À primeira vista, Everdeep Aurora pode parecer apenas mais um jogo indie de plataforma em 2D com visual retrô. Mas basta alguns minutos controlando Shell, a pequena gata protagonista, para perceber que há algo muito mais profundo nele. Desenvolvido pela espanhola Nautilus Games, o título é uma experiência contemplativa, com foco em exploração, descoberta e emoção.
Logo no início, somos apresentados a Shell sentada em um banco, lendo uma carta da mãe, que pede que ela vá ao “lugar de sempre” caso não a encontre antes disso. O problema é que, assim como nós, Shell não sabe exatamente onde fica esse tal lugar. É essa premissa simples que nos leva a explorar as profundezas de um mundo castigado por chuvas de meteoros, em busca de respostas e reencontros.
Essa narrativa não é entregue de forma direta ou cheia de diálogos expositivos. Pelo contrário, ela é contada através de pequenas pistas, interações rápidas com NPCs e até mesmo pelos cenários melancólicos que ajudam a dar o tom da jornada.

Cada encontro e cada descoberta carrega um pedaço da história maior desse mundo, permitindo ao jogador sentir que está literalmente cavando mais fundo para descobrir não só onde a mãe de Shell está, mas também o que está por trás da destruição do planeta.
Everdeep Aurora é um jogo minimalista no que diz respeito às mecânicas. Basicamente, você pode caminhar, pular e cavar, usando uma furadeira emprestada logo no início por Ribbert, um simpático sapo que logo se torna um dos personagens mais memoráveis da aventura. Essa simplicidade é, na verdade, um dos pontos fortes do jogo.
Cavar não é apenas um meio de progredir verticalmente pelo mapa, mas também a chave para resolver pequenos puzzles, encontrar personagens escondidos, tesouros secretos e atalhos. Cada bloco destruído pode conter cristais usados como moeda, ou abrir caminho para um novo ambiente cheio de detalhes inesperados, como a Horseshoe Tavern, um bar onde animais tocam músicas alegres enquanto conversam sobre monstros misteriosos das cavernas.

Além disso, existem vários tipos de blocos, alguns que não podem ser perfurados, outros que exigem upgrades da furadeira, upgrades esses obtidos ao entregar minérios raros para Remulus, um ferreiro que depende da sua ajuda para encontrar uma luva roubada. Pequenos objetivos paralelos como esse ajudam a dar profundidade à exploração e incentivam você a prestar atenção em cada detalhe.
Um dos maiores encantos de Everdeep Aurora são os NPCs que você encontra pelo caminho. Cada um deles tem personalidade, história e uma pequena lição a ensinar. Desde Promoleus, o toupeira que prefere a tranquilidade, até Aster, uma jardineira batizada em homenagem à flor favorita de sua mãe, todos ajudam a construir uma atmosfera calorosa mesmo em meio à tristeza e destruição.
O jogo tem um visual marcante que remete aos tempos de Game Boy, com uma paleta de cores limitada que muda conforme você avança por áreas diferentes. No início, tons de vermelho, creme e marrom escuro predominam, evocando um clima de desolação. Mais adiante, outras combinações de cores surgem, reforçando a sensação de que você está se aprofundando em territórios desconhecidos.

Outro detalhe que chama a atenção é o enquadramento da tela, que simula a tela de um portátil clássico. Isso ajuda a criar a sensação de estar jogando em um console retrô, algo que certamente vai agradar fãs de jogos antigos.
A trilha sonora segue o mesmo tom melancólico da história, com músicas suaves e quase meditativas que dão ao ato de cavar um ar relaxante. Em alguns momentos, como quando você entra na taverna, as músicas ficam mais alegres e até mesmo animadas, mostrando a capacidade do jogo de variar sem perder a identidade. O design de som é minimalista, mas eficiente: cada som da furadeira, das pedras quebrando ou do ambiente contribui para a imersão.
Everdeep Aurora não é um jogo para quem busca ação frenética. Não há inimigos para enfrentar, vidas para perder nem cronômetro para apressar você. Isso não significa que não exista tensão: a bateria da furadeira, por exemplo, pode acabar, forçando você a encontrar estações de recarga ou chamar Ribbert para resgatá-la. Além disso, se você não planejar bem suas escavações, pode acabar preso em becos sem saída, o que exige que pense em cada movimento com cuidado.

Esse ritmo deliberadamente lento faz parte do charme do jogo. Ele não quer ser um desafio difícil de superar, mas sim um convite a refletir, prestar atenção nos detalhes e aproveitar o caminho em vez de só pensar no destino final.
Claro que, como todo jogo, Everdeep Aurora não é perfeito. O maior incômodo talvez seja a ausência de um mapa detalhado. Embora Ribbert eventualmente forneça um mapa em preto e branco que lembra um QR code, ele marca apenas os locais mais importantes, como a torre do sino e a oficina do ferreiro. Isso significa que encontrar NPCs específicos para concluir tarefas pode se tornar um pouco frustrante, já que você vai depender bastante da memória ou de anotações próprias para lembrar onde cada personagem está.
Além disso, quem não tem paciência para explorar ou quem espera desafios mais intensos pode achar o jogo “parado” demais.
Mas e aí, Everdeep Aurora vale a pena?

No fim das contas, Everdeep Aurora é uma obra-prima da simplicidade bem-feita. Ele não tenta impressionar com gráficos ultra-realistas, combates épicos ou sistemas complexos. Pelo contrário, é justamente a sua modéstia que o torna tão especial. Cada escavação, cada diálogo, cada detalhe do cenário é cuidadosamente pensado para transmitir uma sensação de melancolia, esperança e descoberta.
Para os fãs de exploração, puzzles leves e jogos com um tom mais contemplativo, Everdeep Aurora é altamente recomendado. É um jogo que não grita para chamar sua atenção, mas sussurra, e se você parar para escutar, certamente vai se emocionar.
Análise feita com uma chave para PC cedida pela Publisher.
Resumo para os preguiçosos
Everdeep Aurora é um delicado e contemplativo jogo indie de plataforma 2D, no qual acompanhamos Shell, uma pequena gata em busca da mãe num mundo melancólico devastado por chuvas de meteoros. Com jogabilidade simples — caminhar, pular e cavar —, ele conquista pela narrativa sutil contada por pistas e personagens carismáticos, pela atmosfera retrô inspirada em portáteis clássicos e por uma trilha sonora suave que reforça a sensação de descoberta. Apesar da falta de um mapa mais detalhado e do ritmo lento que pode afastar quem busca ação, o jogo brilha ao transformar a exploração e os encontros em momentos emocionantes, tornando-se uma experiência marcante para fãs de jogos introspectivos.
Prós
- História
- Exploração recompensadora
- Jogabilidade simples e intuitiva
- Visual
- Personagens carismáticos
Contras
- Falta de um mapa detalhado
- Pode ser considerado “lento” para alguns
- Dependência da memória ou anotações para se orientar pode frustrar alguns jogadores