Assassin’s Creed Mirage promete desde o seu lançamento ser um “retorno às origens” da franquia, com uma gameplay que vai remeter aos jogadores que cresceram jogando capítulos como Assassin’s Creed 2, Brotherhood e assim por diante, além de contar com mais detalhes a história de Basim Ibn Ishaq, que foi um coadjuvante de Assassin’s Creed Valhalla. Será que o jogo consegue agradar a esses fãs que pedem uma experiência mais clássica?
Em Assassin’s Creed Mirage, conhecemos o passado de Basim, e como ele se tornou um membro da ordem dos Ocultos, que é o nome que os Assassinos ainda usavam naquela época. Basim era um ladrão de rua em Bagdá, que vivia com uma amiga de infância, Nehal, e que acaba passando por uma tragédia pessoal e sendo recrutado para a Ordem dos Ocultos após esse acontecimento.
O personagem também é atormentado por pesadelos em que ele é perseguido por uma assombração (que ele chama de Djinn, ou os gênios da mitologia do oriente médio) e procura uma forma de se livrar desses tormentos, enquanto ajuda a Ordem a sobreviver num mundo em que os Anciões (os futuros Templários) dominam o califado e corrompem-no de dentro para fora.
Após um prólogo onde você passa rapidamente pelo treinamento de Basim, você e sua mestra, Roshan, são enviados de volta a Bagdá e você começa a operar por lá, investigando pistas e tentando encontrar os membros dos Anciões e eliminá-los um por um, enquanto recupera a cidade para o povo.
Logo de cara, percebemos que Assassin’s Creed Mirage realmente lembra bastante o que tínhamos em Assassin’s Creed II e assim por diante, ou seja, bastante parkour e exploração da cidade, mas com um combate e estrutura de missões mais puxado para o que temos em Assassin’s Creed Origins pra frente, usando os botões LB e RB para ataque e defesa, aparo na hora correta e assim por diante.
Ainda assim, parece que a Ubisoft passou um bom tempo cortando o que ela não achava necessário desses sistemas, e o resultado ficou realmente interessante. Não há mais level up, por exemplo, você ganha novos pontos de habilidade ao concluir missões da história e missões opcionais para desbloquear novas habilides de assassinato, aumentar a quantidade de ferramentas que você pode usar ou as habilidades de detecção da sua águia.
O equipamento do jogo também sofreu simplificações nesse sentido, é possível terminar o jogo com a arma inicial e sem fazer nenhum tipo de upgrade nela também, apesar deles ajudarem bastante na hora de enfrentar os inimigos.
Aqui, eu tenho uma pequena reclamação, já que ao todo há apenas cinco tipos de inimigos dentro do jogo: soldados que usam espada, soldados que usam lança, inimigos pesados, arqueiros e o Shakiryya, um inimigo completamente aloprado que apara a maioria dos seus ataques e que você precisa estar bem preparado para derrotar.
O combate do jogo também foi simplificado, já que a maioria das lutas é bem fácil, e apesar dele não ter virado o “combate de um botão” que encontrávamos na era clássica da franquia Assassin’s Creed, alguns truques sujos que estavam disponíveis lá voltaram, como soltar uma bomba de fumaça e assassinar todo mundo que está dentro do raio de ação dela, ou os dardos que fazem os inimigos lutarem entre si, por exemplo.
O sistema de progressão do jogo também cortou bastante gordura em relação ao que encontramos nos títulos mais recentes do jogo, e eu não poderia ter ficado mais feliz com isso. Ao invés de termos uma campanha de 70 horas repletas de atividades repetidas, o que temos aqui é uma campanha bem enxuta, que me custou 19 horas para concluí-la.
Essa campanha se desenrola em função de casos onde você precisa cumprir missões para obter mais informações sobre o seu próximo alvo de assassinato, com você precisando matar um ou dois comandados desse alvo principal às vezes. Quando chega a vez de você vencer o alvo principal da missão, retornamos às missões clássicas de assassinato, com Basim espreitando a base do adversário de cima e procurando por oportunidades para atacar.
Essas são de longe as missões mais elaboradas do jogo, e algumas delas podem durar até mesmo uma hora entre a preparação e a execução dela, já que muitas são compostas de mais de uma etapa.
Aqui, inclusive, fica evidente um novo sistema do jogo, que é o sistema de fichas. Certos NPCs do jogo podem contribuir para a sua missão atual, mas eles vão te pedir em troca fichas que podem ser obtidas por meio de contratos disponíveis dentro da sede dos assassinos da região ou roubando de pessoas no meio da rua. Essas fichas facilitam bastante a vida do jogador na hora de fazer alguma missão grande, já que, apesar de sempre haver uma alternativa, essa geralmente é mais demorada ou até perigosa.
