Eu gosto de jogos que me cativem pela história. Acredito inclusive, que um bom enredo é mais relevante para a qualidade do jogo do que gráficos perfeitos. Alguns jogos possuem uma história interessante, outros são somente como um “colírio para os olhos”, mas dificilmente encontramos um que seja uma mistura das duas coisas.
Jotun tenta ser exatamente isso. Com a campanha lançada no Kickstarter em julho do ano passado, o game prometia apresentar um belo enredo inserido na cultura e mitologia nórdica, com gráficos totalmente desenhados a mão. O projeto foi um sucesso, arrecadou fundos suficientes para garantir que o jogo fosse lançado e no final das contas o game é bastante competente ao que se propôs.
Em Jotun, você controla Thora, uma guerreira Viking sem glórias que morre devido ao naufrágio de seu drakkar. Para tentar chegar até o Valhalha ela deve impressionar os deuses enfrentando desafios nos nove reinos que compõe o mundo, enfrentando todos os seus desafios, munida somente do seu grandioso machado. É aqui que o jogo brilha, já que muita gente crê que os Vikings acreditavam que bastava somente morrer para ir até o paraíso, mas na verdade após a morte só metade dos guerreiros é que iam para Valhalla, e para entrar lá era necessário ter feito algo glorioso em vida, ou se provar aos deuses. Curioso como isso funciona bem para um enredo de vídeo-game, né?
O mais legal desse jogo, é que ele é na verdade uma grande mistura. Jotun pega elementes de diversos jogos diferentes e parece aproveita-los de maneira interessante no decorrer da história. O gráfico totalmente desenhado a mão lembra bastante o jogo The Banner Saga, enquanto a forma como a história é contada lembra um pouco aquilo que se viu em Bastion. Em contra partida, a luta contra os Bosses acontecem num estilo parecido com Dark Souls e o sentimento de grandiosidade que o mundo causa no jogador é bem parecido com Shadow of the Colossus.
A forma como a cultura nórdica foi transformada em jogo pela Lótus Game é bem interessante. Cada mundo funciona perfeitamente como uma fase e todos estão ligados pela mitológica Yggdrasil o eixo entre os mundos segundo os nórdicos. Cada mundo possui desafios específicos da mesma forma como requer habilidades específicas para serem enfrentados. Ao percorrer esse mundos, você deve encontrar runas que abrem novas áreas e novos caminhos alem de procurar por novos poderes cedidos pelos deuses em partes especificas -e as vezes bem escondidas- destas fases.
Encontrar novos poderes faz com que você consiga adaptar melhor a sua jogabilidade perante cada desafio. Como se não bastasse ficar andando por ai, para impressionar os deuses você deve enfrentar os Jotuns, ou os gigantes. Cada gigante tem poderes únicos e mecânicas diferentes de batalha que podem ficar mais desafiadoras caso você tenha deixado de pegar um poder específico.
Mas a melhor disso tudo são os gráficos. Todo desenhado a mão, Jotun parece um desenho vivo e interativo que funciona muito bem. Alguns inimigos reagem perfeitamente a pancada do machado de Thora enquanto outros, nem tanto. Entretanto, o ponto alto do jogo não só que os sprites e os cenários foram desenhados a mão, mas todas as animações, quadro por quadro também. Em alguns momentos em que encontramos os gigantes, essa característica fica bastante evidenciada.
Os cenários são muito bem trabalhados e dão uma sensação de imensidão enorme em alguns momentos. É impressionante quando você se aproxima de um lugar mítico como a forja onde Mjölnir foi fojado e a câmera se afasta, dando a impressão de que o lugar é enorme e muito, mas muito maior do que aparenta ser. Em contra partida, algo que irrita bastante as vezes é a velocidade de Thora, já que em alguns momentos quando a câmera se afasta você se da conta de como a movimentação é lenta e arrastada, provavelmente devido ao tamanho do machado que ela carrega nas costas.
Essa lentidão atrapalha mesmo em alguns momentos, principalmente quando você precisa revirar o cenário em busca de uma runa faltante ou de um novo poder. Como cada fase é enorme, a demora para se chegar de um ponto ao outro é bem grande e pode aumentar ainda mais se você não souber para onde esta indo. O game até apresenta um mapa, mas em alguns cenários é muito fácil se perder mesmo acompanhado dele. Some isso ao fato de que grande parte dos mapas é ou fica vazio depois de um tempo, e a falta de desafio acaba deixando a exploração bem mais chata do que deveria.
Outra coisa importante de se falar sobre Jotun é que nele cada detalhe é explicado pela mitologia, até a forma como você recupera sua vida. Eu não vou detalhar como isso acontece, já que foi uma das surpresas mais legais que encontrei durante o game. Entretanto, não pense que você vai receber muitas explicações de como as coisas funcionam neste jogo, pois na maioria das vezes você vai ter que descobrir da forma mais difícil mesmo. Ajuda bastante quem já manja sobre esta mitologia, mas ela não é necessária para se divertir com Jotun, a não ser que você não goste de sentir-se perdido de vez em quando.
Por fim, Jotun é um jogo interessante mesmo com algumas pequenas falhas de movimentação e de sincronia nos movimentos. Os gráficos são muito interessantes e te fazem tentar interagir com tudo no cenário só para descobrir a forma como eles foram animados, os inimigos são desafiadores e podem te matar caso você faça algo errado -principalmente os gigantes- e toda a mitologia envolvida torna o game muito mais épico e interessante. É um game que eu recomendo para quem tem interesse em se divertir de forma simples e objetiva e de quebra, aprender um pouquinho mais de como os nórdicos viam o mundo.
Resumo para os preguiçosos
Jotun é um jogo ambicioso que tenta misturar características que deram certo em outros games, em um jogo com história baseada na mitologia nórdica e gráficos desenhados a mão. O jogo falha em alguns quesitos de movimentação que podem torna-lo chato em alguns momentos, mas é uma ótima pedida para quem busca aquele jogo indie diferente e bem feito. Vale a experiência.
Prós
- Adota características positivas de outros jogos que deram certo
- Gráficos desenhados a mão e animações bem feitas
- História baseada na mitologia nórdica, o que dá um ar épico ao jogo do início ao fim
- Recriação de locais famosos da mitologia nórdica
- Boss battles dinâmicas
Contras
- Movimentação lenta e truncada, que torna o jogo chato em alguns momentos de exploração.
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