Jogos históricos são uma forma bem interessante de aprender melhor sobre uma região do mundo durante um período específico da história, e aqui no Brasil, principalmente, pouco sabemos como era a vida no que viria a ser a Alemanha durante o Século XVI. Pentiment é um jogo que retrata essa era sobre os olhos de um artista que acaba se envolvendo num assassinato, mas será que o jogo vale a pena?
Em Pentiment, você controla Andreas Maler, um artista que está trabalhando em um Scriptorium em uma cidade rural da Bavária durante o Século XVI. Andreas está trabalhando para tornar-se um mestre enquanto transcreve livros na igreja local como forma de ganhar dinheiro, e a vida por lá é muito pacata.
Num dia como qualquer outro, um nobre local visita a cidade, e ele acaba sendo assassinado. Nisso, um dos companheiros mais queridos de trabalho de Andreas acaba sendo acusado, e cabe a você encontrar o verdadeiro culpado para impedir que esse seu amigo seja morto.
Agora você tem que correr contra o tempo para reunir pistas de quem é o assassino e fazer essa acusação, só que há um porém: você basicamente pode acusar qualquer um dos personagens disponíveis para tal e mesmo que você erre quem foi o assassino ou assassina, o jogo não vai te dizer isso, e a vida vai seguir para todo o vilarejo.
Como dá pra ver, as escolhas fazem uma parte importante do que Pentiment apresenta no jogo. Muitas ações de Andreas acabam gerando consequências, seja na forma como outros personagens reagem a você (por exemplo, na forma como a mulher de um acusado que acaba sendo morto vai agir em relação a Andreas quando ele retorna ao vilarejo anos depois), seja nas suas chances de persuadir os personagens a revelarem mais informações a você para você desenvolver os mistérios que o jogo coloca diante de você.
De longe, o ponto mais forte de Pentiment é a história do jogo, que apesar de começar lenta, acaba ficando bem interessante por uma série de fatores, mas o principal deles é o fato de que você não pode abraçar o mundo. Diferente de outros jogos de investigação, você não tem tempo infinito para desvendar os mistérios que o jogo coloca, você tem um número limitado de horas por dia e um tempo até resolver o assassinato. Isso significa que é impossível ir atrás de todas as pistas que o jogo te dá, e você certamente vai chegar na hora da acusação sem ter toda a informação necessária para tomar o melhor julgamento possível.
Isso acaba aumentando a vida útil de Pentiment de uma forma interessante, já que você pode começar novas partidas para explorar outras possibilidades. Além disso, a própria criação de Andreas como personagem é algo que você é mais ou menos livre para escolher, já que é possível decidir diversos tipos de histórias de fundo para ele além de habilidades que o artista possui.
Ao todo, Pentiment cobre cerca de 25 anos do vilarejo da Bavária em que a história se desenvolve, e é interessante como diversos pontos da própria história daquela região da Europa central passa, como excesso de taxação de camponeses, as ideias inflamatórias de Martinho Lutero e assim por diante.
Tudo isso dito até agora são as partes boas de Pentiment, mas quais são as ruins? Bom, a principal delas certamente é o ritmo do jogo: ele é terrivelmente lento e maçante. Parece muito que Pentiment faz todas as forças possíveis para matar o seu interesse na história a quase todo instante do jogo.
Começando pela forma como os diálogos são apresentados, a ideia aqui parece ser que os balões de fala são construídos na tela como antigamente os livros eram impressos. Dessa forma, os balões de fala avançam de maneira muito lenta, mesmo que você fique apertando o botão A para que eles avancem mais rápidos, fazendo as conversas serem muito maçantes.
Como o jogo não tem dublagem, você obviamente só pode ler para entender a história, mas como os diálogos aparecem de forma muito lenta na tela, esse processo acaba sendo bem chato, ainda mais se você não usa a opção de fontes de leitura fácil. Dependendo da pessoa com quem Andreas está conversando, uma fonte diferente aparece para ilustrar a percepção que Andreas tem do grau de instrução da pessoa. Religiosos têm uma fonte, camponeses têm outra, artesãos e médicos outra e assim por diante.
Algumas são fáceis de ler, outras são um pavor de ler, e isso acaba fazendo até mesmo o processo de avançar pelos diálogos algo mais maçante ainda do que normalmente seria num jogo sem dublagem. Eu não gosto de admitir isso, mas por causa disso, eu quase dormi três vezes jogando Pentiment, de chegar a dar aquela balançada na cabeça que vem com um sobressalto depois, de tão arrastado que o jogo fica por causa dessa escolha artística.
