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O Primeiro Homem – Crítica

‘Eu acredito que esta nação deve comprometer-se a atingir o objetivo, antes que esta década termine, de pousar um homem na Lua e trazê-lo de volta em segurança à Terra’, foi com esse discurso que em 1961 o presidente John F. Kennedy deu início aquele que seria o mais ambicioso projeto de exploração espacial dos Estados Unidos. Nove anos depois, em 1969 decolou a missão Apollo 11 que com seus três tripulantes, conseguiu realizar aquele que até hoje é tido como uns dos mais maiores feitos da humanidade, levar um homem para a lua.

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Não é de hoje que Hollywood conta e reconta essa história, o cinema já explorou das mais diferentes formas e dos mais variados pontos de vistas a missão da que mudou a história da exploração espacial, mas geralmente esses contos têm como foco ressaltar o heroísmo e a bravura americana para a conquista do espaço. E isso, definitivamente não é o que O Primeiro Homem se propõem a contar.

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O jovem diretor Damien Chazelle, mas conhecido pelos excelentes Whiplash e La La Land, nos conduz em uma história mais humana, ou melhor, uma história sobre um humano, Neil Armstrong, o engenheiro aeronáutico que se tornou o comandante da missão Apollo 11 e foi o primeiro homem a colocar os pés na lua.

Para contar uma história tão intimista, Chazelle faz a acertada escolha de usar recursos de documentário em toda a cinematografia. Dessa forma, a câmera usa e abusa dos zooms, brincando a todo o momento com o foco e o desfoco, sem medo de manter o enquadramento quase sempre colado no rosto dos atores.

Com planos tão fechados, a câmera basicamente cobra do elenco uma atuação impecável, e felizmente isso é correspondido de diferentes formas. Ryan Gosling, que está no papel principal, consegue passar com excelência toda introspecção de Neil Armstrong, que pelos próprios colegas astronautas era conhecida pelo seu sangue frio. Mas essa característica de forma algum torna o personagem antipático, na verdade ao acompanhar toda a trajetória de Armstrong, desde o luto não superado da perda da sua filha até a pressão de todos os lados pelo sucesso da missão, vemos que essa “frieza” do astronauta na verdade foi a criação de um mecanismo de defesa para se blindar de tudo e apenas se focar no seu objetivo.

Contracenando com Gosling temos Claire Foy, que interpreta Janet Shearon, a esposa de Armstrong. Janet também apresenta um comportamento calmo, mas é ela que a todo o momento precisa resgatar a humanidade Armstrong, cuidar dos filhos enquanto se preocupa com a segurança do marido e lembrar que além de astronauta ele também é pai. Foy consegue condensar tudo isso em uma atuação que ao mesmo tempo é tão intimista quanto a de Gosling, mas com irretocáveis momentos onde ela coloca toda essa emoção para fora.

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Embora a história realmente se foque nesses dois personagens o elenco de coadjuvantes que está ao redor da história também faz um excelente trabalho, com destaque para Corey Stoll interpretando Buzz Aldrin, o segundo homem a pisar na lua, Patrick Fugit vivendo Elliot See, um dos grandes amigos de Armstrong e Kyle Chandler no papel de Donald Slayton, que chefiou o grupo de astronautas da NASA.

Voltando para a cinematografia, se na parte da atuação a câmera em primeiro plano é usada como recurso para contar uma história mais intimista, na parte da ação os planos continuam fechados, transformando o sentimento intimista em uma imersão total. Quase sempre ficamos ali dentro da capsula espacial, experimentando toda a claustrofobia e o sentimento de desnorteamento em meio a condições extremas. Os astronautas não só tinham que suportar a força G enorme, mas precisavam ter a capacidade de ler os dados e manter a calma mesmo com a nave girando a uma velocidade de quase uma revolução por segundo, que seria o suficiente para fazer uma pessoa normal desmaiar.

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Mas a transmissão desse sentimento desnorteante não se faz apenas pelo visual, mas também pelo design de som e a trilha sonora impecável. É igualmente perturbador ouvir os barulhos de uma capsula espacial reentrando na atmosfera e é ainda mais ensurdecedor todo o som de uma decolagem vivada em primeira pessoa.

No entanto, tudo isso muda quando finalmente chegamos ao espaço, o caos de barulhos para todos os lados da lugar a uma calma trilha sonora do compositor Justin Hurwitz, que embora ainda tenha alguns timbres épicos, mas se aproxima de tons calmos e contínuos como se servisse de uma metáfora para inercia. Mas quando os momentos voltam a ficar decisivos, Chazelle opta por retirar totalmente a trilha sonora, nós deixando contemplar a lua e o universo.

Mesmo que a duração e o seu ritmo um pouco mais cadenciado possa incomodar algumas pessoas, o objetivo não é correr para não perder o clímax, mas mostrar a jornada de Armstrong, desde os seus primeiros voos com o X-15, passando pelos testes do projeto Gemini até finalmente chegar na missão Apollo 11, e convenhamos que aterrissar na lua não foi um processo fácil e muito menos rápido.

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Fugindo um pouco da sua zona de conforto, Damien Chazelle consegue em O Primeiro Homem recontar uma das histórias mais inspiradoras da humanidade, deixa de lado todos os clichês que esses tipos de filmes já abordaram, preferindo focar em uma obra quase biográfica que chega até a assumir tons de documentário. E isso não torna o filme menos épico, na verdade ele é igualmente inspirador, só que em vez do orgulho de uma nação, vemos a história de um homem comum com problemas cotidianos, mas que graças ao seu foco inabalável conseguiu marcar história com um pequeno passo, que foi um grande salto para a humanidade.

Resumo para os preguiçosos

Em O Primeiro Homem, Damien Chazelle reconta uma das histórias mais inspiradores da humanidade, mas foge completamente do clichê do heroísmo americano, focando totalmente na jornada Neil Armstrong, o primeiro homem a pisar na Lua. Com um ritmo cadenciado, toda a cinematografia do filme nos leva para uma experiência extremamente intimista, mostrando que o verdadeiro heroísmo da Apollo 11 não está somente na conquista de uma nação, mas também no foco inabalável de um único homem.

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Nota final

95
Saiba mais sobre os nossos métodos de avaliação lendo o nosso Guia de Reviews.

Prós

  • Trilha sonora e Design de Som impecáveis
  • Atuações extremamente intimistas
  • Câmera quase sempre em primeiro plano passando uma imersão indescritível

Contras

  • Talvez o ritmo um pouco mais cadenciado incomode alguns espectadores
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João Victor Albuquerque
João Victor Albuquerque
Apaixonado por joguinhos, filmes, animes e séries, mas sempre atrasado com todos eles. Escrevo principalmente sobre animes e tenho a tendência de tentar encaixar Hunter x Hunter ou One Piece em qualquer conversa.