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Epistory – Typing Chronicles – Review

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Com tantos jogos saindo atualmente, os desenvolvedores têm sempre que quebrar a cabeça para trazer inovação aos jogadores e fazer com que o seu jogo não seja mais um na mesmice. E se tem algo que os jogos evitam abordar é a digitação, afinal, quem quer ficar escrevendo ao invés de aproveitar uma boa história ou ser imerso num mundo completamente novo? A aposta da Fishing Cactus era exatamente essa, aliar digitação com história, visual e mecânicas que fizessem um jogo diferenciado e acima da média, e assim nasceu Epistory – Typing Chronicles.

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Escritores volta e meia sofrem de falta de inspiração (o Eric mesmo está assim há uns dois anos) – o famigerado bloqueio – e fazem de tudo para reencontrar o caminho das palavras. A escritora de Epistory estava sofrendo deste mesmo mal e pediu ajuda à sua musa para escrever um novo livro. A musa então montou em sua raposa de três caudas e partiu para uma aventura que se desenrola conforme novas palavras são apresentadas à autora e a história é contada.

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Tudo o que fazemos no jogo é a história que está sendo escrita pela escritora e é interessante ver como há uma sintonia entre o que acontece no jogo e o que é narrado, tudo o que fazemos está sendo escrito, quando morremos significa que a escritora teve uma ideia errada e mais uma folha vai para o lixo – uma ótima metáfora comparando nosso progresso depois do checkpoint com uma nova página. A escritora narra os passos de sua musa e os sentimentos dela quando enfrenta um desafio ou descobre novos segredos, há uma bela sincronia entre a narração e a história.

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A narração me lembrou de certa forma a de Bastion, apesar de não ser tão marcante e muitas vezes confusa, o estilo de acompanhar a personagem e narrar suas ações e os acontecimentos e explicar seus sentimentos é bem similar ao game da Supergiant.

Nossa personagem, a musa, se encontra num mundo que ainda não foi escrito, chamado The Bridge. Este mundo está infestado pelos mais terríveis insetos e a única forma de derrotá-los e sarar essa terra é com o poder das palavras. O gameplay aqui é completamente baseado na digitação, nem para navegar pelo menu ou sair do jogo você precisa pegar no mouse, basta digitar a palavra que você vê e a ação é realizada.

Com as palavras vamos descobrindo mais sobre o mundo em que estamos e revelando novas áreas e dungeons que nos reservam novas habilidades. As dungeons geralmente têm uma temática correspondente à habilidade guardada lá, e como eu não estou aqui para estragar a jogatina de ninguém falarei só sobre a primeira.

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Uma bola de fogo cai do céu e deixa uma grande cratera no chão, e a musa, sabe-se lá porquê, resolve adentrar a cratera. Lá descobrimos que há obstáculos que não podemos ultrapassar, onde ao invés de palavras há símbolos estranhos. Usamos um caminho alternativo e depois de matar alguns (vários) insetos adquirimos o poder do fogo.

Cada poder do jogo nos ajuda de alguma forma durante as batalhas, interagindo de maneira única com os inimigos ou as palavras. O poder do fogo queima sempre a próxima palavra do inseto, ou seja, se uma vespa precisa ser morta com duas palavras digitamos a primeira e a segunda queima, matando a lazarenta mais rápido. Isso facilita e muito a vida e para transitar entre um poder e outro só precisamos digitar o nome (que são bem curtinhos) deles durante as lutas para ativá-los.

Eles também servem para resolver alguns dos vários puzzles que recheiam as dungeons do jogo. Geralmente são puzzles que envolvem velocidade ou posicionamento, nada que te fará quebrar a cabeça ou ficar raciocinando por muito tempo. Eles são importantes para revelar itens coletáveis ou abrir caminho para nós quando estivermos sendo perseguidos por uma legião de insetos, nunca deixe para resolvê-los depois.

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Os insetos nos cercam por todos os lados e chegam de forma tão sorrateira que é comum morrermos por não ter ouvido uma aranha se aproximando. Eles podem ser aranhas, besouros, simples moscas, escaravelhos gigantes, lagartas, vespas ou vários outros que eu sequer conheço, e cada um tem um detalhe em particular diferente de todos os outros, seja sua velocidade, na quantidade ou tamanho das palavras necessárias para derrotá-los.

Cada inseto que aparece na tela carrega algumas palavras acima de si que precisam ser digitadas pelo jogador antes que ele chegue na personagem – que morre com o mais simples toque de uma mosca. Aranhas são rápidas e geralmente necessitam de quatro palavras de tamanho médio (sound, friend, among) para serem mortas; lagartas são mais lentas, então necessitam de muito mais palavras para serem mortas só que menores (are, axe, you); moscas são bem mais rápidas e geralmente chegam em maior número, então necessitam de palavras minúsculas ou até mesmo apenas uma letra pra morrer; já os insetos maiores (podemos chamá-los de chefes) como escaravelhos necessitam de palavras gigantes para morrerem (microprogrammable, anomalistic, superabundant) e geralmente são um pé no saco.

