Yakuza 0 é um prequel da franquia Yakuza lançado globalmente em 2017 como um exclusivo de PlayStation 4, sendo posteriormente portado para o PC e Xbox One. O título marcou o início da ascensão da franquia no ocidente e agora recebe uma versão definitiva para PlayStation 5, Yakuza 0 Director’s Cut, que promete novidades como um novo modo de jogo, cenas adicionais e mais opções de legendas, inclusive o português brasileiro. Mas será que a nova versão de Yakuza 0 vale a pena?
Vale salientar que o foco desta análise é a versão de PlayStation 5 e as melhorias e diferenças do jogo em relação as outras versões.
As tramas de origem

Yakuza 0 conta a história de origem de duas grandes lendas da franquia, Kiryu Kazuma e Goro Majima no final do ano de 1988 no Japão.
Kiryu é apresentado como um jovem yakuza violento e impulsivo na cena inicial, na qual ele faz a coleta de dinheiro de um homem em um lote vazio. Ele o machuca bastante, porém o deixa vivo ao sair. Pouco tempo depois, é revelado que o homem foi assassinado com um tiro e Kiryu vira o principal suspeito, sendo necessário sair do clã Tojo para proteger seus superiores de retaliação interna, pois – além do assassinato – o lote em questão fica em um terreno importantíssimo para os negócios imobiliários da yakuza e a investigação policial impedia qualquer avanço na aquisição do lote. Então, o jovem parte em busca de encontrar quem está por trás do assassinato para provar sua inocência e voltar ao Tojo.
A história de Goro, por outro lado, mostra-o como o gerente de um cabaret club de sucesso em Sotenbori, conhecido como Grand, no qual ele trabalha. Todavia, o dono do estabelecimento é um grande patriarca da yakuza – neste caso, pertencente à Aliança Omi, um clã rival do Tojo – que constantemente o pressiona por mais dinheiro. Majima detesta essa vida, mas precisa continuar como gerente por causa de uma cilada que caiu no passado. Até que, em um certo dia, o patriarca oferece uma oportunidade para ele quitar seu débito definitivamente: assassinar uma pessoa com o nome de “Makoto”. Majima aceita o acordo e acaba em um conflito muito maior do que era possível imaginar.

O jogo apresenta a história de Kiryu e de Majima de forma intercalada a cada dois capítulos, e no geral o ritmo funciona bem para os dois. Isto é, nunca apresentam informações demais a ponto de deixar o jogador perdido e a curiosidade de saber o que está acontecendo sempre precisa ser saciada. Também há breves recapitulações nas transições de personagem para ajudar a lembrar os principais eventos até o momento. Todavia, é possível que alguns jogadores achem o ritmo do jogo lento, principalmente nos capítulos introdutórios.
Em síntese, a história de Yakuza 0 é uma das mais aclamadas da franquia. A versão Director’s Cut não mudou muita coisa em relação à história principal, apenas adicionaram algumas cutscenes que complementam o enredo da versão original, deixando mais claro o desfecho de eventos específicos, mas sem promover alterações expressivas no cânone.
A experiência completa de Yakuza

A gameplay da franquia Yakuza segue uma receita de bolo criada em Yakuza (2005), a qual consiste em um misto combate de briga de rua 3D, minigames e missões secundárias – chamadas de sub-histórias. Yakuza 0 Director’s Cut mantém o legado da versão original e entrega uma das melhores execuções dessa receita, além de adicionar um modo de jogo inédito.
A respeito do combate, ele segue uma divisão por estilos, sendo um rápido e frágil, um equilibrado e outro forte e lento – para o Kiryu – enquanto o Majima também tem três estilos baseados nessa mesma dinâmica, porém a variedade de movimentos dos estilos dele acabam sendo mais expressivas e diferenciadas que as do Kiryu. Ambos contam com um quarto estilo extra para desbloquear através do conteúdo secundário.
Sobre os minigames, Yakuza 0 é um dos mais completos da franquia. Tem baseball, gerenciamento de cabaret, arcades clássicos da SEGA como Out Run, vários jogos de azar japoneses – como Mahjong – e clássicos de cassino como poker em várias modalidades.
As sub-histórias de Yakuza 0 Director’s Cut são extremamente variadas e divertidas, estão recheadas de referências aos jogos da saga e são um prato cheio para quem não conhece a fórmula pegar gosto e quem já ama relembrar as boas memórias do que viveu na franquia.
Por fim, a última adição de Yakuza 0 Director’s Cut é o modo “Red Light Raid”, cujo foco é o online cooperativo, mas pode ser jogado em modo singleplayer com ou sem apoio de aliados controlados pela cpu. Essa é a novidade mais sem graça da versão Director’s Cut, pois o modo é basicamente um complicado de 60 opções de estilos de luta para enfrentar hordas de inimigos iguais aos da campanha. Já é um modo complicado de se indicar para jogar com os amigos pelo potencial das sessões ficarem chatas e repetitivas rápido, jogando solo então é pedir para sentir tédio. Infelizmente, é um caso de era melhor nem ter.
Desempenho no PlayStation 5

