Assassin’s Creed é uma das maiores franquias das últimas duas décadas, e, como é de se esperar, a franquia acabou apresentando uma certa fadiga nas vendas após tantos lançamentos em sequência. Exatamente por isso, a Ubisoft decidiu que os assassinos e templários teriam um ano sabático à disposição deles para trazer novidades e reestruturar o jogo, e hoje nós vamos analisar se Assassin’s Creed Origins se aproveita dessas férias que a franquia teve.
Em Assassin’s Creed Origins, você controla Bayek, um Medjay (protetor do faraó e do povo) do Egito que vive na era de Cleópatra e Ptolomeu, ou seja, no final da existência do Egito como nação independente na Idade Antiga. Ptolomeu instaurou um reinado de terror no Egito ao depor sua irmã mais velha, Cleópatra, e quer expandir o reino. No plano pessoal, Bayek é um soldado do faraó que acabou passando por uma tragédia pessoal que o mudou para sempre, e agora ele segue o caminho da vingança que vai transformá-lo no primeiro Assassino da história.
Para isso, você tem o Egito Antigo inteiro para explorar, uma lista de inimigos para assassinar e uma pancada de missões da história e opcionais pela frente. Quando eu digo uma pancada, eu digo que eu não lembro de ter visto um Assassin’s Creed com tanto conteúdo anteriormente quanto Assassin’s Creed Origins. A Ubisoft realmente se esforçou em trazer uma porrada de história para dentro do jogo. Desde missões simples como recuperar ferramentas de um ferreiro até outras missões mais complexas, parece que a desenvolvedora finalmente percebeu que missões secundárias sem nenhum propósito só para encher o cenário não são a forma ideal de dizer que o jogo pode durar centenas de horas.
Há um problema, entretanto nessa quantidade elevada de missões: a repetição. Na maioria das missões você vai ter que seguir esses passos: ir até as proximidades do local da missão, usar o falcão de Bayek para encontrar o seu alvo, dar um jeito de chegar perto do alvo e derrotá-lo. Em alguns casos, você tem que sair correndo de onde está, já em outros a missão acaba por aí mesmo. Não é uma nem duas vezes seguidas que você segue esse layout de missões, é uma porrada de vezes em sequência. Ainda que cada missão realmente tenha um propósito de adicionar na história do jogo, infelizmente esse layout previsível demais acaba cansando eventualmente.
Uma das grandes novidades do jogo introduzidas pela Ubisoft foi uma remodelagem completa do sistema de combate de Assassin’s Creed. Quem lembra da facilidade que era matar os adversários que tinham mais ou menos o mesmo level que você? Isso deixou de existir em Assassin’s Creed Origins. O combate foi totalmente repensado e, me perdoem o clichê de todo o review ter uma comparação com Dark Souls, mas desta vez é impossível, agora ele se assemelha ao que a From Software fez em Dark Souls, com botões de ataque e defesa nos ombros do controle, esquema de rolagem, parry de ataques e assim por diante. Em teoria, o sistema de combate sólido faria Assassin’s Creed dar um salto de qualidade, mas como ele funciona na prática? Não tão bem assim.
O principal problema do sistema de combate é que a Ubisoft encheu de inimigos na tela a maioria das situações em que Bayek se encontra. Não é incomum você se encontrar rodeado de inimigos com mais 2 ou 3 (ou até 5) te atirando flechas do fundo e obrigando você a sair correndo pelo deserto para tentar despistar os inimigos (já que eles milagrosamente esquecem de você depois de alguma distância percorrida) e pegá-los em grupos menores e mais fáceis de se combater. Isso não é um sistema difícil bem pensado, é simplesmente aumentar a dificuldade aumentando os números na tela, e o que era para ser uma experiência renovada acaba sendo uma experiência frustrante, que leva o jogador a abusar das deficiências da inteligência artificial para passar por situações que levariam bem mais tempo para serem atravessadas se o jogador fosse seguir as regras quebradas do sistema de combate.
