Após dois grandes lançamentos em 2016 – o aclamado reboot de Ratchet & Clank e o não tão elogiado Edge of Nowhere – a Insomniac Games decidiu fazer algo mais simples com o metroidvania 2D Song of the Deep que chega com uma marca inusitada de ser o primeiro jogo publicado pela GameTrust, a divisão de game publishing da GameStop.
Song of the Deep conta a história da jovem Merryn que espera toda noite pelo retorno de seu pai que é pescador. Certa noite ele não volta e após ter um sonho vendo-o preso no fundo do mar ela decide salvá-lo. Merryn constrói um pequeno submarino de sucata, se espreme dentro dele e parte para salvar seu velho.
Este início da história consegue ser bem cativante da forma como é contado. Com a voz marcante de uma narradora e poucas imagens podemos perceber como é profunda a relação entre a garota e seu pai e o quão longe ela iria para salvá-lo. As cutscenes compostas por imagens que parecem ter saído de um livro infantil também contribuem com este fator emocional que convida o jogador a adentrar na história e a se importar com o destino do pai de Merryn.
Durante toda a aventura o jogo se apoia na ideia de nos fazer descobrir o desconhecido, usando além da premissa de estarmos no fundo do mar – algo que já traz o conceito de desconhecido automaticamente à nossa mente – a apresentação de histórias e mitos que já foram contados uma vez a Merryn por seu pai. A história é muito bem construída, levando o jogador pela mão quando se trata do conhecimento de toda a mitologia criada pelo pescador.
A energia chamada Tyne, os Merrow, o vigia, o recife do esqueleto e vários outros elementos desta mitologia são muito bem apresentados ao jogador e ajudam a criar este sentimento de descobrir o desconhecido que casa muito bem com o elemento metroidvania do game. Ele possui um imenso mapa aberto livre para se explorar e bloqueia o jogador de forma sutil com águas vivas que reagem à luz, correntes de água que o submarino não pode ultrapassar ou espaços muito pequenos para ele.
Assim continuamos com o objetivo de explorar e avançar em mente e seguimos de bom grado para onde o jogo quer nos levar. Como em todo metroidvania, estes obstáculos podem ser ultrapassados após conseguirmos alguma habilidade específica, que aqui são peças para o submarino de Merryn que adicionam funções extras e só podem ser obtidas com muito esforço.
O senhor caranguejo ermitão (que é muito simpático por sinal) é quem nos vende melhorias para estas peças que podem ser usadas para ir mais fundo (trocadilho não intencional) na exploração para encontrar tesouros mais valiosos que nos permitirão comprar mais melhorias. Ele até nos dá tchauzinho, mesmo que não compremos nada dele.
Song of the Deep também é sutil com os puzzles utilizando um design muito bem pensado que apresenta tudo o que o jogador deve fazer e muitas vezes deixa clara a resolução dos mesmos. Estes desafios vão ficando mais difíceis conforme avançamos no jogo assim deixando de ser apenas uma distração e passam a ser bem mais divertidos.
Mais pra frente no jogo temos a opção de controlar Merryn fora de seu submarino, assim é possível acessar áreas onde o submarino não podia passar por ser muito grande, mas além disso, essa adição abre o leque de puzzles do jogo de uma forma muito bacana. Após este ponto veremos desafios que unem o uso do submarino e de Merryn fora dele, algo que quebra a mesmice dos puzzles iniciais e finalmente nos faz pensar.
O melhor e o pior do jogo está nas lutas contra as horrendas criaturas que habitam o fundo do oceano e que exigem do jogador completo domínio dos comandos do jogo. As habilidades que usamos para resolver os puzzles também funcionam no combate, de maneira melhor até, e enquanto o desafio bom está em vencer e desviar dos inimigos, o desafio ruim fica por parte da física do game.
É difícil explicar como a física de Song of the Deep atrapalha de maneira ruim nos combates já que ela é praticamente perfeita para o jogo. Quase todos os elementos flutuam para cima e sempre seguem o mesmo sentido da água, mas durante as lutas essa física faz com que os comandos não sejam sempre exatos. É fácil morrer porque a cauda do submarino flutuou um pouco para cima e você acabou indo na direção do inimigo ao invés de desviar por baixo dele.
A física do jogo é competente, ela ajuda a criar uma melhor atmosfera e na concepção de vários puzzles, mas acaba prejudicando a jogabilidade, é um pró e um contra.
A física incomoda, mas o que é realmente frustrante é a evolução dos inimigos e como estas evoluções são colocadas em nosso caminho. Mesmo vendo estas evoluções como inevitáveis, já que o submarino de Merryn também fica mais forte conforme avançamos, não há um aviso prévio ou uma sugestão visual de que isso vá acontecer e é normal se deparar com criaturas que te matam com um único golpe em áreas fechadas onde é quase impossível desviar.
Os combates não são constantes, menos mal, e as doses de ação e resolução de puzzles são bem equilibradas, além da história que segue se desenvolvendo se encaixando muito bem nas pausas entre um e outro.
O visual de Song of the Deep é muito bacana, cheio de áreas diferentes e coloridas e inimigos que se misturam com a paisagem e interagem de maneiras bem legais com as funcionalidades do submarino de Merryn. A trilha sonora faz seu papel na criação da atmosfera e funciona melhor nas áreas inóspitas e nos momentos de ação.
Felizmente Song of the Deep vem completamente legendado em português, um ponto positivo para a publisher que se por um lado nos fez um favor com as legendas, por outro não localizou bem o preço do jogo que chega aqui por um valor inviável (R$119,00 nos consoles e R$99,99 no PC).
Pode-se dizer que Song of the Deep é simples em todos os seus aspectos, o que não é algo ruim, já que ele é competente em quase todos eles. É um jogo competente que vai pouco além do ok, não tem um fator replay alto e claramente não vale o preço cheio cobrado, apenas se você for um grande fã de metroidvanias (mas tem que ser fãzasso mesmo).
Review elaborado com uma cópia do jogo para PC fornecida pela publisher.
Resumo para os preguiçosos
Song of the Deep é um metroidvania 2D que conta a história de uma garota que, após o sumiço de seu pai pescador, constrói um submarino de sucata e parte em sua procura. O game é repleto de puzzles e momentos de ação que são divertidos enquanto não esbarram na física que apesar de ser competente na maioria das vezes, ainda assim atrapalha.
O mundo criado pelo jogo é muito rico e a exploração consegue ser bem divertida com as diferentes habilidades que são proporcionadas. O game é ainda completamente legendado em português, o que facilita e muito na compreensão da belíssima história que ele possui. O que não facilita mesmo é o preço.
Prós
- História bem escrita e cativante
- Design e puzzles criativos
- Bom uso das habilidades na resolução de puzzles
- Combates divertidos na maioria das vezes
- Legendado em português
Contras
- Primeiros puzzles acabam sendo só distração
- Física atrapalha nos combates e em alguns puzzles
- Adição de inimigos que te matam com um golpe é frustrante
- Preço mal localizado
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