Por exemplo, você pode subornar um oficial para obter informações de como entrar num lugar ou a rota do seu alvo, ou você pode simplesmente entrar pela porta da frente e matar todo mundo até chegar no alvo, o que não é lá muito prático. Na hora de assaltar um forte, você pode pagar mercenários para distraírem os guardas enquanto você entra de fininho, e assim por diante.
As missões dos contratos que você precisa cumprir geralmente são bem curtas, como ir até um certo local, escoltar um personagem, roubar algo sem ser visto pelos guardas e coisas do tipo. Vale a pena gastar um tempinho nessas missões e ter fichas com você pois elas acabam poupando bastante dor de cabeça mais pra frente.
Além desses contratos, o jogo ainda conta com algumas missões extras espalhadas por Badgá, que geralmente são bem curtas também, além de diversas atividades extras, como colecionáveis, espadas, adagas e armaduras e seus respectivos diagramas de upgrade e assim por diante.
No geral, a campanha de Assassin’s Creed Mirage me agradou bastante e até mesmo surpreendeu, pois esse nem parece ser um jogo feito pela mesma desenvolvedora que me fez querer morrer por dentro só de pensar em ter que fazer tudo de novo em mais uma região da Inglaterra para conquistá-la.
Quando eu estava para terminar o jogo, tudo o que eu pensava era “sério mesmo que já tá no fim?” esperando uma pegadinha e o jogo dizendo que aquilo era só metade dele ou a introdução ou algo do tipo, mas não, era aquilo ali mesmo, uma história direta com começo, meio e fim que respeita o tempo do jogador e entrega uma experiência satisfatória e que não se estende mais do que deveria.
Aliás, o jogo poderia até mesmo ter se alongado um pouquinho mais, apresentando um pouco melhor os antagonistas do jogo e as motivações dele, pois algumas das missões Basim basicamente conhece o próximo alvo dele e minutos depois nós já estamos com a lâmina oculta no pescoço deles sem nenhum tipo de questionamento, mal dando pra conhecer o inimigo em questão.
Graficamente, Assassin’s Creed Mirage é um jogo dentro da média. A cidade de Bagdá é bonita, e o jogo felizmente não apostou no fotorealismo, ficando dentro da média que encontramos em outros jogos da franquia Assassin’s Creed.
Aqui, ainda vale ressaltar que a performance do jogo precisa de melhorias, já que há diversas quedas de framerate dentro do jogo atrapalhando por vezes a experiência, mas em nenhum momento ele chega a quebrar.
Para completar, o game também conta com uma trilha sonora que poderia ser um pouco mais desenvolvida, principalmente o tema de batalha que é um trecho de uns 20 ou 30 segundos que fica repetindo incessantemente até o fim do combate e fica repetitivo bem rápido. A dublagem do jogo é boa, dentro do que esperamos da Ubisoft, e eu gostei bastante do fato deles terem usado pessoas com sotaque do oriente médio mesmo em inglês, para que a entonação de palavras como Bagdá, Medina e afins ficassem mais autênticas.
Mas e aí, Assassin’s Creed Mirage vale a pena?
Assassin’s Creed Mirage deveria se chamar “Assassin’s Creed Menos é Mais”, já que o jogo corta praticamente toda a gordura que os títulos mais recentes da franquia tinham e combina isso a aspectos de gameplay dos jogos clássicos da franquia. O resultado é um capítulo bastante focado, com uma boa campanha, e que respeita o tempo do jogador na campanha principal e que entrega uma boa quantidade de extras para quem procura por mais. Em suma, Assassin’s Creed Mirage é tudo o que os fãs da franquia clássica desejaram para um título da série.
Review elaborado com uma cópia do jogo para Xbox Series X fornecida pela publisher.
Resumo para os preguiçosos
Assassin’s Creed Mirage conta a história de como Basim se tornou um assassino e entrega em Bagdá um ótimo campo de operações, com uma campanha enxuta e bem direcionada, além de boas atividades extras e o retorno a uma estrutura de jogo mais parecida com a de títulos como Assassin’s Creed II e Brotherhood, apesar de trazer o combate das encarnações mais modernas da franquia. Um título que certamente vai agradar fãs que estavam descontentes com os capítulos mais recentes da série.
Prós
- Campanha focada e objetiva
- Bagdá é uma cidade com personalidade e bastante viva
- Bom equilíbrio entre a parte clássica da franquia e a moderna
Contras
- Algumas partes da história poderiam ter sido melhor desenvolvidas
- Problemas de performance, slowdowns atrapalham