Uma ideia inovadora é geralmente o que faz um jogo conquistar um lugar no seu coração, seja através de uma história bem feita e cativante ou por uma trilha sonora inesquecível, jogos que marcam você geralmente tem uma boa ideia por trás, mas nem sempre esta ideia precisa fazer todo o sentido – na verdade ela não precisa necessariamente fazer sentido algum – e Clustertruck é um bom exemplo disso.
Este platformer em primeira pessoa é aquele tipo de jogo absurdamente insano que logo te faz desistir de entender o que diabos está acontecendo na tela. Ele adapta a clássica brincadeira “o chão é lava” trocando os objetos que geralmente usávamos em nossas infâncias por caminhões que vão e vem de lugar nenhum e se batem e explodem-se por nenhum motivo aparente.
Sim, é ridículo, mas felizmente a Landfall Games tinha total ciência disso quando concebeu seu jogo e resolveu explorar isso utilizando ideias que talvez dessem errado em qualquer outro jogo, mas que são um tiro tão certeiro em Clustertruck que impressionam todas as vezes que são executadas. Para complementar a leva de apostas arriscadas, o game ainda conta com o “estilo Mirror’s Edge” de ponto de vista em primeira pessoa, que também dá certo salvos alguns detalhes que abordaremos mais pra frente.
Quem é você e o que você está fazendo ali? Não importa. Tudo o que você precisa saber é que você tem de pular de caminhão em caminhão até o fim da fase e não pode, em hipótese alguma, tocar o chão. Obviamente o jogo não é só isso e para complicar sua vida são colocados no percurso dos caminhões os mais absurdos e inimagináveis obstáculos que exigirão de você um bom timing, raciocínio rápido e, principalmente, muita sorte.
De início tudo parece muito estranho, é difícil pousar nos caminhões, os obstáculos são bem decepcionantes e o mundo inicial é bem sem graça em sua maior parte. Isso pode, sem dúvida alguma, fazer jogadores desistirem já no começo, como quase aconteceu comigo, mas é um mal necessário para nos ajudar a entender o modo como Clustertruck funciona e como melhor nos adaptaremos a ele.
Por padrão, Clustertruck já vem configurado na qualidade gráfica “Fantastic” e você levará algum tempo até ajustá-lo de modo que tudo fique de um jeito confortável de se jogar. Eu, pessoalmente, não gostei nem um pouco do motion blur, ele fazia com que fosse quase impossível pousar em um caminhão da forma certa e ver a real distância do próximo caminhão. O FOV padrão também não me agradou, assim como o TAA, o SSAO e diversos outros efeitos eu tive que alterar após desistir da primeira vez para enfim ter um jogo decente em minhas mãos.
Após fazer todas as modificações pude entender enfim a magia de Clustertruck e perdi quatro horas – as horas da maratona de Luke Cage, é bom destacar – diretas me divertindo, passando raiva e aproveitando os diversos momentos WTF? que ele oferece.
Clustertruck é dividido em mundos de temáticas diferentes formados por dez níveis. Cada um destes mundos conta com obstáculos de acordo com sua temática, e também contam com dificuldade progressiva que acompanha a sua evolução no controle das mecânicas do jogo. São 90 níveis no total, alguns te farão travar por vários minutos e quase espumar pela boca, já outros poderão ser vencidos de primeira, é um estilo de dificuldade que lembra de certa forma Super Meat Boy, mas que conta muito mais com o fator sorte aliado à sua habilidade natural.
Além desta variação natural de obstáculos há uma variação também na direção em que os caminhões estarão indo, sendo que as possibilidades são quase infinitas e sempre, sem exceção, te pegarão de surpresa. Você poderá se deparar com caminhões vindo no sentido contrário ao que você está, ou que vão para um destino completamente diferente em outra plataforma, ou que caem em abismos sem fim, ou que decolam e explodem do nada. Os motoristas destes caminhões tem cocô na cabeça, já foi comprovado, e tudo o que você precisa tentar entender é como chegar no fim da fase.
Logo são adicionadas ao jogo habilidades que você pode desbloquear utilizando os pontos ganhos completando os diversos níveis e é aí que tudo fica mais interessante. Double jump, teleport, slow motion, um gancho ou jetpack, tudo isso se torna uma possibilidade real e deixa o jogo ainda mais divertido, além de evitar que ele fique desnecessariamente difícil ou repetitivo, se é que há algum possibilidade de isso acontecer (não há).
