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Detona Ralph, o filme que pegou o espírito dos gamers…ou será que não?

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“É que assim, meu filho: antigamente nós não tínhamos os jogos que a gente queria assim, na mão, pra jogar quando quisesse. A gente tinha que ir pra um lugar específico comprar umas moedinhas que nos davam o direito de jogar tantas vezes algum jogo. Esses lugares se chamavam fliperamas…” peguei só este pedaço da conversa. Enquanto saía da sessão, ouvi um pai explicando exatamente isso para o seu filho, que devia ter uns 8 anos. Me senti muito velho ao descobrir que uma criança de meros 8 anos já não sabe o que é um fliperama.

Quando eu era criança olhava com extremo desejo para os fliperamas, queria fazer 16 anos logo pra poder entrar e jogar, só podia assistir meu tio jogando na praia, achava ridículo a limitação de idade, uma vez que eu acreditava que videogames eram feitos pra criança. Então qual a moral de crianças não poderem jogar?

   Fui crescendo e os fliperamas começaram a perder a graça. Com a facilidade de acesso ao Play2 e os jogos de PC, por que ir até o fliperama? Há algum tempo atrás me viciei no Rock Band 2 que tinha no fliperama do shopping Praia de Belas, perto da minha casa, cheguei a participar de um campeonato e disputar a final no palco do Opinião, maior casa de shows de Porto Alegre. Daí colocaram Rock Band 3 no shopping e eu parei de frequentar (até porque tava ficando caro, R$2,50 cada fichinha). Então qual a probabilidade de um filme baseado em fliperamas ter sucesso em um mundo onde o fliperama já morreu?

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   Essa é a questão: Detona Ralph NÃO É um filme baseado em jogos e fliperamas. É um filme infantil, como qualquer filme da Disney, apenas AMBIENTADO em um cenário de videogames. É a mesma coisa que você comprar o Teemo no League of Legends e comprar a skin de panda pra ele. Ele vai seguir sendo o mesmo Teemo, mas com uma roupinha diferente. Ralph é uma skin pra Sulley, Shrek, Fera, Kronk, Gênio e todos outros personagens de animação grandes e desastrados, porém muito hilários.

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Como todo filme infantil, o personagem começa com uma convicção, vai atrás do que ele acredita, faz uma cagada monstruosa, aprende os valores do amor e acaba com tudo muito bem. Esse é o propósito do filme, não fazer piadas sobre aquele jogo Indie que só você conhece, pra você poder falar no meio da sala do cinema “ELE DISSE! ELE DISSE! EU ENTENDI!”. Não é um filme que a Disney esperava lotar os cinemas com típicos nerds de 16 a 25 anos ouvindo piadas que só eles entendem. É um filme pra lotar com crianças entre 6 e 12 anos que estão entrando de maneira sutil e sadia no mundo dos games.

   “Então esse filme é uma merda, não perderei meu tempo assintindo”. Não é isso que estou dizendo. Pelo contrário, o filme é muito bom! Um marine dando de cara na parede, relembrando clássicos bugs de jogos de tiros, o ponto de exclamação do Metal Gear dentro dos achados e perdidos, Ryu e Ken se encontrando no bar depois de uma série cansativa de batalhas, um mundo feito de doces baseado em Mario Kart, um jogo de ficção científica de tiro em primeira pessoa com gráficos maravilhosos, Pac Man e seus fantasminhas, Sonic, Zangief (mesmo com a voz afetada), Bowser, M. Bison…são todas ÓTIMAS referências a jogos, inseridas de maneira sutil, sem atrapalhar a fluidez do filme e sem roubar a cena do personagem principal. Pra mim as melhores referências ficam por conta do bar do Tapper, um ótimo joguinho da década de 90 que eu jogava em um disquete no computador da minha irmã mais velha e que foi muito bem aproveitado no filme, Q*Bert, o personagem do Atari que eu nem sabia que existia, mas que também é muito bem aproveitado e, é claro, as referências de Félix Jr. e Ralph a Mario e Donkey Kong. Mas peraí…Mario e Donkey Kong? Sim! A referência é clara.

Nos primeiros jogos da série, Mario subia escadas desviando de barris que Donkey Kong jogava prédio abaixo para salvar a Princesa. Mas, se a Disney pagou tantos direitos autorais, por que não usar os próprios Mario e Donkey Kong? Bem, quem já viu o filme do Mario e se colocar no lugar da Nintedo vai entender o porquê da empresa não liberar mais nenhum de seus personagens pra produção de filmes. Pesquisei em alguns lugares e não vi nenhuma notícia de que o filme originalmente tivesse a intenção de ser feito usando Donkey Kong, apenas suponho que a Nintedo não teria aceitado.

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   Por fim, o filme acaba sendo diferente dos demais filmes da Disney. O filme começa tentando mostrar que Ralph pode ser importante mesmo sendo um vilão, traz a ameaça dos insetos aliens, passa pelo medo do jogo ser desligado até chegar no Turbo, o verdadeiro vilão. São vários perigos e problemas em um filme só, dando um ritmo muito gostoso e diferente pra trama. Torna o filme mais imprevisível, por mais que eu tenha ditado a fórmula comum de acontecimentos de filmes infantis.

Além disso, o filme traz um enfoque diferente. Em 99% dos filmes a trama gira em torno de um romance. Mas assim como Toy Story e Montros S/A, Detona Ralph enfoca na amizade de Ralph com Vanellope, deixando o romance de Félix como pano de fundo da história. Eu, particularmente, achei isso muito bacana. No momento que nos despimos de toda expectativa e até certo preconceito e aceitamos o filme do jeito como ele é, sem enfiarmos a responsabilidade de ser um catálogo cinematográfico para gamers, o filme fica excelente! Se eu tivesse filhos, certamente os levaria para assistir mais esta bela obra de arte da Disney. Talvez para conhecer a nostalgia dos tempos antigos dos videogames. Talvez pra explicar como era difícil há algumas décadas, como o pai do começo do texto. Mas certamente para lembrar os melhores valores pra eles.

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