Depois do sucesso estrondoso de Ghost of Tsushima, a desenvolvedora decidiu dar um salto temporal de mais de 300 anos e apresentar uma nova protagonista, um novo território e uma abordagem ainda mais cinematográfica em Ghost of Yotei. Mas será que o jogo vale a pena? É o que vamos descobrir na análise de hoje
História
Ambientado no Período Edo, Ghost of Yōtei acompanha a jornada de Atsu, uma jovem marcada por uma tragédia brutal. Quando criança, ela viu seus pais e irmão serem assassinados por um grupo de criminosos conhecidos como os Seis de Yōtei, liderados pelo temido Lorde Saito. Deixada para morrer, Atsu sobrevive milagrosamente e passa anos longe de sua terra natal, aprimorando suas habilidades como mercenária até estar pronta para retornar a Ezo e iniciar uma jornada de vingança.
É verdade que histórias baseadas em vingança não são novidade, especialmente em jogos de samurais, mas Ghost of Yōtei consegue dar frescor ao tema. Parte disso vem da própria protagonista. Atsu é uma personagem bem construída: considerada pelos inimigos como um onryō, um “fantasma vingativo”, ela carrega uma aura quase sobrenatural, que cresce à medida que sua reputação se espalha.
Mas o jogo não se contenta em retratá-la apenas como uma máquina de matar. Em flashbacks cuidadosamente colocados, vemos fragmentos de sua infância, como os treinos de espada com o pai ou momentos tranquilos com a mãe ao som do shamisen. Essas cenas humanizam a personagem e criam um elo emocional forte com o jogador.

Ao começar a caçada, Atsu pode escolher entre 2 dos 6 Yoteis iniciais e então começar sua jornada. Cada alvo possui sua própria personalidade, motivações e território, o que faz cada encontro ser único. A estrutura é menos linear que em Tsushima, permitindo que a história se adapte às decisões do jogador. Os diálogos mudam conforme os inimigos já foram derrotados, e Atsu frequentemente menciona suas vitórias anteriores, o que torna o mundo mais coeso e reativo.
Além dos vilões centrais, os personagens secundários também brilham. Companheiros como Lady Onyuki e Kiku têm arcos próprios, diálogos cheios de nuances e participações ativas nas principais missões. A dinâmica entre esses personagens e Atsu traz momentos de camaradagem, tensão e até leveza, ajudando a equilibrar o tom sombrio da narrativa.
O jogo é dividido em três atos bem definidos. O primeiro é focado na redescoberta de Ezo e na construção da jornada de vingança. O segundo solidifica Atsu como uma força temida, desenvolvendo relacionamentos e elevando os riscos. Já o terceiro ato é o mais explosivo, embora bem previsível em alguns momentos, entregando batalhas emocionantes e um clímax digno de uma grande história de samurai. Mesmo que algumas reviravoltas sejam fáceis de antecipar, a execução é boa e mantém o jogador interessado até o fim.
Gameplay
Já na questão de Gameplay, Ghost of Yōtei pega a base sólida de Tsushima e expande em várias direções, com mudanças que impactam tanto a exploração quanto o combate.
A principal diferença está na forma como Atsu luta. Por não seguir o código samurai, ela tem liberdade para usar uma variedade maior de armas, incluindo yari (lanças), kusarigama (foice com corrente) e pistolas primitivas. O sistema de combate funciona como um “pedra-papel-tesoura” em tempo real: cada tipo de arma tem vantagens e desvantagens contra certos inimigos, incentivando a troca constante durante as batalhas. Se no jogo anterior a mudança de postura do katana era a chave, aqui a escolha da arma e do estilo define o ritmo dos confrontos.
As lutas exigem mais precisão e leitura de padrões. Parar, desarmar e punir inimigos no momento certo pode mudar completamente o rumo de um combate. Inimigos mais fortes também podem desarmar Atsu se ela vacilar. Os duelos contra chefes, especialmente os Seis de Yōtei, são intensos e bem difíceis, exigindo bastante do jogador.
