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F1 2016 – Review

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O já-quase-tradicional jogo anual da Formula 1 da Codemasters deu as caras em meados de agosto com uma missão um pouco difícil: trazer novidades a uma franquia com inovações e modificações pequenas com relação ao ano anterior, com um licenciamento altamente restritivo e cujo padrão gráfico já estava em um patamar razoavelmente alto.

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A espera para o lançamento do jogo só na segunda metade do ano se justifica. O desempenho de cada equipe nas pistas e a adoção de algumas regras (ou revogação de outras) acabavam, muitas vezes, fazendo com que o calendário de lançamento do game da franquia fosse uma questão sensível. Lançá-lo antes do início da temporada era sempre um risco, com o desempenho de muitos carros no jogo não refletindo com o que se veria no campeonato daquele ano. Lançar ao final, no entanto, dava ao jogador a sensação de estar jogando um game datado e, muitas vezes, já chegando ao mercado desatualizado devido às trocas de pilotos e equipes que ocorriam no final do ano. A ideia de fazer os lançamentos em agosto parece ter sido a solução salomônica e mais acertada para a franquia.

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A Codemasters é referência, hoje, para os jogos de corrida. Sua experiência em jogos do gênero, que começou a saltar aos olhos de todos ainda na era do PSONE com o Toca Touring Car, torna a softhouse a mais credenciada para ter a franquia de carros de corrida mais famosa do mundo. Muitos fãs da Formula 1 comemoraram quando, em 2008, a empresa adquiriu os direitos de licenciamento e trouxe um novo nível de realismo e pilotagem para os videogames. No entanto, o desafio de inovar em algo onde a parte principal – nesse caso, as corridas –  já está perto do limite do possível em termos de gráficos e jogabilidade parece ter derrotado – ainda que por pouco –  a Codemasters.

Está tudo lá, e bem caprichado, tal qual nos outros anos. Carros, pistas, hud oficial, desgaste de pneus, grooving, safety car e a experiência completa dentro das pistas. Não há nada de muito novo (com exceção do retorno do safety car e os novos autódromos) que justifique aos devotos da franquia a compra desse novo título se eles buscam algo que não seja o desafio do modo carreira. É nesse modo que a Codemasters parece ter focado, ainda que com muitos erros, e tem-se a impressão de ser um sutil recado da empresa aos jogadores, algo como “Bom galera, o gameplay está bom já, vamos tentar trazer alguma novidade mas vai ser com o que pudermos fazer com tantas amarras na licença”.

Nas corridas, F1 2016 brilha. Há, sim, algum downgrade gráfico do que se vê nas demonstrações para o que efetivamente o jogo entrega, mas nada significativo. O complexo sistema de classificação, o esquema de pneus, o DSR e o nível de penalização (trocando desclassificação por avisos, penalidades de tempo, devolução de posições e passagens obrigatórias pelo pit stop) são interessantes, sem firulas, pois são componentes que já fazem parte da essência da Formula 1. Não que a experiência de gameplay esteja perfeita e isenta de falhas. Em nossos testes, a versão para PC não reconheceu o volante G-27, sendo necessária a desinstalação do Geforce Experience Beta para a resolução do problema. Falta um pouco de realismo na plateia dos autódromos, mas isso só pode ser observado nos replays. A qualidade gráfica é ótima, mas parece que a Codemasters não se esforçou para atualizar o jogo para as novas gerações de placas de vídeo.

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A inteligência artificial funciona bem quando não está sob pressão ou quando está tudo dentro da normalidade, mas falha em situações atípicas. A detecção de penalidades continua sendo um problema: no GP da China, tive que apelar ao recurso de flashback por várias vezes após ter meu carro danificado e receber constantes avisos de punição por causa de colisão na primeira curva após a largada. Seria uma situação normal se isso não fosse culpa de outros carros que tocavam na minha traseira depois de terem que alterar seu traçado por causa de…outros carros. E não é incomum você receber avisos e punições erroneamente quando a – até então – boa inteligência artificial do jogo decide deixar as boas maneiras de lado e enfiar o carro quase que deliberadamente na sua traseira. Ou você apela para os flashbacks (que dão penalizações de pontos de experiência no modo carreira) ou pode se sentir Lewis Hamilton na sua temporada de estreia na Formula 1, tomando advertência até por não dar bom dia para os comissários.

