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Batman vs Superman: A Origem da Justiça – Review

Demoraram para descobrir a mina de ouro que eram os filmes de super-heróis. Tendo começado lá em 1920 (que eu me lembre) com The Mark of Zorro, o gênero foi evoluindo com erros e acertos e culminou numa tentativa da Marvel Comics, em 2008, de fazer uma série de filmes de diferentes heróis que fossem interligados de alguma forma e permitissem assim que estes heróis contracenassem juntos no futuro. A ideia foi um sucesso, o Universo Cinematográfico da Marvel expandiu o gênero de super-heróis de uma forma que nunca se imaginou, levando pessoas que nunca leram quadrinhos aos cinemas e deixando os fãs de suas HQs felizes da vida.

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E era questão de tempo até que a Warner Bros., detentora dos direitos da DC Comics, principal concorrente da Marvel, também organizasse o seu próprio universo compartilhado nos cinemas (afinal, quem quer deixar o rival fazer dinheiro sozinho?). Porém ela só tinha dois heróis presentes nas telonas na época, Batman e Superman, então qual seria a solução óbvia? Colocar estes dois heróis num mesmo filme, enfrentando-se, com um diretor já conhecido por uma brilhante adaptação de histórias em quadrinhos (Zack Snyder com Watchmen) e PLAU, temos a fórmula básica do sucesso, certo? Errado.

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Batman vs Superman: A Origem da Justiça chegou carregadíssimo de hype (assim como qualquer outro filme do gênero hoje em dia) e prometia nada menos do que um embate épico entre os dois maiores heróis da DC Comics. Para dois “good guys” trocarem umas porradas é necessário que ambos tenham ótimos motivos e o filme nos mostra porque diabos um não vai com a cara do outro.

Logo no início revemos o fim ato 3 de “Homem de Aço” pelo ponto de vista de Bruce Wayne (Ben Affleck) quando Superman quebrava meia Metropolis tentando impedir que General Zod matasse mais gente e, como é de se esperar, há milhares de vítimas colaterais. Toda essa tragédia é linkada psicologicamente por Bruce à morte de seus pais, e vendo todo esse poder, capaz de destruir a raça humana, ele decide que Superman é uma ameaça.

Já Superman (Henry Cavill) vê as ações de Batman como as de um justiceiro que impõe um regime de terror em Gotham e que marca as pessoas para a morte, um homem que mergulhou sua cidade no medo e que está acima da lei, e decide pará-lo antes que seja tarde.

Batman não tem poderes e seus atos se restringem apenas a cidade de Gotham. Já Superman salva pessoas por todo o mundo e assim fica conhecido e começa a ser amado e contemplado como um Deus. Deuses são seres que estão acima de homens e qualquer uma de suas leis, então é claro que alguns o temem e decidem atribuir a ele todas as mortes na Batalha de Metropolis.

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E o filme continua a se desenvolver em cima de motivações para ambos os lados se enfrentarem, com acontecimentos relevantes? Não, com uma série de pontos desconexos e irrelevantes que chegam a ser entediantes. O enredo é cheio de buracos que fazem os espectador ficar se perguntando a todo momento: Por quê? Como? Pra quê isso?. Alguns detalhes são tão difíceis de se engolir que parecem até zoeira dos roteiristas e quando vemos que não é ficamos com aquela cara de “ué… mas, gente…. ué…. não pode ce”.

O grande problema é que esse enredo bisonho se arrasta por mais de uma hora e meia. O filme se afoga tentando ser sério demais, misturando visões do passado com do futuro, personagens sem alguma importância a quem é dado muito tempo e, principalmente, as várias tentativas de tentar ser poético.

O filme começa bem tentando criar um laço entre homens e Deus e segue com metáforas fracas a esse respeito que se intensificam com a presença de Lex Luthor (Jesse Eisenberg). Se você assistiu algum dos milhares de trailers que foram divulgados, já ouviu algumas das frases dele como “os demônios não vêm do inferno, abaixo de nós, eles vêm do céu.” ou “se o homem não matar Deus, o Diabo matará… Conheça o seu apocalipse”.

