Eu não vou fazer um preâmbulo enorme ressaltando a última década inteira recheada com os mais diversos filmes da Marvel e como todo esse projeto é ambicioso. Você já sabe disso.
Vingadores: Ultimato é mais que um filme, mais que a conclusão da saga. É um evento. Mas você já sabe disso também. As sessões de cinema não são apenas sessões de cinema. É como estar no meio de uma torcida organizada da Marvel, igual esse excelente vídeo do Porta dos Fundos. E você também já sabe disso.
O que você pode não saber é se toda a expectativa envolta dessa singularidade da sétima arte vai ser atendida. Se todas as bolas levantadas nos bazilhões de filmes anteriores – e principalmente em Vingadores: Guerra Infinita – vão ser cortadas. A Marvel tinha tudo para não conseguir entregar um conteúdo a altura do que prometeu. Mas fique tranquilo, ela conseguiu.
Vingadores: Ultimato é a maior recompensa para os fãs na história do cinema mundial. Mesmo que não seja um filme perfeito.
ATENÇÃO: SPOILERS DO FINAL DE VINGADORES: GUERRA INFINITA E minúsculos DE VINGADORES: ULTIMATO.
O filme começa basicamente pelo final. Thanos venceu e subiu metade da vida do Universo no telhado. Os Vingadores, que até então no máximo tinham tido contratempos, foram derrotados – até sem muito esforço do Titã Louco. Desespero na Terra, onde basicamente só os Vingadores originais sobreviveram dos heróis. Desespero em Titan, onde apenas Tony Stark e Nebulosa sobraram do time que levou o ataque até o planeta do vilão.
Após o resgate do Homem de Ferro e Nebulosa pela Capitã Marvel, todos se reencontram na Terra e já planejam o contra-ataque. Como dito no primeiro filme dos Vingadores e também neste, se eles não puderem salvar o planeta, certamente irão vingá-lo. Tony Stark decide que pra ele já deu e que está na hora de seguir em frente, já fragilizado pela batalha contra Thanos, a perda de seu adotado Peter Parker, a viagem interestelar e também pela desconfiança nos Vingadores.
O resto decide ir até Thanos recuperar as Joias e tentar reparar a grande Dizimação. Chegando lá, encontram um fragilizado Titã, facilmente contido pelo time já poderoso dos Vingadores e que agora contam com a praticamente invencível Capitã Marvel. Mas chegando lá eles finalmente compreendem a situação: eles perderam. Thanos se desfez das Joias do Infinito e não há mais como reverter as ações malignas. Vencer Thanos agora não mudaria nada. Não importa se Titã Louco vive ou morre depois do estalo, ele é inevitável. O trabalho dele foi concluído.
Cinco anos se passam e começamos a acompanhar o mundo após os eventos do último filme. Grupos de apoio aos sobreviventes, monumentos erguidos aqueles que desapareceram em cinzas. O planeta Terra está de luto, assim como os heróis. A Viúva Negra agora coordena um monitoramento da terra com vários outros heróis, assim como recebe notícias de como os outros planetas habitados estão lidando através da Capitã Marvel.
Pouco a pouco, os personagens estão aceitando a derrota e a mudança no status quo de suas próprias vidas, uns ajudando as pessoas, outros vingando-as em menor escala. Eis que aparece Scott Lang, o Homem-Formiga. Sua aparição revela que o tempo se passa de maneira diferente no Reino Quântico e que essa pode ser a solução dos problemas dos Vingadores, o que faz realmente começar Ultimato.
Esse review não contará com spoilers sobre eventos específicos do filme ou de seu final. Tudo que esses parágrafos acima revelam se passam nos primeiros 20 minutos de um gargantuoso filme de 181 minutos.
Os diretores Anthony e Joe Russo são os melhores do mundo em colocar muitos personagens num mesmo filme com um bom balanceamento de aparições. Mostraram isso muito bem em Capitão América: Soldado Invernal, Guerra Civil e no próprio Vingadores: Guerra Infinita. Mas mesmo eles não conseguiram balancear perfeitamente o elenco monstruoso na complexa história de Vingadores: Ultimato. De forma alguma é ruim, pelo contrário. Talvez seja o melhor possível devido a proporção entre a quantidade de gente importante e o tamanho do filme, mas ainda sim, vários personagens tem aparições que, enquanto não são insatisfatórias, deixam um grande gosto de quero mais.