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Para corridas curtas, não são raras as vezes que a equipe sugere mudar a estratégia de pneus na penúltima volta e tenta te empurrar pneus supermacios, arruinando toda a corrida se você obedecê-la, a não ser que você consiga tirar 20 segundos em uma volta.  A física é ótima e o realismo impressiona até mesmo na dificuldade para iniciante, onde uma jogabilidade meio arcade consegue ainda assim dar ao jogador uma experiência realista (ok, não leve em conta a primeira corrida em Melbourne, o traçado dela é pra te ferrar mesmo). Os sinais do piloto reclamando pro outro quando é atingido e os eventuais pneus furados quando tocados em outro carro são elementos que ajudam a trazer uma atmosfera mais real. As regras completas, a separação e estratégia de pneus dão ao jogo o mesmo diferencial que a categoria tem, e tutoriais bem explicativos dão conta do recado para quem não acompanhou as mudanças na Fórmula 1.

O balizamento da dificuldade parece, no entanto, ser um problema que continua a se arrastar nos jogos da franquia, embora haja esforços nítidos para reduzir isso. O “gap” entre as dificuldades do nível amador para médio é grande, assim como do médio para o difícil, muito pelo número de elementos e variedade da dificuldade do traçado nos circuitos. Por exemplo: no modo carreira, na mesma dificuldade, meu desempenho com um carro de equipe mediana – Haas, no caso – variou do último lugar na classificação em uma corrida para a pole position em outra, para aí então um lugar no meio do grid na terceira. Os circuitos difíceis e fáceis possuem a mesma dificuldade para a inteligência artificial do jogo, e isso é algo que já deveria ser consertado há muito tempo, mas segue sendo negligenciado ano após ano na franquia.

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Enquanto a versão inglesa recebeu uma boa narração com comentários do ex-piloto Anthony Davidson, as narrações e tradução do rádio em português não empolgam e são bem protocolares. As vozes escolhidas parecem ser de locutores de comercial de TV, e o comentarista da versão brasileira faz apenas a tradução da versão inglesa, inclusive o narrador chama seu colega de cabine por Anthony Davidson, o que é um tanto bizarro (vamos lá, Codemasters, o Téo José e o Reginaldo Leme podem consertar isso!). Uma pole position ou uma vitória inesperada de uma equipe não causam nenhum espanto ou surpresa ao narrador, e sua narração “simpática” e contida, quase como narrando uma partida de golfe, tiram a imersão do jogo. Há alguns momentos de brilhantismo como por exemplo a interferência de rádio quando se entra no túnel em Mônaco ou informações interessantes sobre momentos históricos na Formula 1 na prévia pré-corrida.

O modo multiplayer é frustrante. Raramente o jogador encontrará jogadores online, e quando encontrar, estarão distribuídos em corridas com um ou dois competidores. Por três dias, encontrei uma única vez uma corrida com mais de duas pessoas – essa, tinha sete – mas o host estava no Japão e era impraticável competir.

O modo carreira é o diferencial do jogo. Existe um modo mais complexo e outro mais básico, esse com sessões menores e um pouco  mais dinâmico. A carreira dura dez anos (ao contrário de cinco anos, como na edição passada), e é possível iniciar em qualquer equipe, o que é um alento para aqueles que sabem que não terão paciência para disputar muitas temporadas até chegar à ponta. Mas é nesse modo que os pecados de F1 2016 ficam evidentes. Poucas opções de customização e capacetes sem patrocínio criam uma barreira na simulação.

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Os gráficos de personagens e instalações de equipe são desleixados, com uma modelagem boa, rosto de personagens bem criativos (até me perguntei se talvez não fossem baseados em mecânicos reais das equipes) mas terrivelmente texturizados e animados. Parecem muito serem feitos nas primeiras levas do XBOX 360. As texturas dos macacões são em uma resolução muito ruim, lembrando as de Playstation 2. Os pilotos só estão com uma aparência boa nas fotos de apresentação do grid de largada, e em todo o resto eles têm cara de alcóolatras com a barba por fazer (Felipe Massa tem olheiras assustadoras). Enfim, parece algo que está ali feito às pressas e que a softhouse fez por obrigação. O roleplay do modo carreira não é intenso e nada profundo, mas isso também deve ser culpa de um licenciamento restrito e retrógrado da Formula 1.

