Death Stranding Director’s Cut é o tipo de jogo que não possui um meio termo. Ou você o ama ou o odeia. É muito difícil encontrar uma pessoa que diga que “gostou mais ou menos” ou dê qualquer outra classificação “neutra” para o game.
Falar de Death Stranding em 2021, após já sabermos sobre o que o game trata e os fundamentos que Hideo Kojima pensou para sua obra, pode fazer com que soe irrelevante a essas alturas. Mas, como um viajante de primeira viagem por essa América devastada e pela oportunidade de testar em antecipado a nova versão do game para o Playstation 5, resolvi contar um pouco da minha experiência com o game e mostrar por que esse jogo tem sido especial para mim.
Como um fã desde o primeiro Metal Gear Solid, lá no Playstation, eu sempre tive um apreço muito grande pelas obras do Kojima. Reconheço seus problemas narrativos e aqui não é diferente. Death Stranding tem coisas que parecem ter saído da cabeça de um roteirista em início de carreira em certos trechos, mas nada que tire o brilho da ideia original por trás. Apesar de alguns altos e baixos, ele cumpre o seu papel de intrigar e instigar o jogador a saber o que aconteceu naquela realidade e qual é o sentido de tudo isso.
Para iniciar essa análise, gostaria de dizer que é muito difícil já não achar um problema o nome da nova versão do game: Director’s Cut. Parece ser até mesmo uma piada, um jogo que nos seus 10 minutos iniciais se vê o nome de Hideo Kojima pipocar na tela por várias e várias vezes. E assumo que isso deve ser mais uma das incontáveis zoeiras de Kojima, já que todos sabemos que ele adora ficar fazendo esse tipo de jogo mental com quem acompanha sua carreira e seu Twitter.
E foi justamente aí que o jogo começou para mim. Por que, afinal, o que de fato é uma versão do diretor? Muitos entusiastas do cinema dirão que é “uma versão aprimorada do mesmo filme” ou “uma história mais completa e que traz mais sentido do que a obra lançada originalmente”. E de fato isso pode fazer sentido aqui, pois todos sabem da megalomania que Kojima tem por fazer jogos com uma pegada totalmente cinematográfica. Não é à toa que o game está repleto de atores e atrizes de Hollywood.
Death Stranding: Director’s Cut não é apenas um pacote com melhorias do mesmo game lançado para Playstation 4, com novos recursos e novas funcionalidades que aproveitam toda a tecnologia do Playstation 5, mas é uma experiência imersiva muito mais completa do que o jogo original. Começando pela experiência com o DualSense.
Novos recursos e algumas mudanças
Falar sobre Death Stranding abordando sua história não será o foco aqui. Aliás, o máximo que se pode falar sobre o jogo é que “houve um grande evento chamado Death Stranding e sua missão, nessa América completamente destruída e hostil, é reconectar as pessoas que tiveram que se manter isoladas em bunkers. O único elo humano entre essas pessoas são os ‘portadores’, entregadores de cargas que atravessam todo o território e enfrentam todo o tipo de perigo para estabelecer essas conexões humanas entre os isolados”. Claro que dentro desse contexto, há diversas outras situações, mas assumindo o papel de Sam “Porter” Bridges, nossa missão é, além de realizar entregas dos mais variados tipos de carga, reconstruir os Estados Unidos.
Durante a nossa jornada, os mais variados tipos de inimigos serão nosso obstáculo, mas o grande desafio em Death Stranding é o planejamento de rotas e o terreno. Um bom planejamento de rota e gerenciamento dos seus suprimentos, como cordas, escadas e armamento não-letal é o segredo do sucesso para vencer o terreno e suas surpresas. Você pode saber mais sobre o jogo na sua versão de lançamento, clicando aqui.
