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Fallout 4 – Review

Eu gosto muito de Rock Progressivo. Muito mesmo.

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Mas nos últimos anos eu venho enfrentando um problema bem sério: nenhum álbum recente tem conseguido conquistar minha atenção, o que faz com que eu seja obrigado a ouvir os velhos clássico toda vez que resolvo ouvir música. Não é que os músicos perderam a habilidade de fazer boas canções, mas tem vezes que parece que jamais verei algo capaz de superar os álbuns antigos que eu tanto gostei de ouvir durante toda a minha vida.

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Esse tipo de coisa acontece em praticamente todas as mídias existentes, além da música, na literatura, nos filmes, nos seriados e até mesmo nos jogos.

Se um jogo é muito diferente do seu antecessor ele pode ser considerado ousado demais, enquanto se for muito parecido pode ser acusado de ser somente uma continuação ou “mais do mesmo”. Isso faz com que a tarefa de criar algo novo quando o projeto envolve uma continuação torne-se um desafio e tanto para qualquer desenvolvedora.

Mas será que tem como uma continuação ser diferente e semelhante ao mesmo tempo? Tem sim, foi o que a Bethesda fez com Fallout 4.

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Desde que a franquia foi comprada da Interplay lá em 2004, a Bethesda vem tentando descobrir o melhor modo de oferecer a experiência pós-apocalitica no formato FPS, mas sem esquecer das raízes fincadas profundamente no amplo mundo do RPG de mesa. Diversas novidades foram testadas em Fallout 3 e Fallout: New Vegas sendo que estas foram responsáveis pelo grande sucesso dos jogos citados ao mesmo tempo que os transformaram em uma espécie de laboratório. Algumas boas ideias foram aproveitadas, outras deixadas de lado para inserção de outras melhores e o que não funcionava foi definitivamente deixado para trás. Existem até elementos de jogabilidade de Skyrim que foram inseridos no quarto capítulo de Fallout e que fizeram muito bem para a mecânica do jogo como um todo.

Dessa forma, dá pra dizer que Fallout 4 não é o mesmo jogo com o qual estávamos acostumados, mas ao mesmo tempo é mais Fallout do que nunca. O game faz jus ao legado criado pela Interplay ao mesmo tempo que apresenta uma série de novidades interessantes.

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A primeira delas é a mudança nos gráficos e na aparência geral do jogo. Logo de cara já se nota que o visual do game está bem mais colorido e contrastante do que os dois títulos anteriores. Claro que muitos não gostaram disso pois tira um pouco daquele clima sombrio com o qual estávamos acostumados, mas em contrapartida eu acho que “nunca antes na história dessa franquia” se viu uma Wasteland tão bonita e viva quanto em Fallout 4. Todos os elementos gráficos do jogo foram aprimorados e o jogo está perfeitamente otimizado para rodar muito bem em qualquer uma das plataformas.

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Outra novidade bastante significativa é que a maioria dos itens que tinha somente função estética nos dois títulos anteriores desenvolvidos pela Bethesda, agora podem ser muito bem aproveitados. Ou seja, aquele copo que você roubou descaradamente da casa de alguém não serve somente para ser trocado por um punhado de tampas, mas também para ser utilizado na fabricação de alguns itens ou construções dentro do jogo. Tudo tem seu valor, tudo pode ser aproveitado e pela primeira vez pode se dizer que nada deve ser deixado para trás sem um bom motivo.

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E pra reciclar a tralha toda que se coletada por ai, basta ir até uma bancada específica e começar a trabalhar. Existem diversas bancadas/estações de trabalho que podem ser utilizadas dentro do jogo e com elas criar uma quantidade considerável de itens. Algumas por exemplo permitem que você construa edificações para proteger seu acampamento de ataques, enquanto outras permitem que você modifique suas armas e armaduras para encarar mais facilmente os desafios do ambiente extremamente hostil do game.

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Ainda é possível misturar componentes químicos diferentes para obtenção de algum item que recuperará sua vida, aumentara seu dano ou coisa do tipo, cozinhar deliciosas refeições livres de radiação ou até mesmo tunar a sua power armor com pinturas bem daoras.

