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Marvel’s Jessica Jones – Review

Hoje, quando falamos de super-heróis as referências são várias. Já foi-se o tempo em que estes personagens só eram conhecidos por nerds e fãs de quadrinhos, pois agora ser fã de super-heróis está na moda. E todo ano a indústria nos apresenta a uma porrada de heróis novos através de filmes ou séries para que possamos escolher qual gostamos mais, mas se tem um desafio maior do que fazer um filme ou uma série de sucesso, é fazê-los baseando-se em um personagem desconhecido.

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A Marvel apostou nisso e firmou uma parceria com a Netflix que inclui a produção de cinco séries. As quatro primeiras seriam dedicadas a heróis da editora com cada um ganhando seu show individual e a quinta seria o team-up destes quatro super-dotados. Mais cedo este ano tivemos a ótima série Marvel’s Daredevil que nos apresentou, entre muitas coisas, a origem do famoso herói Demolidor. E como previsto, agora chegou a segunda das quatro séries, focando em uma completa desconhecida e apelando para um contexto pesado – e arriscado -, Jessica Jones veio para conquistar o seu espaço, mas mais do que isso, para abrir portas.

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Marvel’s Jessica Jones é uma série de 13 episódios exibida exclusivamente no serviço de streaming Netflix, que conta a história de uma ex-heroína e agora investigadora particular chamada Jessica Jones (ORLY?). Logo de cara percebemos que o show não é igual às outras produções da Marvel que vimos até aqui, fãs da ação frenética de Os Vingadores ou dos ótimos combates de Daredevil conhecerão um novo estilo de série onde o combate é deixado em segundo plano e o destaque é dado a uma outra forma de se derrubar um herói, muito mais poderosa e destrutiva do que a violência física: a violência psicológica.

A protagonista do show, Jessica Jones (Krysten Ritter), foi vítima dessa violência. Durante meses ela esteve sobre o controle mental de Zebediah Kilgrave (David Tennant), que a transformou em sua escrava particular e usou e abusou dela – no sentido literal mesmo – e de seus poderes. A série se situa depois de Jessica se livrar do controle de Killgrave, ela agora sofre de Transtorno de Estresse Pós-Traumático, seu psicológico está destruído, é alcoólatra e sozinha e mesmo assim tenta recomeçar sua vida.

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Parte desse recomeço foi abrir a Alias Investigações, a pequena agência que Jessica utiliza para poder exercer a profissão de detetive particular no sombrio e violento bairro Hell’s Kitchen, em Nova Iorque. Violência não é problema para ela, afinal, Jessica possui força sobre-humana, o real problema são os fantasmas de seu passado e Kilgrave que, mesmo longe, continua a atormentá-la. O show cria de uma maneira tão eficaz esse elo indesejável entre Jessica e Kilgrave que é possível sentir o desconforto que a personagem sente até nas ocasiões mais simples, o sentimento de que não está segura e não tem controle da própria vida. Apesar de sua força sobre-humana, Jessica não utiliza seus poderes o tempo todo, tanto que os combates são coisas raras no show e quando acontecem parecem mais brigas de rua, afinal, ela não teve o treinamento que Matt Murdock (Demolidor) teve, ela nunca testou seus poderes e o limite deles, só os usa quando necessário, pois, como dito, a batalha de Jessica Jones é psicológica.

Outras pessoas participam desta luta com Jessica. Dentre eles estão sua melhor amiga, Trish Walker (Rachael Taylor). Presente na vida da protagonista desde criança, Trish é quem apoia Jessica em tudo o que faz, está sempre ali para ajudar ou até servir de isca. O trabalho das atrizes em criar um elo entre as personagens foi muito bem feito sendo que em todo tempo elas realmente parecem amigas de infância que sabem tudo sobre a outra. Trish é uma ex-celebridade mirim e que agora tem um programa de rádio, luta e vive sozinha, ela é um dos símbolos de mulher independente que o show faz questão de mostrar.

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Além dela temos o próximo personagem a ganhar sua própria série, Luke Cage (Mike Colter). No show Cage é um dono de bar que vive sua vida tranquilamente até se envolver amorosamente com Jessica Jones e acabar dentro de toda a luta que ela e Kilgrave travam. Cage também não usa sua força o tempo todo, assim como com Jessica, sua luta é interior, só que no caso do Power Man, a luta é para superar a perda de sua esposa Reva e descobrir a verdade sobre sua morte que está diretamente ligada ao controle mental de Kilgrave sobre Jessica.

Há diversos outros personagens na série, alguns relevantes, outros nem tanto, mas uma das falhas que podem ser notadas e que não aconteceu em Marvel’s Darevil, por exemplo, é o excesso de personagens inúteis que estão ali só para fazer volume e que ocupam mais tempo na tela do que deveriam.