É totalmente irreal que todos os pilotos fiquem dez anos na mesma equipe, além dos patrocínios e desenhos do carro manterem-se os mesmos nesse tempo todo, como acontece no jogo. Felizmente, a comunidade de jogadores está trabalhando para um mod (bem básico, diga-se de passagem) que permita pelo menos transferências entre equipes. Alguns tabus, no entanto, foram quebrados e mantidos com relação aos anos anteriores: a disputa contra o piloto da mesma equipe pela posição de primeiro piloto é exibida e quantificada, e a incidência de desgaste excessivo de pneus, além de tê-los furados eventualmente, parece não mais assustar a fornecedora oficial de pneus. A parte de desenvolvimento dos carros é muito bem feita. Lá é possível escolher o pacote de desenvolvimento e o feedback dos mecânicos é ótimo. Aqui sim temos algumas das amarras da licença sendo afrouxadas, com equipes evoluindo mais que outras durante a temporada.

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Nas sessões de treino, há objetivos específicos que rendem pontos para desenvolver o carro, como ambientação de circuito e desgaste de pneus, o que torna tudo menos monótono para quem busca ação logo, ao contrário do que acontecia em muitos dos jogos anteriores. Aliás, esse cuidado de poupar pneus é decisivo para muitas corridas, até mesmo as mais curtas, e trazem uma emoção que não lembro de ter encontrado em um nível tão importante em outros jogos. A customização do acerto do carro é bem flexível, indo de modos bem simples até mais complexos para quem quer algo mais realista.

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A mistura de combustível e distribuição de peso são intuitivas e fáceis de se usar, e não são intrusivas ou fundamentais para os iniciantes. Aliás, esse é um ponto altamente positivo: o jogo não te força ou impõe obrigações inúteis se você não quiser, como por exemplo decorar o traçado, a regra de pneus ou penalidades excessivas por usar o flashback. Apenas faz de forma recompensadora e de um jeito que não vai aborrecer quem não opta por fazê-lo. Não espere ser obrigado a virar um expert em Formula 1 e dirigir sem ajudas ou com regras técnicas se você quiser mergulhar num realismo interessante.

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É difícil colocar o jogo como um desafiante na categoria de simuladores de corrida de monopostos. Não pelo jogo em si, mas pelas próprias limitações que a franquia impõe. Há mods em outros jogos que simulam um monoposto de Fórmula 1 com muito mais realidade (bom, pelo menos tenho essa impressão. Nunca dirigi um Fórmula 1) que F1 2016, mas que não têm o esmero e detalhamento de regras da categoria como este tem. Entretanto, o jogo cumpre muito bem o seu papel em ambientar uma corrida de Fórmula 1, embora nos esqueçamos disso rapidamente quando nos deparamos com as limitações do modo carreira e isso se limite somente aos momentos dentro da pista. No fim, é inevitável a pergunta se a franquia realmente precisa de um novo jogo todo ano, e, esperamos, a Codemasters possa nos dar a certeza que, sim, precisamos, ao fazer modos de carreira mais complexos e um uso mais livre da franquia nas próximas edições.

Review elaborado com uma cópia do jogo para PC fornecida pela Deep Silver.

Resumo para os preguiçosos

No final das contas, F1 2016 não decepciona, e em muitos momentos pode empolgar. A Codemasters repete, na jogabilidade, a receita de sucesso dos anos anteriores, e isso pode dar uma sensação de “mais do mesmo” para os fãs da franquia. Os gráficos seguem bons, mas poderiam ser melhores em placas high-end e uma caprichada nas partes que ocorrem fora das corridas seriam bem-vindas. Entretanto, as maiores falhas não são propriamente só da Codemasters, mas também culpa de um licenciamento restrito e uma categoria que tem sido sisuda e excessivamente burocrática consigo mesma. É um jogo que consegue dar uma boa noção do que é correr em um Fórmula 1, mas é inevitável a sensação de que falta algo para te levar para dentro do circo todo no modo carreira – detalhes apenas, mas que acontecem porque outros jogos em outros estilos já fazem isso de forma bem mais completa.

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Nota final

80
Saiba mais sobre os nossos métodos de avaliação lendo o nosso Guia de Reviews.

Prós

  • Excelente sensação dentro das corridas
  • Simulação em ótimo nível

Contras

  • Gráficos abaixo do esperado nas opções mais elevadas
  • Sensação de que “falta algo” para o jogo atingir o próximo nível
  • Falta de alguns conteúdos licenciados
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