Sempre achei jogos independentes interessantes por me trazerem aquele sentimento antigo de que jogos deveriam ser feitos para diversão e nada mais. A maior parte deles não visa gráficos exuberantes nem rodar a frames suficientes para que o seus olhos não consigam ver o que você faz, muito menos em receber premiações. Vejo esse exemplo no simples e divertido Unbox, jogo que nasceu no Steam Greenlight, deu as caras esta semana e me surpreendeu positivamente.
Unbox despertou o interesse de muitos dos nossos leitores – que são o motivo deste review estar no ar – não para menos, sua premissa é daquelas bem ridículas que você acaba ficando curioso para saber como diabos isso funcionaria. E que premissa é essa? A de controlar caixas que se entregam sozinhas!
Se a ideia base parece estranha, seria difícil de imaginar um jogo destes tendo algum tipo de narrativa correto? Óbvio que não! Unbox tem lore, e ele é bem aceitável. A companhia Global Postage Service, ou GPS, enfrentava problemas com encomendas que chegavam sempre com atraso aos clientes ou se perdiam no caminho. A solução? Criar caixas que se entregam sozinhas, é claro, solucionando seus problemas e tendo que fazer uma demissão em massa de carteiros diminuindo custos e provocando manifestações por todo o mundo. Você é Newbie, a mais nova invenção da GPS que tem como simples tarefa salvar a empresa de seu triste fim provando que as caixas que se entregam realmente valem a pena.
Você também deve salvar a GPS dos Wild Cards, as primeiras “caixas inteligentes” criadas pela companhia que se rebelaram e declararam vingança contra seus criadores. O porquê desta vingança você descobre progredindo na história que ao invés de ser linear segue o modelo de diversos jogos do Nintendo 64 e Playstation 2 de espalhar missões para que você as cumpra, descobrindo novos detalhes da narrativa ao cumprir cada um deles.
https://youtu.be/mYJTAWG8Cfc
Estes desafios nos são dados pelos demais personagens do jogo, todos muito carismáticos, com visual único e sempre uma pequena história para nos contar. Você deve fazer algo que eles queiram ou ajudá-los em algo e ao finalizar as tarefas é recompensado com uma estampa. Cada cenário tem um número específico de estampas e após conquistar uma fração delas você avança e conhece um pouco mais da história e libera novos cenários igualmente repletos de desafios.
Há também espalhados pelas áreas e localizadas nos lugares mais impossíveis e inimagináveis fitas douradas que devem ser coletadas – apesar do objetivo de sua coleta não ser revelado – e Zippies, caixas com aparência igual que foram todas trancafiadas pelos Wild Cards e que ao serem soltas te retribuem com mais dados sobre as caixas maléficas e sua organização.
Para encarar estes desafios e encontrar os itens e reféns escondidos você deve rolar pelos cenários de Unbox que tem mundos bem grandes e te dá liberdade para decidir o que fazer primeiro. Não há um mapa te mostrando aonde ir ou onde achar o personagem X, ao invés disso você tem apenas a sua distância deste personagem em km e uma pequena seta que te indica para que caminho ele está. Isso até pode parecer um ponto negativo para alguns jogadores, mas a meu ver a falta de um mapa valoriza o elemento exploração do game que não chega a ser tão grande a ponto de você se perder.
Rolar por aí, saltar por plataformas e desempacotar a si mesmo seriam ações muito mais divertidas não fossem a imprecisão dos controles e a câmera bisonha do jogo. Não que eu esperasse alguma precisão quando estou rolando com uma caixa, mas a impressão que fica é de que a jogabilidade é pouquíssimo polida e não limitada propositalmente para valorizar a ambientação. Jogar no mouse e teclado, por incrível que pareça (estamos falando de um platformer 3D) é menos ruim do que jogar no controle, então fica aqui o aviso.
