Quando falamos sobre jogos de gerenciamento, muitos pensam apenas em gráficos de produção, controle de recursos e eficiência. Mas The Alters vai além disso. Desenvolvido pela 11 bit studios, esse título coloca o jogador em uma situação de extrema vulnerabilidade e solidão, mesclando os gêneros e exploração e gerenciamento. Mas será que vale a pena? É o que vamos descobrir na análise de hoje.

A premissa pode parecer simples: você é Jan Dolski, o único sobrevivente de uma missão de mineração em um planeta inóspito onde a luz solar direta pode ser fatal. Sua base precisa se manter em movimento para sobreviver, e seus recursos estão no limite. A única solução? Criar versões alternativas de si mesmo para ajudá-lo.
No começo de The Alters, Jan está completamente sozinho. É ele quem coleta recursos, faz reparos e toma decisões. No entanto, a coisa muda quando ele encontra a substância Rapidium. Essa substância permite a criação de cópias alternativas de Jan, usando uma máquina chamada O Ventre. Através de escolhas divergentes no passado do personagem, o jogo cria outras “versões” de Jan com diferentes especializações, como Jan Cientista, Jan Técnico ou Jan Botânico.
Esses Jans alternativos se tornam indispensáveis para manter a base funcionando. Cada um possui habilidades úteis, e sua colaboração é essencial para progredir. Contudo, cada Alter também carrega suas próprias memórias, traumas e visões de mundo.
Conforme você avança, The Alters deixa claro que não se trata apenas de produtividade. Os Jans têm vontades, personalidades e conflitos. Por exemplo, você pode se deparar com discussões sobre alimentação, como entre Jan Técnico e Jan Cientista. Enquanto um prioriza eficiência, o outro se preocupa com bem-estar. E como gestor dessa equipe de si mesmo, você terá que decidir qual caminho seguir.
As decisões podem ter consequências graves. Um exemplo marcante envolve Jan Mineiro, uma versão que teve problemas com remédios no passado e sofre com dores fantasma. Ignorar ou tratar mal essas questões pode resultar em perdas irreparáveis. O jogo força você a repensar o que é prioridade: a missão ou o bem-estar individual?
Apesar de a jogabilidade envolver ciclos repetitivos, como consertar a base, minerar recursos, lidar com eventos climáticos, a experiência nunca se torna monótona. Isso porque The Alters injeta dilemas e revelações em momentos estratégicos. A narrativa vai se expandindo, revelando mais sobre o planeta, a corporação Ally Corp e os próprios Jans.
O jogo constantemente obriga o jogador a refletir. Cada nova tarefa pode vir acompanhada de uma crise moral ou emocional. A mecânica de repetição se transforma em um catalisador para a narrativa, e a conexão emocional com os Alters se torna o principal motor de engajamento.
Aos poucos, você percebe que não está só gerenciando recursos, mas lidando com pedaços da sua própria psique. O jogo oferece momentos profundos de introspecção, especialmente nas conversas entre as diferentes versões de Jan. Esses momentos aumentam o peso das decisões, pois não se trata apenas de eficiência, mas de empatia.
Esse é um dos grandes trunfos de The Alters: transformar uma experiência de gerenciamento em um estudo de personagem. Ao final de cada capítulo, você não está apenas mais próximo de concluir a missão, mas também mais próximo de compreender seus próprios limites.
Já graficamente falando, The Alters é extremamente competente e muito bonito. Todos os mapas são bem feitos e com uma direção de arte impecável. Não temos tanta variedade assim de coisas, mas no que ele se propõe a fazer o jogo entrega muito bem.
The Alters não tem dublagem em português, mas conta com legendas e até onde pude notar, foi bem localizada e sem erros notáveis.
Mas e aí, The Alters vale a pena?
The Alters não é para jogadores impacientes. Se você gosta de ação imediata e resultados rápidos, talvez esse não seja o título ideal. O jogo exige reflexão, tentativa e erro, e uma boa dose de autoconhecimento. Ainda assim, ele oferece configurações de dificuldade que tornam a experiência mais acessível, o que é um acerto por parte da 11 bit studios.
O que parecia ser mais um jogo de gerenciamento se revela como um experimento social com forte carga emocional. The Alters surpreende ao mostrar como nossas decisões podem carregar peso emocional até mesmo em um ambiente digital. E esse impacto, aliado à excelente direção de arte e narrativa, faz dele uma experiência memorável.
The Alters vai além do que se espera de um jogo do gênero. É uma aventura sobre sobrevivência, mas também sobre identidade, arrependimento e empatia. A jornada de Jan Dolski e seus múltiplos “eus” é repleta de momentos tocantes e escolhas difíceis. Pode não ser um jogo para todos, mas certamente é um jogo que vai marcar quem se permitir mergulhar nele.
Análise feita com uma chave para PS5 cedida pela Publisher.
Resumo para os preguiçosos
The Alters é um jogo de gerenciamento e sobrevivência com foco emocional, onde o jogador controla Jan Dolski, único sobrevivente em um planeta hostil. Para sobreviver, ele cria versões alternativas de si mesmo, cada uma com habilidades, memórias e traumas distintos. Esses “Jans” ajudam na manutenção da base, mas também trazem dilemas morais e conflitos internos.
Mais do que gerenciar recursos, o jogo desafia o jogador a lidar com empatia, identidade e escolhas difíceis. A narrativa intensa, aliada à bela direção de arte, transforma The Alters em uma experiência profunda e única — ideal para quem busca algo além da eficiência e da ação imediata.
Prós
- Gráficos
- Gerenciamento dos Alters
- História
Contras
- A parte da exploração é simples e repetitiva
- Pode ser frustrante em certos momentos
- Movimentação travada