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Papers, Please – Review

Indie games muitas vezes são duros de engolir. É difícil julgar materiais desconhecidos meramente por sua capa, ainda mais quando tudo que se vê deste jogo é apenas uma única tela e a informação que se tem é que você irá jogar como um fiscal de fronteira e que seu papel é analisar documentos e liberar, ou não, a entrada do cidadão em seu país.

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Como definir Papers, Please? Um simulador? Um thriller psicológico sobre dilemas da fronteira de um país socialista alvo de ataques terroristas? Uma paródia à crescente e absurda exigência de requisitos para visitar países como os EUA? Enfim, nada disso pode descrever a experiência que é Papers, Please.

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Se você espera algo que lhe traga emoção à vida e muita ação e aventura, já avisamos, este não é o seu jogo! Na verdade Papers, Please muitas vezes é monotono, muito monotono. Monotono ao ponto de te prender à cadeira por horas por simplesmente ter que cumprir sua simples obrigação de manter a segurança de seu país, e manter cidadãos indesejados do lado oposto das grades da fronteira.

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Bem vindos à gloriosa Artotzka, um país socialista que após 6 anos de guerra com seu vizinho Kolechia retomou a posse de sua fronteira na cidade de Grestin. Dentre centenas de cidadãos Artotzkanos, você foi sorteado para uma das maiores responsabilidades pós guerra: ser fiscal de alfandega da fronteira, e seu único serviço é verificar documentos, procurar por discrepâncias dos dados e autorizar ou não a entrada do cidadão em seu glorioso e acabado país, e para isso foi deslocado até o local e recebeu um apartamento do governo onde mora com sua família.

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O jogo é ambientado em um ficticio país que nos remete sem dúvida alguma a extinta União Soviética. O jogo todo se passa em apenas uma tela, a fronteira de seu glorioso país, e sua mesa de serviço onde a papelada dos estrangeiros será verificada. É pouco? É sim, mas o suficiente para passar a sensação de estarmos realmente em um estado socialista pós guerra, em um clima tenso de filas, barricadas, prédios sem cuidados arquiteturais algum, grades, soldados e também a triste e vaga esperança de visitantes e emigrantes que a cada chamada representa um passo a frente para a esperança de uma nova vida em um novo país, ou a condenação por ter que voltar ao seu país onde as leis para fugitivos são severas.

Isso o coloca no papel de vilão? Essa é uma questão que é levantada durante todo o jogo, afinal, você apenas está fazendo seu trabalho mantendo a segurança de seu país e a sustentação de sua propria família. Em muitos momentos, você se depara com pessoas que desesperadamente querem adentrar as fronteiras, porém a documentação necessária é insuficiente devido a crescente burocracia imposta pelo estado, e nesse momento cabe a você permiti-las por bom grado e por ética e então sofrer as consequências, ou então abaixar sua cabeça e pensar “eu estou fazendo o meu trabalho apenas”. Cada atitude no jogo define seu futuro, e de sua família.

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A minimalidade dos gráficos do jogo cumpre de forma satisfatória o que deve se passar. O desenvolvedor do game construiu um clima sóbrio e sombrio da sua fronteira, nada de alegria e festas, apenas filas e tensão. O toque mínimo de detalhes levemente submete ao que era visto nas propagandas de países comunistas e socialistas das décadas de 80 e 70. O som do jogo não passa despercebido. A trilha sonora é composta de apenas uma música da tela principal do game, que lembra um pesaroso e violento hino nacional típicamente comunista, e durante o jogo apenas ouvimos a curiosa e sombria linguagem de Artotzka. Ouvir a chamada de “próximo” pelo alto falante chega a ser cruel.

E o gameplay? Papers, Please trata-se de velocidade. Seu unico trabalho é verificar os documentos dos visitantes, emigrantes ou cidadãos locais e então procurar por discrepâncias entre documentos e seu sagrado livro de regras o mais rápido possível. Quando mais rápido você cumpre sua tarefa, mais dinheiro você ganha.

No começo tudo vai as maravilhas, afinal, apenas cidadãos de Artotzka são permitidos. Após o primeiro dia as coisas começam a se dificultar, afinal estrangeiros começam a ser permitidos e com isso novas regras para aceitar essas pessoas começam a aparecer em seu livro de regras, tudo isso apoiado por um sistema de verificação de erros em documentos, onde você destaca pontos clicando em dados dos documentos e comparando com o livro de regras, ou então entre documentos.