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Por falar nas armaduras, tá ai outra coisa que mudou bastante. Nos jogos anteriores, a Power Armor era encontrada somente no corpo de Paladinos da Brotherhood of Steel caídos ou a partir do momento que você entrava na irmandade. Elas eram muito mais simples no visual e completamente equipáveis no seu personagem. Agora, cada Power Armor é um trambolho gigante, um exoesqueleto revestido de aço que te permite carregar mais peso, levar mais dano e aguentar melhor as adversidades da vida na Wasteland. Você encontra uma logo no inicio do jogo, mas não pense que pode ficar usando-a a seu bel prazer por ai já pra fazê-la funcionar você vai precisar de um reator nuclear que não é tão fácil de encontrar. Esse item funciona mais ou menos como uma bateria para a sua armadura, e a partir do momento que a carga acaba você vai precisar sair dela para continuar em frente, a não ser que possua mais um desse nos seus bolsos. Pode abandonar.

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Além disso, você agora pode personalizar cada peça de vestimenta que utiliza, já que elas funcionam mais ou menos como visto em Skyrim. Nada mais de usar um traje só. Agora é possível vestir uma roupa base e ir adicionando peças adicionais nos ombros e pernas a fim de obter melhor defesa contra dano. Ainda da pra mudar alguns atributos nas bancadas e tornar cada peça mais furtiva, mais resistente a radiação ou escolher entre uma série de outros benefícios que podem ser adicionados desde que você possua os materiais necessários.

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Mas talvez a maior mudança do jogo esteja mesmo no sistema de criação de personagem. O que antes era dividido em três partes diferentes: atributos físicos e mentais/habilidades/perks, agora é praticamente uma coisa só. Em Fallout 3 e em New Vegas o jogador não podia aumentar os atributos S.P.E.C.I.A.L quando subia de nível, mas agora pode fazer isso sem problemas.

As habilidades e os perks também foram modificados de forma que não funcionam mais como dois sistemas complementares aprimorados separadamente, mas sim como uma coisa só. Agora ao invés de ter de aumentar a sua habilidade em medicina para conseguir maior rendimento dos Stimpaks, basta que você invista um ponto no terceiro level de inteligência. Parece confuso, mas na verdade ficou muito mais fácil de entender e aprender.

Claro que de nada adiantaria criar um excelente novo sistema de criação de personagem se não houvesse também algum lugar para explorar, certo? E é ai que temos mais um ponto positivo de Fallout 4. O mapa esta extremamente detalhado e as localidades parecem mais reais do que nunca. Localizado na cidade de Boston, o mapa tenta recriar a cidade original adaptada para o enredo do jogo antes da guerra e até muda o nome do mundo aberto de Wasteland para Commonwealth. Dá gosto de revirar cada local em busca de novos itens ou de informações sobre as pessoas que ali viviam antes da grande guerra. Como de praxe, o jogador que tenta investigar em busca de tesouros escondidos sempre acaba encontrando alguma coisa com o que se contentar, seja ela uma tanga de texugo ou vários terminais que contam as interações entre os acampamentos raiders e que mencionam inclusive os ataques cometidos por um habilidoso personagem surgido recentemente.

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Se você jogou Skyrim, provavelmente lembra de como era possível entrar para facções distintas durante o gameplay, certo? Pois bem, durante as suas andaças pela Commonwealth você também encontrará grupos diferentes com os quais poderá se juntar e realizar missões distintas. O mais significativo deles talvez seja os Minuteman, que fazem alusão ao lendário grupo de revolucionários americanos e que tem como objetivo, ajudar as pessoas de bem em um minuto. Claro que você também vai encontrar a Brotherhood of Steel e outros grupos que sempre deram as caras em outros jogos da franquia. Cada um deles te da missões focadas em situações diferentes e lhe recompensa da mesma forma.

E é com as recompensas que você ganha que se sente mais confiante pra enfrentar as gloriosas e maravilhosas criaturas que você encontrará pelo meio do caminho! Basicamente elas são as mesmas de sempre – talvez o cervo de duas cabeça seja a maior novidade – , mas a aparência de cada criatura mudou muito, e pra melhor. Os Radscorpions que já eram criaturas do demonio agora realmente tem a aparência condizente com a sua malevosidade, entretanto, nada supera a mudança radical no visual dos Deathclaws e dos Ghouls, que realmente assustam em algumas situações. O primeiro agora parece a encarnação do próprio diabo, enquanto o segundo parece ter saído de um filme de zumbis do George Romero.

