Pokémon Scarlet e Violet chegaram com promessa de trazer novidades bem interessantes na fórmula Pokémon, algo cobrado pelos fãs já faz tempo. Mas será que esse jogo consegue entregar novidades enquanto preserva a essência do original? É o que vamos descobrir hoje.
Em Pokémon Scarlet e Violet, você controla um treinador cuja aparência você decide no começo do jogo. Você se transferiu para a região de Paldea e ingressou na academia Pokémon da cidade para aprender mais sobre os monstrinhos de bolso que conhecemos há décadas.
Logo no começo do jogo, você é guiado aos primeiros passos dentro do mundo de Pokémon a fazer as mesmas coisas que a gente sempre faz no jogo: escolher o inicial, batalhar contra o rival, aprender a capturar outros Pokémon e assim por diante. Durante essa aventura inicial, você dá de cara com o lendário do jogo Koraidon ou Miraidon, que é encontrado ferido numa praia e acaba salvando ele de outros Pokémon selvagens. Você e o lendário do seu jogo ficam amigos e uma das suas tarefas no jogo é ajudar o Pokémon a recuperar suas forças.
Depois disso, o jogo faz algo inesperado: ao invés de você frequentar as aulas da tal academia Pokémon, ela possui um programa onde você deve partir numa jornada para decidir qual a sua paixão dentro do universo Pokémon, e esse é o pretexto para começarmos nossa aventura como em qualquer outro jogo.
Aqui há uma grande diferença: você pode ir pro lado que você quiser e fazer as coisas na ordem que você quiser. Basicamente, há três grandes quests a cumprir dentro do jogo: o circuito de ginásios, onde você conquista insígnias para tornar-se um Mestre Pokémon, o circuito dos Titãs, onde você ajuda um jovem treinador a enfrentar Pokémon imensos em busca de ervas lendárias e o combate ao Team Star, a “equipe Rocket” desse jogo, que é formada por alunos baderneiros da mesma academia que você frequenta.
Apesar do jogo te dizer que você pode seguir da forma como você desejar, o jogo ainda assim possui uma espécie de caminho recomendado, já que se você seguir apenas numa direção até o final do caminho dela, você provavelmente vai dar de cara com Pokémon muito mais fortes do que os que você estava enfrentando há pouco.
Isso aconteceu comigo no começo do jogo e eu levei umas 7 a 8 horas para pegar a ideia do jogo, de que a ideia não seria seguir apenas um caminho como nos jogos clássicos da franquia, e sim ir um pouco num, voltar usando a viagem rápida, seguir por outro caminho e assim por diante.
Mesmo pegando essa ideia, fica meio complicado de saber qual a ordem correta para se seguir a menos que você siga um guia do jogo, e você provavelmente vai acabar fazendo os ginásios e desafios numa ordem completamente diferente da crescente. Enquanto eu tropeçava por esse sistema de progressão, eu acabei com meus Pokémon acima do nível recomendado de obediência das insígnias para vencer meu terceiro ginásio, e só depois que eu notei que podia seguir por outro caminho eu acabei encontrando mais dois ginásios com o nível bem abaixo dos meus monstrinhos.
Sabe qual foi o resultado disso? Eu terraplanei eles sem desafio nenhum nessa parte e só voltei a ter algum desafio no sétimo ginásio, que na verdade era para ter sido ginásio final e que depois que eu venci esse, o meu último ginásio acabou sendo bem fácil também.
Outro ponto que eu ainda gostaria de comentar sobre o desafio de ginásios é que a sensação que eu tive das cidades foi que elas são bem mortas em relação a outros jogos da série. Não há nenhuma quest envolvendo as cidades ou algo do tipo, você chega nela, vai direto pro ginásio, faz a tarefa que o ginásio exige que você faça antes de enfrentar o líder, derrota ele e já está liberado para ir pra próxima. O incentivo a explorar as cidades é bem baixo, e você geralmente só encontra nelas as mesmas coisas de sempre, como barraquinhas de comida e loja de sanduíche.