A furtividade continua sendo uma alternativa extremamente viável. Invadir acampamentos de forma silenciosa, eliminando guardas um a um, é tão satisfatório quanto partir para o confronto direto. Atsu se movimenta com mais fluidez do que Jin Sakai, e as melhorias na escalada e no parkour dão mais liberdade para planejar ataques. O jogo incentiva abordagens criativas, e muitas vezes alternar entre furtividade e combate aberto é a chave para sobreviver aos encontros mais difíceis.
Outro elemento novo é o sistema de recompensas e caçadas. À medida que Atsu derrota inimigos notórios, sua fama cresce, e com ela, a recompensa por sua cabeça. Ronins e assassinos passam a emboscá-la pelas estradas, tornando cada viagem potencialmente perigosa. Ao mesmo tempo, é possível aceitar contratos para eliminar criminosos, obtendo recursos e equipamentos valiosos, além de pequenas missões secundárias que enriquecem o mundo.
Os sistemas de progressão também foram simplificados e refinados. Materiais de crafting foram agrupados em categorias mais amplas, facilitando upgrades de armas e armaduras. Personalização estética continua rica, com dezenas de tingimentos e kits para dar um estilo único à Atsu.
Por fim, vale destacar a integração inteligente das funcionalidades do DualSense. Mini-jogos de pintura sumi-e e sessões de shamisen usam o touchpad de maneira inteligente, tornando esses momentos divertidos.
Audiovisual
Já no quesito Audiovisual, se Ghost of Tsushima já era um espetáculo, Ghost of Yōtei é um verdadeiro deslumbre. A ambientação no norte do Japão traz cenários que mesclam campos abertos, vales cobertos de neve, florestas densas e o majestoso Monte Yōtei, que pode ser escalado até sua cratera. Cada bioma é construído com um nível de detalhe impressionante, criando um mundo vivo e coerente.
A direção de arte abraça completamente o estilo cinematográfico. As composições de cena evocam filmes clássicos de samurai, com enquadramentos cuidadosos e uso de iluminação natural para criar atmosferas marcantes. Duelos parecem cenas saídas de um longa de Akira Kurosawa, principalmente com o uso do modo preto e branco inspirado em seus filmes. Além disso, há dois novos filtros visuais: um modo “Miike”, mais sangrento e estilizado, e um modo “Watanabe”, que transforma a trilha sonora em faixas lo-fi inspiradas em Samurai Champloo, uma ideia ousada que funciona surpreendentemente bem.
O som também é impecável. A trilha composta por Toma Otowa equilibra perfeitamente temas samurai e elementos do faroeste, criando uma identidade única para Yōtei. Momentos chave contam com músicas cantadas que elevam a carga emocional das cenas.
Já na parte técnica, o desempenho é exemplar. No PlayStation 5 o jogo roda em 60fps no modo desempenho sem sacrificar fidelidade visual e ainda tem um modo Ray Tracing a 30 FPS para aqueles que preferem uma iluminação ainda mais realista.
Mas e aí, Ghost of Yotei vale a pena?
Ghost of Yōtei é tudo o que uma continuação espiritual deveria ser. A Sucker Punch pegou a base consagrada de Ghost of Tsushima e construiu algo maior, mais refinado e mais ousado. A história de Atsu é intensa e profundamente humana, o combate oferece novas camadas estratégicas e a ambientação é uma das mais belas já vistas em um jogo de mundo aberto. Mesmo com alguns momentos previsíveis no final e certas semelhanças estruturais com o antecessor, a experiência geral é extraordinária.
Resumo para os preguiçosos
Ghost of Yōtei é a nova aposta da Sucker Punch após o sucesso de Tsushima, levando os jogadores para o Período Edo com uma história intensa de vingança protagonizada por Atsu, uma mercenária marcada por um trauma de infância. O jogo combina narrativa cinematográfica, combates estratégicos com múltiplos estilos de armas e exploração mais fluida, além de um sistema de progressão refinado. Visualmente deslumbrante e tecnicamente impecável, entrega uma experiência grandiosa e emocional, mesmo com algumas previsibilidades no roteiro. É uma continuação espiritual ousada que expande tudo o que o original fez de melhor.
Prós
- Combate
- Exploração
- Direção de arte
- Personagens
Contras
- História clichê e previsível