Nos últimos anos, os universos cyberpunk têm se tornado um espaço fértil para a especulação sobre o futuro da economia digital. Um dos exemplos mais marcantes dessa tendência é Cyberpunk 2077, o RPG futurista da CD Projekt Red, que retrata um mundo dominado por megacorporações, implantes cibernéticos e transações financeiras descentralizadas.
À medida que as criptomoedas ganham espaço na realidade, sua presença nos mundos fictícios se torna cada vez mais frequente, reforçando narrativas de autonomia financeira, anonimato e resistência contra instituições centralizadas.
O futuro distópico e a economia digital
Os mundos cyberpunk, geralmente representados como sociedades hipertecnológicas e caóticas, têm uma característica central: o colapso das instituições tradicionais.
Em Cyberpunk 2077, a cidade de Night City é dominada por megacorporações que exercem mais poder do que governos, enquanto os cidadãos buscam alternativas para sobreviver à repressão e à instabilidade econômica. Nesse contexto, o dinheiro físico se torna obsoleto e as transações financeiras são conduzidas de forma digital, muitas vezes fora do alcance das autoridades.
Essa estrutura econômica fictícia tem diversas semelhanças com o avanço real das criptomoedas. Desde o surgimento do Bitcoin em 2009, a descentralização financeira tem sido um tema recorrente, tanto no mundo real quanto nas narrativas cyberpunk.
A possibilidade de realizar transações sem depender de bancos ou intermediários faz das criptomoedas um recurso perfeito para cenários distópicos, onde indivíduos precisam garantir sua privacidade e autonomia em um ambiente hostil.
A presença das criptomoedas em Cyberpunk 2077
Em Cyberpunk 2077, embora a economia seja amplamente digital, as criptomoedas não são mencionadas explicitamente. O jogo utiliza o Eurodólar (EDD) como moeda principal, sugerindo que o dinheiro físico perdeu sua importância e que a economia global se unificou sob um sistema digital.
Essa premissa reflete uma tendência real, pois cada vez mais governos e empresas exploram moedas digitais como alternativas ao dinheiro tradicional.
No entanto, a própria filosofia do jogo se alinha com o espírito das criptomoedas. O protagonista, V, opera à margem do sistema financeiro oficial, realizando transações fora dos meios convencionais e interagindo com hackers e mercenários que prezam pelo anonimato.
Isso ecoa a cultura cripto, onde o uso de blockchain e carteiras digitais privadas pode oferecer um maior grau de liberdade e resistência contra sistemas centralizados.
A tecnologia blockchain nos mundos fictícios
O conceito de blockchain, base das criptomoedas, também se encaixa perfeitamente no universo cyberpunk. Trata-se de uma tecnologia que permite registros imutáveis e descentralizados, algo essencial em uma sociedade onde as informações são constantemente manipuladas por corporações e governos autoritários.
Embora Cyberpunk 2077 não explore diretamente essa tecnologia, outras obras do gênero já incorporaram a ideia de cadeias de blocos invioláveis para proteção de dados e identidades digitais.
Séries como Altered Carbon e Black Mirror mostram cenários em que informações pessoais e transações são protegidas de forma semelhante ao blockchain, reforçando sua importância como ferramenta de resistência em sociedades distópicas.
A realidade se aproximando da ficção
Curiosamente, à medida que o mundo avança para uma maior digitalização econômica, alguns elementos dos universos cyberpunk começam a se tornar realidade. Países como El Salvador já adotaram o Bitcoin como moeda legal, enquanto governos exploram o desenvolvimento de moedas digitais oficiais (CBDCs).
Ao mesmo tempo, o mercado de criptomoedas se tornou um espaço dinâmico e volátil, com variações constantes na cotação bitcoin dólar, refletindo o interesse global por esse tipo de ativo. Essa imprevisibilidade se encaixa perfeitamente na estética cyberpunk, onde a economia é caótica e dominada por forças além do controle do cidadão comum.
O papel das criptomoedas na cultura Cyberpunk
Desde os primórdios do gênero cyberpunk, as narrativas exploram economias alternativas e sistemas descentralizados. Obras clássicas como Neuromancer, de William Gibson, e Snow Crash, de Neal Stephenson, previram a ascensão de moedas digitais muito antes do surgimento do Bitcoin.
A principal razão para essa recorrência é a ideia de que, em um futuro onde corporações detêm controle absoluto sobre a sociedade, as criptomoedas surgiriam como um meio de garantir liberdade financeira. Elas se tornam a ferramenta ideal para hackers, mercenários e rebeldes que precisam operar fora dos sistemas tradicionais.
Hackers, mercenários e transações descentralizadas
Uma característica marcante das histórias cyberpunk é a presença de hackers que desafiam o sistema. Em Cyberpunk 2077, os Netrunners desempenham esse papel, atuando como especialistas em invadir sistemas, roubar dados e manipular redes digitais.
No mundo real, essa figura tem um paralelo com os defensores da privacidade digital e os entusiastas da segurança cibernética que utilizam criptomoedas para proteger sua identidade e evitar rastreamento.
Além disso, a ideia de contratos inteligentes (smart contracts), presentes na blockchain do Ethereum, também poderia ser amplamente utilizada nesse universo. Mercenários e agentes independentes, como o próprio V no jogo, poderiam receber pagamentos via contratos programáveis que se ativam automaticamente quando as condições são cumpridas, eliminando intermediários e garantindo transações mais seguras.
A descentralização como ferramenta de resistência
Outro ponto de convergência entre o mundo real e a ficção cyberpunk é o uso de criptomoedas como ferramenta de resistência. Em países com regimes autoritários ou crises financeiras severas, o Bitcoin e outras moedas descentralizadas se tornaram alternativas para evitar censura, hiperinflação e restrições bancárias.
Isso é um reflexo direto do que ocorre em histórias cyberpunk, onde personagens precisam contornar sistemas opressores para sobreviver.
Assim como os cidadãos de Night City utilizam tecnologias avançadas para se manterem independentes das megacorporações, no mundo real, muitas pessoas recorrem às criptomoedas para fugir do controle estatal e das barreiras financeiras impostas por governos e bancos.