Apesar do jogo dizer que você pode seguir pro lado que você quiser, o sistema de quantas insígnias você possui dizerem até qual nível os Pokémon te obedecem acabam te forçando a seguir o circuito de ginásio praticamente até o final do jogo, ou pelo menos até obter 6 insígnias para ter Pokémon até do nível 50, já que essa meio que é a tarefa que você deve concluir antes de conseguir enfrentar propriamente os últimos membros do Team Star e os Pokémon Titãs.
Falando um pouco sobre essas duas atividades, na primeira o jogo trouxe uma novidade: agora ao invés de você enfrentar um monte de soldados do Team Star, você deve invadir as bases deles e derrotar o líder daquela base. Para isso, você precisa derrotar 30 Pokémon dentro da base usando o modo de combate onde você libera o Pokémon da Pokébola e ele luta sozinho. Depois de vencido os 30, você enfrenta o líder, que sempre vai ter um Pokémon final em cima de um carrão que acaba deixando ele bem mais forte do que ele seria normalmente.
Finalmente, temos o desafio dos Pokémon titãs, que são Pokémon imensos espalhados pelo mapa onde você deve derrotá-los numa quest para obter as Ervas Místicas com a ajuda de um jovem. Para enfrentá-los, basta ir até o local onde eles estão, procurar pelo maior Pokémon da região e lutar contra ele. Depois dele perder quase toda a vida, o Pokémon foge, e então você deve enfrentá-lo novamente para aí sim vencê-lo e obter a Erva Mística.
A cada Titã que você derrota, o seu Pokémon lendário do jogo recupera uma habilidade nova, e conforme você vai desbloqueando habilidades novas fica mais fácil de avançar pelo mundo e chegar a localidades então inacessíveis. Depois de desbloquear todas, você praticamente pode ignorar qualquer terreno do jogo, já que o seu lendário pode até mesmo escalar paredões verticais e assim andar numa linha reta entre os objetivos.
Dessa forma, apesar de você ser livre pra fazer o que você quiser, Pokémon Scarlet e Violet espera que você faça de tudo um pouco ao invés de seguir apenas um caminho até o fim do jogo, mas como ele não te diz isso, muitas vezes você pode acabar se sentindo perdido dentro do mundo do game pensando o que fazer em sequência.
Outro ponto que vale ressaltar é que os mapas do jogo também variam bastante em dificuldade. Do nada você está andando num terreno com Pokémon nível 25 e na próxima área aparecem só monstrinhos nível 50, por exemplo. Essa é a forma do jogo te dizer que talvez seja melhor voltar e ir por outra direção, e eu sinceramente lembrei da forma como Demon’s Souls se apresenta ao jogador, onde você até é livre pra explorar o mundo como quiser, mas se for seguir só em linha reta, você logo dá de cara numa parede intransponível.
Depois de concluídas as três quests principais, você vai para o endgame do jogo na Area Zero. Aqui, o jogo revela seus maiores mistérios e traz Pokémon bem difíceis para você enfrentar, mas eu prefiro deixar os jogadores descobrirem mais a respeito desta área sozinhos para evitar os spoilers.
Além de jogar sozinho, Pokémon Scarlet e Violet ainda tem um componente multiplayer que acaba deixando a desejar. Apesar de você poder trazer até três jogadores para o seu mundo, cada um segue suas próprias aventuras, e se você quiser batalhar contra algum deles, ainda é necessário usar aquele sistema de menus do jogo, ou seja, estamos bem longe ainda de um sistema de multiplayer que seja tipo um mini MMO de Pokémon. Para completar, ainda há as Raids dentro do jogo, a exemplo de Sword and Shield, mas o sistema foi aprimorado, e a experiência acaba sendo mais divertida.
Ainda sobre o loop de Gameplay de Pokémon Scarlet e Violet, vale a pena falar um pouco sobre o combate e variedade de monstrinhos do jogo. Eu não sei se eu estou ficando velho para esse tipo de jogo, mas já faz umas duas ou três gerações que eu simplesmente não consigo encontrar um bom balanceamento dentro da minha equipe, que acaba sempre pendendo pra um lado. Na época do Sword and Shield o problema foi o excesso de Pokémon do tipo Steel e Fairy, e nesse parece que tem Pokémon demais do tipo Dark e de menos de alguns tipos, como lutadores, Steel e Psíquicos. Você meio que acaba forçado a trazer seus monstrinhos de outras gerações pra complementar o seu time.
