é algo difícil de explicar, mas foi o que me convenceu a tomar os mesmos sustos pela segunda vez.

E para os que gostam de exploração, Oxenfree é bem valioso também, pois Edward Island não é apenas mais uma ilha abandonada, ela conta com uma história gigantesca que envolve experiências e desastres nucleares que são um mistério para quase todas as pessoas, exceto para aqueles que não têm medo de desbravá-la de ponta a ponta. Algumas cartas das pessoas que moravam na ilha podem ser encontradas, revelando detalhes da história e do motivo pelo qual os espíritos estão atormentando a vida do grupo, eu não encontrei todas porque, como já disse, sou um cagão nato, mas fiquei bem curioso em relação à história e jogarei mais uma vez só para conseguir achar todas.

Também é necessário destacar a arte visual de Oxenfree que é belíssima. Com um estilo aquarela que parece pintado à mão, o jogo conta com diversas áreas diferentes que apresentam uma beleza assustadora difícil de se ver. A iluminação é sempre perfeita e ao lado dos efeitos sonoros é o que mais contribui com a atmosfera. Até os detalhes nos balões de falas, cujas cores diferem de acordo com o tipo de diálogo, chama a atenção. O jogo faz também uma boa transição entre o 2D e o 3D, sendo que possui muitos elementos em três dimensões, mesmo que seja definido como um jogo 2D.

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Como dito, os efeitos sonoros são essenciais para a atmosfera do jogo. O som foi muito bem trabalhado aqui e podemos perceber isso todas as vezes que temos que usar o rádio ou que temos de sair de um time-looping. Estes efeitos servem tanto para nos ajudar a nos livrar do medo, como para causar o terror já que em cenas de possessão ou aparição de espíritos, eles trabalham com os efeitos de distúrbio visual que deixam os jogadores aterrorizados. A trilha sonora também é ótima e conta com uma faixa pra cada área da ilha e faixas diferentes para cada momento de tensão, ela foi uma das poucas que despertaram em mim o desejo de comprar uma OST.

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Então o roteiro, atmosfera, gameplay, escolha de falas, visual, exploração e trilha sonora são bons, o que é ruim em Oxenfree? Pouca coisa, na verdade. Eu pessoalmente, não gostei do fato do jogo não marcar as opções escolhidas na segunda campanha, já que não conseguimos nos lembrar das escolhas feitas na primeira vez que jogamos e queremos jogar pela segunda vez para ver um final diferente.

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Outra coisa que chega a incomodar é o quanto alguns personagens são lentos, o que nos obriga a esperá-los terminar de falar ou chegar até o ponto em que estamos para que possamos prosseguir. Outro ponto são os objetivos que nunca são claros e nem sempre se tratam de sintonizar o rádio, o jogo não dá grandes dicas do que fazer e para garantir que façamos o que quer ele simplesmente bloqueia a nossa saída do cenário atual.

Enfrentei também alguns pequenos bugs que não atrapalharam na continuação do jogo mas chegaram a incomodar, personagens presos durante escaladas e algumas quedas de framerate em momentos específicos do jogo devem ser citados, apesar de não serem grandes problemas. O jogo também pode afastar aqueles que não dominam o inglês devido à velocidade dos diálogos e das legendas que são totalmente em inglês.

E mesmo assim Oxenfree é um grande jogo, um dos melhores de 2016 até aqui. Enquanto lia sobre ele em outros lugares vi uma comparação justíssima que o descreveu como uma mistura de Freaks and Geeks com Poltergeist que achei necessário citar aqui. A atmosfera criada pelo jogo funciona de maneira extremamente eficaz e sua história cheia de reviravoltas e diferentes finais torna a sua rejogabilidade algo obrigatório.

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Review elaborado com uma cópia do jogo para PC fornecida pela Night School Studio.

Resumo para os preguiçosos

Oxenfree é uma aventura sobrenatural que conta a história de Alex e mais quatro amigos que vão até uma ilha militar desativada para festejar e acidentalmente abrem uma brecha espectral. O jogo introduz com maestria a Night School Studio na indústria com uma mecânica diferente que une elementos de point and click com terror psicológico que fazem com que qualquer escolha do jogador impacte diretamente tanto na história como no relacionamento dos personagens. O uso dos efeitos visuais e sonoros é feito aqui de maneira sensacional transformando o jogo numa experiência assustadora que deixa o jogador sempre atento e desconfiado já que tudo o que dá certo tem extremo potencial de dar errado. Seus múltiplos finais e campanha curta fazem dele um must play e must replay, recomendado para qualquer tipo de jogador, fã de jogos de terror ou não.

Nota final

84
Saiba mais sobre os nossos métodos de avaliação lendo o nosso Guia de Reviews.

Prós

  • Ótimo roteiro e desenvolvimento da narrativa
  • Personagens bem elaborados e com características únicas
  • Atmosfera imersiva e assustadora
  • Escolhas do jogador impactam diretamente na história
  • Seleção de falas pode mudar o relacionamento entre os personagens
  • Visual lindo
  • Efeitos visuais e sonoros funcionam com perfeição
  • Múltiplos finais e detalhes da história fazem a rejogabilidade ser obrigatória

Contras

  • Não marca escolhas feitas na primeira campanha
  • Lentidão de personagens
  • Não explica bem todos os objetivos
  • Pequenos bugs e queda de fps em momentos específicos
  • Legendas apenas em inglês
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Rafael Oliveira
Rafael Oliveirahttp://criticalhits.com.br
Rafael Oliveira faz análise de jogos, filmes e séries regularmente para o Critical Hits, além de postar notícias e artigos esporadicamente. Acha que Shadow of the Colossus é o melhor jogo já feito, é fanboy de Steins;Gate e tem um lugar especial no coração para Platformers, RPGs e Metroidvanias.