Hellblade 2 é um jogo que tem uma missão bastante difícil diante de si: causar o mesmo impacto que o primeiro jogo da série causou. Com uma nova aventura de Senua, partindo em direção ao norte em busca da origem da escuridão e uma série de novos desafios, será que esse jogo consegue superar o seu antecessor?
Em Hellblade 2, você controla novamente Senua, uma guerreira dos pictos que agora parte em direção à Islândia para dar um fim aos nortistas que constantemente atacam e escravizam seu povo.
Já no começo, notamos que o jogo segue uma estrutura diferente do seu antecessor, e isso vai se manter durante toda a aventura. O começo do jogo é bastante conturbado, com as vozes de Senua ainda mais atordoantes do que no jogo anterior, e logo você dá de cara com o primeiro chefe que você terá que enfrentar no game.
Depois dessa sequência inicial, você vai em uma parte que vai te remeter ao primeiro jogo, mas logo na sequência isso muda, e aí notamos que ao invés do loop “sequência de puzzles, combate, caça por histórias de Durth e chefe”, Hellblade 2 oferece mais variação de gameplay que o seu antecessor, mas é interessante notar que parece que ele nunca se acostuma em um estilo de jogo definido, variando bastante, mas sem oferecer muita profundidade em nenhuma das tentativas que faz.
Eu não vou entrar em específico do que acontece no jogo todo até para não estragar a experiência de quem vai jogar ele pela primeira vez, mas Hellblade 2 funciona mais ou menos assim: temos a sequência inicial com o primeiro chefe, depois um pequeno repeteco do loop de gameplay do primeiro jogo, que foi a parte que eu menos gostei nessa segunda aventura, depois disso, entra no melhor arco do jogo, uma parte que realmente ficou muito boa, no nível da história do primeiro game, depois disso, um novo arco onde o jogo repete o que acontece no arco anterior com um efeito muito menor, na sequência temos uma parte de “caminhar e falar” e finalmente o confronto final do jogo.
Como dá para notar, Hellblade 2 é um jogo bastante curto, e eu devo ter cerca de 7 horas para terminar a história, até porque, diferente do primeiro, onde a maior parte do tempo que gastamos é fazendo puzzles, aqui o jogo tem muito mais cenas de conversa entre Senua e outros personagens do que puzzles e combates.
Dá até para fazer um paralelo que o jogo é uma espécie côver de “Hellblade da Naughty Dog”, onde o jogo alterna partes onde os personagens caminham e conversam pra desenvolver seus arcos pessoais e partes onde você é mais ativo no jogo, com a diferença aqui que nenhum dos sistemas do jogo se aprofunda muito.
Há algumas coisas herdadas do primeiro jogo da franquia, como aqueles puzzles onde Senua deve focar em certas partes do cenário para desbloquear passagens, e há puzzles novos, como um bem legal onde você tem que ficar alternando o chão e o teto de um cenário por meio de dispositivos para conseguir avançar no caminho.
Há alguns puzzles bem legais aqui, que felzmente fogem da dinâmica de ficar procurando gravetos pelo cenário como no primeiro jogo, e até a procura por esses acabou ficando bem melhor também pois eles são mais intuitivos.
Um ponto central que merece destaque é o combate do jogo. Hellblade 2 tem um combate que parece uma involução em relação ao primeiro jogo da franquia. O primeiro motivo disso é que Senua perdeu alguns dos movimentos que tinha no primeiro jogo, como os ataques correndo e atacando quando ela tenta dar uma estocada no inimigo. O outro motivo disso é que o combate parece mais lento e mais rápido ao mesmo tempo.
Primeiro ele parece mais lento porque a impressão que dá é que Senua tem o pior preparo físico de qualquer protagonista de jogos de videogame, ela se cansa rapidamente em qualquer combate e muitas das vezes chega atrasada em relação aos adversários na hora de acertar o golpe, de modo que você na maioria das vezes só consegue atingir os inimigos se você se esquivar dos ataques deles antes e aí conseguir encarixar um ou dois golpes rápidos nele (nem tente usar o golpe forte nesses momentos, é só pro inimigo se recuperar e te atingir antes de você conseguir conectar algum golpe nele).
Apesar de lento, os combates acabam muito rápido, com os inimigos não sendo as esponjas de dano que eram no primeiro jogo, então, apesar de ser mais difícil de acertar nos inimigos, a maioria esmagadora deles morre com cerca de 4 ou 5 golpes. Além disso, o Espelho de Senua está de volta em Hellblade 2, e você consegue ativá-lo na maioria das vezes após vencer um inimigo, então a maioria das sequência de luta acaba sendo algo como “matar o primeiro, ligar o espelho e matar instantanemanete o segundo, matar o terceiro, ligar o espelho e pulverizar o quarto”.
