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Contra: Rogue Corps – Review

Quando eu era mais novo, lembro dos meus pais alertando para as possíveis consequências das minhas escolhas: se eu não escovasse os dentes, teria cáries; se não tivesse postura ao sentar, teria problema nas costas; se sentasse muito perto da televisão para assistir Agente G no final da tarde, meus olhos iriam doer – mas pelo menos a diversão teria valido a pena.

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É difícil, quando criança, levar a sério os conselhos parentais. Nenhuma criança nasce com uma noção exata daquilo que pode acontecer anos mais tarde, após o fim da vindoura infância. Mas a vida sempre cobra seu preço, e quando cobra, sempre dói.

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Se dar conta das más escolhas que fizemos na vida é quase sempre uma tarefa difícil. Às vezes você percebe o quanto teria se beneficiado se tivesse guardado dinheiro mais cedo, ou se arrepende de não ter estudado mais na época da faculdade. Mas, apesar de ainda sofrer as consequências das más escolhas que fiz na vida até hoje, poucas foram tão ruins quanto aceitar fazer o review de Contra: Rogue Corps.

Geralmente, quando me deparo com um jogo que não me agrada, consigo identificar com certa facilidade o que de fato não me agradou. Às vezes são os controles, os gráficos, a dublagem dos personagens… mas nunca na minha vida eu me prestei a jogar alguma coisa que me deixasse tão furioso, sincera e efusivamente, quanto o último lançamento da Konami.

Quem viveu os anos 90 sabe o peso que Contra tem. O jogo era figurinha carimbada nas locadoras e nos lares de muitos brasileirinhos por aí. Em alguns casos, a dificuldade e o desafio de Contra eram tão interessantes que muitos pais tomavam os controles de seus rebentos a fim de eles mesmos tentarem vencer a difícil tarefa de terminar o jogo.

Durante muito tempo a Konami soube como lidar com a série. As sequências do jogo original baseavam-se em alguns fundamentos principais que, mais tarde, acabaram servindo também para que se criasse o que se conhece hoje como “bullet hell”. A construção de fases, o design e movimentação dos inimigos e as batalhas contra os chefões faziam de Contra uma mistura perfeita entre desafio e diversão, de modo que o game sempre tinha sua relevância, mesmo tendo sido “zerado” inúmeras vezes pelos jogadores.

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Infelizmente, nos últimos anos, a dona Konami parece ter perdido o rumo e esquecido completamente como fazer bons jogos. Parece também que a saudosa empresa que nos brindou com uma quantidade enorme de clássicos durante as últimas três décadas jogou fora tudo que conhecia sobre seus próprios produtos, lançando no mercado uma série de jogos sem identidade e, muitas vezes, sem conteúdo.

O maior problema de Contra: Rogue Corps é justamente o nome. É realmente difícil constatar que um produto tão ruim tenha sido lançado dentro de uma das séries mais saudosas dos anos 90, manchando um legado que não é conhecido por ter tido 100% de acertos, mas que ainda assim tinha lugar garantido no coração de muita gente.

Rogue Corps tem dois problemas principais: os controles e o próprio conteúdo. Os controles são incrivelmente ruins, ainda mais quando se considera que a proposta do game é tentar ser um twin-stick shooter em 3D. Ao tentar manejar os analógicos para realizar acertos em alguns dos inimigos que aparecem na tela, dá pra ter a sensação de que a Sony deveria conceber um novo tipo de direcional para permitir a correta movimentação e mira dos personagens, tamanha é a esquisitice. É como tentar dirigir um tanque de guerra com um piano, sendo que eu nunca pilotei um tanque de guerra nem faço ideia de como tocar piano.

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Já os problemas de conteúdo são mais complexos de explicar, já que o jogo carece de tanta coisa que sequer justifica sua própria existência. A proposta do enredo até parece interessante nos primeiros segundos de jogo, mas a forma como é contada é tão esquizofrênica que fica a impressão de que alguém jogou todas as ideias do time do desenvolvimento num quadro branco e escolheu aleatoriamente.

Não bastasse isso, o game tenta resgatar um clima “noventista” – o de soldado badass que enfrenta sozinho um exército de inimigos poderosos e salva o planeta com seu rifle fumegante. Todavia, já vimos que essa ideia não tem mais tanto apelo lá no lançamento de Duke Nukem: Forever, mas ainda assim esse foi o caminho escolhido pela Konami para Rogue Corps.

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No fim das contas, são tantos os problemas que cheguei a me perguntar se a chave que me enviaram diz respeito à versão de testes, ou se de fato aquilo era a versão final do jogo.

Não dá pra levar a sério Contra: Rogue Corps. Na verdade ouso dizer que sequer é possível se divertir jogando esse jogo. Infelizmente a Konami continua tentando vender produtos baseados no seu legado, com pouco ou quase nenhum controle de qualidade, esmero ou cuidado com sua própria imagem. Há outros jogos inspirados nos dias gloriosos da franquia Contra que mereciam muito mais serem chamados de Contra do que esse.

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Review elaborado com uma cópia do jogo para PS4 fornecida pela Konami do Brasil.

Resumo para os preguiçosos

Contra: Rogue Corps realmente não é um jogo que mereça a sua atenção. É triste que ele tenha o mesmo nome de uma franquia que já viveu dias muito mais gloriosos.

Nota final

10
Saiba mais sobre os nossos métodos de avaliação lendo o nosso Guia de Reviews.

Prós

  • Infelizmente, nada

Contras

  • Gráficos datados e desleixados;
  • Controles mapeados inadequadamente e que não atendem as demandas do jogo;
  • História fraca, sem sentido e mal justificada.
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João Víctor Sartor
João Víctor Sartorhttp://criticalhits.com.br
João Víctor Sartor é colaborador e sex-symbol do Critical Hits. Admirador das boas histórias, almeja de verdade escrever um livro algum dia. Divide seu tempo entre à leitura, jogatina, trabalho, engenharia e quando sobra tempo, vive.