Jogos que colocam o jogador na pele de um guerreiro talentoso que deve lutar contra criaturas gigantescas não são novidades nenhuma no mercado. Esse é o meu tipo favorito de jogo, e tenho certeza que mesmo sem citar nenhum exemplo você já pensou em pelo menos dois jogos que se encaixam nessa descrição básica. Extinction também entra nessa categoria.
O game é desenvolvido pela Iron Galaxy Studios, mesmo estúdio que esteve por trás do excelente Killer Instinct e que fez o desastroso port de Batman Arkham Knight para PC. Apesar de estar envolvida com grandes títulos, a desenvolvedora não está entre os primeiros (50?) nomes que vêm à mente de um jogador, o que chamou ainda mais atenção para Instinct, um game com premissa ousada anunciado com trailer em CGI de alta qualidade. Será que essa qualidade mantém-se no jogo que acaba de ser lançado? A resposta é não, mas acompanhe o review para saber por quê.
Em Extinction o jogador controla Avil, o último da linhagem dos sentinelas, que ao lado de Xandra, uma jovem que treinou ao seu lado quando seu mestre ainda era vivo, tem de impedir que a humanidade seja extinta pelos Ravenii. Ravenii são ogros gigantes, os principais inimigos do jogo, que chegam através de portais para destruir tudo o que veem pela frente. A missão inicial de Avil é impressionar o Rei e fazê-lo levantar armas contra os gigantes, para então depois bolar um plano para salvar a humanidade.
A história do jogo não chega a ser boa nem ruim. Diversas partes dela são apresentadas por meio de cutscenes feitas com uma bela animação, e com poucas palavras e cenas entendemos o que são os Sentinelas, os Ravenii, por que os gigantes odeiam os humanos e outros detalhes que precisamos saber para pegar todo o core da história. Infelizmente, essas seções da história são apenas um prequel ao jogo, sendo que toda o enredo que se desenrola durante o jogo é apresentado através de simples diálogos com as mesmas imagens dos personagens parados.
Esses diálogos não só acabam com qualquer imersão que a história de Extinction poderia oferecer ao jogador, mas também eliminam qualquer chance de desenvolver alguma empatia entre jogador e personagem — nem que seja o protagonista. Mesmo tentando absorver o drama de uma tragédia através das falas do personagem estático é uma tarefa difícil, já que logo em seguida somos surpreendidos por uma fala sarcástica do mesmo personagem que deveria estar arrasado com o que acabou de acontecer.
Aproveitando que estamos falando de diálogos, é preciso destacar a parte mais irritante de Extinction: comentários sobre mortes. Falaremos das frustrações com as mortes do jogo mais para a frente, mas saiba que se você for corajoso o suficiente para aventurar-se pelos cenários dele não morrerá pouco, e a cada morte haverá um personagem fazendo algum comentário cobrando você, fazendo piada ou repetindo a mesma fala que você já houve durante a jogatina. Eu sinceramente não entendi a necessidade dos desenvolvedores colocarem os diálogos no meio das lutas quando poderiam substituí-los por uma trilha sonora épica, mas lá estão eles, comentários sem emoção no meio da ação que sempre culminam em um adendo aleatório quando morremos.
Não há opção para desativar os diálogos ou silenciar apenas a eles. Durante as 6 horas que levei para completar toda a campanha do jogo fiquei tentando pensar num motivo para uma funcionalidade como comentários sobre a morte do jogador que não o ensinam a melhorar ou dizem a ele o porquê dele ter morrido, ter sido implementada. No fim, não consegui chegar a uma justificativa para isso e agora penso que, ou isso foi colocado lá propositalmente para irritar o jogador, ou alguém no processo de desenvolvimento nutriu um amor pelos personagens (ou os dubladores deles) e decidiu incluir tantas falas quanto pudesse durante a campanha — uma decisão bem errada.
É claro, não é apenas a história ou diálogos mal pensados que fazem algo ser medíocre, afinal, jogos possuem jogabilidade. No caso de Extinction, podemos falar que ela também não é boa nem ruim. Trata-se de um jogo de ação básico que às vezes tenta introduzir elementos mais refinados.
Antes de lutar com os Ravenii, o protagonista enfrenta Chacais, os mobs de Extinction. Avil tem uma grande espada e pode fazer alguns combos diferentes dependendo de quantas vezes pressionamos o botão de ataque. Os golpes têm impacto zero, então o jogador logo verá os Chacais como distração e irá querer apenas matar Raveniis. Além de dilacerar Chacais, o herói também tem de resgatar civis que ficam espalhados em diferentes locais dos grandes mapas do game.
Para chegar até os civis (e também lutar contra Ravenii), o protagonista pode pular bem alto, escalar prédios, planar no ar, usar árvores de trampolim e até usar um gancho em beiradas de prédios e árvores como se fosse o próprio Batman. Essas mecânicas funcionam muito bem e são o que faz Extinction não ser uma completa perda de tempo.
