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Grim Fandango Remastered – Review

Fazer review de um dos seus jogos preferidos da infância, é uma tarefa difícil. Em alguns momentos, é extremamente complicado não se deixar levar pelo gracioso sentimento de nostalgia que acontece no momento em que você revive as cenas mais icônicas, aquelas que de tão emblemáticas te fazem lembrar até mesmo do dia e momento da sua vida em que aconteceram, mas o meu objetivo em analisar a versão remasterizada de Grim Fandango não era só reviver bons momenos, mas sim ver o que a palavra Remastered na frente do título trazia de melhorias ao game.

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É muito difícl imaginar que uma versão atualizada do jogo conseguiria ter um desempenho inferior ao que conseguiu no passado. É quase a mesma coisa que pensar na possibilidade da trilogia original de Star Wars ser re-lançada em HD, e mesmo assim desagradar aos fãs. Em contra-partida, se pegarmos o mesmo exemplo de Star Wars, temos de lembrar de que a versão mais recente lançada em Blu-ray foi de fato odiada por muitos justamente pelas “firulagens” que o senhor George Lucas resolveu colocar no meio do filme. Qual a probabilidade da Double Fine cometer os mesmos erros?

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Bom, pra tentar analisar o jogo de forma correta, eu dividi esse review em tópicos bem específicos, assim fica mais fácil de falar os prós e os contras e cada aspecto dessa nova versão. Entretanto, vale lembrar que apesar de focar no que foi melhorado, eu também vou incluir no texto algumas coisas que são inerentes a versão original, como a história por exemplo, certo? Então vamos lá.

O enredo continua o mesmo, obviamente. Grim Fandago foi um jogo com uma história que fez história, ou seja, a saga de Many Calavera por entre o mundo dos mortos é tão envolvente, tão carismática e se desenrola de maneira tão cativante que é praticamente impossível não querer saber o que vai acontecer no final.

Em alguns momentos, parece que você está na verdade, lendo um daqueles livros dos quais não consegue parar de ler. O mais intrigante de tudo é que ao parar pra pensar em algumas coisa que acontecem durante o jogo, dá pra ver que em alguns aspectos a história não faz nenhum sentido. Talvez seja isso que torna o mundo dos mortos algo tão espetacular.

Grim Fandango conta a história de Many Calavera, um funcionário da DDM (Departamento da Morte), que nada mais é do que a empresa responsável por trazer a alma dos vivos ao mundo dos mortes. Aqui, a entidade “Morte” é na verdade, uma agência de viagens que colocar seus vendedores para ceifar as almas e vender pacotes para o paraíso de acordo com o nível de bondade que eles tiveram em vida.

Na real é meio confuso mesmo, e talvez eu não seja o cara certo pra tentar explica-lá da melhor forma possível em poucas linhas, mas o que posso adiantar é que a forma como ela vai se desenrolado é muito interessante justamente por misturar culturas e gêneros de uma forma espetacular.

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Pra ter uma idéia, o mundo dos mortos é totalmente baseado na cultura mexicana das antigas civilizações Maia e Azteca, nas tradicionais calacas e em todo o clima do famoso “Dia dos Muertos”, celebração milenar e característica que data de muito tempo antes da chega dos espanhóis por aquelas bandas. Tanto é que todos os personagens do jogo são caveiras desenhadas no estilo “calaca”. Pra economizar tempo explicando o que é uma calaca, melhor ir colocar uma imagem aqui de uma vez.

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Sim, é o mesmo estilo visto em “Guacamelee”

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Ok, então o clima todo do jogo deve ser meio “latino” como em Guacamelee certo? Não, apesar do sotaque dos personagens ser bastante puxado e falado em tons hispânicos, por incrível que pareça, o ambiente do jogo é extremamente Noir, como os antigos filmes de detetive dos anos 40~50. Mistérios, intrigas, jazz e muita fumaça é o que não falta durante as andanças de Many pelo vários locais que ele passa durante o jogo.

Levando em consideração que a entidade “Morte” é de origem greco-romana, da pra dizer que o jogo é uma grande mistura de culturas européias e americanas, certo? Sim! E o melhor de tudo é que dentro do jogo isso faz sentido. Não pense você caro leitor, que Grim Fandango conquistou fama somente por ter uma jogabilidade diferente do habitual lá em 98, pois para mim e para muito outros fãs desse maravilhoso jogo, a melhor parte é a forma utilizada para contar essa história maluca que mistura vários elementos de diversos lugares do mundo, sem fazer com que fique absurdo alem da conta e dando uma impressão de naturalidade a mitologia criada.

