Ex-desenvolvedor de Call of Duty, Glen Schofield, critica aquisição da Activision pela Microsoft: “O jogo não é mais o mesmo”

O ex-diretor de Call of Duty, Glen Schofield, criticou abertamente a aquisição da Activision pela Microsoft durante entrevista ao site VGC na Gamescom Asia, em Bangkok. O veterano, que dirigiu Modern Warfare 3 (2011) e fundou o estúdio Sledgehammer Games, afirmou que a fusão com uma megacorporação está prejudicando a essência da franquia e o espírito criativo das equipes que a tornaram um fenômeno global.

Ex-desenvolvedor de Call of Duty critica aquisição da Activision pela Microsoft: “O jogo não é mais o mesmo”

Segundo Schofield, a integração à estrutura da Microsoft pode causar o mesmo declínio que ele observa em outras propriedades da empresa:

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“Eu me preocupo imensamente. Porque o que aconteceu com Gears of War? Onde está Halo? Você olha para a EA, olha para essas grandes companhias, e se pergunta: ‘onde estão os jogos que definiram essas marcas?’. Muitos simplesmente caem no esquecimento.”

Ele também destacou que o ritmo e o modelo de produção anual de Call of Duty são elementos centrais do seu sucesso, e que mudar isso seria um erro fatal:

“Se eles decidirem lançar o jogo a cada dois anos, vão perder um bilhão de dólares por ano. É por isso que Call of Duty nunca fez isso. Essa máquina precisa girar todo ano.”

Schofield ainda expressou preocupação com a mudança na cultura interna e nos incentivos:

“Depois que uma empresa é assimilada por outra desse tamanho, ela passa a adotar seus traços. Eu não sei ao certo, mas imagino que o sistema de bônus da Activision já tenha sido substituído pelo da Microsoft. E as pessoas vão perceber que ‘não é mais a mesma coisa’.”

O criador de Dead Space foi ainda mais direto ao criticar a perda de qualidade recente:

“Vou dar um exemplo egoísta: desde que saí da Sledgehammer, nenhum dos jogos tem sido muito bom. O último Modern Warfare 3 teve nota 50. Eles ainda vendem bem, claro. Mas não são os mesmos jogos. Não têm mais o mesmo toque.”

Para Schofield, a era de ouro de Call of Duty acabou junto com o período em que diretores experientes tinham liberdade criativa.

“Eu tive sorte de estar no auge da EA e da Activision. Era uma época em que os melhores estavam lá. Modern Warfare 3 foi o último Call of Duty a ganhar o prêmio de Jogo de Ação do Ano, e meus outros dois foram indicados. Hoje, você não vê mais isso.”

Além das críticas à Microsoft e à Activision, Schofield também comentou outros pontos da indústria. Ele defendeu o uso de inteligência artificial generativa como ferramenta de apoio à criação de jogos, afirmou que a falta de diretores qualificados é o principal problema das produções AAA atuais e lamentou o fim da E3, dizendo que o evento fazia falta como vitrine global.

“A indústria está doente, mas não perdeu a criatividade. Precisamos curá-la. Faltam líderes que saibam dirigir um jogo e inspirar equipes. E precisamos de eventos como a E3, que faziam o público sonhar.”

Mesmo com as críticas, Glen Schofield mantém esperança de que o setor volte a valorizar o talento e a inovação acima das estruturas corporativas.

Eric Arraché
Eric Arrachéhttps://criticalhits.com.br
Eric Arraché Gonçalves é o Fundador e Editor do Critical Hits. Desde pequeno sempre quis trabalhar numa revista sobre videogames. Conforme o tempo foi passando, resolveu atualizar esse sonho para um website e, após vencer alguns medos interiores, finalmente correu atrás do sonho.