Não sabia o que esperar quando coloquei as mãos em The Evil Within 2. Depois de uma experiência bastante negativa com o primeiro jogo, a única coisa que posso dizer é que mantive minhas expectativas baixas para o segundo jogo da franquia de Shinji Mikami, e talvez isso tenha sido o meu maior acerto.
Depois de passar minha adolescência e parte da vida adulta jogando os games de survival horror de Shinji Mikami, tinha grandes expectativas para a estreia de The Evil Within, e esperava algo parecido com a experiência proporcionada por Resident Evil 4, só que com uma ultra dose extra de terror psicológico, e caí do cavalo.
Não me levem a mal, The Evil Within tem diversas qualidades, mas os diversos problemas de mecânica de gameplay fizeram com que eu dropase o jogo depois de dez capítulos, sem nem ao menos tê-lo finalizado. E olha que eu estava encantado com a presença de Ruvik e os visuais brutais dos inimigos – em especial dos chefes do jogo. Mas nem isso e nem o clima e a atmosfera intimidantes foram o suficiente para equilibrar a balança que pendia para o negativo graças às mecânicas falhas.
A análise de The Evil Within 2 começa com esse panorama sobre as minhas impressões sobre o primeiro jogo, para ilustrar o quão cético eu estava sobre a continuação. Ainda assim, TEW2 me surpreendeu de diversas maneiras, muitas delas positivas, e a Tango Gameworks entregou um jogo absolutamente mais equilibrado em termos de mecânicas que o primeiro título, o problema é que esse equilíbrio também trouxe alguns pontos negativos que eu conto para vocês nos próximos paragrafos.
O novo pesadelo
Em The Evil Within 2 novamente estamos na pele de Sebastian Castellanos, três anos após os horrores vividos no hospital Beacon, o agora ex-policial vive assombrado pela morte de sua filha Lily em um trágico incêndio em sua casa. Deprimido, traído pelos que acreditava serem seus amigos, desempregado, abandonado pela esposa e afundando no vício do álcool, Sebastian recebe a notícia bombástica de que Lily está viva, e essa notícia é dada por ninguém menos que Kidman, sua antiga parceira e que agora está à serviço da Mobius.
Sem nada a perder, Sebastian é levado à sede da Mobius onde lhe é dada a oportuinidade de ir em busca de sua filha, Lily. Para isso, ele deve novamente mergulhar dentro da STEM, a maior criação da Mobius: uma realidade virtual no estilo Matrix. Mas não sem antes descobrir que Lily é parte fundamental para manter o controle e a ordem dentro da STEM.
Ao emergir novamente dentro da realidade virtual, Sebastian é informado que instabilidades estão causando o caos na STEM, e lá, ele novamente será obrigado a enfrentar criaturas bizarras, vilões psicóticos e uma infinidade de perigos que fazem com que o horror vivido em Beacon pareçam um passeio no parque.
O objetivo de Sebastian, além de resgatar sua filha, é entender o que está acontecendo dentro da STEM e reestabelecer a ordem. Contando com o suporte de Kidman e de alguns poucos sobreviventes dentro da realidade virtual, Sebastian lutará não apenas contra inimigos e situações impossíveis, mas também contra seus próprios pesadelos e sua psique.
Quem jogou o primeiro The Evil Within com certeza tem em Ruvik uma das figuras mais marcantes daquele título. TEW2 nos apresenta uma nova remessa de vilões, entre os quais Stefano Valentino é o destaque. Diferente de Ruvik, Stefano é um psicopata que baseia suas atrocidades na arte da fotografia. Fazendo uso da lente de uma câmera ele cria obras de arte em seus assassinatos e mutilações, fazendo com que Sebastian seja obrigado a apreciar a insana beleza em meio a um gore descumunal.
Descomplicando
Com um enredo mais claro e mais fácil de entender do que o primeiro jogo, TEW2 se apresenta com uma história muito mais acessível que seu predecessor, que trazia diversas camadas interpretativas em sua história que acabavam não dando profundidade ao enredo – apenas tornando-o confuso e obscuro.
The Evil Within 2 corrige esse problema, mas nem por isso a trama é rasa ou sem nuances e variações. Os objetivos aqui são claros, mas no decorrer do jogo várias situações e personagens vão sendo apresentados, tornando a jornada de Sebastian mais profunda e complexa.
Outro ponto de melhoria foi o gameplay e a jogabilidade. Se TEW1 trazia um “realismo” maior nos controles, especialmente na imprecisão do combate e na dificuldade de se fugir dos inimigos, The Evil Within 2 é mais amigável aos menos hardcores no gênero. Ele dá ao jogador opção de assistência de mira, tornando o desperdício de munição menos frequente – e como estamos falando de um survival horror, toda bala conta.
O level design do jogo é outro ponto alto. Uma mistura de corredores escuros, apertados e sujos com cenários de mundo semi-aberto. Muita destruição, caos e gore são encontrados pelos cenários, e deixam bem claro que em TEW2, tudo que está presente nos cenários pode causar traumas em Sebastian.