Um exemplo que me vem à cabeça de como o sistema de combate não ajuda em nada foi uma missão do começo do jogo onde eu precisava matar um comerciante rico. Como de costume, você chega perto do objetivo, usa o falcão para identificar a posição dele e tenta se infiltrar onde ele mora e matá-lo. O problema é que ele tem uns 15 guardas em casa, e eu estou 2 níveis abaixo do recomendado pra missão. Aqui, um nível de diferença já te dá problemas, dois então ainda mais. Pro meu azar, eu acabei sendo detectado pelos guardas no momento em que eu ia atacar o comerciante, e ele saiu correndo feito um desesperado pela cidade com uma penca de guardas atrás dele.
Bizarramente, metade dos guardas parou de seguir o chefe deles quando eles me perderam de vista, e a perseguição acabou me levando para um pedaço das docas de Alexandria onde dava para ficar circulando numa fonte, caminho esse escolhido pela IA para fugir de mim. Além do comerciante, apenas dois guardas acompanharam-no. Eu só precisei matar um deles, pois o outro ficou emperrado seguindo o comerciante, mesmo enquanto eu atacava ele e finalizava a missão, ou seja, se fosse pra fazer a missão da forma correta, um assassinato furtivo na casa dele, eu provavelmente teria que tentar mais umas várias vezes, mas o jogo resolveu me presentear com essa bizarrice acontecendo, que obviamente não foi a única vez durante a experiência com o jogo.
Vale ressaltar aqui que, de modo geral, o jogo funciona como deveria, mas ainda há alguns problemas e bugs que parecem atormentar os jogos da franquia. Uma das grandes novidades do jogo acaba sendo prejudicada por eles: o camelo de Bayek. Quase todo mundo com quem eu conversei sobre o jogo teve bugs no piloto automático do camelo, seja ele andando em círculos, seja ele perdendo a rota, seja ele atropelando pessoas no meio da rua e o jogo dizendo que os Medjay eram protetores do povo, e não assassinos.
Ainda que o jogo tenha diversos problemas de gameplay e de implementação, a história dele é uma das melhores já colocadas nos Assassin’s Creed. Se você é uma pessoa que tem curiosidade sobre como a Ordem dos Assassinos nasceu, vale a pena jogá-lo, já que aqui nós temos um desenvolvimento extremamente bem executado, além de personagens interessantes, algo que a franquia não contava desde Assassin’s Creed IV: Black Flag.
Graficamente, Assassin’s Creed Origins é um belo jogo com cidades cheias de vida, desertos impressionantes e até recriações históricas recém descobertas dentro dele. A Ubisoft realmente fez um ótimo trabalho em recriar a antiguidade aqui. A trilha sonora do jogo também é muito boa, e o jogo ainda conta com a opção de ser jogado em português, mas aqui infelizmente vale ressaltar que a dublagem em português do jogo ficou bem ruim, principalmente se você parar para prestar atenção nos NPCs que andam pela rua, já que a impressão que dá é que três pessoas dublaram todos os cidadãos do Egito Antigo.
Review elaborado com uma cópia do jogo para Xbox One fornecida pela Ubisoft do Brasil.
Resumo para os preguiçosos
Assassin’s Creed Origins tenta dar um sopro de vida numa franquia que precisava de novidades, e até certo ponto, a Ubisoft consegue isso, mas infelizmente o novo sistema de combate do jogo não funciona de maneira satisfatória em diversas vezes. Além disso, problemas técnicos como bugs e inteligência artificial defeituosa acabam por prejudicar a experiência e a imersão do jogo. Para completar, o layout geral das missões se repete demais durante o jogo. O game é um passo interessante na renovação da franquia, mas essa renovação ainda não chegou lá.
Prós
- Toneladas de conteúdo
- Boa história com bons personagens
- As sidequests finalmente não parecem ter sido feitas só pra encher linguiça
Contras
- O sistema de combate ainda precisa de refinamentos
- As missões são muito repetitivas
- Bugs gerais e problemas de IA que atrapalham a diversão
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