Antes de mais nada, responda a si mesmo a seguinte pergunta: Você gosta de RPG de mesa? Caso a sua resposta tenha sido positiva, é bem provável que curta bastante esse jogo, pois ele nada mais é do que uma digitalização de uma partida dessa modalidade de RPG tão interessante.
Mas antes de começar a análise, vamos retroceder um pouco pra falar de algumas coisas importantes sobre o jogo. Primeiro, tenha em mente que foi lançado lááá em 1998, ou seja, não espere gráficos espetaculares nem anti-aliasing ou qualquer coisa parecida. Por mais que o título tenha o termo “enhanced edition” seguindo o nome, é bom saber que somente algumas coisas foram melhoradas, mas o principal foi mantido pra preservar a essência.
Dito isso, acho válido fazer mais uma pergunta: O que diabos você jogava em 1998? Eu ainda tinha o meu Mega Drive 2 e jogava alguns jogos pra PC da época, afinal de contas, como eu ainda era moleque e morava no interior, nem me passava pela cabeça que existiam jogos com essa temática e mecânica naquela época. Sendo sincero, pra mim, d20 era uma caminhonete e Dungeon and Dragons era um desenho que passava no programa da Angélica. Mas imagine só os nossos amigos mais velhos que viviam enfurnados em quartos escuros, cheios de nerds encarnando bárbaros sedentos por sangue, magos com poderes inimagináveis, necromantes fedendo a cemitérios, pra esses, um lançamento tão significativo quando o primeiro título da série Baldur’s Gate foi um marco imenso, pois agora eles podiam fazer tudo isso, só que encarando uma tela de computador ao invés das fuças uns dos outros.
Mas chega de análise de mercado, vamos direto ao que interessa. Sendo bem rápido e rasteiro, o jogo realmente tem a capacidade de te fazer sentir como se você estivesse dentro de uma seção de RPG – o jogo, não a seção de massagem no pélvis -, e ainda por cima, em alguns momentos, você se sente dentro de um romance medieval muito bem escrito, com passagens extremamente criativas e sacadas geniais. Tudo começa com a criação do personagem, que por sinal, foi base para inúmeros outros jogos posteriores como Neverwinter Nights e até mesmo Skyrim. O jogador escolhe características como gênero, raça, classe, habilidades e mais uma penca de coisas, como se realmente estivesse fazendo a sua ficha de RPG. Após essa etapa, você cai de cabeça no mundo e logo no início descobre que tem muita gente querendo a sua cabeça, sabe-se lá o motivo. Depois de uma fuga fracassada, acabamos descobrindo realmente como o jogo vai funcionar. Diversos personagens aparecem no meio da sua aventura pedindo ajuda e permissão para fazer parte do seu grupo. Conforme você for moldando o seu time, vai ser obrigado a tomar decisões difíceis pra poder seguir em frente, e nem sempre conseguirá manter um grupo convencional pra enfrentar os desafios do jogo. Eu mesmo acabei fazendo uma escolha errada e acabei ficando sem healer por um bom pedaço do jogo, em contra partida, gastei praticamente toda santa moeda que conseguia com poções e antídotos.
Prepare-se para se deparar não só com arqueiros, bárbaros, lutadores ladrões e etc, mas sim com personagens únicos, com personalidades únicas, frases marcantes e estilos próprios – menção honrosa ao mago esquizofrênico que pode ser encontrado logo no início do jogo e que em alguns momentos gosta de gritar “STOP TOUCHING ME” com voz afeminada quando você o seleciona – . Por mais estranho que possa parecer, existem momentos em que você se sente parte daquilo, pois o grupo costuma interagir de uma forma bastante interessante durante as viagens que fazem entre um mapa e outro. Algo com que você terá de se acostumar é com o acaso. Não é por que você é o personagem mais forte da party que necessariamente será o mais mortal, ou ainda, que a derrota daquela aranha marota esteja garantida, pois algo que é levado muito em consideração aqui é a sua habilidade com a arma que esta usando. Vamos supor o seguinte: Você escolher criar um Fighter especializado em utlizar espada e escudo, mas devido ao excesso de uso da sua espada curta ela quebrou e você só tem uma espada longa no inventário. Dependendo da perícia que o seu personagem tiver sobre essa arma, ela pode ser tanto mortal, como inútil, e muitas vezes você vai acabar passando raiva por saber que pode matar aquele bandido com apenas um hit, mas que não consegue acerta-lo de jeito nenhum.
O mais incrível de tudo, é perceber com o desenrolar da história que mesmo o jogo tendo mais de 10 anos, é capaz de surpreender muito em alguns momentos, mais ainda do que grandes títulos atuais existentes por ai. Isso mostra que gráficos perfeitos, explosões e tudo mais não são essenciais para que você acabe gostando de um game, mas sim a capacidade de imersão que ele te proporciona, fazendo com que o jogador se importe com os personagens, com a história, e trate tudo aquilo como se fosse uma experiência única e sua, não somente mais uma partida de vídeo game.
Eu poderia ficar falando horas sobre a minha experiência com Baldur’s Gate, poderia contar como tive situações diferentes só pelo simples fato de ter dado um load e ter percorrido um caminho diferente do que tinha tomado antes, poderia falar de algumas batalhas épicas onde dois porradeiros armados até os dentes não conseguiram ser mais mortais do que um gnomo utilizando uma funda, e por ai vai. A única coisa que eu posso te dizer é que se você procura um bom RPG pra passar o seu tempo, Baldur’s Gate Enhanced Edition com certeza é uma boa pedida.
Só pra constar, eu recebi uma cópia antecipada a segunda edição do jogo, e logo pretendo postar o review desta também aqui no Critical Hits. Aguardem!
Resumo para os preguiçosos
Baldur’s Gate Enhanced Edition é a pedida certa para quem procura um bom RPG.
Prós
- Mantém a essência de Baldur’s Gate
- Faz você sentir-se dentro de uma sessão de RPG
- Criação de personagem
- Decisões do jogador pesam
Contras
- Não recebeu melhora gráfica