Outro ponto que merece destaque ainda do combate é que o jogo tem quase nenhuma variação de inimigos, assim como no primeiro da franquia. Humanos e Draugr compartilham 3 classes entre si e cada raça tem um inimigo exclusivo, e você vai se ver enfrentando sequências iguais eles mais de uma vez na mesma sequência de combate. Como vencer cada um deles meio que segue uma fórmula, o combate acaba ficando repetitivo. Além disso, todos os combates de Hellblade 2 são de um contra um, não há mais aqueles combates contra 3 ou 4 inimigos ao mesmo tempo como no jogo original.
Por fim, falemos um pouco sobre a história de Hellblade 2. Quando o jogo foi anunciado, eu lembro de ter pensado que ele não era lá muito necessário, afinal de contas, o arco de Senua termina no primeiro jogo, não havendo necessidade de continuação. Terminado o segundo, essa sensação persiste, e pior, a impressão que fica, é que a Ninja Theory até tinha uma ideia do que fazer na sequência, mas que essa ideia poderia ter amadurecido melhor antes do jogo começar a ser desenvolvido. Ele traz algumas ideias interessantes mas há vários pontos que eu realmente achei que poderiam ter se estendido um pouco mais.
Não dá pra entrar em detalhes do que eu gostaria que fosse melhor desenvolvido para não dar spoilers, mas eu realmente acredito que os arcos dos personagens secundários poderia ser melhor trabalhado e que uma parte em especial do jogo vai deixar muita gente pensando “peraí, é só isso mesmo?” quando passar por ela.
Graficamente, Hellblade 2 é um dos jogos mais bonitos que eu joguei até hoje. O jogo realmente brilha tanto na captura de movimentos quanto nas expressões faciais dos personagens, apesar de eu não ter gostado tanto assim o fato do jogo ser completamente cinza, parece até que estamos jogando um jogo em preto e branco de tão cinza e monocromático que ele é.
Ainda sobre os gráficos do jogo, eu testei ele em três configurações possíveis, no Xbox Series X, onde o jogo é absolutamente lindo e funciona sem problemas de performance, no Xbox Series S, onde ele roda dentro do esperado, apesar de ser um pouco borrado além do que eu gostaria (mas dá pra entender que não dá pra esperar muito mais do que isso de um console com menos potência) e no meu PC, um Ryzen 7 5800X com 32GB de Ram, SSD Nvme e uma RTX 2080S. Nessa configuração, o jogo rodou a cerca de 77 FPS com o preset mínimo na resolução 2,5k com o DLSS ligado, ou seja, apesar de extremamente bonito, Hellblade 2 é um jogo realmente pesado.
A trilha sonora e áudio em geral do jogo seguem excelentes, com as vozes de Senua sendo novamente o destaque do jogo, mas as músicas estão em alto nível também.
Mas e aí, Hellblade 2: Senua Saga vale a pena?
Hellblade 2 tem algumas boas ideias e outras que poderiam ser melhor desenvolvidas. O ponto alto do jogo pra mim acontece exatamente na metade dele, depois disso, ele acaba perdendo um pouco do impacto depois disso, além de possuir algumas partes que poderiam ser um pouco mais trabalhadas sem os cortes secos que o jogo faz. Por fim, os puzzles são melhores que os do jogo anterior, e o combate não me agradou tanto, mas a apresentação visual do jogo é incrível.
Resumo para os preguiçosos
Hellblade 2 apresenta algumas ideias promissoras, embora algumas delas possam ser aprimoradas. O ponto culminante do jogo, para mim, surge exatamente na metade da jornada. No entanto, após esse ponto, ele parece perder um pouco de seu impacto, e algumas partes poderiam ser mais bem elaboradas, evitando os cortes bruscos que o jogo adota. Por fim, os quebra-cabeças são superiores aos do jogo anterior, enquanto o combate não me cativou completamente. No entanto, é inegável que a apresentação visual do jogo é deslumbrante.
Prós
- O ponto alto da história do jogo realmente é muito bem pensado e trabalhado
- Bons puzzles e variados
- Belíssimos gráficos
Contras
- O melhor momento do jogo acontece na metade dele, depois ele dá uma caída
- Algumas partes do enredo podiam ser melhor trabalhadas
- O combate piorou do jogo anterior pra esse
- Pouco desenvolvimento para a protagonista