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E acima de todos estes personagens temos o grande vilão, Zebediah Kilgrave (David Tennant). Kilgrave é diretamente responsável por tudo o que acontece no show e pelo clima dramático e sombrio, apesar de ser apenas um homem ele é capaz de gerar um incomodo em todos os personagens da série que pode ser sentido até pelos espectadores. Com seu controle mental, Kilgrave pode obrigar uma pessoa a fazer qualquer coisa, desde pular de um prédio a serrar a própria garganta – e tudo isso acontece. Seu poder não só controla as pessoas, mas também as destrói por dentro fazendo com que questionem a si mesmas, seus valores morais e que sintam-se culpadas. Ele deixa um rastro de dor, sofrimento e morte por onde passa e o seu real perigo é poder controlar pessoas mesmo não estando presente, assim não é possível saber onde ele está e quem está sob seu controle, é quase impossível prever seus movimentos. O drama que podemos sentir quando ele controla algum dos protagonistas é uma das melhores coisas do show, nos dá a sensação de que ele pode tudo e ninguém é capaz de pará-lo.

Em boa parte da série Kilgrave pode ser visto como um ser onipotente e onipresente, mas conforme a história avança percebemos que ele tem fraquezas e uma delas é Jessica Jones. Apesar de parecer estar sempre no controle com seus sorrisos fáceis, seu sarcasmo e o pensamento de sempre saber o que está fazendo, Kilgrave tem uma obsessão por Jessica faz com que ele passe dos limites e beire a loucura, pois ela é a única que ele não pode controlar e a única que ele quer. Quando o controle mental de Kilgrave sobre Jessica foi desfeito, ela inexplicavelmente ficou imune aos seus poderes, tornando-se assim a única pessoa capaz de para-lo.

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A escolha dos atores na interpretação dos principais personagens foi simplesmente perfeita. Krysten dá um olhar totalmente novo para Jessica no contexto de super-heroína, retira ela dos paradigmas de mulheres militarizadas que vemos não só no Universo Marvel, mas nas histórias em quadrinhos em geral, além disso ela também destaca a ideia de que sua personagem apesar de ser mulher não depende de ninguém para vencer seus medos e seus diabos. A grande maioria de mulheres no elenco também destaca isso, que todas podem ser independentes e cuidar de si mesmas. Já Kilgrave, vivido de maneira extraordinária pelo 10° Doutor de Doctor Who David Tennant, é de longe o personagem mais carismático e memorável do show e, assim como o grande Rei do Crime de Vincent D’Onofrio, ele tem seus motivos por fazer o que faz.

É praticamente impossível não criar pontes ou fazer comparações entre as duas séries da Netflix, entre Jessica e Murdock (Demolidor) e entre Killgrave (Homem Púrpura) e Wilson Fisk (Rei do Crime). Não porque eles são semelhantes, mas porque mesmo eles tendo diferenças gigantescas, ainda não perdem o fator humano. Em Jessica Jones, o foco é dado para a construção do personagem Jessica Jones, assim como foi dado para Matt Murdock, os poderes são deixados em segundo plano, muitas vezes são até dispensáveis, pois a trama do show gira em torno do combate moral e psicológico interminável entre herói e vilão. Kilgrave por sua vez tem sua história devidamente contada assim como Wilson Fisk, mas se no caso segundo seus motivos parecem até aceitáveis, no caso do inimigo de Jessica Jones tudo o que podemos sentir é pena, e uma pena rápida porque ele rapidamente comete mais um ato monstruoso que nos lembra o quão pior ele é – e é isso que nos faz gostar dele.

Assim como Daredevil, Jessica Jones é coerente o tempo todo. Tudo tem um propósito para acontecer que, ou foi premeditado e orquestrado por Kilgrave, ou é apenas obra do destino que liga todos os personagens de uma forma única. Nada acontece por acaso, caminhos não se cruzam coincidentemente, e isso aumenta a curiosidade do espectador já que nunca sabemos qual será o próximo passo do Homem Púrpura. O clima da série condiz muito mais com o contexto no qual Jessica está inserida do que no do Demolidor ou do Thor, por exemplo. Jessica Jones tem uma temática noir realmente pesada para produções da Marvel sendo que é comum ver cenas de sexo não-explícito, membros decepados, gargantas cortadas e sangue – sangue é o que você mais vai ver na série. A Hell’s Kitchen em que Jessica vive parece ser muito mais violenta e brutal do que a que Murdock vive, mas o contexto de violência está diretamente ligado ao estilo dos vilões, sendo que Fisk é muito mais humano e tem muito mais escrúpulos que Kilgrave.

