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Helldivers – Review

Estávamos eu e meu esquadrão no fim de mais uma missão, dois objetivos já concluídos e restava apenas um último desafio simples antes de podermos chamar a nave de extração. Só mais uma tarefa: capturar a bandeira. Chegamos no ponto de captura e inimigos nos cercaram por todos os lados. Usamos a estratégia “quadrado da morte”, com cada um cobrindo um lado da área. Rique e Diego estavam defendendo bem seus respectivos postos, o meu estava relativamente vazio, então decidi ajudar o colega JV que estava sobrecarregado.

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Miro num inimigo e atiro. Sem querer acerto as costas do meu companheiro que cai no chão sangrando e começa a rastejar clamando por sua vida e me amaldiçoando. Como sou um bom amigo, corro até ele matando alguns inimigos que tentam devorá-lo, me aproximo para salvá-lo e de repente *PLOC* o pod de munição que pedimos segundos atrás cai na cabeça do JV transformando-o em uma poça de geleia.

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Neste momento o jogo se torna uma tremenda confusão com risos dos outros dois integrantes e xingamentos do JV por todos os lados – afinal, eu derrubei ele e praticamente o guiei para o local em que a entrega cairia – e eu seguia sem entender de fato o que havia acontecido, até que a poeira baixa e então vejo meu personagem pomposo e saudável em cima do pod que matara meu amigo, pego a munição que ele havia pedido e o vejo proferir palavrões até então desconhecidos pela humanidade. Não pude conter as risadas.

https://youtu.be/Tu8j9NbAmZQ

Isso é Helldivers. Um jogo onde as ameaças vêm de todos os lados e até o seu mais fiel amigo pode ser o pior dos inimigos caso não tenha nenhuma noção tática. Eu, Rique, Diego e JV nos aventuramos pelas galáxias do jogo que tem um gameplay bem interessante e é capaz de prender grupos de amigos por um bom tempo.

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Assim que iniciamos Helldivers somos logo apresentados à história do jogo que se revela bem promissora. O que vemos é uma espécie de comercial das forças armadas da Super-Terra, uma versão futurista da Terra que conhecemos. O comercial convoca os Helldivers, soldados de elite que são responsáveis por levar a democracia, justiça e liberdade galáxia afora.

A melhor parte é que os Helldivers não espalham democracia coisíssima nenhuma, eles invadem planetas alienígenas e eliminam toda a vida nativa, destruindo qualquer ameaça à soberania e paz da Super Terra utilizando apenas esta desculpa esfarrapada. Sim, nós somos os vilões, mas é tão divertido matar aliens que ninguém realmente liga para o que fazemos, tanto faz se os alienígenas estão nos atacando ou defendendo seu planeta, eles são uma ameaça, e os Helldivers vão combatê-los.

Basicamente existem três raças que lutam contra a democracia, os Insetos, os Iluminados e os Ciborgues, cada uma delas habita centenas e centenas de planetas que compõem suas galáxias e possuem várias espécies diferentes que representam ameaças diferentes. Conforme conquistamos mais planetas e aumentamos a dificuldade das missões, novos inimigos vão surgindo, fazendo com que os Helldivers atualizem suas estratégias, mudem de táticas e evoluam individualmente e como grupo.

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O elemento grupo é muito importante no jogo e é por isso que temos uma grande variedade de estratégias que permitem que os jogadores combinem quem leva o que, se dividam em “classes” ou decidam o que é importante para todo mundo. Dentre as estratégias mais comuns estão cargas de munição, turrets, exoesqueletos, mochilas de munição e morteiros e ainda há algumas que o próprio jogo fornece em todas as missões como hellbombas e reanimação de companheiros, porém há uma gama muito maior delas que está disponível apenas via DLCs, o que é bem triste, já que isso limita bastante as possibilidades dos jogadores que não querem gastar com mais nada (e que pagaram uma bela grana pelo jogo).

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Em cada missão temos objetivos diferentes como explodir ninhos de alienígenas, capturar bandeiras, achar itens escondidos, extrair recursos naturais e muitas outras coisas, tudo em nome da liberdade. Todos eles ficam espalhados pelo mapa e os jogadores devem seguir juntos para cumpri-los, pois, além de serem uma equipe, a câmera do jogo não permite que se separem muito, algo que incomoda no começo, mas que faz completo sentido e que não é difícil de nos acostumarmos. Depois que todos são concluídos a equipe deve ir até o ponto de evacuação onde uma nave é chamada e todos devem segurar o tranco enquanto ela não chega, se defendendo dos inimigos, dos amigos e até das entregas que vêm do espaço.