Os “momentos Marvel” de piadinhas estão mais contidos do que seus antecessores, o que faz com que eles funcionem até melhor para aliviar a tensão do filme. Embora tenha a habitual leveza que estamos acostumados, Ultimato é um filme tenso a quase todo momento. E uma das razões dessas tensões são as constantes reviravoltas, principalmente nas ultimas uma hora e meia de filme.
Algumas dessas reviravoltas tem pouquíssimo tempo para acontecer e me faz imaginar se seria tão ruim assim se a saga das Joias do Infinito fossem dividas em três filmes e não apenas dois. Ao contrário da saga Hobbit no cinemas, onde uma história curta foi alongada para virar três filmes, haveria conteúdo suficiente para três filmes menores ao invés dos dois colossos que recebemos.
Vale lembrar que todos os plot twists são merecidos, nenhum é absurdo demais a ponto de distrair a audiência, porém alguns se resolvem tão rapidamente que acabam tirando um pouco de seu impacto sobre os personagens.
Mas é até difícil pensar nisso no meio de tantas incríveis cenas de ação que permeiam o longa. É impossível não abrir um sorriso de orelha a orelha quando os personagens são mostrados no máximo de seus poderes, trabalhando em equipe e realizando feitos impossíveis. É o tipo de filme que você vai assistir umas três vezes para perceber todos os detalhes das interações dos personagens nas cenas mais enérgicas. A última vez que foi possível sentir essa emoção tão claramente foi no primeiro Vingadores, na batalha de Nova York. Arrisco a dizer que a Marvel finalmente se superou nesse sentido.
Outra coisa que recebeu cuidado especial dos diretores e produtores foi o respeito com o arco dos personagens. Com a exceção de como lidaram com Thor – que tenho certeza que vai dividir a opinião dos fãs – todos os outros personagens, dos mais importantes até os secundários, recebem um tratamento incrível. Tanto na produção em si, como no que diz respeito a história que eles viveram até esse momento, é realmente especial a forma como foram retratados os heróis que acompanhamos durante todo esse tempo.
Não consigo pensar em um momento em que uma ação ou frase de algum personagem pareceu fora do normal – fora o Thor, que na minha opinião, poderia ter tido um arco melhor dentro do próprio filme. Todas as reações e razões são genuínas. Mesmo que você não concorde com a posição de um ou outro personagem, dificilmente você não compreenderá o porquê dele se posicionar daquela forma.
Num filme deste tamanho, esse cuidado é um alento aos nossos olhos, ouvidos e corações. E tudo, na verdade, é feito com muitíssimo esmero. A produção é impecável em todos os sentidos e quase todas as partes “não perfeitas” podem ser rastreadas até o tamanho do filme. Não sei se é possível fazer algo desse tamanho sem pisar em alguns pequenos ovos.
No final das contas, todas as críticas são periféricas. Vingadores: Ultimato vai te prender por todas as longas três horas no banco do cinema e vai te entregar até mais do você pediu. Repito: são as mais incríveis cenas de ação da história dos heróis no cinema aliados com um cuidado impecável com a história dos personagens dentro do filme, o que acaba por sumir com todos os problemas de escopo do filme. Em diversos momentos foi possível sentir o cinema inteiro vibrar com as cenas mais espetaculares e em outros o silêncio absoluto só era quebrado com o soluçar de um fã mais emocionado – e com toda razão.
Não é um filme perfeito, longe disso. Mas é muito mais do que poderíamos pedir e imaginar. Assista Vingadores: Ultimato o mais rápido que puder. De preferência, num cinema. É incrível.
Resumo para os preguiçosos
Vingadores: Ultimato é o maior recompensa para os fãs na história do cinema mundial. Mesmo que não seja um filme perfeito.
Com cenas de ação inacreditáveis, esmero com os personagens e o fechamento de várias histórias com chave de ouro, esse filme é absolutamente imperdível, a maior conquista da Marvel desde o primeiro filme dos Vingadores.
Prós
- As melhores cenas de ação da história do gênero
- Cuidado impecável com a história dos personagens
- Humor controlado para padrões Marvel
- Um grande final para o arco dos Vingadores e até para alguns personagens
- Perfeitamente assistível nas três horas de duração
Contras
- Impossível tratar todos os personagens de forma satisfatória em um filme desse tamanho
- Plot twists revelados e resolvidos rápido demais
- História pode ser confusa se você não prestar atenção durante todas as três horas de filme