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Como já foi dito, os combates de Jessica Jones são coisa rara. Devido à falta de treinamento de Jessica e Luke Cage, todas as lutas que vemos são mais como brigas de rua. Os personagens – principalmente Jessica – apesar de serem super-poderosos, apanham muito e geralmente precisam juntar-se para vencer. Os poderes de Jessica, até por não terem sido medidos, nunca parecem ter um padrão sendo que muitas vezes ela parece capaz de derrubar alguém como Luke Cage e outras vezes não parece poder derrubar um homem comum, fica claro que isso tudo depende do momento da personagem, seu humor, seu psicológico e o estado atual do seu corpo. Além da super força, Jessica tem a habilidade de saltar grandes distâncias, o que ela chama de “queda controlada”, mas em uma cena específica do show, alguns personagens se perguntam se ela está voando e como a câmera não foca diretamente na personagem, não é possível saber se ela realmente está voando ou é só mais um de seus saltos, isso gerou em mim uma pequena dúvida.

Os flashbacks são bem presentes no show, já que a série se passa no futuro, os espectadores precisam entender o que aconteceu no passado. Eles são introduzidos da maneira correta, sendo que cada detalhe vai sendo mostrado conforme a história avança, um problema de Marvel’s Daredevil que foi resolvido.

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Os efeitos visuais do show são simplesmente sensacionais. O tom púrpura que as coisas tomam quando alguém está sobre a ameaça de Kilgrave dão maior destaque à presença real do vilão, fazendo com que ele se torne ainda mais temível. Até nas lutas envolvendo Jessica ou Luke Cage quando paredes são quebradas, tudo parece muito bem feito, afinal, ambos têm força sobre-humana. Os efeitos sonoros também não ficam pra trás, já que eles destacam o drama constante em que o show está e acompanham o estado emocional dos personagens em destaque no momento.

A fidelidade que a série mantém com a HQ é absurda. Alguns pontos foram mudados e melhorados para se encaixar no contexto de uma série, mas a maioria dos elementos faz jus a tudo o que pudemos ver nas páginas de ALIAS. As interpretações de Jessica Jones e Zebediah Kilgrave foram realizadas de uma maneira tão fiel que eu cheguei a ficar em dúvida se prefiro a versão dos quadrinhos ou a da série. Easter Eggs podem ser encontrados aos montes no show e satisfarão qualquer fã das histórias que se passam em Hell’s Kitchen.

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Outro ponto importante é que Jessica Jones tem maior ligação com o universo expandido da Marvel do que Daredevil. Hulk e os Vingadores são citados direta e indiretamente mais de uma vez e, inclusive, alguns acontecimentos na série são derivados de acontecimentos dos filmes, o que mostra que a ligação deste universo como um todo é realmente forte e que dá ainda mais credibilidade ao que vemos no show. Também é legal ver que toda essa relação com os demais filmes não tira o elemento “pés na realidade” da série, sendo que mesmo todos sabendo que existe um gigante verde que destrói prédios, um Deus do trovão e alienígenas que invadem a Terra, aceitar que alguém é capaz de controlar mentes é uma ideia extremamente absurda e surreal.

A formula utilizada em Jessica Jones é bem diferente da vista em Daredevil, mas isto não quer dizer que a série seja inferior, muito pelo contrário. A ação frenética de uma foi trocada pelo drama megalomaníaco de outra e o contexto em que esses dois estilos são inseridos fazem com que as séries se complementem de várias maneiras. Jessica Jones provavelmente também te fará assistir a todos os episódios em um único dia, a trama e os personagens envolvem os espectadores de uma maneira única e o clima sombrio e violento de Hell’s Kitchen nos deixa com uma imensa curiosidade de saber o que nos aguarda em Marvel’s Luke Cage.

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Resumo para os preguiçosos

Marvel’s Jessica Jones é recomendada a todos os fãs de séries de super-heróis que conta a história de uma ex-heroína de um ângulo totalmente novo. Tem um clima investigativo bem pesado que faz jus ao que deveria ser uma Hell’s Kitchen real. Sua produção é maravilhosa e a trama, os protagonistas e o modo que a história se desenrola te farão assistir a todos os episódios de uma vez só.

Nota final

90
Saiba mais sobre os nossos métodos de avaliação lendo o nosso Guia de Reviews.

Prós

  • Narrativa bem elaborada e clara
  • Personagens marcantes
  • Fiel aos quadrinhos
  • Ótimos efeitos visuais e sonoros
  • Clima pesado faz jus a uma Hell’s Kitchen real
  • Provavelmente te fará assistir a todos os episódios em um dia

Contras

  • Excesso de personagens sem importância
  • Excesso de falas que não são essenciais à trama
  • Reação de personagens em cena específica pode gerar dúvidas nos espectadores
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Rafael Oliveira
Rafael Oliveirahttp://criticalhits.com.br
Rafael Oliveira faz análise de jogos, filmes e séries regularmente para o Critical Hits, além de postar notícias e artigos esporadicamente. Acha que Shadow of the Colossus é o melhor jogo já feito, é fanboy de Steins;Gate e tem um lugar especial no coração para Platformers, RPGs e Metroidvanias.