New Tales from the Borderlands é a sequência de Tales from the Borderlands, só que não muito. Apesar de conter o mesmo estilo, os dois jogos possuem diferenças significativas em termos de jogabilidade, enredo, apelo e relevância.
Antes de mais nada, é preciso deixar claro que New Tales from the Borderlands foi desenvolvido pela Gearbox e não pela Telltale, como você pode estar imaginando. Está a primeira vez que a Gearbox e aventura neste “terreno” tão familiar para a Telltale, e por isso acaba assumindo o risco de manter a qualidade do game anterior, que convenhamos, era realmente ótimo.
New Tales from the Borderlands também difere dos demais jogos da série Borderlands em diversos aspectos diferentes. Primeiramente, este não é um FPS de tiro/ação/sem-noção bastante divertido, mas sim uma experiência diferente, focada em estória, no melhor estilo dos jogos da Telltale, que por sua vez, podem ser interpretados como uma espécie de evolução dos jogos point-n-click de antigamente.
Enquanto este tipo de proposta pode acabar frustrando alguns fãs da série por ser diferente de tudo que já conhecemos, New Tales from the Borderlands, assim como seu antecessor, renova o interesse pela série ao explorar o universo de Borderlands de uma maneira totalmente diferente. Menos frenética, mas com a mesma irreverência e perigos de sempre.
O jogo também é dividido por capítulos, que facilitam, de certa forma, a navegação pela história. Considerando que este tipo de jogo pode acabar saturando depois de algum tempo, principalmente se a história perder a empolgação e deixar de ser tão interessante. Não é bem o caso aqui, apesar de acreditar que o primeiro capítulo foi melhor que os demais.
Outro ponto que torna o enredo de New Tales from the Borderlands mais interessante são os protagonistas. Talvez você estivesse esperando que o novo jogo continuasse a história de Rhys e seus companheiros. Mas se você jogou Borderlands 3 sabe como a proposta era um tanto inviável. Para compensar, a Gearbox resolveu assumir uma abordagem diferente e nos apresentou três novos personagens inéditos.
O risco era enorme, uma vez que a cada novo personagem corre-se o risco de que o jogo não consiga captar o interesse do público por falta de carisma, esteriótipos repetidos… etc., Contudo, New Tales from the Borderlands conseguiu sair-se bem neste quesito ao apelar para a singularidade de que os três protagonistas tem de especial… o fato de não serem nada especiais.
Este grupo de protagonistas é formado por Anu, uma cientista supostamente brilhante que não suporta testes em animais, e seu irmão Octavio, que acha ser a pessoa mais importante do planeta, apesar de não ter feito muita coisa em sua vida. Por fim, a última – e na minha opinião mais interessante personagem em termos de contexto – é Fran, uma falida empresária de frozen yogurt, que teve seu negócio dilacerado pelo laser gigante da Tediore.
Como de praxe, New Tales from the Borderlands tenta te convencer de que suas escolhas tem peso na história e guiarão seus próximos passos. Não é de hoje que alguns jogos tentam nos vender essa ideia, mas são bem poucos que conseguem entregar algo realmente relevante neste quesito.
Obviamente que para ter certeza de que New Tales from the Borderlands é realmente formado por uma série de decisões que realmente importam, é preciso jogar a campanha várias e várias vezes, prestando atenção nas suas decisões e nas consequências que elas geram no mundo e nos demais personagens.
Não vamos entrar na polêmica discussão de que jogos geralmente emulam a sensação de controle e de que suas decisões tem relevância. O fato é que New Tales from the Borderlands passa a impressão de não ser tão “nos trilhos” quanto outros jogos do tipo.
Embora esse tipo de abordagem soe geralmente batido e sem graça, New Tales from the Borderlands consegue se destacar não só pelo enredo, mas pela forma como o jogador movimenta-se pelo cenário.
Talvez a mais relevante mudança de New Tales from the Borderlands em relação a seu antecessor seja a câmera, que passa a acompanhar o personagem de uma maneira mais tradicional, posicionando-se às suas costas como na maioria dos jogos em terceira pessoa. Além de quebrar a perspectiva do jogador que pode – ou não – estar esperando algo mais próximo dos jogos da Telltale, a nova câmera facilita a movimentação, percepção e interação com os objetos do cenário.
