Heróis da Galáxia: Ratchet & Clank – Review

Ratchet & Clank fez um grande retorno em 2016 com um dos melhores jogos do Playstation 4, que traz de volta o mesmo espírito do clássico do PS2 e diversas ótimas novidades e um elemento um tanto inesperado: Um filme inspirado no jogo que é inspirado no filme. Sim, aparentemente o Ratchet & Clank do videogame e o Ratchet & Clank do cinema têm a mesma história, então podemos já de cara confirmar o filme como um sucesso? Infelizmente não.

Heróis da Galáxia: Ratchet & Clank começa contando a história do Lombax Ratchet, um mecânico entediado que sonha em um dia ser um dos defensores da galáxia e seguir os passos de seu ídolo, o Capitão Qwark. No meio do caminho da aparente realização de seu sonho Ratchet conhece um robô cuja nave cai em seu planeta, ele o batiza de Clank.

Os dois desenvolvem uma rápida e mágica amizade e ao lado dos defensores eles devem proteger a Galáxia Solana de Chairman Drek, Dr. Nefarious e a sociedade Blerg que ameaçam destruir cada planeta que a compõem. A história é bem simples, algo aceitável já que o filme é voltado para o público infantil, mas a forma que ela se desenvolve é péssima.

A construção da narrativa do longa parece acontecer muito rápido, dando destaque a coisas muitas vezes sem importância e deixando de lado algumas cenas que seriam bacanas de se assistir. É como se os produtores tivessem muito material para colocar em um filme de curta duração, optando por fazer tudo de maneira acelerada.

Há também diversas falhas de roteiro que deixam pontas soltas sem necessidade e alguns acontecimentos que só ocorrem para justificar outros acontecimentos que não precisariam de justificativa para estar ali. Como sou grande fã da franquia sei da história e do que faltou ali, mas tenho certeza de que quem não passou tanto tempo assim na frente do videogame ficará meio perdido e se fazendo perguntas a todo momento.

O humor do filme também é fraco, mesmo para o público ao qual ele se destina. Elemento chave de todos os jogos que carregam este nome, o humor em Heróis da Galáxia: Ratchet & Clank é sem inspiração alguma e cheio de cenas que se repetem porque alguém dos bastidores deve ter ao menos sorrido com uma delas. Os acontecimentos não são engraçados e as piadas são inseridas entre diálogos desinteressantes, o que diminui ainda mais a graça delas.

Alguns dos personagens estão ali apenas para fazer volume e são extremamente descartáveis. O fato da história ser contada muito rapidamente atrapalha ainda mais os poucos momentos destes personagens em cena, o que nos faz meio que ignorá-los completamente. Alguns só estão lá para cumprir seu papel de “esteriótipo X” na equipe, algo que se encaixa como uma luva no jogo, mas simplesmente não desce no filme.

Os vilões também aparentam ter muita história por trás de suas intenções e diversas histórias que podem ser contadas de antes e depois desta aventura, mas, mais uma vez, pela rapidez do desenvolvimento do filme, eles tornam-se apenas os caras maus que devem ser derrotados. Eu gostaria muito de conhecer toda a história do Dr. Nefarious, mas não há espaço para ela aqui.

Diferente de qualquer outro jogo, o filme não empolga, mesmo tendo uma boa dose de ação. As piadas ruins e diálogos sem importância quebram o clima ao menos umas cinco vezes e matam sequências de ação que poderiam deixar o filme muito mais interessante.

O estilo do humor e da história contada muito rápido e superficialmente me fez pensar que talvez o cinema não seja o lugar de Ratchet & Clank, mas que uma série seria perfeita. Série nos mesmos moldes de Donkey Kong, Lilo & Stitch ou Pinguins de Madagascar (foram os três exemplos mais frescos na memória) que conta aventuras paralelas a do filme situadas no mesmo universo. Eu realmente espero que alguém na Sony/Insomniac esteja pensando nisso, pois o cinema não é o lugar desta dupla.

O lado bom é que Heróis da Galáxia: Ratchet & Clank enche os olhos de tão lindo. Eu sinceramente não conhecia a Rainmaker Entertainment, mas depois do que vi no cinema já boto fé em qualquer animação que ela fizer. O visual do filme é impecável, muito detalhado e com vários elementos para agradar os fãs dos jogos. A ficção científica é bastante explorada no visual, então espere ver uma boa dose de robôs, trajes futuristas e armas de raios, eles com certeza têm seu devido destaque.

Fiquei triste por não ter muita exploração ou aventuras diferentes no filme, sendo que os cenários mais comuns são a estação espacial dos defensores da galáxia e de Drek. Um visual tão belo deveria ter sido explorado mais.

A fidelidade com os jogos, principalmente com o original e o novo é incontestável. Os fãs dos games vão se sentir honrados com uma adaptação tão perfeita daquilo que estão acostumados a jogar. Ratchet & Clank tem uma relação bem parecida com o início do que eles têm nos jogos e a grande quantidade de inimigos em cena nos fazem lembrar automaticamente de algumas fases do game.

A trilha sonora foi bem escolhida, mas deixa a desejar quando o assunto é volume. Por várias vezes o som de fundo se sobrepõe às vozes dos personagens e a música começa já muito alta, ao invés de aumentar gradativamente. Algumas das poucas piadas boas são perdidas devido a este erro. Espero que o arrumem em um patch, não pera.

O veredito é que Heróis da Galáxia: Ratchet & Clank está no lugar errado. Seu lugar é indubitavelmente nos videogames mas é possível que uma série nos mesmos moldes do que a Disney e a Dreamworks estão acostumadas a fazer com seus filmes dê certo. O filme tem uma cena pós-créditos, mas eu espero realmente que ela seja usada para continuar a história nas telinhas e não mais nas telonas.