Silent Hill f – Análise – Review – Vale a Pena

Silent Hill sempre foi uma franquia marcada pelo medo psicológico, pela névoa sufocante e pelas ruas desertas de uma cidade americana fictícia que se tornou sinônimo de horror nos videogames. Mas com Silent Hill f, a Konami ousou quebrar paradigmas e nos transportou para um cenário completamente novo: o Japão rural da década de 1960. Mas será que o jogo vale realmente a pena? É o que vamos descobrir na análise de hoje.

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A história de Hinako: horror íntimo e social

Silent Hill f - Análise – Review – Vale a Pena

A protagonista de Silent Hill f é Hinako, uma estudante colegial aparentemente comum que, após uma briga com o pai, foge de casa em busca de ar fresco. O ponto de partida é simples, mas logo se transforma em um mergulho sufocante em traumas, críticas sociais e horrores sobrenaturais. Ao atravessar as ruas silenciosas da vila de Ebisugaoka, Hinako se depara com a solidão, com lembranças dolorosas e, eventualmente, com monstros que parecem nascer de dentro de sua própria psique.

O mais interessante é que, ao contrário dos jogos anteriores da série, o foco aqui não está em uma cidade amaldiçoada por forças externas, mas sim no reflexo de um Japão em transformação, onde tradições arcaicas colidem com a modernidade. O roteiro é lotado de pequenas nuances e camadas.

Cada diálogo, cada documento escondido e cada símbolo visual reforçam a ideia de que o verdadeiro horror não está apenas nos monstros, mas também nas estruturas sociais que aprisionam Hinako e as mulheres de sua época.

Silent Hill f – Análise – Review – Vale a Pena

O jogo lida com temas pesados como repressão feminina, papéis de gênero e o fardo da tradição em uma sociedade patriarcal. Não é apenas uma história de fantasmas e criaturas grotescas, é também uma metáfora sobre identidade, liberdade e resistência.

Se há algo que Silent Hill sempre fez bem foi criar atmosfera, e aqui não é diferente. Só que, em vez das ruas americanas cobertas de névoa, Silent Hill f nos coloca em um Japão rural cercado por montanhas, campos de arroz e casas de madeira antigas. O design dos cenários é tão detalhado que você quase sente o cheiro da terra molhada ou a umidade da madeira apodrecida.

O jogo tem cerca de 10 horas de campanha, mas segue uma estrutura levemente similar a de Nier Automata, onde temos 5 finais diferentes e precisamos zerar mais de uma vez para ver eles e mudando parte da história no processo. Com isso, para você realmente ver tudo que Silent Hill F tem a oferecer na história, é preciso zerar inúmeras vezes para montar o grande quebra cabeça e ver o final verdadeiro.

Gameplay e combate

Silent Hill f - Análise – Review – Vale a Pena
Silent Hill f – Análise – Review – Vale a Pena

Já no quesito gameplay e combate, Silent Hill f aposta em uma jogabilidade mais voltada para o combate corpo a corpo. Hinako não é uma heroína equipada com armas poderosas, ela usa o que encontra pelo caminho: canos de ferro, tábuas de madeira e outros objetos improvisados. Esses itens são frágeis e quebram com o uso, o que aumenta a tensão de cada encontro.

Silent Hill f tem um foco no combate maior do que os outros jogos da franquia, mas isso é feito com maestria e apesar do combate constante, você se sente constantemente apavorado, já que Hinako é uma pessoa que não foi treinada para combate e precisa se agarrar a qualquer oportunidade que tiver para conseguir vencer os inimigos.

Ainda existem as sequências mais silenciosas em que o jogador anda sozinho por ruas estreitas e ouve apenas o som distante do vento, o jogo consegue balancear bem essas partes e no fim entrega uma experiência de combate e exploração digna de um grande jogo de terror.

Agora falando dos enigmas e puzzles, eles sempre foram uma marca registrada da série, e aqui eles aparecem em diferentes graus de dificuldade. Em modos mais fáceis, eles são simples e funcionam quase como tutoriais. Já nas dificuldades maiores, exigem atenção a símbolos, objetos escondidos e até referências à cultura japonesa.

