Company of Heroes 3, desenvolvido pela Relic Entertainment e publicado pela SEGA, tem como desafio manter o elevado padrão da série Company of Heroes, que até hoje é lembrada como uma das melhores propriedades intelectuais criadas pela finada THQ.
O primeiro jogo da série saiu lá em 2006 e tinha como principal apelo, oferecer uma experiência de combate imersiva da Segunda Guerra Mundial de maneira totalmente diferente do que estávamos acostumados. Ao invés de controlar apenas um soldado como em Medal of Honor e em Call Of Duty, Company of Heroes permitia que você liderasse esquadrões inteiros e planejasse táticas de guerra em mapas cuidadosamente criados com toda estética, peso e significado de filmes como O Resgate do Soldado Ryan e Band of Brothers.
Company of Heroes era um projeto bem à frente de sua época, pois apresentava conceitos de gameplay avançados e que conseguiam se diferenciar tanto dos RTS quanto dos FPS daquele período. Também foi o primeiro jogo que me fez entender a importância do som e da trilha sonora dentro e é até hoje um dos meus preferidos de todos os tempos.
O principal desafio de Company of Heroes 3 é conseguir manter-se relevante após quase 20 anos do primeiro jogo, ao mesmo tempo, em precisa manter-se fiel às raízes. Company of Heroes 2 tentou fazer algo do tipo em 2015, mas a esperança é que esta terceira entrada traga mais holofotes sobre a série.
Ao invés de explorar as já “batidas” batalhas principais da Segunda Guerra Mundial, Company of Heroes 3 foca em conflitos que tiveram grande importância durante a Guerra, mas que não costumam captar a atenção da indústria mainstream. O foco dessa vez são os combates na região da Itália e do norte da África, que apesar de não serem novidades, nem de longe foram tão explorados como outras regiões.
Um dos primeiros e mais polêmicos pontos de Company of Heroes 3 são seus gráficos. Até pouco tempo atrás, qualquer pesquisa sobre o desenvolvimento do jogo lhe direcionava à um vídeo ou tópico de fórum onde se faziam comparações gráficas entre o jogo original de 2006 e o novo de 2023. Na grande maioria deles, o foco era como o visual do primeiro jogo era superior, algo que não faz muito sentido – ou que pelo menos não deveria fazer.
É fato que o jogo de 2006 é absolutamente lindo até hoje. Também há de se considerar que alguns modelos visuais das versões beta de Company of Heroes 3 eram esquisitos e pareciam destoar dos demais elementos do jogo, mas para a nossa sorte, isso parece ter sido resolvido.
As críticas ao visual do jogo focavam mais nos elementos de brilho e saturação das unidades, apesar de a diferença ser mais gritante em tanques e veículos no geral. Apesar de ainda defender que a posição dos decalques que emblema são melhores no jogo original, não há como negar que as unidades de Company of Heroes 3 estão impressionantes, principalmente pelo efeito das batalhas que vão se acumulando de maneira satisfatória e realista.
Um tanque que tenha passado por mal bocados manterá em sua lataria as marcas da batalha. Quando atingido por projéteis, é possível visualizar a marca das balas na lataria, bem como o chamuscado das chamas e explosivos que podem, inclusive, carbonizar o veículo por completo. Mesmo após os reparos, as marcas de batalha continuam lá! E é muito legal manter seus tanques mais velhos ao lado dos mais novos para comparação.
A movimentação das unidades a pé também parece estar melhor e mais realista. Cada unidade parece reagir de maneira diferente a situações diversas, dando a impressão de acelerar o passo quando sob ataque, ou tentando se esconder mais a fundo nas barricadas e proteções em geral após serem pressionadas.
Apesar de ser um jogo tático, com foco nas estratégias e decisões do jogador perante o calor do combate, não consigo deixar de apreciar a beleza da movimentação das unidades e de como estas interagem com o cenário. Tomar uma residência de assalto, por exemplo, é quase hipnotizante, já que é possível acompanhar até os mínimos detalhes entre os membros da unidade antes de decidir de abrir a porta e jogar a bomba para tentar mitigar a presença inimiga.