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São várias as tentativas de “poetizar” o filme protagonizadas por Luthor com frases de efeito que com certeza foram boladas durante um café da tarde. E elas além de não surtirem efeito algum ainda tornam tudo mais teatral, algo que já estava beirando o irritante com o inconstante papel do próprio Eisenberg. “Preto e Azul, Deus vs Homem, Dia vs Noite, o Filho de Krypton versus o Morcego de Gotham” é uma entrada belíssima para se ver num duelo do UFC, não num filme que tenta ser sério e poético a todo momento.

O Lex Luthor de Jesse Eisenberg flutua entre o sério, o sarcástico, o poético, o triste, o cruel, o psicótico, o gênio do mal e finalmente o maluco. Eu já vi pessoas com problemas mentais com menos distúrbios de personalidade do que ele, não que esse seja o problema, o problema é que esse não é o Lex Luthor.

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O Lex Luthor que os roteiristas entregaram a Jesse Eisenberg, segundo suas próprias palavras, é alguém cheio de si, autêntico, problemático, alguém que está sofrendo, que está inseguro e enfurecido. Entendeu o que eu quis dizer?

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O melhor que poderiam ter feito com Luthor seria ter lhe dado menos tempo na tela, mas ele segue ali, sendo o ponto central da luta entre os dois heróis. Apesar de ter pouquíssimos spoilers para dar (já que os trailers já revelaram quase todos) e não querer que você se decepcione mais, vou me conter aqui e deixar que você descubra sozinho o papel do vilão nisso tudo.

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O restante do elenco é tão sub-utilizado que chega a ser trágico. Uma das poucas coisas legais do filme são as relações entre Bruce Wayne e Alfred Pennyworth (Jeremy Irons) e Lois Lane (Amy Adams) e Superman. Jeremy, apesar de receber pouquíssimo destaque, faz o que pode com o papel e além de mostrar uma bela sintonia com Ben Affleck, quebra o gelo em algumas cenas que poderiam se repetir muito mais. Amy Adams também faz muito bem o papel de Lois Lane, sendo que a personagem mostra em todos os momentos que não tem medo de enfrentar o mundo e sempre enfrenta o perigo mesmo não tendo a certeza absoluta de que Superman estará lá para salvá-la (essa nunca pularia de um prédio pra provar que Clark é Kal-El).

Já Gal Gadot tem o papel mais triste. Durante os aproximados seis minutos que esteve em cena, Diana Prince não foi capaz de mostrar quais eram seus objetivos e só na luta final, aquela que já havíamos visto nos trailers, ela pôde mostrar todo o potencial da personagem e deixar os fãs com alguma vontade de assistir seu filme solo.

Vou escrever Apocalipse aqui só para dizer que eu falei dele. Que vilão lamentável.

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Lembra que eu falei que o filme se afoga tentando ser sério? Alguém decidiu que sério significava sombrio e decidiu escurecer todas as cenas importantes, ou seja as lutas, do filme. Uma das poucas cenas que realmente valem a pena, com Batman lutando contra alguns bandidos em um armazém, é tão escura que chega ser frustrante perder tantos detalhes de uma luta tão boa. E nas cenas mais abertas como corrigiram esse problema? Enchendo tudo de efeitos especiais, é claro. Péssima fotografia.

Você não achou que $250 milhões de dólares se gastariam com cenas escuras e frases de efeito, né? A chuva de CGI parece servir apenas para clarear tudo e deixar o filme mais vistoso e ainda assim esbarra nos diversos “camera-shake”. A maioria deles é usada na luta contra Apocalise e parecem não ter finalidade alguma além de tirar o foco do visual artificial, criar explosões bonitas de se ver e levar a cena de um lugar a outro.

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Até a trilha sonora é mal empregada no filme, que é repleto de óperas, violinos e pianos, o que casaria com a atmosfera, se não tocassem em momentos completamente errados. O básico com certeza nunca foi cogitado e neste caso deveria ter sido usado, mas ao invés disso temos melodias que não capturam o momento das cenas e muitas vezes chegam a quebrar o clima.

Outra bola fora, talvez a maior de todas, são algumas visões desconexas que vemos durante o filme. Elas são pesadelos, mas não possuem ligação alguma com o restante do enredo, o que faz com que seja apenas mais um amontoado de cenas inúteis que estão ali só pra encher linguiça. No meio destes pesadelos temos uma possível visão do futuro que joga a nossa reação de “ué” para “WTF?”. Certamente farão sentido daqui há alguns anos, mas acho que não é assim que se faz um filme, ou é?

