Desenvolvido por veteranos de séries como Silent Hill e Siren, Slitterhead é aquele tipo de jogo que tem um potencial bastante evidente, mas que se perde em uma execução desastrada. Embora tenha sido criado por mestres do gênero terror, ele não é um survival horror, mas sim um game de ação com inimigos bizarros.
O título nos leva às ruas de Kowlong, uma cidade decadente e com uma imensa densidade populacional. Até mesmo por isso, o lugar vira um verdadeiro restaurante para os monstruosos Cabeças-Rasgadas, serem de origem misterioso que conseguem viver entre os humanos e se alimentam dos cérebros deles.
Nesse cenário, assumimos o papel do Night Owl, um espírito que não sabe muito sobre o próprio passado. Também capaz de entrar em corpos humanos, ele encontra pessoas especiais conhecidas como Raridades, com quem vai se unir para deter as criaturas misteriosas e descobrir qual é o plano delas.
Slitterhead derrapa na execução
Embora a ideia de Slitterhead não seja ruim, a maneira como ela é executada acaba se provando bastante problemática. Como o Night Owl, você pode usar seu poder de dominar corpos para passar por obstáculos, navegar por longas distâncias e resolver puzzles, o que é a parte legal do jogo.
O que não é tão legal são os momentos de combate, que são uma bela demonstração de como o jogo executa ideias legais de forma problemática. Quando eles acontecem, ficamos presos em uma espécie de arena que limita nossos movimentos e dos monstros enfrentados. Além disso, geralmente começam a surgir vários humanos que ficam pelas redondezas.
A ideia de Slitterhead é que, em vez de usar um único personagem para lutar, o jogador vai ficar alternando entre corpos, sendo a maioria deles descartável. A exceção são justamente as Raridades que, além de possuírem habilidades únicas, também podem ser evoluídas após o fim das missões.
Enquanto a ideia em si é legal, a maneira como ela é executada faz com que o game fique chato. Sozinhos, os inimigos não são difíceis, mas o dano que causamos nele é tão pequeno que as batalhas tendem a se arrastar. O jogo até brinca com um sistema de parry que, na prática, não é tão útil que parece.
Na maioria das vezes, a solução para a vitória é bater um pouco com um personagem, chamar a atenção do inimigo, trocar de corpo e repetir o processo até a luta chegar o fim. O problema é que elas não são emocionantes ou muito divertidas, e não demora até que elas parecem ser somente uma tarefa chata que não dá para evitar.
Também não ajuda o fato de que Slitterhead é um jogo sobre um loop temporal que se passa durante o intervalo de três dias. Se por um lado isso ajuda na construção do mistério que forma a história principal, por outro isso força a repetição de muitas atividades que não são particularmente desafiadoras ou inspiradas.
Enquanto a primeira perseguição de um inimigo é até legal, depois da quinta vez que você faz isso as coisas começam a parecer iguais e um pouquinho tediosas. E é justamente esse o pior pecado de Slitterhead: quanto mais ele estende sua trama de forma desnecessária, mais evidentes ficam suas limitações e seus defeitos de execução.
Entre eles também se encontra a estrutura um tanto estranha do jogo, que exige que encontremos certas Raridades em trechos bastante específicos de algumas fases. Caso você não faça isso, não será possível continuar avançando na trama. Assim, não dá para julgar ninguém que prefira recorrer a um guia do que ficar batendo cabeça tentando entender o que o game está exigindo em certos momentos.
Carinha de PS3
Outro elemento de Slitterhead que traz estranhamento é sua apresentação. Se as músicas assinadas por Akira Yamaoka são excelentes e contribuem muito para a ambientação do game, elas não casam bem com os visuais. Enquanto apelar para modelos estilizados não é um defeito em si, a maneira como isso é feito deixa a impressão de que estamos jogando uma remasterização de algo que saiu originalmente para o PS3.
Enquanto os ambientes do jogo são bonitos, o mesmo não se pode dizer dos humanos estranhos que habitam suas ruas. A exceção a essa regra são justamente as Raridades, que parecem ter sido as únicas a ganhar alguma atenção maior na modelagem de seus rostos ou em suas animações.
Isso faz com que Slitterhead tenha uma cara imediatamente envelhecida e seja um jogo que não parece se decidir direito por qual estilo artístico quer seguir. E, infelizmente, esse também é um elemento que ajuda a tirar o peso de algumas das cenas mais bizarras da história. Quando as cabeças que estão explodindo parecem pertencer a bonecos toscos, e não há humanos, é um pouco difícil ligar muito para o destino dos personagens em tela.
Slitterhead vale a pena?
Apesar de todas as críticas que merece, Slitterhead em si não é um jogo ruim, mas sim um jogo mediano que é piorado pelo excesso de repetitividade. Sabe aquele tipo de experiência que até dá para aguentar até o final, mas não é exatamente das mais memoráveis? Então, é bem nesse espaço em que o título da Bokeh Game Studio se encaixa.
Ele tem ideias e uma atmosfera boa, e a história é intrigante no ponto certo. No entanto, ela acaba sendo diluída em meio a um sistema de combate mal executada e que aposta demais na repetição de atividades que não são assim tão divertidas. Caso estivéssemos em outros tempos, seria fácil afirmar que esse é um daqueles games que merecem um aluguel de fim de semana, mas cuja compra só seria recomendada em um período de descontos.
Jogamos Slitterhead no PlayStation 5 com uma chave cedida pela Bokeh Game Studio.
Resumo para os preguiçosos
Slitterhead é um jogo violento e com uma trama sombria interessante, mas que se perde em um combate pouco inspirado e em uma estrutura repetitiva. O game tem as sementes de uma experiência marcante, mas será preciso de pelo menos uma sequência para que elas possam realmente germinar.
Prós
- Ambientação
- Narrativa sombria
- Criaturas com bom design
Contras
- Combate pouco esperado
- Muita repetitividade
- Personagens com visuais bizarros
- Falta de polimento