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Em certo momento sua mesa de trabalho acaba tão lotada de papéis e documentos que a coisa toda começa a ficar enlouquecedora e muitas vezes você é forçado a pausar o jogo para respirar um pouco. Não existe como jogar e não notar um certo tom satírico em relação a burocracia de grandes países para aceitar estrangeiros. Bela crítica.

Upgrades de sua cabine de verificação irão sendo disponibilizados durante o jogo para compra, tudo a fim de lhe auxiliar no árduo trabalho de verificação de documentos que, com o passar do tempo requer cada vez mais habilidade.

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Além da história principal do jogo existem outras coisas acontecendo ao seu redor. Em muitos momentos você negocia com guardas, enfrenta diplomatas, recebe visitas de organizações criminosas que tentam lhe subornar – cabe a você decidir o caminho a ser tomado – ataques terroristas na fronteira, bombas entregues em sua cabine e até mesmo atirar em estrangeiros que tentar pular a fronteira. Existem várias maneiras de trilhar seu caminho pelo gameplay. Você decide ser o homem do ano da fronteira, ou então ser o cara corrupto que aceita subornos e passa espiões pelas portas do país, mas esteja preparado para enfrentar consequências graves, ou até mesmo o fim prematuro do jogo.

Com isso tudo nas mãos, não existe como no fim das contas se sentir culpado por aceitar alguns subornos, afinal, viver em um país socialista pós guerra não é algo fácil. Além de todo o clima fronteiriço, ainda há sua família que está alocada em um apartamento de classe inferior, sofrendo com as doenças, frio e fome. Cabe a você manter sua família saudável e segura com o dinheiro que ganha no seu novo emprego, e até mesmo prosperar e se mudar para apartamentos melhores e dar uma vida mais digna à sua família. Outro ponto alto no jogo, afinal, isso tira sua cabeça do serviço e lhe faz pensar na difícil vida de sua família e a consequência de suas atitudes.

Infelizmente após algum tempo de jogo a coisa toda começa a ficar repetitiva e cansativa demais. O jogo é longo o suficiente para te prender, se a idéia toda lhe cativa. Porém para outros gamers a experiência começa a se tornar monótona e muitos jogadores acabam largando a aventura no meio do caminho.

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Após encerrar o título, novos modos de jogo são habilitados. Eles são o “Timed Mode”, onde você tenta processar o maior numero de visitantes em 10 minutos, o “Perfection Mode”, onde o jogo se encerra assim que você permite que o primeiro estrangeiro com discrepâncias nos documentos entrem, e o “Endurance Mode”, onde o jogo acaba quando seu balancete financeiro acaba ficando negativo. Ainda assim, é provável que muitos gamers não cheguem a enfrentar a aventura por mais de 30h, incluindo os modos de jogo extra.

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Enfim, a coisa toda proporciona mais de 20h de jogo tranquilamente para aqueles que realmente gostam de jogos que necessitam de atenção e procuram algo diferente para ser jogado. Infelizmente o jogo ainda não possui tradução para o português, portanto se você ainda não tem a manjaria da língua inglesa, nem tente. A experiência será tão frustrante quanto tentar andar de patins sem rodas.

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No fim das contas, a experiência de Papers, Please se mostrou muito mais que satisfatória. A inovação do game, a diversão proporcionada e a simplicidade da coisa toda mostra o quão promissor é a indústria Indie de games, e como devemos prestar atenção nesse mercado, e principalmente experimentar gêneros desse nicho antes de falar algo negativo. Facilmente podemos apontar esse jogo como um dos melhores e mais inteligentes indies do ano.

Papers, Please é a pura prova que, além de filmes e livros, não devemos julgar um jogo pela sua capa.

Resumo para os preguiçosos

Papers, Please é uma excelente e barata aposta para hardcore gamers e simpaticos de jogos de detetive. Com mais de 20h de jogo, o game é uma boa aposta para diversão solo em seu computador ou MAC que colocará você no papel de um agente de fronteira que deve verificar documentos de estrangeiros afim de entrar no país, tudo isso enquanto enfrenta deveres diplomáticos, crises e outros dilemas burocráticos e éticos enquanto cuida de sua família em um país fictício pós guerra.

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Nota final

80
Saiba mais sobre os nossos métodos de avaliação lendo o nosso Guia de Reviews.

Prós

  • Gameplay inovador
  • Jogo leve e excelente para jogatinas casuais
  • Gráficos simples, porém com acabamento artístico e histórico impressionantes
  • Modos de jogo extras que irão garantir mais algumas horas de jogo

Contras

  • Gameplay se torna enjoativo após muito tempo de jogo
  • Não há tradução para PT/BR
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