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Quando estamos no meio de uma missão e precisamos de munição ou do reforço de turrets nós os requisitamos através de um código de autorização que é enviado à nossa nave, que por sua vez lança as cargas direto da atmosfera. O jogador indica onde ele quer que a carga caia e deve esperar um determinado tempo até a chegada do pod que muda de item para item. Há sempre a chance de ser acertado pelo pod quando ele finalmente chega à superfície, isso geralmente acontece quando nos distraímos com os inimigos que nos cercam por todos os lados e nos esquecemos de sair de cima do ponto de aterrissagem, um erro simples que acaba custando uma vida, mas que sempre proporciona boas risadas. A gravidade é realmente uma coisa de louco.

Outro grande perigo, que o JV pôde muito bem sentir o gosto, é o friendly fire, que aqui não é uma possibilidade, mas sim uma certeza. Uma hora ou outra acabamos acertando um parceiro e sendo acertados por eles e tudo o que podemos fazer para desviar dessas “balas amigas” é nos jogar ao chão, uma mecânica bem simples que funciona muito bem. Com a visão de cima para baixo que o jogo possui não é difícil de imaginar que os tiros fazem uma linha reta da arma até o inimigo e que podemos muito bem rastejar por baixo destas balas completamente em segurança. Essa seria a alternativa mais viável caso ela não tivesse efeitos colaterais, já que se por um lado ganhamos um pouco de defesa rastejando, perdemos um pouco de mobilidade e completamente o nosso ataque, pois não é possível atirar deitado.

Essa é praticamente nossa única defesa a um dos elementos mais engraçados e desafiadores do jogo, que são as ameaças que nos cercam de todos os lados e exigem atenção constante. Inimigos surgem do solo e spawnam bem do seu lado, amigos viram atirando e acabam te acertando, pods caem do céu, tentáculos e lasers surgem do nada, turrets furam a formação e matam toda a equipe só para acertar um inimigo que está do outro lado do mapa, inimigos que invocam novos inimigos, naves que ao invés de salvar o time aterrissam na cabeça de todo mundo, tudo que vemos na tela oferece perigo e é necessário que cada um saiba fazer suas funções e estar ciente do que acontece na tela.

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Todas essas missões são divertidíssimas, porém o modo como o jogo foi concebido faz ele praticamente jogar uma das coisas que mais chamam a atenção no lixo, que é justamente a história. Helldivers funciona por meio de geração procedural, ou seja, sempre que conquistamos um planeta outro surge no lugar, e seguimos assim, sem nenhuma novidade na narrativa do jogo ou sensação de avanço que não seja nos níveis e na influência da equipe.

A “história” que apresentei lá no início é apenas uma introdução do jogo e só serve para justificar a atmosfera satírica e talvez responder caso alguém pergunte por que diabos estamos matando os alienígenas – como se alguém se importasse com o porquê. Eu realmente senti falta de uma campanha com início, meio e fim que mostrasse um desenvolvimento dessa narrativa que é muito promissora, mas que infelizmente foi deixada de lado.

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O lado bom de a história ter sido deixada de lado é que sobrou mais tempo para a Arrowhead focar na jogabilidade de Helldivers e, meu Deus, como ela brilha. A variedade de loadouts disponíveis dão uma liberdade enorme aos jogadores de decidir não só em equipe como se portarão no planeta inimigo, mas como cada um quer jogar. No meu esquadrão temos o Diego que usa uma shotgun que mata vários inimigos com poucos tiros, porém tem pouquíssimas balas; o Rique que usa uma arma de laser que é ótima para acertar inimigos em fila, mas um perigo de usar em combates a curta distância; o JV usa um lança-chamas, que causa um dano absurdo, em inimigos e amigos; e eu que prefiro a boa e velha metralhadora, que causa um dano relativamente menor, porém tem um firerate absurdo.

A cada nível que subimos podemos melhorar nossas armas e estratégias, algo de extrema importância caso queiramos experimentar os níveis mais difíceis, ou comprar roupinhas para os personagens, pois ninguém quer levar a democracia mal vestido, não é? Quando chegamos em uma certa quantidade de níveis empacamos mais uma vez no caso dos DLCs, pois temos pontos de sobra para gastar e nenhum item novo para ser melhorado.

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A atmosfera que Helldivers impõe a nós funciona exatamente do jeito que deveria e talvez seja essa a formula de fazer um jogo tão viciante e desafiador. O jogo nos coloca num estado de urgência assim que pisamos no planeta inimigo e que continua presente a todo momento, que consegue nos sufocar com tanta coisa que temos que fazer e, o melhor de tudo, consegue fazer com que isso seja desafiador, e não enjoativo ou desleal.

O audiovisual do jogo contribui muito com esse senso de urgência como quando ouvimos o som dos inimigos vindo até nós, as contagens regressivas dos pedidos enviados à nave base, o carregamento dos objetivos ou os gritos dos outros soldados nos encorajando ou agonizando ao nosso lado. Muitas vezes essa urgência nos induz ao erro, como quando sem querer acertamos amigos e imediatamente corremos para levantá-lo, sem antes pensar que ele está cercado de inimigos e que é mais viável solicitar uma cápsula de reanimação à nave.

