A indústria de videogames continua inovando, mesmo que silenciosamente. A incorporação gradativa da tecnologia blockchain nos bastidores de desenvolvimento dos jogos é uma realidade. Longe dos holofotes das palavras de moda associadas à Web3, estúdios ao redor do mundo têm adotado estratégias sutis para integrar essa tecnologia, buscando beneficiar os jogadores sem necessariamente sublinhar sua presença.
Durante a segunda edição do Madeira Blockchain 2023, desenvolvedores e especialistas da indústria de jogos discutiram como a tecnologia blockchain pode ser inserida nos jogos de maneira que enriqueça a experiência do usuário sem alarde. Marco Bettencourt, CEO da Redcatpig, um estúdio dedicado ao desenvolvimento de jogos com blockchain, compartilhou sua perspectiva. Ele disse que o desafio é comunicar efetivamente aos times internos que a blockchain não só é benéfica como essencial para avançar nos jogos, oferecendo aos jogadores maior controle sobre seus itens digitais, como skins e outros ativos virtuais.
Blockchain: Benefícios sem o burburinho
A blockchain ficou conhecida com a chegada das criptomoedas, mais especificamente o Bitcoin. A aceitação das moedas digitais no Brasil foi ampla, sendo introduzida em diversos setores e no cotidiano no país. Isso fica evidente nas notícias cripto, que relatam em números essa realidade. Em 2023, os brasileiros movimentaram R$ 110,5 bilhões em criptomoedas apenas no primeiro semestre, um aumento de 31,7% em relação ao mesmo período do ano anterior. Mas, além das criptomoedas, a tecnologia blockchain também está fazendo seu caminho.
O estúdio Redcatpig planeja lançar em 2024 o jogo HoverShock, que incorporará itens colecionáveis baseados em tokens não fungíveis (NFTs) transacionáveis dentro do próprio jogo. Bettencourt ressalta, no entanto, que a ênfase não está na tecnologia em si, mas no valor agregado ao jogador. Ele disse que não é necessário destacar que é uma tecnologia Web3 ou blockchain. E que o que o jogador precisa saber é que, ao comprar uma skin, ele realmente a possui e pode negociá-la quando desejar.
Apesar do potencial, a introdução da blockchain no desenvolvimento de jogos não foi completamente isenta de críticas. A VEU, uma empresa baseada em Los Angeles especializada em soluções de IA para navegação em mundos virtuais, enfrentou resistência ao introduzir elementos de blockchain. Nuno Rivotti, chefe de produto da VEU, observou que os jogadores não precisam saber todos os detalhes técnicos do que fazem; eles apenas precisam sentir os benefícios através do produto final.
Ele disse que assim como ocorreu com outras tecnologias no passado, a aceitação vem quando paramos de enfatizar a tecnologia e focamos na experiência. Já em Portugal, a integração da blockchain em videogames tem sido apoiada pelo governo como parte do eGames Lab, um consórcio de 22 entidades que visa internacionalizar a indústria local de jogos.
Pedro Dominguinhos, presidente da Comissão Nacional de Seguimento do Plano de Recuperação e Resiliência de Portugal, explica que a blockchain faz parte da agenda no Plano de Recuperação e Resiliência, que inclui componentes de formação e desenvolvimento de software, entre outros. O PRR, que se estende até 2026, visa aprimorar diversos setores, incluindo a digitalização e o desenvolvimento de software, através dos fundos altos disponibilizados pelo NextGenerationEU.
Esse plano é um esforço para promover o crescimento econômico e enfrentar desafios digitais e climáticos, indicando um compromisso profundo com a inovação tecnológica e a transformação digital em Portugal. Além disso, a iniciativa inclui investimentos específicos em formação e capacitação em blockchain, visando preparar profissionais para o futuro digital e potencializar o setor tecnológico do país.
Estes esforços são refletidos em programas como os desenvolvidos pela Binance e a Porto Business School, que colaboram para oferecer formações especializadas em blockchain, abordando tanto as oportunidades quanto as dificuldades do mercado. O governo brasileiro também tem reconhecido o potencial da blockchain e está incorporando essa tecnologia em sua estratégia de serviços digitais.
A Estratégia de Governança Digital, iniciada com o Decreto nº 10.332, aponta para o uso da blockchain como parte de suas iniciativas para expandir os serviços governamentais digitais, incluindo a aplicação em diferentes áreas como transparência, segurança de dados e eficiência administrativa. Já no Brasil, eventos importantes como o BIG Festival em São Paulo servem como plataformas para a discussão e disseminação de conhecimento sobre as novas tecnologias, reforçando o papel do Brasil como um hub de inovação em games na América Latina.