Tudo que eu sei sobre futebol americano pode ser resumido nesse (belíssimo) vídeo feito pela NFL para ajudar os noobs no assunto – tipo eu. E até poucos momentos antes de jogar o Blood Bowl 2 eu não sabia que ele era baseado em um jogo de tabuleiro. Com isso em mente, vou tirar o grande elefante branco da sala: esse jogo é como o Brasil ufanista, “ame-o ou deixe-o”.
Ok vamos dissecar tudo isso que eu disse. Blood Bowl 2 é uma continuação ao Blood Bowl, um jogo que mistura a fantasia do universo Warhammer com futebol americano. Blood Bowl, por sua vez, é uma adaptação do homônimo jogo de tabuleiro por turnos, como eu mencionei acima. E a jogabilidade dos três são bem parecidas.
Cada jogador controla as ações do seu time ao escolher movimentações individuais dos atletas. Em cada turno, os jogadores comandam cada um de seus atletas para fazer algo. Ir para algum ponto específico, fazer um passe, um tackle, uma interceptação, o que seja. E é nesse momento que uma linha bem clara é definida pros jogadores. Ou melhor, um muro.
Porque cada uma de suas ações tem uma possibilidade de acontecer realmente. Um de seus atletas ir de um ponto A até um ponto B pouco distante, sem adversários por perto e sem envolver nenhuma ação posterior? Certo, temos 98% disso realmente acontecer. Se você der azar e cair nos 2% de não acontecer, nosso atleta pode cair (tropeçando no nada, literalmente), quebrar o pescoço e morrer. O que pode gerar boas risadas ou, se você for um pouco esquentado, um belíssimo soco no monitor. Ou seja, se você não tem paciência para aguentar uma ação baseada em probabilidade e (muita) sorte, esse jogo não é pra você.
E quando essas ações envolvem outros adversários mais variáveis entram em campo, já que é necessário rolar uns dados pra saber quais habilidades – e quais as porcentagens de acerto dessa habilidade – podem ser usadas. Você quer derrubar o linebacker adversário durante o snap(tradução: sabe aqueles caras que ficam na frente uns dos outros quando vai começar a partida, quando o cara¹ passa a bola para o cara² entre as pernas e aí ele decide pra quem vai lançar? Então…), você pra precisar gastar a ação do seu jogador, rolar os dados e ver qual a chance de você derrubar o seu adversário. E, se conseguir, pode ainda continuar ação e dar uma bela finalização, tirando esse adversário da partida (e talvez da vida), correndo um risco de cometer uma falta e ainda inutilizar o seu próprio jogador, dependendo de como ele se comporta.
Tudo isso se passa com excelentes animações e comentários divertidos dos narradores. O problema é que as animações são um pouco mais longas do que deveriam e os comentários não tem lá muita variação. No final das contas, ganha quem fizer mais touchdowns no final de oito turnos quem tem direito, ganha a partida. E todos esses turnos, somados ao tempo elevado de decidir o que cada um dos seus atletas tem de fazer, tanto da sua quanto da parte do seu adversário, as longas animações e os comentários repetitivos dos comentaristas podem fazer o jogo envelhecer mal.
Uma coisa que certamente não ajuda nesse envelhecimento precoce são os times que você pode escolher. Baseado nas raças do lore de Warhammer, os times consistem em oito tipos de raças, cada uma com suas peculiaridades. Anões (cujo nome do time é, de maneira muito engraçada, Dwarf’s Giants),por exemplo, são bem lentos e difíceis de se movimentar, mas são inacreditavelmente resistentes e dão muito trabalho, especialmente se eles començarem ganhando. Os Skaven são velocistas de papel. Velozes e com muitos bônus para realizar os desvios, mas quando são acertados, são altas as chances de você perder o jogador. Temos também os Orcs, que são os melhores jogadores por serem os mais balanceados, humanos, que são versões mais fracas e mais ágeis que os Orcs. Por fim temos a raça Chaos, a minha preferida, que só está lá pra bater nos adversários. Pegar a bola e fazer pontos? Só se nenhum adversário estiver de pé.