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Algumas destas pestes também respondem a apenas um tipo de poder e podemos identificá-los através de suas palavras que tem a cor característica do poder necessário para derrubá-los. Isso significa que larvas com palavras laranjas só podem ser mortas com fogo e o mesmo vale para os demais poderes.

O trunfo da Fishing Cactus foi conseguir fazer com que todos os insetos tenham a mesma dificuldade, não importa a velocidade deles ou o número/tamanho de palavras necessário, há um belo balanço entre eles e mesmo que alguns sejam mais simples de se matar, são justamente eles que esquecemos quando há mais 15 insetos na tela.

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Sempre no final de cada dungeon e em alguns pontos do mapa principal temos círculos que são as chamadas arenas. Ao pisar nele automaticamente entramos e modo de batalha e atraímos inimigos de todos os lados para aquele ponto. Esse é o momento do jogador colocar em prática tudo o que aprendeu, testar suas técnicas de digitação e sua paciência, pois acredite, você vai morrer e não vai ser pouco.

Estas áreas se repetem bastante e se não fosse o grande desafio elas ficariam bem enjoativas. Epistory possui um sistema de dificuldade que se adapta à velocidade que você digita, o que possibilita que até quem digita com um único dedo consiga jogar (após morrer várias e várias vezes).

Aí vai uma coisa engraçada: eu vi muita gente reclamando de que morria demais e que o jogo não tinha dificuldade adaptativa coisíssima nenhuma. E por acaso eu acabei abrindo sem querer – não me pergunte como – o console do jogo e pude ver o algoritmo de dificuldade que mudava toda vez que eu matava um inseto, de forma bem sutil, mas mudava. Quando eu morria o número caía bastante e conforme eu matava mais insetos ele voltava ao meu padrão. Resumindo, não desista do jogo por morrer como um condenado.

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Ao fim de cada arena obtemos um certo número de skill points que nos possibilitam dar upgrades nos poderes e em outras habilidades da musa. Podemos usar pontos para fazer com que a raposa corra mais rápido, ou que nosso combo de palavras dure mais tempo, ou que o próximo objetivo possa ser alcançado por uma trilha. Os skills points também enchem barras com contagens específicas que nos possibilitam liberar novas partes do mapa apenas quando estivermos prontos.

É legal ver que vamos evoluindo conforme avançamos no jogo e ficando mais rápidos na digitação. No menu principal podemos ver algumas estatísticas sobre nossos triunfos como a velocidade que escrevemos – que é medida por palavras por minuto -, nosso maior streak de palavras digitadas sem errar, número total de erros e inimigos abatidos. Como trata-se de um jogo baseado na velocidade, é legal saber que ele nos faz evoluir neste quesito.

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O que não melhora mesmo é a movimentação do jogo que é bem travada. No início somos apresentados a um jeito diferente de andar com a personagem pelo mapa, um estilo amigável parecido com controle de tanque onde utilizamos as teclas EFJI que deixa nossas mãos numa posição de digitação estratégica. É bem difícil de se acostumar com elas e creio que 99% dos jogadores, eu incluso, logo as abandone e utilize o WASD tradicional.

Só que andar desta forma traz dois problemas: 1) faz com que muitas vezes erremos palavras por tentar andar quando o modo de batalha está ativado e 2) faz com que a movimentação, principalmente em áreas de mobilidade reduzida e em perseguições, seja bem frustrante. É fácil perceber que faltou polimento na movimentação, mas como o jogo esteve em early access um tempo, não há desculpa para não ter arrumado isso.

Felizmente este é um detalhe simples que não interfere muito em nossa experiência e assim podemos focar nossa atenção no que a desenvolvedora realmente focou seus esforços. O estilo de arte do jogo é fantástico, a personagem, os inimigos, o mapa, até os baús espalhados pelo cenário, tudo é muito detalhado e podemos ver que nada passou batido nesse aspecto.

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O mundo é completamente feito de origami e literalmente se desdobra conforme o exploramos e o descobrimos. A forma como ele se preenche, com páginas em branco que vão sendo escritas é uma coisa maravilhosa. Também temos algumas artes muito bonitas que podemos completar coletando os baús espalhados pelas dungeons, elas dão algumas dicas para entender completamente a história e no fim você pode acabar frustrado se não tiver completado todas.

