Como criar uma sequência de um jogo com uma sólida e já estabelecida fórmula e apresentar algo novo sem fugir desse conceito base? Muitas produtoras tentam fazer isso com seus jogos, afinal, ninguém vive de CTRL + C e CTRL + V, mas nem todo mundo consegue. Outras, acabam mantendo-se dentro dessa zona de conforto e não inovam, achando que os fãs vão acabar torcendo o nariz para as novidades. Em qual dos dois casos XCOM 2 se encaixa? Em nenhum, ele é uma verdadeira aula de como uma sequência deve ser feita.
XCOM 2 inicia-se 20 anos após os eventos de Enemy Unknown. A Terra foi derrotada pela invasão alienígena e a humanidade vive num estado de ocupação e semi repressão. Benefícios foram oferecidos aos humanos ao aceitarem essa rendição, mas pessoas continuam desaparecendo, e há focos de resistência no mundo todo que, apesar de desorganizados, continuam tentando combater o invasor do espaço. E como você entra nisso? Num resgate.
Sem avançar muito no enredo de XCOM 2, você, o Comandante, volta à ativa e deve comandar novamente o XCOM e empurrar os alienígenas de volta pro espaço, antes que eles concluam o Projeto Avatar, uma série de experimentos ultra-secretos que colocam a vida toda do planeta em risco.
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Para isso, você dispõe de basicamente os mesmos recursos que você dispunha no começo de Enemy Unknown: soldados incompetentes e metralhadoras de brinquedo. Diferente do seu predecessor, XCOM 2 não te joga aos leões após uma pequena missão de tutorial, o jogo carrega você pela mão por um pouco mais de tempo, e vai explicando melhor o que você deve fazer e como você deve manejar seus recursos e expulsar os alienígenas do planeta. Desta vez, você não deve combater invasões, e sim invadir locais, e acabar com os inimigos, seja em missões de resgate, de sabotagem, de rapto ou de simples extermínio.
As mudanças vão bem além dessa pequena diferença, mas é bom começarmos por aí. No começo da maioria dos combates, você começa com uma cobertura e deve armar algum tipo de emboscada para cima dos seus inimigos, geralmente escondendo seus soldados e ligando o Overwatch em todos, menos o que for dar o tiro inicial. Após isso, o combate em si torna-se bastante semelhante ao de XCOM, mas com várias adições sutis que realmente fazem o combate ser mais complexo e mais completo ao mesmo tempo. Você tem inimigos que estão disfarçados de humanos, elementos de dano por turno (fogo e ácido), armaduras, etc.
Fora isso, a 2K Games adicionou muitos inimigos novos no game, e reformulou praticamente todos os alienígenas que você encontrava em XCOM. Os primeiros que vocês vão ver por aí são os soldados do EXALT, a força de ocupação alien que garante a “segurança” das cidades. Eles são como humanos, movem-se como humanos, atiram como humanos, mas não são exatamente humanos. O que eles são? Jogue e descubra.
As novidades são várias também no aspecto de gerenciador de recursos do jogo. Agora, você tem uma base móvel que viaja pelo globo atrás de recursos, missões, etc. Dessa forma, a resistência nunca fica no mesmo lugar, e os alienígenas não a encontram. Ou será que encontram? Bom, conforme o jogo avança, você pode até ter sua nave atacada por um UFO e ter que defende-la, sob pena de Game Over, mas isso apenas em casos raros. Além de viajar pelo mapa, você também deve coletar os recursos nele, isso significa que você não recebe sua “mesada” a cada mês do Conselho, e sim que você tem que ir atrás da grana, e às vezes deixa-la sentada por ali enquanto tem que cuidar de uma missão no meio do caminho.
Outra mudança também é no gerenciamento da própria base. Ao invés de ter uma penca de estruturas para construir, agora você deve construir menos e saber gerenciar os seus recursos de maneira mais inteligente, já que você está numa nave e o espaço é limitado. Para isso, é necessário dar upgrade em estruturas e posicionar os seus engenheiros e cientistas nessas estruturas para que elas funcionem melhor. Para conquistar novos territórios, por exemplo, você precisa desenvolver uma rede de comunicações a rádio, que deve ser ampliada país a país para alcançar o mundo todo, ao invés de ficar posicionando satélites. Depois desses territórios serem reconquistados, você deve cumprir missões neles, como repelir ataques de inimigos e destruir estruturas do Projeto Avatar para diminuir o progresso dos aliens.