Os mapas do jogo são muito bem produzidos com elementos únicos em cada galáxia que afetam os jogadores de formas diferentes, muitas vezes também ampliando esse estado de urgência. Alguns planetas são pântanos lodosos onde a água causa lentidão aos soldados, outros possuem vulcões que cospem lava no desavisado que passar perto deles, e outros que são cheios de neve e cortam a velocidade dos jogadores pela metade. Também temos habilidades que nos ajudam a enfrentar estes obstáculos naturais que são desbloqueadas em determinados níveis e é necessário abrir mão de outras para preteri-las. Será que andar mais rápido na água vale sacrificar uma mira laser?

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Podemos perceber pequenos detalhes que mostram o cuidado dos desenvolvedores com o jogo como o comportamento dos inimigos que se diferenciam dependendo de sua raça e do tipo. Os insetos, por exemplo, fazem patrulhas em certas partes do mapa, assim como as formigas que andam na parede da sua cozinha, e reagem quando jogadores entram em seu radar. Também podemos perceber que eles tentam ajudar os insetos que estão sofrendo mais dano, atacam o soldado que estiver mais fraco ou caído e respondem de maneiras diferentes aos tiros que levam, podendo até buscar abrigo ou desviar das balas.

Os personagens também respondem bem ao que acontece no jogo dando gritos de agonia quando outro companheiro os acerta ou parecendo mais confiantes quando matam vários inimigos em sequência gritando frases como “está sentindo a democracia?“. O jogo é completamente dublado e legendado em português, e a dublagem, na minha opinião, cumpre bem o seu papel, o que significa que você não vai precisar trocar seus tímpanos caso opte por jogar a versão PT-BR.

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E se por um lado, o co-op de Helldivers é espetacular, o singleplayer é muito menos conquistador. É realmente bem chato andar pelos planetas sozinho e enfrentar um mundo de inimigos sem alguém para proteger sua retaguarda, mas felizmente o jogo tem a solução para você que se interessou pelo jogo mas que não tem amigos que joguem. É possível logar em salas abertas de jogadores espalhados pelo jogo podendo aterrissar bem no meio da missão e ajudá-los em algum desafio impossível e somar suas forças às deles. Nós não somos muito amigáveis e sempre expulsamos um entrão depois da missão terminar (pelo menos esperamos o fim da missão, poxa), mas é bem provável que você encontre uma galera mais acolhedora por lá, faça novos amigos e crie o seu próprio esquadrão.

Helldivers está com certeza no meu top 3 de melhor experiência multiplayer e é bem capaz que ele fique aí por um bom tempo. Por mais que você uma hora se canse da mesmice que o jogo possa parecer ou da falta de história, acredite, vai haver uma hora em que você vai querer jogar. Ele é aquele tipo de jogo que te conquista sem você saber, o tipo que você começa a jogar e quando se dá conta já se passaram seis horas de jogatina. O jogo é realmente uma experiência muito gratificante, desafiadora, divertida, engraçada e que estimula a amizade (ou o ódio mesmo) e o trabalho em equipe, compre-o primeiro e me agradeça depois.

Review elaborado com uma cópia do jogo para PC fornecida pela desenvolvedora.

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Resumo para os preguiçosos

Helldivers é um jogo de ação e tiro com câmera isométrica e foco no co-op que te conquistará na primeira jogada. Nele somos justamente os Helldivers, a unidade de Elite da Super-Terra que viaja pela galáxia levando a liberdade e democracia (a morte). A história do jogo é promissora e engraçada, mas infelizmente não progride devido ao modo de geração procedural que o jogo foi criado.

Para compensar isso temos uma experiência multiplayer sensacional com uma grande variedade de armas e estratégias que permitem que os jogadores criem suas próprias táticas de combate. O grande número de inimigos, o friendly fire que está sempre ativado e o perigo que vem de todos os lados fazem dele divertido e extremamente desafiador sem que pareça injusto. É um jogo que você vai querer jogar com amigos, mas que também acolhe aqueles que jogam sozinhos e uma compra muito recompensadora.

Nota final

85
Saiba mais sobre os nossos métodos de avaliação lendo o nosso Guia de Reviews.

Prós

  • Engraçado
  • Perigo vem de todos os lados
  • Permite uso de tipos diferentes de estratégia
  • Ótima experiência multiplayer
  • Variedade de objetivos e inimigos
  • Viciante

Contras

  • Algumas estratégias não são tão práticas
  • História promissora não se desenvolve
  • Muito conteúdo exclusivo de DLCs
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Rafael Oliveira
Rafael Oliveirahttp://criticalhits.com.br
Rafael Oliveira faz análise de jogos, filmes e séries regularmente para o Critical Hits, além de postar notícias e artigos esporadicamente. Acha que Shadow of the Colossus é o melhor jogo já feito, é fanboy de Steins;Gate e tem um lugar especial no coração para Platformers, RPGs e Metroidvanias.