Sobre as mudanças específicas que há entre jogar a versão de PlayStation 4 e a de PlayStation 5 em um PlayStation 5 comum, há pouco que se falar em relação à performance do jogo em si. É mais mérito da qualidade da versão de PlayStation 4 do que um demérito da versão de PlayStation 5, diga-se de passagem. Em termos de framerate e estabilidade não houve diferença expressiva entre as versões. Jogando é possível sentir um pouco mais de fluidez e responsividade nos comandos, mas é uma diferença que na prática é difícil de ter alguma relevância na história principal.
Em relação a resolução e nitidez, entretanto, é notável que a versão Director’s Cut possui um salto de definição em relação a de PlayStation 4. É mais um caso de, na prática, não mudar muita coisa, mas pelo menos nesse aspecto é visível que há uma melhoria considerável a favor da versão nova.
Voltando à responsividade dos comandos, onde mais se nota a diferença é nos minigames que exigem precisão dos comandos, como o karaokê. Era muito clara na versão original a necessidade se de apertar o botão antes do marcador atingir a referência visual na tela para conseguir acertar a nota, fator que mudou para melhor no PlayStation 5: agora, além da referência visual ser mais fidedigna, até há uma margem de erro levemente mais generosa devido ao ganho de precisão que a resposta do controle tem.

Todavia, o karaokê e outros minigames que usem as cores dos botões em específico como uma referência auxiliar na versão nova vão ser mais difíceis de jogar, pois a palheta de cores única do PlayStation 5 tirou a possibilidade de identificar os botões a partir das cores. Apesar do estúdio ter a possibilidade de ter pensando em uma solução própria para o problema, como conseguiu fazer no minigame de dança atrelando as cores a outro elemento da interface, esse é um problema que a própria Sony acabou criando para os desenvolvedores no PlayStation 5 no que diz respeito a acessibilidade e na adaptação de qualquer jogo que foi pensando com o controle mais tradicional do PlayStation em mente.
Em relação às melhorias de qualidade de vida, agora é possível salvar em qualquer parte do mapa – enquanto na versão de PlayStation 4 era necessário deslocar-se até um telefone público, o ponto de save. Salvar também é bem mais rápido e dinâmico pelo bom uso do SSD na versão nova. São ajustes pequenos, mas que como um todo agregam de forma positiva na experiência do usuário com o software.
Ademais, há uma gama de problemas que não deveriam estar presentes na versão “definitiva” do jogo. É fácil encontrar inconsistências nas legendas e erros de tradução, como – por exemplo – o estilo brawler sendo traduzido como “briguento” na interface do combate e “arruaceiro” na lista de 100% e a palavra “party” sendo traduzida como “equipe” no minigame de cabaret, cujo contexto deixa claro que deveria ser traduzido como “festa” ou algo nesse sentido.
Por quase todo o jogo, caixas de diálogo apresentam pontos sem um motivo específico para isto, o que prejudica a leitura e interpretação das cenas. Inclusive, caixas de diálogos muito pequenas, como as máquinas de sonhos, simplesmente são inviáveis de ler. Por fim, esses problemas como um todo não estragam a experiência da versão nova, porém eles contribuem para que seja menos atrativa e pareça menos “definitiva” que a original.
Yakuza 0 Director’s Cut no PlayStation 5 Vale a Pena?

A versão Director’s Cut promete ser a versão definitiva de Yakuza 0 e, no fim, acaba parecendo mais um remaster simples com pequenos problemas para justificar o relançamento do jogo no aniversário de 20 anos da saga, coincidentemente também 10 anos após o lançamento de Yakuza 0 original no Japão.
Em termos de conteúdo, sem as cutscenes novas – que não acrescentam tanto a experiência e para alguns fãs até pioram o enredo – e as melhorias de resolução, seria muito difícil distinguir a versão nova da original, o que novamente diz mais da qualidade do Yakuza 0 original do que necessariamente de baixa qualidade da versão Director’s Cut.
Enfim, o veredito para Yakuza 0 Director’s Cut no PlayStation 5 é que, apesar da nova versão ser basicamente igual a anterior com meia dúzia de novidades que agregam pouco conteúdo e alguns problemas técnicos, ele é um jogo excelente e indispensável para quem quer conhecer a saga Yakuza. Desse modo, a versão de PlayStation 5 vale a pena se a legenda em português é uma necessidade, já que essa foi a adição mais relevante da versão Director’s Cut.
Vale ressaltar que aqueles que possuem a versão digital de PlayStation 4 têm direito a um desconto expressivo no upgrade para a Director’s Cut de PlayStation 5.
Análise feita com uma chave para PS5 cedida pela publisher.
Resumo para os preguiçosos
Yakuza 0 Director’s Cut para PlayStation 5 é uma versão nova muito parecida com a de PlayStation 4 – via de regra é o mesmo excelente jogo. Houve melhorias de qualidade de vida, resolução, responsividade, adicionaram algumas cenas novas, um modo horda sem graça e, o mais importante para os brasileiros, legendas em português. Também há problemas técnicos nos textos. Quem tem a versão digital de PlayStation 4 pode fazer um upgrade mais barato.
Prós
- História excelente
- Melhor porta de entrada para a franquia Yakuza
- Mais opções de legenda, inclusive português
- Melhor responsividade e resolução
Contras
- Início pode ser lento/cansativo para algumas pessoas
- Baixa variedade de inimigos do início ao fim do jogo
- Poucas novidades em relação a versão de PlayStation 4
- Problemas técnicos nos textos