Agora sobre o combate, ele ficou bem divertido nesse jogo. As lutas são dentro do próprio mundo aberto do jogo, sem nenhum tipo de transição, e todos os Pokémon estão bem animados e bonitos dentro do jogo também. Além disso, o jogo também possui uma nova mecânica de cristalização onde você pode dar um up nas habilidades de um Pokémon durante o combate, tipo as mega evoluções e mecânicas desse tipo de jogos passados. Além de você, treinadores como a sua rival e os líderes de ginásio e do Team Star também conseguem usar essa habilidade.
Graficamente encontramos os principais problemas de Pokémon Scarlet e Violet. Infelizmente o jogo é tomado de problemas de performance. Raramente ele funciona na faixa dos 30 quadros por segundo e há engasgos notáveis a todo tempo. Além disso, há alguns efeitos que simplesmente ficaram feios na tela, como por exemplo quando começa uma tempestade de areia e você está num cenário com grama.
A performance do jogo realmente deixa bem a desejar, e até mesmo os modelos de fundo ficaram feios e mesmo a Game Freak usando técnicas de alívio de performance, como eles funcionarem um framerate abaixo do framerate do centro da tela não ajudam tanto assim a mitigar os problemas de performance do jogo. Além disso, como o framerate desses NPCs baixa a poucos passos do protagonista, o efeito acaba servindo mais pra enfeiar ainda mais o jogo do que para qualquer outra coisa, pois é simplesmente impossível de ignorá-lo.
A trilha sonora de Pokémon Scarlet e Violet também é fraca, já que as músicas das cidades são esquecíveis e o jogo possui exatamente um tema de batalha para cada tipo de batalha, e ele acabou cansando mais cedo do que eu gostaria. Aliás, enquanto eu estou fazendo esse review, o tema da cristalização tá tocando na minha cabeça e eu sinceramente não aguento mais ouvi-lo.
Mas e aí, Pokémon Scarlet e Violet vale a pena?
Pokémon Scarlet e Violet é um bom capítulo da série, ainda que possua problemas que impeçam o jogador de aproveitá-lo em sua plenitude, sendo o principal dele os problemas gráficos do jogo. Além disso, eu sinceramente senti as cidades sem vida nenhuma, com elas estando no mapa apenas para você ir até elas bater o líder de ginásio e seguir para a próxima, algo que era melhor trabalhado no passado.
Dito isso, eu me diverti como não me divertia em um bom tempo explorando a região de Paldea, e a ideia de deixar o jogador livre para seguir o caminho dele, se for um pouco mais trabalhada, tem tudo para ser o novo normal da franquia. Um bom capítulo, ainda que tenha problemas que a gente não consiga ignorar.
Review elaborado com uma cópia do jogo para Nintendo Switch obtida pela redação.
Resumo para os preguiçosos
Pokémon Scarlet e Violet é um bom capítulo da série, ainda que possua problemas que impeçam o jogador de aproveitá-lo em sua plenitude, sendo o principal dele os problemas gráficos do jogo. Além disso, eu sinceramente senti as cidades sem vida nenhuma, com elas estando no mapa apenas para você ir até elas bater o líder de ginásio e seguir para a próxima, algo que era melhor trabalhado no passado.
Dito isso, eu me diverti como não me divertia em um bom tempo explorando a região de Paldea, e a ideia de deixar o jogador livre para seguir o caminho dele, se for um pouco mais trabalhada, tem tudo para ser o novo normal da franquia. Um bom capítulo, ainda que tenha problemas que a gente não consiga ignorar.
Prós
- Bastante divertido e viciante
- O novo sistema de liberdade de exploração realmente revitaliza a série
- Boas quests principais
Contras
- A performance gráfica deixa muito a desejar
- Trilha sonora repetitiva
- Apesar do jogo deixar você seguir pelo caminho que quer, há certos momentos em que ele espera que você siga uma ordem pré-determinada que ele não te conta qual é