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Coringa – Crítica

Muito antes do primeiro trailer de Coringa ser liberado, quando os fãs ainda tentavam entender o que exatamente seria esse filme, a Warner o descreveu como “um corajoso estudo de personagem”, e embora essa descrição possa parecer um pouco genérica, após assistir ao longa ela se tornar extremamente precisa. Mas se pudermos acrescenta somente uma coisa, além de um estudo de personagem, Coringa também é um estudo sobre uma sociedade doente, que guardada as devidas proporções é bem parecida com nossa. Por isso, antes mesmo de falar do Coringa é importantíssimo entendemos como essa Gotham é construída, até porque ela terá um papel fundamental no surgimento do vilão.

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Tendo como base a Nova York dos anos 70, a Gotham que vimos aqui provavelmente é a mais suja de todas as suas representações tanto no cinema como nos quadrinhos. Uma cidade completamente sem esperança e extremamente desigual, onde grande parte da mídia é utilizada como manipulação e as camadas superiores insistem em reafirmar que sabem exatamente o que o povo preciso.

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Nesse cenário, o Coringa é justamente um fruto dessa sociedade, mas não se deixe levar apenas por isso, já que a construção do vilão não é apenas “culpa” do meio, pois o próprio Arthur Fleck já era diagnosticado com vários problemas psicológicos, incluindo uma condição que o faz rir de forma inapropriada e desproporcional, que é baseada em uma condição do mundo real, chamada de Transtorno da Expressão Emocional Involuntária. O somatório disso tudo, mais uma série de desastre que acontecem na sua jornada darão origem a um dos vilões mais conhecidos de todos os tempos.

Mas uma coisa que precisa ficar clara é que esse é verdadeiramente um filme de vilão, não é um filme de anti-herói, não é um filme em que o vilão se arrepende no final e nem que justifica a sua vilania. O Coringa é feito para ser um vilão, e por mais que inicialmente exista algum sentimento de empatia, ele construído apenas para ser completamente quebrado. E é de extrema importância salientar isso, porque antes mesmo do filme estrear muito foi se falado que a história do vilão poderia acabar servindo como “inspiração” para grupos extremistas, Incels ou até mesmo para pessoas realizarem massacres.

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Qualquer filme, livro ou música pode ser distorcido e utilizado como símbolo para qualquer causa. Mas é bom deixar claro que o objetivo de Coringa não é esse, embora em algumas partes o filme realmente deixe a linha da ambiguidade em situações um pouco perigosas.

Carregando esse complexo personagem está mais uma atuação monumental de Joaquin Phoenix, com o filme sendo literalmente feito para ele, já que o ator aparece em praticamente 100% das cenas. Com um trabalho de interpretação que provavelmente o renderá uma indicação ao Oscar e a sua já famosa transformação corporal, Phoenix consegue dominar a tela entregando toda essa personalidade psicopata e perturbada do Coringa, que propositalmente causa desconforto em diversos momentos.

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Aliás, desconforto, talvez seja a melhor palavra que descreva a experiência de assistir Coringa. Desde a primeira cena até o seu final, o filme é pesado, tenso e facilmente pode incomodar muitos espectadores. E essa questão não está necessariamente atrelada a violência ou ao gore, até porque isso não é o foco do filme, mas sim na construção de cenas que realmente causam um grande incomodo, onde o sentimento do telespectador é similar aos próprios personagens observando o nascimento do vilão.

Coroando essa incrível atuação de Phoenix, temos uma direção e roteiro primorosos de Todd Phillips, que sabe dosar cada coisa que é colocada em tela, conduzindo a história sem perder o tom e propositalmente deixando diversas questões em aberto ou com margens para interpretação. Outro aspecto utilizado com bastante cautela e pontualmente são as referências ao universo do Batman, que servem para reafirmar o cenário em que o Coringa está inserido, mas não deixam muitas brechas para um futuro enfrentamento com o Cavaleiro das Trevas.

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Em resumo, Coringa é um filme triste, que mostra como uma sociedade doente e a negligência de tratamento psicológico adequado são condições perigosas que podem levar ao completo caos e desordem. A jornada pela construção do vilão é propositalmente agoniante e causa desconforto em diversos níveis, ao mesmo tempo, não deixa de ser admirável a entrega de Joaquin Phoenix em um papel que certamente se tornará um dos mais icônicos da sua carreira.

Resumo para os preguiçosos

Com uma atuação primorosa de Joaquin Phoenix, Coringa pode ser descrito de diferentes formas, mas talvez a que mais se encaixe seja uma experiência triste, agoniante e ao mesmo tempo fascinante. Em uma Gothan suja e desolada, o filme é tanto um estudo de personagem como da própria sociedade, abordando assuntos delicados sem uma tentativa de justificar as ações do vilão, mas deixando para que público interprete o que leva um palhaço a se tornar um assassino.

Nota final

95
Saiba mais sobre os nossos métodos de avaliação lendo o nosso Guia de Reviews.

Prós

  • Atuação irretocável de Joaquin Phoenix
  • Construção de uma Gotham mais suja e realista
  • Roteiro e direção muito bem conduzidos

Contras

  • Em alguns momentos a ambiguidade de determinadas situações é desnecessária
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João Victor Albuquerque
João Victor Albuquerque
Apaixonado por joguinhos, filmes, animes e séries, mas sempre atrasado com todos eles. Escrevo principalmente sobre animes e tenho a tendência de tentar encaixar Hunter x Hunter ou One Piece em qualquer conversa.