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Em alguns momentos, enquanto você viaja durante a noite para realizar a limpeza de uma área que esta infestada de Ghouls você encontrará um Deathclaw vagando ao relento e caçando o que comer. Não me lembro de ter passado semelhante sensação de desespero em outro jogo recente. Deu trabalho para me esconder e não foi fácil se locomover agachado perto de um ser daquele tamanho com sentidos aguçados sem chamar a atenção. Sabe aquele frio na espinha que você sente enquanto o Alien passa na frente do armário em que você esta escondido em Alien: Isolation? Então, mais ou menos isso.

E as novidades não param por ai, ainda tenho que falar do novo sistema de diálogos que foi totalmente reformulado a fim de tornar-se mais dinâmico e menos enfadonho. Fallout: New Vegas bateu o recorde de jogo com mais linhas de diálogo gravadas, o que significava com que toda vez que você encontrava uma nova localidade, deveria dedicar um bom tempo a ouvir um longo monólogo de alguns personagens antes de conseguir alguma quest. Já em Fallout 4, algumas conversas resumem-se a rápidos 30 segundos, e a dublagem do personagem principal também contribui para que o diálogo fique mais compreensível para o jogador. Mesmo as conversas mais longas estão mais fáceis de acompanhar e até agora eu não vi o ato de dialogar com um NPC como algo chato.

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Eu poderia dedicar mais alguns extensos parágrafos falando sobre a criação da aparência do personagem e como você pode modifica-la durante o gameplay indo a barbeiros e cirurgiões plásticos, sobre a quantidade de novos itens que você encontra pelo mapa, ou sobre a reformulação na inteligência artificial dos NPC’s que te acompanham, dando destaque principal para o Dogmeat, que além de ser bem útil em batalha te ajuda a achar itens, inimigos e containers. Tudo é muito bom e recompensador em Fallout 4, até os tensos momentos de combate contra inimigos lendários que são por natureza mais fortes do que os comuns e que em algumas vezes se regeneram no meio da batalha. Isso exige que o jogador tenha maior criatividade no momento da troca de tiros já que na maioria das vezes a tradicional forma de combate não é suficiente para vencer.

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Pra terminar os destaques positivos do jogo, é preciso que se mencione o sensacional aplicativo do PipBoy para smartphones que REALMENTE quebra um galho durante o jogo. Apesar de ser muito útil, o apetrecho virtual não oferece muita agilidade in-game e pode acabar atrapalhando no momento de utilizar um item que recupere a saúde do jogador já que você pode perder um bom tempo trocando os menus até achar o que precisa. Já com o aplicativo móvel tudo fica muito mais fácil já que ele pode ser controlado pelo touch do seu celular de forma simples e descomplicada. O melhor de tudo é que no momento em que você seleciona o que precisa através do aplicativo, ele é utilizado imediatamente pelo personagem no jogo. Não há lags nem atrasos e até agora não percebi um único problema sequer na sincronização entre os dispositivos.

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Mas infelizmente, mesmo com tantos elogios, o jogo não é perfeito e possui quesitos que poderiam ser melhorados. No quesito jogabilidade, podemos destacar alguns bugs que não são tão graves mas que podem atrapalhar a jogatina de vez em quando. Eles não acontecem frequentemente, mas já fui acometido por pequenos problemas que me impediram de viajar rapidamente para outra localidade e por inimigos que ficaram travados em um canto muito específico, tornando-os intangíveis. Da pra mencionar também algumas incoerências no sistema de furtividade, que está muito mais arrojado mas continua muito longe da realidade.

Eu também senti falta de algumas coisas que eram características dos jogos anteriores, como a necessidade de reparar as armas que você encontra por ai. Antigamente, quando você se deparava com uma arma lendária precisava primeiro repara-la com peças de uma arma semelhante antes de sair usando ela por ai, caso contrário ela provavelmente tornaria-se só um método mais pomposo de gastar sua munição. Já em Fallout 4 não interessa se o item que você encontrou já tem mais de 200 anos, basta equipa-lo e sair usando ao seu bel-prazer.