No total, temos oito times diferentes para escolher. Parece razoável a princípio, mas quando você pensa que o último Blood Bowl teve 23 times, ter 8 numa versão posterior é quase inaceitável. E ainda deixa o gosto amargo do DLC chegando.
E nesse mesmo ritmo, o jogo parece ter sido “humanizado” em relação aos anteriores. Não importa qual partida, envolvendo qualquer raça, a torcida é sempre majoritamente humana, assim como só temos cheerleader humanas. Não que eu queria ver cherleaders orcs (!), mas ao menos na outra versão era possível ver alguns orcs com tambores fazendo a festa.
Mas se houve essa redução de um jogo pro outro, praticamente todo o resto melhorou. As já citadas animações, os menus e toda a parte gráfica passaram realmente por todo um novo tratamento, deixando o jogo bem agradável visualmente – mas nada que justifique a compra de uma sistema de nova geração ou uma atualização no seu computador. Ocasionalmente temos alguns clippings e algumas animações – as mais antigas – com alguns defeitos, mas nada que conte pontos contra os gráficos.
Na parte de som, temos um tom mais épico e intenso do que na versão anterior, que combina muito mais com o Warhammer do que com o futebol americano. Ou seja, caiu com uma ombreira cheia de espinhos no ombro de um Ogro Orc. Perfeito.
Outra novidade é o sistema de campanha que, infelizmente pra quem já joga o jogo desde o primeiro Blood Bowl ou até mesmo dos jogos de tabuleiro, não passa de um tutorialzão com comentários personalizados. Como eu não sabia muito (nada) sobre o jogo em si, valeu a pena ter desfrutado desse novo modo para poder apreciar um pouco mais do jogo. O problema é que, se pra mim o modo foi bem tranquilo, imagino que seria um passeio no parque para os fãs hardcore da série.
Existe também o modo liga, onde você joga torneios onde seus jogadores podem evoluir e ganhar novas habilidades, o que tira um pouco do peso da decisão dos dados e leva o jogo para um nível mais de táticas do que sorte e aleatoriedade que permeia os outros modos. É bem divertido começar o seu time com um monte de perebas e aos poucos transformá-los em moedores de carne adversária. Poucas coisas são mais recompensadoras que machucar seriamente o astro da equipe adversária ou até mesmo matar eles ali em campo. Eu sei, parece um pouco violento demais… Mas é bem divertido. Em compensação, dá pra ficar BEM transtornado quando seu melhor jogador tropeça em campo e um ogro adversário o finaliza ali mesmo.
Por fim, temos o Cabal TV (que é o nome da emissora fictícia que transmite os jogos) , que é basicamente o ponto de encontro da comunidade. Ali é possível assistir outras partidas em andamento pelo modo espectador ou mesmo rever lances em destaque. Como eu joguei com uma key de review e na maioria das vezes no modo offline, não tinha muita coisa lá (nada), mas certamente é um modo que irá estender um pouco da vida útil do jogo assim que a comunidade entrar em peso.
Falando em comunidade, o nível de inteligência artificial, como é comum em todos os jogos não chega nem perto da capacidade dos jogadores e, com isso, eu fui demolido em todas as vezes que tentei algo. Se você não é do mundo do futebol americano, vai ter que treinar bastante com a máquina para não ser terraplanado todas as vezes. E num jogo onde cada partida consume bastante tempo, ficar perdendo não necessariamente contribui para um bom humor.
Resumo para os preguiçosos
Blood Bowl 2 é um jogo de futebol americano combinado com o universo Warhammer e que justifica o “2” em seu nome. Com diversos novidades em relação ao primeiro jogo, são poucas as reclamações a serem feitas além da falta de raças disponíveis e algumas falhas técnicas. O jogo é divertido de ser jogado, mas reque paciência e um controle emocional grande, já que no começo o jogo é mais definido pela sorte do que pela sua habilidade.
Prós
- Gráficos e menus atualizados em relação ao primeiro jogo
- Raças se comportam de maneira completamente distinta em campo
- Jogo um pouco mais aberto para iniciantes
- Cabal TV
- Extremamente divertido fazer seu ogro dar uma barrigada num adversário já caído
Contras
- Poucas raças disponíveis
- Comentários se repetem com alta frequência
- Modo online muito difícil para iniciantes
- Partidas lentas
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