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Tudo o que você precisa saber sobre Apocalipse nos Trópicos, novo documentário sobre Lula, Bolsonaro e Malafaia

A cineasta Petra Costa está de volta com mais um retrato contundente do Brasil contemporâneo. Após o sucesso de Democracia em Vertigem, indicado ao Oscar em 2020, Petra lança Apocalipse nos Trópicos, seu novo documentário que estreou mundialmente no Festival de Veneza e, na última segunda-feira (14), chegou ao catálogo da Netflix. Com uma abordagem crítica e pessoal, a diretora investiga a interseção entre fé e política no país, focando na crescente influência de líderes evangélicos nas decisões de Estado.

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A ascensão evangélica e a política nacional

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Apocalipse nos Trópicos se debruça sobre uma das transformações mais velozes do cenário religioso brasileiro: o crescimento do número de evangélicos, que saltou de 5% para mais de 30% da população em apenas quatro décadas. Segundo Petra Costa, trata-se de uma das mudanças religiosas mais rápidas da história moderna. O documentário aponta que esse avanço se deu não apenas pela atuação intensa das igrejas nas periferias, mas também pela ausência prolongada da esquerda em territórios que passaram a ser dominados por discursos de prosperidade e salvação.

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A narrativa sugere que, ao mesmo tempo em que a Igreja Evangélica ocupava espaços antes negligenciados pelo Estado, ela também soube capitalizar sobre políticas sociais promovidas por governos progressistas, atribuindo seus efeitos positivos à fé cristã.

Malafaia, Bolsonaro e o “dominionismo” em foco

Com depoimentos exclusivos, o longa traz à tona os bastidores do envolvimento político de nomes centrais do país. Entre eles, destacam-se o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ex-presidente Jair Bolsonaro e o pastor Silas Malafaia, figura-chave do movimento evangélico. Malafaia é retratado como um dos principais articuladores da aproximação entre fé e poder durante o governo Bolsonaro, embora suas posições tenham oscilado ao longo do tempo — incluindo duras críticas ao ex-presidente após sua derrota nas urnas.

Um dos momentos emblemáticos do filme é a reconstituição de cenas de 2016, quando parlamentares foram abençoados em línguas estranhas por evangélicos antes da votação do impeachment de Dilma Rousseff. Essas imagens, captadas originalmente para Democracia em Vertigem, reaparecem aqui como símbolos do avanço do fundamentalismo religioso na política nacional.

A obra também aborda o conceito de “dominionismo” — doutrina segundo a qual os cristãos devem ocupar todas as esferas de poder. Essa visão, presente tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos, é apontada como uma ameaça às bases democráticas, especialmente por colocar em risco os direitos de minorias em nome de uma suposta missão divina.

Lula e a disputa por corações e mentes

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Outro eixo importante do documentário é a análise da relação entre Lula e o eleitorado evangélico. Desde a campanha presidencial de 2022, o atual presidente tem feito esforços para reconstruir pontes com o segmento religioso, que se tornou decisivo nas urnas. Em uma conversa gravada no filme, Lula reflete sobre o apelo direto das igrejas em comparação com sindicatos e partidos políticos: enquanto a esquerda convoca o povo à mobilização, os pastores oferecem explicações simples e respostas imediatas para o sofrimento cotidiano.

Essa abordagem, centrada na Teologia da Prosperidade, é apresentada como uma estratégia eficaz para angariar fiéis e votos — em especial em momentos de crise, como durante a pandemia de Covid-19. Nesse período, muitas igrejas funcionaram como centros de apoio espiritual e social, mas também como difusoras de mensagens negacionistas.

Estrutura, narrativa e impacto internacional

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Dividido em seis capítulos com títulos simbólicos como “O influenciador” e “Deus nos tempos do cólera”, o filme conduz o espectador por uma linha do tempo que mescla passado e presente, conectando episódios marcantes da história recente do Brasil. Ao narrar em primeira pessoa, Petra confere à obra um tom introspectivo e inquisitivo, revelando, inclusive, que leu a Bíblia pela primeira vez durante o processo de produção.

Com duração de 110 minutos, o documentário também transcende as fronteiras brasileiras. Ele revela a atuação de grupos evangélicos norte-americanos durante a ditadura militar e o fortalecimento de alianças ideológicas com figuras como Donald Trump, nos EUA. A influência de organizações como “The Family” — grupo de lobby religioso que buscou converter políticos brasileiros — é retratada como parte de um projeto mais amplo de dominação religiosa travestida de moral cristã.

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João Victor Albuquerque
João Victor Albuquerque
Apaixonado por joguinhos, filmes, animes e séries, mas sempre atrasado com todos eles. Escrevo principalmente sobre animes e tenho a tendência de tentar encaixar Hunter x Hunter ou One Piece em qualquer conversa.