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Eu também senti falta do Karma. Não que ele mudasse algo durante o jogo, mas eu realmente me sentia repreendido quando roubava um copo ou jarra em Fallout 3. Por fim, eu também não gostei muito da nova rádio de Diamond City. Alem de não oferecer muitas novidades, ela não me pareceu tão interessante quanto a dos jogos anteriores. Antigamente eu gostava de ouvir a rádio por que ela realmente algo amador, transmitido com auxílio de equipamentos improvisados e com uma qualidade de som tão ruim que lembrava aquela vitrola antiga da casa da sua avó. Quantas vezes me senti mais seguro cruzando o deserto ouvindo Three Dog e sua seleção de músicas repetitivas.

Agora já não é mais a mesma coisa. Apesar da falta de carisma do locutor da Diamond City ser justificada durante o jogo, a qualidade do som me parece ser boa demais para uma rádio amadora. Parece estranho reclamar disso, mas eu realmente gostaria que a “qualidade fosse pior”. Podem me julgar.

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De qualquer forma, nenhum destes pontos negativos chega sequer a arranhar a qualidade de Fallout 4. O game conseguiu agradar até os fãs mais chatos por que conseguiu implementar as melhorias que eram necessárias sem desrespeitar a jogabilidade clássica aclamada por muitos. Pra quem está acostumado a jogar RPG de mesa, é como se o seu grupo resolvesse mudar o sistema de jogo de GURPS para D&D. Ambos são tão bons que não chegam que fica até difícil escolher qual é o melhor.

Como já falei diversas vezes aqui no Critical Hits, a sensação que tenho é que todos os jogos da Bethesda seguem uma linha de aprendizado, de forma que cada novo projeto sempre se aproveita de pontos positivos que foram bem recebidos nos jogos anteriores. Fallout 4 é definitivamente a prova disso, um game que mistura não só o melhor da franquia criada pela Interplay, mas também de tudo de bom que a Bethesda vem demonstrando nos últimos jogos. Talvez a maior prova da qualidade do game seja o tempo que eu levei para fazer este review, já que a cada vez que pensava ter terminado eu me deparava com alguma novidade ou algo digno de nota. Provavelmente eu devo ter esquecido de comentar alguma coisa, mas pode ter certeza que você sentirá muito mais prazer ao descobrir sozinho.

E assim eu termino a minha análise de Fallout 4: classificando o jogo como um excelente álbum de rock progressivo lançado nos dias de hoje. Uma mistura perfeita entre elementos clássicos e novidades de tirar o fôlego tornam este jogo um dos melhores que já joguei em toda a minha vida. Muito obrigado, Bethesda.

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Resumo para os preguiçosos

Fallout 4 é claramente mais um jogo com o selo Bethesda de qualidade. Apesar de trazer inúmeras modificações, o game faz jus aos títulos anteriores e ao mesmo tempo que aparenta ser algo totalmente diferente. Com um novo sistema de gerenciamento de personagem e de construção e modificação de itens, Fallout 4 é com certeza um game que lhe tomará horas de vida devido a grande quantidade de atividades diferentes que oferece. Contem alguns pequenos problemas, mas nada que afete a qualidade final.

Nota final

95
Saiba mais sobre os nossos métodos de avaliação lendo o nosso Guia de Reviews.

Prós

Gráficos melhorados

Novo sistema de gerenciamento de personagem

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Oficinas de modificações e construção e edificações

Novas armas e equipamentos

Aplicativo do PipBoy para dispositivos móveis

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IA aprimorada

Mapa mais realista e detalhado

Contras

Alguns bugs

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Sistemas tradicionais não estão mais presentes (Karma, Reparo de itens)

 

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João Víctor Sartor
João Víctor Sartorhttp://criticalhits.com.br
João Víctor Sartor é colaborador e sex-symbol do Critical Hits. Admirador das boas histórias, almeja de verdade escrever um livro algum dia. Divide seu tempo entre à leitura, jogatina, trabalho, engenharia e quando sobra tempo, vive.