Em termos de mecânica, o que funcionava bem no primeiro jogo foi mantido, e em alguns pontos até ampliado e melhorado. O sistema de upgrades – tanto de armas como de Sebastian foram mantidos e são essenciais para o bom desempenho no jogo. É altamente recomendado que o jogador foque nas melhorias de furtividade e estamina de Sebastian no início, desta forma é possível matar uma maior quantidade de inimigos de forma furtiva – sem usar munição, e assim acumular mais gel verde.
Boas novidades
A furtividade inclusive é essencial no jogo. Claro que não estamos falando de furtividade no nível de um Metal Gear Solid, mas saber contornar grandes aglomerações de inimigos e ir matando os que estão desgarrados é parte fundamental para um bom progresso especialmente nas dificuldades mais elevadas. Aqui, podemos dizer que o jogo tem uma grande inspiração em The Last of Us – o modus operandi da furtividade em The Evil Within 2 é extremamente semelhante ao do game da Naughty Dog, inclusive a movimentação e a forma como Sebastian finaliza os inimigos é bastante parecida com a de Joel.
Ainda citando The Last of Us como referência, TEW2 tem alguns outros aspectos que lembram bastante o jogo da Naughty Dog. O primeiro deles é mais visual: a bancada de upgrade de armas é bastante semelhante – para não dizer cópia – da bancada de The Last of Us.
Há também cenários de mundo semi-aberto, onde o jogador pode explorar diversas construções e locais em busca de itens, armas e também de missões secundárias. Uma boa novidade, já que essas mecânicas (que novamente parecem ser inspiradas em The Last of Us e também em Tomb Raider) adicionam uma boa variação ao gameplay e dão ao jogador a possibilidade de decidir qual a melhor hora de prosseguir na história principal do jogo.
Os deslizes
As semelhanças e referências não param por aí. The Evil Within 2 é recheado de referências à outros grandes títulos, e claro, como se trata de um jogo de Shinji Mikami, o criador de Resident Evil há diversas referências sutis à franquia da Capcom, a começar pelo próprio Sebastian, que se consolida em TEW2 como uma espécie de “Leon da Bethesda”, não apenas por suas habilidades e comportamento perante às missões, mas por suas frases de efeito mal colocadas e desconexas, reações que não condizem com a situação que ele está vivendo, entre diversas outras coisas que tornam impossível a comparação com Leon, especialmente em Resident Evil 4.
Essas características infelizmente conferem à Sebastian uma personalidade semelhante à de uma batata cozida. Esse problema já estava presente no primeiro jogo, e nem mesmo uma trama com motivações mais intimistas como a busca por sua filha ajudaram Sebastian a ter uma evolução convincente em sua personalidade.
Outro ponto em The Evil Within 2 que fica aquém das expectativas é o fato de o jogo ser apenas um bom jogo de survival horror, e nada mais que isso. Quando se fala de Shinji Mikami, seja na produção ou na direção, a expectativa é de algo inovador, que traga importantes novidades para o gênero, e TEW2 não faz isso.
O jogo se aproveita de mecânicas consagradas, as une de forma bastante competente, alia isso à uma história concisa e a um gameplay balanceado mas falta algo, falta aquilo que fazem os olhos brilharem e deixar o jogo marcado como algo grande, algo inesquecível.
Dessa forma, mesmo com todas suas qualidades e as melhorias em relação ao primeiro título, The Evil Within 2 é apenas mais um bom jogo que dificilmente terá uma sobrevida ou ficará marcado por um longo período. Em meio à tantos bons jogos, e à tantos jogos de terror emergindo nos últimos tempos, The Evil Within 2 corre o risco de escorregar em seus próprios acertos e com isso ser relegado à um segundo plano.
Obviamente que os fãs do gênero tem nas mãos um prato cheio. São cerca de 15h-20h de gameplay na campanha principal, níveis de dificuldade extremamente desafiadores e uma incrível horda de aberrações a serem enfrentadas. Mas fica a impressão – e também o desejo de que esse jogo, esta franquia, poderiam ser mais.
Review elaborado com uma cópia de The Evil Within 2 para PlayStation 4 fornecida pela Bethesda.
Resumo para os preguiçosos
The Evil Within 2 traz tudo que o primeiro jogo fez de bom e apresenta melhorias substanciais principalmente na forma como o enredo é apresentado e na jogabilidade. Além disso ele se faz valer de mecânicas consagradas de outros jogos, como cenários de mundo semi-aberto e missões secundárias e isso ajuda a tornar o jogo menos cansativo e mais variado.
Apesar disso, TEW2 não apresenta nada de novo em relação aos demais jogos do gênero, e em um cenário onde diversos bons jogos de terror e de survival horror estão chegando ao mercado mês após mês – ele é apenas mais um bom jogo que não traz nada de excepcional.
Para os fãs do gênero, The Evil Within 2 é um game obrigatório e com certeza vai proporcionar algumas dezenas de hora de diversão em meio a um gore brutal, e terror psicológico de primeira, tudo isso pautado por visuais excepcionais, jogabilidade fluída e história imersiva.
Prós
Belos gráficos
Jogabilidade descomplicada
Visual dos inimigos
História coesa e imersiva
Novas mecânicas de mundo semi-aberto em alguns trechos
Tensão gore e terror psicológico
Contras
Ausência de inovação
Excesso de de mecânicas copiadas de outros jogos
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