Os principais inimigos do jogo, os Ravenii, não são lá muito terríveis. Na verdade, eles não oferecem grande ameaça uma vez que é bem fácil desviar dos golpes deles, mas suas armaduras oferecem algum desafio. Há armaduras de vários tipos, cada uma mais forte do que a anterior e com macetes específicos para ser quebradas. Depois de quebradas essas partes de armadura, podemos cortar membros dos Ravenii, impedindo que andem mais cortando uma das pernas, ou que derrubem mais prédios cortando os braços.
O objetivo é cortar as cabeças deles, e para isso é necessário ter carregado toda a Rune Strike, uma barra que faz a espada de Avil brilhar e possibilita que os gigantes sejam decapitados. Essa barra se enche com o tempo conforme salvamos civis, matamos Chacais e quebramos armaduras ou cortamos membros. Após cheia, basta subir nas costas do gigante, apertar um botão e mirar no pescoço dele. Teje morto.
A parte mais prazerosa dos combates é quebrar armaduras e cortar membros, mas até isso consegue ser estragado pela câmera terrível e alguns glitches. A câmera, aliás, é uma das piores que eu já vi em um jogo. Ela funciona quando não queremos e falha quando deveria nos auxiliar, constantemente coloca a visão do jogador em uma parede ou dentro do inimigo e, claro, não consegue focar nos gigantes. Quando estamos atacando-os, momento em que a câmera deveria focar-se neles, temos que controlá-la manualmente porque a trava simplesmente não funciona. Agora, se tentamos fugir do gigante, a câmera simplesmente decide que é hora de focar no inimigo e deixa o jogador andar sem ver o que está a frente, levando-o a muitas e muitas mortes bobas.
Glitches também não são raros, sendo que mais de uma vez um membro de um ogro gigante ficou dentro de uma parede ou prédio, impedindo que eu o decepasse e permitindo que ele me acertasse com aquele mesmo membro (aliás, qualquer golpe do inimigo é hit-kill, mesmo que não acerte em cheio). Apesar da falta de debug nos cenários e na câmera, Extinction rodou sem problemas de performance no PC.
A campanha é composta por diversas missões que não incluem apenas eliminar Ravenii, mas salvar civis, matar certo número de Chacais, defender a cidade, dentre outros objetivos secundários. As opções não são muitas e mais da metade das missões da campanha são aleatórias — o jogo literalmente gira uma roleta para decidir os objetivos primário e secundário da missão e o cenário. Não preciso falar o quanto o jogo fica repetitivo com esse sistema, certo?
Extinction parece ter sido concebido em uma base de ideias sólidas, mas que foi se perdendo conforme virava um jogo de verdade. O produto final é como um apanhado de erros com alguns momentos ‘ok’ que evitam que o jogador se arrependa totalmente do tempo perdido — mas que parecem fazer questão de que ele se frustre, e não da maneira correta como um souls-like faz.
Graficamente temos um jogo bonito. Extinction não impressiona pela qualidade de detalhes, mas não faz feio, possui gráficos que, pelo menos pra mim, gritam “sou um jogo indie feito na Unreal Engine”. As cores dos inimigos, cenários e tudo mais são bem variadas, portanto mesmo com dilacerações de inimigos e membros decepados a todo momento, ele não deixa de ser um game cartunesco. Os cenários são bem grandes e bem construídos, sempre renderizando por completo; os inimigos e civis, por sua vez, são sempre idênticos.
Os diálogos e menus estão todos em português, ponto positivo para a publisher Modus Games (lembre-se de ativar as legendas antes de iniciar a campanha). Já as trilhas não chamam a atenção nem geram imersão, tanto que na metade do jogo eu optei pelas minhas próprias músicas até o fim da campanha.
Extinction foi lançado em 10 de abril de 2018 para PC, PS4 e Xbox One custando R$ 199,90. É um jogo nada mais do que medíocre que não chega a valer 20% do que é cobrado no lançamento. Se você procura um jogo onde matar gigantes é a atividade principal e que realmente ofereça diversão, opte por Shadow of the Colossus, Attack on Titan, Toukiden, Monster Hunter World ou até God Eater. Seu dinheiro será melhor gasto com qualquer um destes.
Review elaborado com uma cópia do jogo para PC fornecida pela publisher.
Resumo para os preguiçosos
Extinction é um jogo medíocre. É um conjunto de falhas com alguns acertos que não chegam a brilhar, só dão a impressão de que o jogo não chega a ser de fato ruim. A história é ok e algumas mecânicas da jogabilidade são bacanas de se usar, mas praticamente todo o resto são falhas que, ou foram feitas para irritar o jogador de propósito, ou são frutos de ideias muito erradas no desenvolvimento. A câmera é uma das piores que já vi em um jogo, a campanha é extremamente repetitiva e os comentários pós-morte são a coisa mais irritante e frustrantes do game — mais ainda do que as mortes.
Prós
- Prequel da história bem apresentada através de animações
- Alguns elementos da jogabilidade funcionam bem
- Quebrar armaduras e cortar membros chega a ser divertido
- Legendas em português
Contras
- Diálogos irritantes e personagens mal desenvolvidos
- Câmera terrível
- Glitches everywhere
- Campanha repetitiva
- Hit-kill mesmo quando o inimigo não te acerta (?)
- Gente, pra quê esses diálogos?