A versão Director’s Cut consegue trazer algumas novidades interessantes e que criam uma imersão que a versão de Playstation 4 não era capaz de proporcionar. Isso por que as novidades que o game implementa com o uso do DualSense criam uma sensação de peso, de sentir o esforço que Sam faz ao escalar uma montanha, de se agarrar as alças de sua mochila de transporte para manter o equilíbrio, caso esteja muito pesado, do cansaço ao lutar contra as EPs (Entidades da Praia) e o peso de um golpe desferido contra MULAs – pessoas que ficaram viciadas em realizar roubo de cargas.
A nova versão também conta com um retrabalho de som, trazendo recursos de áudio 3D compatíveis com o Pulse3D e televisões que utilizam esse recurso, criando toda uma nova atmosfera para o ambiente, podendo ser mais fácil a identificação de um EP, em zonas dominadas por tais inimigos, ou até mesmo saber de onde virá um golpe desferido por uma MULA.
O game agora também conta com suporte a 60 quadros por segundo e carregamento super otimizado – embora ele tenha poucos pontos de carregamento -, graças ao hardware e ao poder do SSD M.2 do Playstation 5.
Quanto a parte gráfica, Death Stranding já era um game muito bonito para os padrões do Playstation 4, utilizando ao máximo a Decima Engine – a mesma de Horizon: Zero Dawn. A versão de PS5 traz além de gráficos ainda mais bonitos e detalhados, vários recursos como Ray Tracing (que vale destacar que a água desse game é uma das mais bonitas e reais que já vi em um jogo), as texturas do terreno como pedras, musgo, grama e neve estão ainda mais bonitas, e o skybox (o céu do jogo) está entre um dos mais bonitos já vistos em um jogo.
Uma coisa interessante – mas também irrelevante – foi a mudança nas bebidas energéticas que Sam consome ao ficar nas salas de descanso deixou de ser a famosa Monster – vista no game original – e dando espaço para a Bridges Energy, já que a licença de uso da marca (provavelmente) expirou.
O jogo também adiciona uma espécie de modo Time Trial em um circuito fechado, com a disponibilização de alguns modelos de carros para que você possa competir com outros jogadores, porém não de forma conjunta como em um tradicional game de corrida. É um recurso legal, mas que apenas está lá para quem quiser fazê-lo entre uma entrega ou outra.
Agora, o terreno é só mais um obstáculo
Como disse anteriormente, o terreno do jogo é o grande adversário a ser superado. Isso por que o seu trajeto, mesmo sendo realizado com o auxílio de um transporte, será repleto de altos e baixos – literalmente. Então, programar seu trajeto e verificar o percurso no mapa evitará que você tenha problemas durante sua viagem de entrega. Mas na Director’s Cut, agora contamos com novas ferramentas para realizar as entregas de uma maneira “menos sofrível”. Entre as novidades, estão um jetpack que nos permite planar sobre parte do terreno, fazendo com que Sam corte boa parte do trajeto acidentado do terreno e evitando lugares de difícil passagem – o que, na minha visão, acaba sendo um recurso legal, mas que tira um pouco da essência da proposta do game que é vencer os obstáculos do terreno.
Sam também conta com um novo robô auxiliar bípede (que em nada lembra um Metal Gear) chamado Buddy Bot, que auxiliará no carregamento de cargas mais pesadas, tornando os trajetos a pé menos solitários e mais fáceis.
Porém, tais mudanças acabam tirando o cerne do que é Death Stranding enquanto jogo: uma experiência solitária e cujo o seu grande adversário é o trajeto feito pelo terreno. Adições são sempre bem-vindas, ainda mais criando novos modos de jogar, mas aqui elas parecem retirar um pouco da essência da proposta inicial do jogo.
A melhor versão do mesmo jogo
Eu comprei Death Stranding ainda no Playstation 4 em sua pré-venda, o que para alguns é uma experiência bastante arriscada, visto que não se sabia muito bem o que o jogo era e que tipo de proposta ele abordaria. Não me arrependi de ter feito tal investimento em um produtor que gosto e em uma proposta bastante inusitada. A experiência da solidão, do planejamento das rotas a serem feitas, da proposta cooperativa do jogo em criar estruturas e que outros jogadores as utilizem e o seu enredo instigante me levaram até esse mundo desolado.