Há muitas outras mudanças que eu ainda poderia comentar, como nas classes e nos equipamentos, mas basicamente dá para resumir assim: tudo é diferente, porém é bem familiar. Há um monte de equipamentos novos, há habilidades novas, e habilidades semelhanças, e algumas classes foram rebalanceadas. O Sniper, por exemplo, virou o Sharpshooter, e agora pode assumir tanto a posição de franco-atirador quanto a de pistoleiro. Nessa mudança, ele perdeu um pouco da potência dele, e infelizmente não é mais possível matar meio time adversário numa rodada, como era antes, mas isso acaba tornando as batalhas mais divertidas, já que fazem você ter que pensar mais e usar outras classes que eram deixadas um pouco de lado anteriormente, como o Heavy.
Mas e aí, o jogo é divertido? Com toda certeza. XCOM 2 é tão ou mais viciante quanto o jogo original, e eu simplesmente não consegui desgrudar do game desde que eu comecei a joga-lo. Todos os aspectos do jogo acabam te fazendo pensar em jogar “só mais um pouquinho” e quando você vê são 5 da manhã e você não tomou banho há 3 dias. O jogo realmente consegue te prender, e, tendo em vista a quantidade de possibilidades que ele traz, dá pra facilmente ficar jogando XCOM 2 por muito, mas muito tempo ainda. Demorou 4 anos para XCOM 2 sair, mas assim como no caso de Enemy Unknown e Enemy Within, a espera valeu a pena, afinal de contas, você tem um jogo que pode muito bem ser jogado por esse tempo todo.
Como ponto negativo, a única coisa que me ocorre é a falta de suporte a controles que não seja o Steam Controller no lançamento. Eu imagino que isso seja adicionado no futuro, e é até meio estranho que o controle do Xbox 360 não seja suportado de cara, mas paciência, jogar no mouse e teclado é bem tranquilo, depois que você se acostuma. Fora isso, o jogo tem alguns bugs de posicionamento de personagens e física que gera resultados engraçados, principalmente quando tudo começa a explodir, mas isso não é nada que atrapalhe o gameplay.
Graficamente, XCOM 2 é bonito, mas não apresenta tantas novidades gráficas em relação ao seu predecessor assim. As cidades são mais detalhadas e variadas, e os modelos também apresentam uma série de itens de customização (no meu time, por exemplo, eu tenho 2 personagens com um cabelo igual ao do Guile, do Street Fighter, só porque esse estilo capilar é estiloso) seja no corpo, seja em acessórios. Os alienígenas também tiveram um upgrade nos visuais e alguns deles ficarem bem assustadores (você vai entender quando der de cara com um Sectopod pela primeira vez).
Já a trilha sonora do jogo é boa, e faz bem seu papel. A faixa principal do jogo, que toca no menu e durante as batalhas, é muito boa, e outra coisa bem legal do jogo é ligar os áudios originais das nacionalidades dos soldados. Infelizmente o jogo não conta nem com dublagem nem com legendas em português, mas dá pra entender numa boa o que está acontecendo mesmo assim.
Resumo para os preguiçosos
XCOM 2 é uma verdadeira aula de como criar uma sequência. O jogo apresenta mudanças o suficiente para mostrar que não é uma cópia do antecessor, além de adicionar e melhorar muitas das coisas que já eram excelentes em Enemy Unknown e Enemy Within. O jogo te prende tanto quanto o anterior e é facilmente tão bom ou melhor que o anterior. Resumindo: XCOM 2 é maravilhoso.
Prós
- Diversas adições, seja no modo de batalha, na personalização de personagens e armas (que agora ganharam add-ons), seja no modo de gerenciador de recursos e crise
- Vários inimigos novos, além dos inimigos velhos terem ganho novas habilidades e truques
- Divertido e viciante, você não consegue deixar de jogar
Contras
- Sem suporte a controle do Xbox 360
- Sem dublagem ou legendas em português
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