O ex-vice-presidente corporativo da divisão Xbox na Microsoft, Mike Ybarra, fez críticas contundentes à direção atual da marca e à falta de clareza estratégica que, segundo ele, vem prejudicando o posicionamento do Xbox no mercado.
Ybarra, que trabalhou por mais de duas décadas na empresa e foi uma das figuras centrais no desenvolvimento do Xbox Live e do Game Pass, afirmou que a marca parece “não saber mais quem é”.
O executivo comentou que a Microsoft precisa decidir de uma vez o que o Xbox realmente quer ser — uma fabricante de consoles ou uma publicadora de jogos. Para ele, a tentativa de equilibrar os dois papéis está causando mais danos do que benefícios. Ybarra destacou que, nos últimos anos, o Xbox vem perdendo foco, tentando manter relevância em todas as frentes (PC, consoles, nuvem e publicação), mas sem se firmar em nenhuma delas. Ele sugeriu que a marca deveria se concentrar em ser a maior publicadora de conteúdo de entretenimento do mundo e abandonar o que não faz mais sentido dentro dessa visão.
As críticas ganharam força após uma interação com o influenciador Timdog, que perguntou a Ybarra o que ele achava do novo Xbox Ally não vir com o sistema operacional do Xbox, e sim com o Windows 11. A resposta do ex-executivo foi direta e contundente, apontando que a decisão reflete a atual confusão estratégica da marca, que já não investe em hardware ou em exclusividade de jogos. Ele também atacou a recente campanha “This is Xbox”, chamando-a de “ideia errada na hora errada”.
Abaixo, vocês conferem a resposta completa de Ybarra:
“Faz sentido para mim já que eles estão fora de hardware e jogos exclusivos. Isso inclui o sistema operacional dedicado, o que é essencial para qualquer dispositivo de console (facilidade de uso, segurança, etc.). Eles são um publicador que vai abraçar o Windows. A maioria apenas piratará todos os jogos para os dispositivos a menos que usem Steam. Por que a Steam ajuda na pirataria? Porque é uma experiência impecável com ótima política de devolução. O Windows está longe de ser uma experiência impecável e nunca será.
Do ponto de vista de negócios é uma estratégia razoável – se eles conseguirem fazer bons jogos e abraçar Steam (venderá no PS, Nintendo e PC). Grande se, dado o histórico de jogos dos últimos 15 anos.
Só um idiota continuaria a fabricar hardware de console quando todos os jogos vão (ou irão) para terceiros. Para mudar, eles teriam que voltar aos exclusivos, fazer hardware ótimo com prejuízo e se esforçar para vencer na sala de estar. Essa não é a estratégia deles (o que está bem), mas por alguma razão eles continuam no meio-termo, sem clareza, causando mais dano sem motivo. Como eu disse mil vezes, tenha uma estratégia clara, arranque o curativo e foque na execução. Caso contrário, morte por mil agulhas.
Também, abandone a campanha ‘Isto é um Xbox’. Ideia errada, hora errada. Xbox é sobre jogos – jogos sempre dominam o mundo. E se eles não tiverem paridade entre o console e qualquer outro ‘dispositivo’… então simplesmente não é um Xbox. Confuso – quem quer que tenha concebido isto claramente não joga.”
Mike Ybarra ingressou na Microsoft em 2000 e foi uma das figuras mais influentes na evolução da marca Xbox ao longo de quase duas décadas. Como vice-presidente corporativo da divisão Xbox Live, Game Pass e Mixer, ele liderou iniciativas que moldaram o ecossistema da marca, incluindo o fortalecimento da infraestrutura online do Xbox 360, a expansão do Xbox Live para o PC e o desenvolvimento inicial do Xbox Game Pass, que se tornaria um dos pilares do modelo atual de negócios da empresa.
Além disso, Ybarra teve papel importante na integração entre Xbox e Windows, promovendo o conceito de jogos multiplataforma dentro da Microsoft. Após deixar a empresa em 2019, ele se tornou presidente da Blizzard Entertainment, onde permaneceu até 2024, antes de seguir carreira independente. Sua trajetória é lembrada por seu foco em experiências de usuário, conectividade e acessibilidade, pilares que ajudaram o Xbox a consolidar sua identidade moderna.