Isso acaba fazendo a barreira de entrada do jogo ser muito grande, já que ele demora facilmente umas duas horas até o grande mistério e motivo do jogo existir se apresentar ao jogador, e essas duas horas parecem muito mais pela forma como elas passam dentro do jogo. Mesmo eu, que sou um nerd por história antiga e medieval tive dificuldades de continuar interessado dentro do jogo, então fica difícil de imaginar como ele se sairia se fosse lançado fora de um serviço de assinatura, por exemplo, se ele seria bem sucedido ou não.
Outro ponto que contribui para deixar o jogo mais difícil ainda de ser aproveitado é que ele quase não tem música. Você fica ouvindo mais efeitos sonoros do que qualquer outra coisa na maior parte do tempo, e sem uma dublagem para acompanhar esse ritmo lento, fica bem difícil de manter o interesse pelo jogo.
Além da parte de investigação, muito texto e narrativa, Pentiment ainda possui alguns pequenos minigames que têm por objetivo replicar ações da vida medieval da época, como enrolar um novelo de lã, rezar uns pai nossos e aves maria para espiar os pecados, um jogo de cartas que de longe é o momento mais emocionante do jogo e assim por diante. Esses momentos são meio raros dentro do jogo, então por mais que ajudem a quebrar a monotonia imensa dele, são tão espaçados que você quase esquece que eles existem entre um e outro.
Graficamente, Pentiment é um jogo bem interessante. O visual escolhido pelos artistas do jogo é o mesmo visual da arte medieval para moderna da época, e os personagens na maioria das vezes são bem animados. Há muitos momentos em que Pentiment parecesse com uma pintura viva da época.
Como eu comentei mais pra cima, a trilha sonora de Pentiment é quase inexistente, e isso acaba prejudicando muito o ritmo do jogo. Felizmente, o jogo possui adaptação para o português, e por ser um jogo focado em narrativa, isso acaba sendo mais do que necessário para aproveitá-lo.
Mas e aí, Pentiment vale a pena?
Jogar Pentiment é como ler um texto da idade média: é uma experiência que não é pra todo mundo, e mesmo quem gosta sabe que o ritmo truncado da obra acaba prejudicando o aproveitamento dela. O jogo tem seus méritos em trazer um mistério bem interessante e cheio de possibilidades, mas o jogo ao redor da história de Pentiment é uma pílula bem difícil de ser engolida principalmente por causa do ritmo de jogo e da ausência de uma dublagem.
Como eu disse no review, eu não me orgulho de dizer que eu peguei no sono jogando Pentiment mais de uma vez, e eu não estou dizendo isso para destruir o jogo, e sim para mostrar que até mesmo eu, uma pessoa que consome conteúdo de história todo santo dia teve problemas em aproveitar esse jogo que teoricamente seria perfeito para mim. Fica bem difícil de imaginar Pentiment sendo bem recebido pelo público geral.
Review elaborado com uma cópia do jogo para Xbox Series X fornecida pela publisher.
Resumo para os preguiçosos
Jogar Pentiment é como ler um texto da idade média: é uma experiência que não é pra todo mundo, e mesmo quem gosta sabe que o ritmo truncado da obra acaba prejudicando o aproveitamento dela. O jogo tem seus méritos em trazer um mistério bem interessante e cheio de possibilidades, mas o jogo ao redor da história de Pentiment é uma pílula bem difícil de ser engolida principalmente por causa do ritmo de jogo e da ausência de uma dublagem.
Como eu disse no review, eu não me orgulho de dizer que eu peguei no sono jogando Pentiment mais de uma vez, e eu não estou dizendo isso para destruir o jogo, e sim para mostrar que até mesmo eu, uma pessoa que consome conteúdo de história todo santo dia teve problemas em aproveitar esse jogo que teoricamente seria perfeito para mim. Fica bem difícil de imaginar Pentiment sendo bem recebido pelo público geral.
Prós
- História e mistério interessante
- Muitas possibilidades de desenvolvimento do enredo
- Belo estilo de arte
Contras
- Ritmo de narrativa tão arrastado que prejudica todos os pontos positivos do jogo
- A falta de música na maior parte do tempo contribui em deixar o jogo ainda mais maçante
- Mesmo para quem gosta de história e quer saber mais sobre como era a vida naquela região o jogo é difícil de se recomendar