Company of Heroes 3 também traz algumas melhorias de qualidade de vida bem interessantes ao jogador. A verticalidade é uma delas, e permite que você acompanhe suas unidades de maneira mais eficaz ao acompanhar a sinalização entre a unidade e o painel de informações. Parece simples, mas faz muita diferença no calor do combate.
Outra mudança importante é no momento da construção, já que não é mais necessário utilizar seus engenheiros para isso. Basta selecionar o que se pretende construir no HQ, escolher o local mais adequado e deixar que o jogo cuide disso para você.
Por se tratar de um jogo tático, Company of Heroes 3 é praticamente um jogo de tabuleiro. Nesse caso, nada mais justo do que considerar o visual do tabuleiro como parte importante da mecânica, e para nossa sorte, esse ponto não foi ignorado pelos desenvolvedores.
O mapa de Company of Heroes mantém o padrão dos jogos anteriores, conseguindo manter bons níveis de profundidade ao mesmo tempo em que impressiona visualmente. Quem vê de fora consegue visualizar uma bela paisagem, enquanto os jogadores mais experientes conseguem ver todos as barricadas e rotas para emboscar os inimigos. Uma adição interessante é a presença de animais e civis em alguns mapas, que dão uma impressão mais real ao campo de batalha.
É interessante perceber como Company of Heroes 3 consegue ser igual e diferente de seus antecessores ao mesmo tempo – e infelizmente, nem sempre isso é pelo lado positivo. Sinceramente, acho que a interface dos jogos anteriores era muito mais didática e funcional, mostrando não só mais informações vitais e interessantes ao jogador, como também mais funcional e limpa.
As notificações à esquerda, por exemplo, são bem úteis para se ter ideia do que acontece no mapa enquanto seu foco está voltado a outro lugar, mas acabam tornando-se um problema ao limitar a movimentação das unidades, já que o jogador não consegue direcioná-las ao canto superior esquerdo com facilidade enquanto as notificações estão ativas.
Contudo, a parte que mais me chamou atenção foi a qualidade do áudio em geral. Como mencionei no começo desta análise, o som sempre foi um dos aspectos mais impressionantes de Company of Heroes. O primeiro jogo, por exemplo, possuía um som espacial de tamanha qualidade, que permitia ao jogador identificar a movimentação de unidades e sentir o peso da batalha conforme aproximava a câmera. Infelizmente, Company of Heroes 3 não passa a mesma impressão e me faz pensar que o áudio não receber o mesmo tratamento que nos jogos anteriores.
Pessoalmente, acho um escárnio quando jogos de uma franquia parecem piorar com o passar do tempo. Senti uma significativa diferença do Company of Heroes 2, em relação ao primeiro jogo de 2006, mas ainda assim consegui me divertir e apreciar a experiência no geral. Não posso dizer o mesmo deste terceiro jogo, que, de certa maneira, nem parece fazer parte da mesma série.
Company of Heroes 3 permanece divertido e pode chamar atenção de novos fãs que buscam uma experiência menos complexa envolvendo combates da Segunda Guerra Mundial. Contudo, deixa bastante a desejar para os fãs de longa data, que esperavam algo mais profundo e condizente com os jogos anteriores.
Resumo para os preguiçosos
Company of Heroes 3 oferece uma experiência menos complexa e imersiva quando comparado à seus antecessores, apesar de conseguir manter um bom nível de diversão ao longo das batalhas e avanço da campanha principal.
Com bons visuais e desempenho, Company of Heroes 3 consegue oferecer uma satisfatória abordagem acerca dos eventos que ocorreram na Itália e ao norte da África durante a Segunda Guerra Mundial, mesmo soando um tanto inferior aos jogos anteriores.
Prós
- Desempenho e otimização no PC;
- Animações das unidades e atenção aos detalhes no mapa;
- Detalhes visuais dos combates;
- Jogo mais bonito da série até agora.
Contras
- Interface atrapalhada e menos informativa;
- Experiência simplista em relação ao jogos anteriores.
- Falta de profundidade no som e áudio em geral.