A indústria de jogos vive um período complicado, daqueles em que a decepção parece bater ponto. Grandes projetos vêm deixando a desejar, estúdios entregam menos do que anunciam e muita gente sustenta que a safra atual não alcança os grandes títulos da geração passada. No entanto, para nossa sorte, Kingdom Come: Deliverance 2, da Warhorse Studios, quebra essa maré: não só cumpre o que prometeu até agora, como ainda sustenta a qualidade com conteúdos adicionais consistentes — caso de Mysteria Ecclesiae.
Se você nunca jogou Kingdom Come Deliverance, segue aqui um pequeno contexto sobre a série. O primeiro jogo, lançado em 2018, tinha como principal proposta oferecer uma experiência de exploração semelhante à Skyrim e jogos de RPG do tipo, só que sem toda a temática mística e fantasiosa da série da Bethesda. O objetivo sempre foi claro: colocar o jogador para vivenciar um período histórico real, permitindo que ele torne-se um herói um pouquinho de cada vez.
O jogo foi muito bem recebido e se destacou pelos cenários realistas e missões criativas. Kingdom Come: Deliverance 2 elevou ainda mais o padrão do primeiro jogo, trazendo o protagonista Henry mais maduro, mais preparado e, ainda assim, com aquela teimosia do destino que o empurra para confusões maiores. A sensação é de retorno a um mundo conhecido que aprendeu com os próprios erros – ou nem tanto. Aliás, você pode ler nosso review de Kingdom Come: Deliverance 2 aqui.

O jogo base por si já excelente, mas as DLCs adicionam um gostinho a mais na experiência completa da saga de Henry. O terceiro DLC, Mysteria Ecclesia, tem como foco uma abordagem diferente da campanha principal. Aqui, você não vai passar a maior parte do tempo saindo no braço com bandidos, rufiões e foras da lei, o jogador encara uma trama centrada em um surto misterioso que assombra uma nova área: o Monastério de Sedletz.
Na trama, Henry é incumbido de proteger o médico Sigismund Albicus – que existiu de verdade, diga-se de passagem. Albicus é uma pessoa muito peculiar, dono de um imenso conhecimento médico e que carrega consigo um segredo capaz de afetar severamente o rei Venscelau.
Ao chegarem no Monastério, Henry e Albicus percebem que algo não cheira bem – literal e figurativamente. Após uma breve investigação, descobrem que algumas pessoas estão contaminadas com uma doença misteriosa, tão letal quanto a Peste Negra. Aos poucos, mais pessoas vão ficando infectadas e o Monastério de Sedletz é fechado para impedir que o mundo exterior sofra com a mesma praga.
Foi nesse ponto que Mysteria Ecclesiae me fisgou de vez. Inserir uma epidemia na trama de Kingdom Come: Deliverance 2 pode parecer estranho e um tanto fora da curva, considerando a campanha principal. Contudo, a ideia funciona muito bem como motor da narrativa. A trama te convida a desacelerar; pensar com mais calma e tentar ligar os pontos para entender o que está acontecendo de fato.

É aqui que as coisas começam a ficar realmente interessantes. Tanto o primeiro quanto o segundo jogo já tinham missões de investigação e de caça que exigiam perspicácia e um pouco de atenção. Mysteria Ecclesiae acerta ao dobrar essa aposta, obrigando você a mudar o foco e o estilo de jogatina para avançar. Você pode insistir em tentar resolver tudo na força bruta, mas não vai ter a mesma experiência.
É importante ressaltar, no entanto, que não estamos falando de uma investigação profunda e hardcore no nível de jogos como Blue Prince e similares. Na verdade, a trama é bastante direta e segue uma narrativa bem delineada. Ainda assim, suas ações, atitudes e até a resolução de missões secundárias podem ter impacto decisivo no final da história.
Assim que o Monastério de Sedletz é selado, Henry e Albicus percebem que não poderão solucionar o caso, a menos que quebrem algumas regras. É ai que as coisas ficam AINDA mais interessantes, uma vez que você precisará se esgueirar pelo monastérios para obter respostas, mantendo-se longe da visão dos guardas e tomando cuidado para não ser pego – ou morto.
Conforme Henry se infiltra de cabeça nos mistérios do monastério, mais e mais missões vão surgindo. Enquanto algumas são triviais e vão te recompensar apenas com experiência extra por sua resolução, outras acabam se desdobrando em novas etapas da trama principal, que cada vez vai se mostrando mais complexa e enredada.

Apesar do sistema de detecção do jogo não ser tão realista – principalmente na dificuldade padrão, o clima de tensão é permanente. Em alguns momentos, a tática de sair correndo adoidado e se esconder dentro da primeira porta funciona muito. Em outros, a melhor maneira de avançar é se escondendo em arbustos e tentando manter o mínimo de silêncio e de inconspicuidade possível.
Mesmo que o jogo tenha passos específicos para o avanço da missão, é possível conseguir desvendar o mistério mais rapidamente se você tiver olhos atentos e prestar bastante atenção ao seu redor. Por exemplo, em determinado momento é mencionado que alguém ou alguma coisa foi encontrada coberta de esterco. Se jogador estiver atendo ao seu redor, pode economizar muito tempo ao saber exatamente onde procurar.
Mas e no final, vale a pena? Vale, e muito! Mysteria Ecclesia promete cerca de 8 a 12 horas de conteúdo, mas a missão principal pode ser feita em menos tempo. De qualquer forma, vale muito a pena tentar entender toda a trama enredada por trás dessa misteriosa epidemia, só para se dar conta do que está em jogo e de quem é o verdadeira vilão por trás de toda essa confusão.
Kingdom Come: Deliverance 2 é, na minha opinião, o melhor jogo de 2025. Tudo bem, você pode discordar sem problema, se quiser. Mas se você gosta de jogos densos, com uma trama profunda e com mais de uma maneira de avançar pela estória, Kingdom Come: Deliverance 2 com certeza é para você. Além disso, todas as DLCs são excelentes e Mysteria Ecclesia não fica para trás!
Infelizmente, essa é a última DLC paga do jogo e por enquanto não temos qualquer indício de que teremos novidades no roadmap de Kingdom Come: Deliverance 2 no ano que vem. Foi bom enquanto durou, e sinceramente, só consigo esperar pelo próximo jogo da Warhorse Studios.
Resumo para os preguiçosos
Kingdom Come: Deliverance 2 mantém o realismo histórico, melhora o que o primeiro fez bem e ainda ganha fôlego com a DLC Mysteria Ecclesiae, que troca o foco do combate por investigação. O enredo coloca Henry ao lado do médico histórico Sigismund Albicus para lidar com um surto dentro do Monastério de Sedletz, exigindo observação, furtividade e decisões que podem afetar o final.
A expansão rende algo entre 8–12 horas (a principal pode ser mais curta), prioriza tensão constante e recompensa quem lê o cenário com atenção. Não é um puzzle hardcore, mas é bem amarrada, criativa e amplia o universo do jogo sem trair sua identidade.
Prós
- Evolução geral em relação ao primeiro jogo: cenários realistas, missões criativas e Henry mais maduro.
- Enfoque em investigação em vez de pura pancadaria
- Provoca o jogador a diminuir o ritmo e se esgueirar pelo monastério
- Missões secundárias e atitudes do jogador podem influenciar o desfecho.
Contras
- Sistema de detecção/stealth não muito realista, especialmente na dificuldade padrão.