A movimentação pelo cenário favorece a exploração, que apesar de não ser tão recompensadora em todos os momentos, é bastante agradável. Alguns puzzles são opcionais, mas divertidos. Então é como se o jogo não tivesse aquela preocupação em inflar-se de conteúdo, o que o torna mais leve e fácil de ser jogador.
Além disso, o jogo divide-se em momentos onde o jogador precisa participar ativamente de diálogos, escolhendo como se expressará, ou interagindo com os demais personagens através dos já conhecidos e famigerados quick-time events.
New Tales from the Borderlands é o tipo de jogo que se sustenta principalmente pelo enredo e pela forma como os acontecimentos se desdobram. Talvez você prefira uma abordagem mais direta e não queira saber de detalhes acerca de personagens secundários, localidades e esse tipo de coisa. Ou talvez você seja o tipo de jogador que aprecia explorar e ter a sensação de que tem acesso a informações escondidas, garantidas para você graças ao seu espírito de detetive. Independente de qual seu estilo, New Tales from the Borderlands serve bem aos dois casos.
Não vai ser necessário muito tempo até você perceber que nenhum dos três personagens é um Explorador de Arcas brucutu. Também não é preciso prestar muita atenção para se dar conta que nenhum deles conta com equipamentos realmente úteis para a aventura que se meteram, mas é justamente isso que segura o enredo e te faz sentir que precisa utilizar a cabeça para resolver problemas que soam muito mais complexos do que realmente são. O jogo é divertido e a história interessante, isso que importa.
Apesar de parecer fácil demais em alguns momentos, é bom não baixar muito a guarda nem subestimar os desafios. Confesso que fiquei espantado pela quantidade de situações onde escolher determinado conjunto de falas ou errar um quick-time event me levou a morte certa e à tela de game over. Não posso afirmar com tanta certeza, mas me pareceu muito mais desafiador do que jogos da Telltale.
O verdadeiro tempero do jogo são algumas pequenas adições e melhorias na mecânica tradicional, além de piadas e referências à cultura pop. Algumas piadas não fazem tanto sentido, mas mantém o clima “Borderlands” vivo. As missões secundárias não funcionam da mesma forma como nos demais jogos da série, mas dão uma interessante sensação de familiaridade. Ja as piadas e as referências seguram bem a barra quando o nível de atenção do jogador começa a cair.
Atravessar alguns capítulos é mais complicado do que outros. Na verdade, da metade para o final, o jogo dá a impressão de ter sido apressado ou não bem acabado. Isso quebra bastante o ritmo e deixa uma sensação de que poderia ser melhor, mas a conclusão do jogo compensa estes momentos mais difíceis e fecha a história com chave de ouro.
New Tales from the Borderlands não é um jogo perfeito nem tão interessante quanto seu sucesso, mas se sustenta pelas novidades e enredo. Sua história provavelmente terá maior relevância a partir do próximo jogo da série, que assim como Borderlands 3, tem fortes ligações com Tales from the Borderlands. Sendo assim, caso você não jogue New Tales from the Borderlands, provavelmente vai sentir-se perdido com os novos personagens e situações de Borderlands 4.
Resumo para os preguiçosos
New Tales from the Borderlands é a segunda experiência focada em narrativa no universo de Borderlands. Apesar de ter sido desenvolvido pela Gearbox – e não pela Telltale – o jogo se sustenta com uma boa história e decisões acertadas no que diz respeito a inserção de novas mecânicas de movimentação e exploração.
Porém o principal destaque do jogo fica por conta dos protagonistas, que apesar de levemente esquisitos, seguram a trama toda nos ombros com maestria.
Prós
- Bom desenvolvimento de personagens;
- Decisões acertadas de enredo e mecânicas;
- Mudança da câmera para algo mais familiar e tradicional;
Contras
- Enredo se perde um pouco nos capítulos finais