Os personagens que vão aparecendo no decorrer da aventura também são sensacionais. Alguns deles possuem personalidades tão características que são extremamente difíceis de esquecer, como por exemplo o demônio motorista/mecanico/engenheiro Glóttis, a quem foi dado uma missão, um desejo de DIRIGIR. Ou ainda o revolucionário Salvador Limones, capaz de oferecer qualquer coisa em troca do sucesso de la revolucion. Até mesmo os vilões são extremamente bem feitos, o que faz com que o jogador tenha vontade de derrotá-los a todo custo.

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Eu sempre me empolgo na hora de falar da história em todas as análises que faço, e por mais que sinta uma vontade imensa de continuar comentando os acontecimentos de Grim Fandango, os personagens, como o protagonista acaba fazendo parte de uma organização revolucionária e tudo mais, eu mais uma vez vou me ater por aqui. Infelizmente eu não tenho o dom de comentar o enredo de um jogo sem estragar a experiência dos meus leitores, e mesmo esse sendo um jogo antigo eu gostaria mesmo de que esse texto servisse somente para fazer com que as pessoas que ainda não jogaram tivesse a gana de comprar o game e jogá-lo, não de dar spoilers do início ao fim e acabar causando justamente o contrário.

Grim Fandango é de fato, um adventure game ao estilo clássico. Entretanto, ele é bastante moderno no que diz respeito a movimentação e a jogabilidade.

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Quem esta acostumados aos jogos desse gênero da antiga Lucas Arts, deve saber muito bem ao que me refiro já que a grande maioria desses jogos de aventura também eram conhecidos como “point n click”, ou seja, o jogo só exigia que o jogador apontasse e clicasse com o mouse para desempenhar todas as funções, não necessitando do auxílio do teclado para praticamente nenhuma ação.

Isso atrelado ao fato de que grande parte dos point n click’s eram desenvolvidos com uma interface totalmente em 2D, da pra imaginar o tamanho do impacto que Grim Fandango causou ao proporcionar um adventure game em ambiente totalmente 3D. A palavra ambiente aqui merece destaque já que não só o visual era renderizado em três dimensões, como alguns truques de som que davam a sensação de reverberação, eco e de profundidade o que era totalmente inovador na época. Hoje talvez isso até passe batido, mas pra quem jogou a parte em que você vai encontrar Glóttis na garagem da DDM sabe muito bem do que estou falando.

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E da mesma forma que o fato de se utilizar um teclado para movimentar o protagonista num ambiente 3D dentro de um adventure game, agora a Double Fine resolveu permitir que o usuário seja capaz de utilizar um controle para isso! Apesar de simples, esse fato torna ao ato de jogar Grim Fandango muito mais atraente e confortável, já que a transição entre teclado/controle foi extremamente bem feita e não ficou nem um pouco estranho mesmo para quem esta acostumado a forma mais tradicionais.

Claro que isso não pode ser considerado como uma baita novidade, afinal de contas era de se esperar que este suporte estivesse disponível também para a versão de PC depois da adaptação para PS4. O único ponto que me fez torcer o nariz foi o fato de que os controle aparecem configurados como se o usuário estivesse utilizando um controle de PS4, o que me fez confundir o botão “X” algumas vezes no início.

Apesar de estar visualmente muito mais atraente e arrojado, os gráficos não mudaram tanto quanto se esperava num primeiro momento. Na verdade, acredito que seja ai que o assunto possa gerar polêmica, afinal de contas não da pra dizer que o jogo precisasse de uma melhora muito maior da que foi vista já que um mudança muito drástica poderia afetar até mesmo alguns traços característicos do próprio game, o que se não levado em consideração poderia até mesmo “matar” o sentimento de nostalgia ou de familiaridade do pessoal que jogou a versão original no final da década de 90.

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Olhando por outro lado, também da pra ficar um pouco decepcionado com o visual “remasterizado” de Grim Fandango. Eu confesso que quando ouvi sobre o relançamento do jogo no ano passado, lá no fundo, esperava ver uma grande melhora gráfica em alguns pontos que me incomodavam durante a minha primeira jogatina. Alguns poligonos eram tão atravessados, que dependendo do ângulo da câmera era impossível identificar determinado objeto sem dedicar um pouco mais de atenção e “força nas vistas” pra conseguir focar o dito cujo.

Por falar em poligonos, até mesmo o visual do Glóttis não ficou do jeito que eu esperava, e em alguns momentos o modelo do demônio motorista nem parece que passou por algum momento de reformulação. E aproveitando esse momento babaca, já digo que tem horas que dá a impressão de que o projeto parece ter sido apressado, que o planejado não foi executado por falta de tempo ou coisa parecida.