Apesar da repetição de tarefas, em levar uma carga de um ponto A ao ponto B não me fizeram desistir de continuar minha jornada por aquele mundo. Sempre que eu terminava uma entrega eu pensava “vou fazer só mais uma”. E ao terminar essa eu dizia mais uma vez isso, e quando via, já tinham se passado quatro horas de gameplay.
É evidente que Death Stranding Director’s Cut não é o tipo de game que irá agradar a todo mundo. E confesso que não será essa Director’s Cut que mudará a opinião daqueles que não curtiram o jogo no Playstation 4. Mas foi nele que consegui, pela primeira vez em muito tempo, relaxar jogando alguma coisa. Por vezes eu colocava um podcast em uma orelha, enquanto outra se ocupava em prestar a atenção no game, e assim eu fiz minha jornada por esse mundo. Aproveitando o visual estonteante de belas paisagens, pensando em qual caminho seria o mais viável para levar uma carga sem danificá-la, me atentando aos locais dominados por MULAs ou fazendo de tudo para escapar de locais tomados por EPs.
Death Stranding é sim um game sobre a solidão. Mas também é sobre se conectar, sobre cooperar com o outro. E talvez esse seja um dos principais desafios que o jogo nos impõe: como cooperar com quem não vê? Como ajudar o próximo sem saber quem ele é e o que pensa? Como podemos mudar a realidade de outra pessoa, sem nem ao menos conhecer quem está do outro lado?
A nova versão do jogo traz novidades, mas continua sendo aquele mesmo jogo polarizado, mantendo as mesmas propostas do título original de Playstation 4, impondo os mesmo desafios e tarefas ao jogador. Ela não mudou, apenas se aprimorou. Tornou-se uma versão melhorada.
E você como jogador? Tornou-se uma versão melhorada? Você tornou-se a sua própria “versão do diretor”?
Death Stranding: Director’s Cut vale a pena?
Death Stranding: Director’s Cut é uma experiência mais completa e melhorada de sua versão anterior, disso não há qualquer dúvida. É difícil dizer que “ele não é um jogo para todo mundo”, por que qual jogo é? Para mim, ele funcionou como uma válvula de escape, um período do meu dia que eu conseguia tirar para jogar alguma coisa, enquanto ouvia música, colocava os podcasts em dia ou simplesmente queria uma proposta no qual eu pudesse fazer uma atividade rotineira.
Pode ser que ele seja um jogo entediante para alguns, mas uma experiência distinta para outros. O que posso apenas pedir com essa análise é que você, enquanto jogador, se permita experimentar. Certamente, assim como Sam, você irá carregar alguma coisa sobre esse game.
Pode ser uma boa impressão? Pode! Pode ser uma impressão muito ruim? Também! Mas o importante é se conectar de alguma forma.
Review elaborado com uma cópia do jogo para PlayStation 5 fornecida pela PlayStation Brasil.
Resumo para os preguiçosos
Death Stranding: Director’s Cut traz diversas melhorias gráficas e novos recursos para o seu trajeto durante as entregas, além de algumas novas missões extras. Apesar disso, o planejamento de rotas e o terreno permanecem sendo os principais “inimigos” do jogador, que deverá gerir seus recursos de maneira inteligente, para cumprir com sua rotina de entregas.
É um game com uma repetição de gameplay, mas que funciona muito bem fazendo outra atividade, como ouvir música ou um podcast.
Prós
- Novos recursos para otimizar suas entregas;
- Novas missões e modos de jogo para “passar o tempo”;
- Otimização gráfica e de desempenho para a versão do Playstation 5.
Contras
- Os principais desafios foram “driblados” com os novos recursos;
- Apesar das melhorias, o game continua sendo um polarizador de opiniões, não trazendo nada que realmente mude a opinião de quem não gostou.