O maior highlight do filme vai pra conta de Ben Affleck. Muitas dúvidas surgiram quando seu nome foi anunciado para o papel de Bruce Wayne e ele respondeu a todas elas com uma performance sólida que realmente merece palmas. Porém ele, assim como todos os demais, esbarra nos erros do diretor e dos roteiristas e acaba tendo seu trabalho encoberto por tanta incapacidade.

Quem não impressiona é Henry Cavill, com um Superman que não mostra mais uma vez o que é ser um herói do porte do Homem de Aço. Pra falar a verdade, nem o Superman de Brandon Routh e nem o de Cavill no filme anterior conseguiram isso, será que mais fichas devem ser gastas no mesmo ator?

E também é necessário falar do assunto principal do filme, a luta entre Superman e Batman. Ela é decepcionante. Começa muito bem, do jeito que muito de nós esperávamos e acaba do jeito mais estúpido que algo deveria acabar e, de repente, acabou a treta e os dois estão ali lado a lado para enfrentar o vilão final.

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Sendo bem honesto, o filme é o trailer com duas horas e meia de duração. As melhores cenas foram colocadas no trailer, o que corrobora as reclamações de muitos fãs que vêm dizendo que os trailers mostram muito do filme e deixam muito pouco para o público. Neste caso o trailer mostrou tudo o que tinha de bom e deixou pra nós o resto.

https://www.youtube.com/playlist?list=PLod0zY_EtW2duI1EVUi3FMA2VplqO3Yn4

Batman vs Superman é um filme que foi produzido sem cuidado algum, por uma equipe que não se preocupou em aproximar os personagens de suas versões dos quadrinhos ou em fazer um enredo minimamente conciso e achou que efeitos especiais e uma premissa chamativa seriam a fórmula básica do sucesso. O filme decepciona como  fonte de entretenimento, se afunda em sua própria “seriedade” e escuridão.

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Se a estratégia era competir com a Marvel, receio que a DC tenha dado mais força para a concorrente, que por sua vez entrega filmes divertidos, talvez muito coloridos e fantasiosos, mas ainda assim prazerosos de se assistir. Batman vs Superman tinha potencial para ser muito, muito mesmo, mas acabou sendo nada mais do que uma faísca de um universo cinematográfico que ainda precisa nascer para fazer algum sucesso.

Resumo para os preguiçosos

Batman vs Superman: A Origem da Justiça poderia ser muita coisa, mas morre na praia com uma péssima direção e um terrível trabalho de roteiristas. Algumas cenas de ação e a relação entre Bruce Wayne e Alfred são o que fazem o filme não ser uma derrota total, mas o restante é só decepção. O principal chamariz, a luta entre Superman e Batman é decepcionante e até a aparição da Mulher-Maravilha não é tudo o que se esperava, assim como os papéis dos demais personagens. O filme tenta ser sério e sombrio, mas o máximo que consegue ser é escuro.

Nota final

50
Saiba mais sobre os nossos métodos de avaliação lendo o nosso Guia de Reviews.

Prós

  • Ben Affleck muito bem como Bruce Wayne/Batman
  • Alfred Pennyworth é um ótimo quebra-gelo
  • Lutas bem feitas
  • Embate entre Superman e Batman começa muito bem
  • Mulher-Maravilha é o melhor do filme
  • Muito Fan-service

Contras

  • Enredo cheio de buracos e pontos desconexos
  • Personagens mal aproveitados
  • Péssimo Lex Luthor
  • Seriedade e escuridão das cenas prejudicam o filme
  • Trilha sonora mal empregada
  • Luta principal termina de forma decepcionante
  • Apocalipse lamentável
  • Todas as cenas boas já haviam sido mostradas nos trailers
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Rafael Oliveira
Rafael Oliveirahttp://criticalhits.com.br
Rafael Oliveira faz análise de jogos, filmes e séries regularmente para o Critical Hits, além de postar notícias e artigos esporadicamente. Acha que Shadow of the Colossus é o melhor jogo já feito, é fanboy de Steins;Gate e tem um lugar especial no coração para Platformers, RPGs e Metroidvanias.