Os pontos para desbloquear estas habilidades lhe são dados conforme o seu desempenho dentro da fase, sendo que é possível alcançar uma maior pontuação ficando muito tempo no ar, pulando em caminhões que estão fora do chão, atingindo uma velocidade muito alta e terminando o nível na primeira tentativa. Na maior parte do jogo, você não consegue estimar quantos pontos ganhará ou tentar aumentar a sua pontuação final, já que estará preocupado demais tentando sobreviver ao caos a sua volta, então esta recompensa fica mais restrita à sua sorte no momento.
Estas habilidades são apenas para facilitar sua vida e você não necessariamente precisa delas para terminar o jogo. O gameplay realmente não muda, ele se mantém na simplicidade do início ao fim e é isso o que mais impressiona, a forma como a desenvolvedora consegue manter ele interessante e divertido sem modificar nada das mecânicas de jogo.
E se o improvável acontecer e você cair no tédio desafiando os mundos padrões do jogo, saiba que há a possibilidade de você criar sua própria fase no editor dentro de Clustertruck com um desafio que seja digno de sua habilidade. Caso tenha conseguido algo que seja realmente desafiador você pode compartilhar esta fase para o mundo através do Steam Workshop que conta com uma infinidade de fases originais criadas pelos próprios jogadores.
Há também uma ferramenta que te permite fazer stream para o Twitch diretamente do jogo de maneira bem simples através de um menu bastante intuitivo. Os desenvolvedores pregam algumas peças naqueles que querem se mostrar para o mundo, então caso queira transmitir seu jogo prepare-se para se deparar com caminhões que explodem com o toque e coisas do tipo.
Visualmente Clustertruck agrada bastante, com gráficos simples que combinam com sua premissa ridícula e elementos que interagem de maneira bem aleatória, porém perfeita.
O ponto de vista em primeira pessoa é realmente estranho de início, mas a física no geral é tão acertada que é só uma questão de tempo (e muitas mortes) até que entendamos como tudo funciona. Neste quesito, a única ressalva que fica é para a falta de uma sombra para sabermos onde pousaremos, ela não está disponível sequer nas opções gerais do jogo e seria uma adição muito bem vinda.
Me deparei com alguns bugs que em partes iguais me mataram e me proporcionaram vantagem, coisas simples que certamente serão corrigidas numa atualização futura. Slowdowns também me acompanharam em algumas fases que contavam com grandes quantidades de caminhões e plataformas, um problema que atrapalhou de verdade mas que pôde ser resolvido apenas voltando para o menu e reentrando na fase.
A trilha sonora é simples e não chama a atenção. Apesar de ser um tanto repetitiva, não incomoda, mas é bem dispensável e quem me acompanhou na maior parte da minha jogatina foram as músicas que compõem nossa primeiríssima Playhits (vocês deveria escutar, sério).
E agora José? Clustertruck vale o preço cheio? Pela diversão que ele me proporcionou eu diria que sim, mas como trata-se de um jogo nada mais do que casual eu ficarei no não, 50% do preço seria o ideal. O game possui um fator replay bem alto e certamente te proporcionará boas gargalhadas e muitos momentos que você olhará para os lados tentando entender o que aconteceu. Não entenderá e continuará jogando.
PS: Clustertruck ainda conta com um “spin-off” que o transforma em uma espécie de SUPERHOT com caminhões. O nome do jogo é SUPER TRUCK e ele é tão divertido quanto o oficial. Give it a try.
Review elaborado utilizando uma cópia do jogo para PC fornecida pela publisher.
Resumo para os preguiçosos
Clustertruck é um platformer em primeira pessoa que te coloca para pular sobre caminhões desgovernados que vão para lugar nenhum e se explodem por nenhum motivo aparente. Ele proporciona muita diversão e boas gargalhadas e conta com uma grande variedade de desafios, obstáculos, mundos diferentes e habilidades que sempre de surpreenderão e te farão querer jogar um pouco mais.
Alguns problemas técnicos atrapalham por ora e os efeitos visuais atrapalham bastante, mas tirando estes pequenos detalhes Clustertruck é um dos melhores exemplos de jogo divertido.
Prós
- Ridiculamente divertido
- Ideia executada de maneira fantástica
- Boa variedade de mundos, obstáculos e desafios
- Leque de habilidades desbloqueáveis
- Editor de níveis com integração ao Steam Workshop
- Você pula sobre caminhões suicidas cara!
- SUPER TRUCK
Contras
- Alguns bugs e slowdowns
- Efeitos visuais podem mais atrapalhar do que ajudar
- Trilha sonora dispensável