A câmera de Unbox é simplesmente uma das piores que eu já vi, sério. Ela não acompanha os movimentos do personagem e costuma prender-se em cada detalhe do cenário que fica entre ela e nossa caixa. Mesmo com a opção de mudarmos a visão para três perspectivas diferentes, nenhuma delas chega a ser ideal e é bem comum estas perspectivas mudarem subitamente durante a jogatina, principalmente em áreas apertadas. Também não é raro que fiquemos presos em alguns locais e sem ideia de como sair porque a câmera resolveu fixar-se à parede ao nosso lado ou ao espaço fora dos limites do cenário, felizmente temos a opção de re-spawnar instantaneamente no último checkpoint.
O camera assist do jogo está ali só de fachada, o que acaba transformando Unbox em um jogo de controle duplo sendo que com um analógico/mouse você controla sua visão e com o outro analógico/wasd/setas você controla sua movimentação. Como dito, isso é menos sofrível no teclado e após algum tempo de jogo pode ser um problema até esquecível, mas que não deixa de ser desestimulante.
O jogo é repleto de veículos e outros meios de transporte que podemos usar para nos locomovermos e atropelarmos Wild Cards que são bem divertidos de se dirigir quando não acabam empacando em algum local sem saída justamente por causa da câmera. Ela é o principal problema de Unbox, problema este que pode ser resolvido com um ou mais patches que também deverão arrumar os loadings intermináveis que ele possui.
No mais, Unbox parece uma fusão de elementos que diversos platformers do Nintendo 64 e Playstation 2 tinham, principalmente Banjo-Kazooie que parece ser a principal referência. A atmosfera do jogo é bem animada e sua trilha e efeitos sonoros em geral nos ajudam a entrar no clima desta aventura inesperada envolvendo caixas conscientes.
Visualmente Unbox também agrada, se aproveitando de todos os benefícios que a Unreal Engine 4 pode oferecer. Além de mundos bem grandes e uma riqueza de detalhes nos cenários, o detalhe que mais me chamou a atenção foi a destrutividade de todos eles e como eles afetam o desafio que nos é oferecido.
E se você ficou animado com tudo isso, não jogue dinheiro na tela ainda porque falta falarmos da cereja do bolo: o multiplayer local (Sim, aqui estou eu em 2016 elogiando multiplayer local). Unbox oferece uma experiência TÃO divertida para até 4 jogadores que fiz questão de deixar este detalhe por último. Este modo possui diversos mini-modos, como corrida, batalha em arena, testes de velocidade e vários outros. Todos estes mini-modos possuem armas – fogos de artifício e bombas em sua maioria – que são oferecidas aos jogadores para que eles literalmente se explodam e você ainda tem a opção de selecionar o setup de armas que será disponibilizado e a probabilidade de cada uma delas de ser conseguida.
É um dos modos multiplayer mais divertidos que já joguei, dá de 10 a 0 em muito multiplayer online por aí *coff coff* e só poderia ser melhor se fosse realmente online.
Unbox é um jogo que me pegou de surpresa e que, apesar dos problemas, me mostrou mais uma vez o tamanho do potencial de diversão dos jogos independentes. É um jogo focado principalmente na diversão de adultos e crianças, que tem um fator replay baixo e não vale o preço cheio hoje.
Review elaborado utilizando uma cópia do jogo para PC fornecida pela Prospect Games.
Resumo para os preguiçosos
Unbox tem uma premissa interessante e em cima dela entrega uma experiência divertidíssima que pode ser compartilhada com amigos que algum dia apareçam na sua casa. Possui muito conteúdo e grandes áreas exploráveis, personagens carismáticos e uma narrativa até aceitável que acabam esbarrando em problemas técnicos não tão simples que podem afastar muitos jogadores.
Prós
- Lore bem feito
- Divertido
- Muito conteúdo
- Atmosfera contagiante
- Grandes mundos abertos
- Multiplayer local divertidíssimo
Contras
- Telas de carregamento intermináveis
- Movimentação imprecisa
- Câmera terrível
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