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Mas ai é só parar pra pensar: Qual era o objetivo do relançamento? Oferecer Grim Fandango com características AAA, ou proporcionar uma versão do jogo melhorada em vários aspectos para matar a saudade dos fãs e proporcionar essa experiência ade jogo a quem nunca tinha ouvido falar do jogo antes? Essa pergunta pode ser respondida citando a possibilidade de trocar o visual do jogo de remasterizado para original in-game, com o apertar de um botão. Só esse simples aspecto é suficiente para entender que o objetivo mesmo era de mostrar o conteúdo original com pequenas melhoras, e não recriar o jogo para a nova geração

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Aqui é que a porca torce o rabo. Pra explicar os motivos pelos quais me forcei a falar da trilha sonora e da dublagem em um tópico separado, eu tenho que contar uma pequena histórinha.

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Quando eu era moleque, meu pai não gostava muito que eu passasse muito tempo jogando. Talvez seja por isso que eu tenha pulado de um mega drive direto para um playstation 2, ou que eu só tenha tido um PC capaz de rodar Half Life em 2005. Enfim, naquela época era muito difícil encontrar um jogo que rodasse no meu Pentiun 233MHz e quando eu encontrava, dificilmente acabava me sentindo imerso no game devido ao meu parco poder de processamento e minhas limitadas habilidades em entender inglês.

Grim Fandango foi um jogo que me marcou justamente por que rodava tranquilamente na porcaria que era o meu PC, e ainda por cima já vinha dublado! Sim, a Brasoft, empresa que trouxe inúmeros jogos para o público brasileiro conseguiu fazer com que a versão dublada fosse vendida de forma mais fácil por aqui, o que melhorou a experiência de muita gente com o game, naquela época.

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E que dublagem meus amigos, que dublagem…

Mesmo hoje em dia, são poucos os jogos que conseguiram fazer um trabalho tão bem feito na dublagem brasileira quanto Grim Fandango fez naquela época. Os sotaques “chicanos” foram respeitados, os protagonistas usavam gírias que derivavam da língua espanhola e as expressões eram muito bem criadas o que deixava o jogo mais dinâmico dependendo do tipo de situação em que o protagonista estava passando. Nada de gente sem vontade fazendo expressão de raiva como se estivesse com uma crise de sonambulismo (alô Ubi).

Imaginem então a minha felicidade ao perceber que a dublagem original esta de volta na versão remasterizada! Talvez isso já fosse esperado por muitos, mas eu fiquei realmente receoso por ter a dublagem original substituída por alguma mais recente, só pra dar aquela sensação de coisa nova. Isso só serve pra reforçar as minhas palavras referentes a qualidade da dublagem original, lá da década de 90. Se não fosse tão bom, certeza que teria sido substituída ou até mesmo retirada.

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Entretanto, em alguns momentos eu tive a impressão de que a voz de alguns personagens foram “safadamente” substituídas durante alguns momentos. Eu não sei se a gravação original teve algum problema e aquela palavra em específico teve de ser regravada por alguém fazendo um falsete com a voz do personagem ou se eu tive um momento pão de batata enquanto ouvi isso, mas caso alguém compartilhe essa impressão, por favor se manifeste.

Resumo para os preguiçosos

Grim fandango realmente merece um 10 pela sua história envolvente e criativa, capaz de agradar desde o moleque que não entende nada do que esta acontecendo, até o cara um pouco mais manjado, que entende todas as referências e percebe o que os produtores tentaram fazer quando desenvolveram o game.

A remasterização é que talvez possa decepcionar um pouco, já que a principal mudança visível em alguns momentos é somente o aprimoramento visual do protagonista, na resolução e correções na iluminação. Entretanto, apesar disso parecer uma crítica clara, é possível dizer que não houve maiores mudanças simplesmente por quê o jogo não precisa, pois o visual dos cenários estáticos e outros detalhes continuam bonitões mesmo tanto tempo depois de ter sido concebidos.

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A verdade é que o jogo é bacana e não precisa de gráficos da ducentésima geração para parecer mais interessante. Creio eu que Grim Fandango vai continuar sendo um jogo capaz de arrancar suspiros dos jogadores mesmo daqui a 30 anos, e que a única coisa que será preciso fazer daqui a algum tempo é aumentar mais uma vez a resolução para que se adapte aos novos monitores que vêm por ai, e quem sabe uma alterada nos controles, afinal de contas ninguém sabe qual será o futuro dos Joystiks.

Nota final

95
Saiba mais sobre os nossos métodos de avaliação lendo o nosso Guia de Reviews.

Prós

  • História envolvente
  • Jogabilidade aprimorada
  • Dublagem original
  • Ambientação e sincronização de som e imagem
  • Enredo cativante que se desenrola perfeitamente
  • Possibilidade de alternar entre versão original e remasterizada com o apertar de um botão

Contras

  • Pequenos erros de sincronização na dublagem
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João Víctor Sartor
João Víctor Sartorhttp://criticalhits.com.br
João Víctor Sartor é colaborador e sex-symbol do Critical Hits. Admirador das boas histórias, almeja de verdade escrever um livro algum dia. Divide seu tempo entre à leitura, jogatina, trabalho, engenharia e quando sobra tempo, vive.