No último sábado (08), a Netflix liberou durante o seu painel na Comic Con Experience 2018 o primeiro trailer da nova animação de Cavaleiros do Zodíaco. E além de revelar oficialmente como será o novo visual da nova obra que foi feita inteiramente em computação gráfica , o trailer mostrou algumas mudanças importantes, como o fato do Cassius agora ser um cavaleiro negro e das armaduras do zodíaco agora serem invocadas com um pingente.
No entanto, a mudança que mais causou polêmica entre os fãs foi que agora Shun, o inesquecível Cavaleiro de Andrômeda, agora será uma mulher. Inicialmente alguns podem pensar que essa é uma mudança positiva, que tratará mais representatividade para um anime que tipicamente era destinado para meninos. Porém se analisarmos com um pouco mais calma, fica visível que a mudança se trata apenas de um oportunismo barato que realça ainda mais o machismo estrutural.
A primeira pergunta que devemos fazer é por que Shun foi o escolhido para ter o seu gênero mudado?
Segundo o Eugene Son, roteirista e produtor de Saint Seiya: Os Cavaleiros do Zodíaco, a intenção de quando começaram a desenvolver a nova série era atualizar a obra mudando o mínimo possível. Assim, os principais conceitos de Cavaleiros do Zodíaco seriam preservados, já que a maioria se sustenta mesmo depois de 30 anos.
No entanto, de acordo com ele, a única coisa que os preocupava era o fato de todos os Cavaleiros de Bronze serem homens e mesmo com personagens femininas fortes, que refletem no grande número de mulheres que acompanha o anime/mangá, eles acharam que seriam necessárias algumas mudanças.
Então, após muitas discussões, a equipe de produção concordou que mudar o gênero de Shun seria uma grande ideia, pois traria mais “representatividade” para a nova animação, mantendo intacto todos os conceitos do Andrômeda original.
Embora a resposta dada por Son no seu Twitter seja bem extensa, ele ainda não responde a principal pergunta de por que Shun ser justamente o escolhido? Por que não Seiya, Hyoga ou quem sabe até mesmo Ikki? O que Shun tem de diferente dos outros quatro cavaleiros do grupo?
A resposta é bastante simples, Shun é o único do grupo de protagonistas que não tem os traços mais comuns de masculinidade. Shun tem um porte físico menos avantajado, é bondoso, gentil e na maioria das vezes sempre tenta achar uma solução pacifista para as situações. E não há nenhum problema nisso.
Na verdade, esses traços não deveriam ser associados a um gênero específico e sim a personalidade do personagem. Pois não há nada estranho em um homem ser mais sentimental e até mesmo mais frágil, não o torna mais ou menos homem. Justamente isso era um dos grandes diferenciais do anime.
Em uma época dominada por shounens dos mais variados tipos, onde a testosterona basicamente saltava pela tela, em Cavaleiros do Zodíaco tínhamos um personagem diferente de tudo isso, que lutava contra o mal e defendia os seus amigos sem precisar ser o “machão” a toda hora.
Assim, como essa animação da Netflix tem como principal objetivo apresentar a obra de Masami Kurumada para uma nova geração, seria uma excelente oportunidade mostrar para esse novo público que um personagem masculino pode ser mais sensível e isso não vai afetar em nada a sua masculinidade.
E aí o que eles fazem? Transformam o personagem em uma mulher, porque aparentemente essas características não podem ser associadas a homens. Dessa forma, em todos os momentos que Shun for salvo ou demonstra fragilidade, sempre serão associados ao fato dele ser uma mulher, e aí voltamos ao problema do machismo e da falta de representatividade.
Se a Toei e a Netflix realmente quisessem trazer mais representatividade para a obra, que tal desenvolver mais a Marin, a Shaina ou a June? Qual tal apresentar novas amazonas e dar a ela mais importância na história?
Infelizmente, parece que não teremos isso… Mas se pudermos tirar alguma coisa boa disso tudo, é que pelo menos grande parte dos fãs de Cavaleiros do Zodíaco não se deixou levar por essa manobra oportunista.