Por outro lado, alguns puzzles sofrem de repetição. Em determinados momentos, a fórmula “encontre três itens para abrir a próxima porta” se repete em excesso, o que pode quebrar o ritmo. Ainda assim, os puzzles opcionais, aquelas que não são obrigatórios para avançar, se destacam por trazer mais contexto à história de Hinako e da vila de Ebisugaoka, recompensando os jogadores que gostam de explorar cada canto.

Audiovisual

Silent Hill f – Análise – Review – Vale a Pena

Do ponto de vista audiovisual, Silent Hill f é de cair o queixo. A direção de arte se concentra menos no gore explícito e mais em criar imagens perturbadoras pela estranheza. As flores vermelhas contrastando com paredes de madeira apodrecida, os monstros deformados que parecem ao mesmo tempo apavorantes e belos, e o uso inteligente da iluminação criam um espetáculo visual que marca o jogador e é sem dúvidas uma das melhores direções de arte do ano, sendo um grande candidato para vencer essa categoria na premiação de dezembro.

A trilha sonora também merece destaque. Embora Yamaoka não esteja diretamente à frente da música como em outros jogos da franquia, a sonoplastia cumpre seu papel de forma eficiente. O som da madeira rangendo, os sussurros ao fundo e o silêncio repentino são tão importantes quanto qualquer música. Quando os acordes melancólicos entram, a sensação de melancolia e opressão atinge em cheio e contribui fortemente para essa atmosfera assustadora do jogo.

O verdadeiro terror de Silent Hill f não está apenas nos monstros, mas no que eles representam. A narrativa explora pressões sociais, desigualdade de gênero e a sensação de aprisionamento em tradições rígidas. Hinako é uma personagem feita não apenas para sobreviver ao sobrenatural, mas para simbolizar uma juventude sufocada por regras que anulam sua identidade.

O impacto emocional é forte, mesmo quando a ação não assusta tanto, a história mantém o jogador inquieto. Há uma tristeza constante, uma sensação de que cada pequena vitória é apenas temporária e que o destino de Hinako é inevitavelmente trágico, com a boa direção de arte e as excelentes músicas de fundo contribuindo ainda mais para a imersão e essa agonia constante do jogador.

Mas e aí, Silent Hill f vale a pena?

Silent Hill f é, sem dúvida, um dos títulos mais ousados da franquia. Ele não tem medo de se afastar do familiar para criar algo novo, e essa ousadia é o que o torna especial. A mistura de terror japonês com o legado de Silent Hill gera uma experiência única, mesmo que alguns elementos, como a ênfase na ação e a repetição de puzzles, possam dividir opiniões.

Para os veteranos da série, o jogo pode parecer estranho em um primeiro momento, quase como se fosse uma ramificação à parte. Mas ao mergulhar de cabeça, é fácil perceber que o espírito da franquia está lá: a dor, o trauma, o simbolismo e a atmosfera sufocante. Para os novatos, Silent Hill f funciona como um ponto de entrada acessível, já que não exige conhecimento prévio dos títulos anteriores.

Análise feita na versão de PC do Silent Hill F.

Resumo para os preguiçosos

Silent Hill f marca uma nova fase da franquia ao trocar a cidade americana envolta em névoa pelo Japão rural dos anos 1960, trazendo a história de Hinako, uma estudante que enfrenta traumas pessoais, horrores sobrenaturais e a opressão social de sua época. Com uma narrativa carregada de simbolismos e críticas às tradições patriarcais, o jogo mistura terror psicológico, combate corpo a corpo tenso e puzzles desafiadores, ainda que por vezes repetitivos. Visualmente impactante e com uma trilha sonora imersiva, Silent Hill f se destaca por sua ousadia em reinventar a série, entregando uma experiência única que equilibra medo, drama e reflexão social.

Nota final

90
Saiba mais sobre os nossos métodos de avaliação lendo o nosso Guia de Reviews.

Prós

  • História
  • Direção de arte
  • Exploração
  • Atmosfera

Contras

  • Variedade de inimigos
  • Puzzles poderiam ter mais variedade
Valteci Junior
Valteci Junior
Me chamo Valteci Junior, sou Editor-chefe do Critical Hits, formado em Jogos Digitais e escrevo sobre jogos e animes desde 2020. Desde pequeno sou apaixonado por jogos, tendo uma grande paixão por Hack and slash, Souls-Like e mais recentemente comecei a amar jogos de turno e JRPG de forma geral. Acompanho anime desde criancinha e é um sonho realizado trabalhar com duas das maiores paixões da minha vida.