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A história contém pedaços do livro da escritora e da história da própria escritora e podemos ver claramente as partes em que estas histórias se entrelaçam. A que está sendo jogada por nós é literalmente escrita no cenário em que andamos, é algo tão diferente ver um jogo que deixa tão explícito que estamos jogando uma história enquanto ela está sendo escrita. Já a história da escritora não se desenvolve tão bem, sendo muitas vezes confusa, e mesmo com as artes ela deixa um pouco a desejar.

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Até a escolha das palavras foi feita de forma única, já que elas geralmente estão ligadas de forma temática àquilo a que pertencem. Por exemplo, se precisamos acender uma tocha veremos “burn” ou “inflame”, já se precisarmos tirar um galho de árvore ou uma pedra do caminho veremos “forest” ou “boulder”. Todas as palavras presentes no jogo pertencem a algum lugar e mesmo que você ache que “ventriloquist” não se encaixa de maneira alguma em Epistory, as conquistas do jogo esclarecem isso.

Em meio às conquistas nos deparamos com algumas que estão ligadas a grandes obras da literatura que são obtidas quando digitamos um certo número de palavras. Por exemplo, ao digitar 748 palavras teremos escrito 1% da obra Frankstein, de Mary Shelley; com 10844, 1% da Saga Harry Potter, de J.K. Rowling; com 17700, 1% dos cinco primeiros livros de As Crônicas de Gelo e Fogo, de George R.R. Martin. Que trabalho espetacular.

A trilha sonora do jogo é bem sutil, com músicas simples que geralmente se repetem nas arenas e só mudam de dungeon pra dungeon. Não há nenhuma melodia que vá ficar na mente, mas elas cumprem bem seu papel e não chegam a ser enjoativas.

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Os efeitos sonoros é que são ótimos, eles ajudam apenas os jogadores que prestam bastante atenção ao que estão fazendo e conseguem ver e ouvir tudo ao mesmo tempo. Lembra que eu falei que os insetos chegam de forma sorrateira e nos matam sem que os vejamos? Cada inseto produz um som diferente que é bem baixo, mas é perceptível e dá dicas claras se ele está próximo da personagem ou não. Nem sempre é fácil olhar pra tela e pro teclado ao mesmo tempo, então podemos utilizar o som ao nosso favor.

Epistory ainda possui legendas em inglês, francês, alemão, alemão sem r, espanhol, russo, polonês e português do Brasil. Mudando as legendas trocamos todas as palavras do jogo, tanto as dos combates como a história que é escrita no cenário. E de quebra ele ainda possui suporte para teclados QWERTY, AZERTY, QWERTZ, DVORAK, COLEMAK, WORKMAN, NEO2 e BEPO. Que trabalho espetacular².

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Acho que já temos motivos suficientes pra você jogar Epistory, né? Ele é mais um daqueles jogos que é brilhante sendo simples, ele não tenta ir além do que propõe, não tenta ser o diferentão, apenas tenta ser inovador e aliar tudo o que faz um jogo ser grande com um estilo não muito explorado: a digitação.

Review elaborado com uma cópia do jogo para PC fornecida pela desenvolvedora.

Resumo para os preguiçosos

Epistory – Typing Chronicles é aquele jogo que apaixona pela simplicidade, que consegue unir aspectos como história, visual, desafio e diversão com digitação. Ele possui duas histórias diferentes que se entrelaçam durante a jogatina e enquanto escrevemos uma descobrimos a outra. Para escrevermos a história que estamos jogando, Epistory se utiliza da metáfora de que as palavras que utilizamos para derrotar os insetos que empesteiam The Bridge são fornecidas à escritora que assim continua a escrever nossa aventura.

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O game tem um visual incrível, deslumbrante, de cair o queixo e carrega um nível de detalhes que se estende até a escolha das palavras. Seu gameplay é bem desafiador e ele possui um sistema de dificuldade adaptativa que muda de acordo com a velocidade que o jogador digita. É uma aventura que vale a pena ser jogada e um diferencial para se ter em sua biblioteca.

Nota final

90
Saiba mais sobre os nossos métodos de avaliação lendo o nosso Guia de Reviews.

Prós

  • Histórias que se entrelaçam
  • Visual espetacular
  • Nível de detalhes surpreendente
  • Gameplay desafiador
  • Sistema de dificuldade adaptativa
  • Legendas em vários idiomas e suporte a diversos tipos de teclados
  • Aborda a digitação de maneira inovadora

Contras

  • Movimentação é frustrante às vezes
  • História da escritora deixa um pouco a desejar
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1 COMENTÁRIO

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Rafael Oliveira
Rafael Oliveirahttp://criticalhits.com.br
Rafael Oliveira faz análise de jogos, filmes e séries regularmente para o Critical Hits, além de postar notícias e artigos esporadicamente. Acha que Shadow of the Colossus é o melhor jogo já feito, é fanboy de Steins;Gate e tem um lugar especial no coração para Platformers, RPGs e Metroidvanias.