A série Grotesquerie, criada por Ryan Murphy, o mesmo responsável por Irmãos Menendez, vem ganhando destaque com sua abordagem única ao mistério de assassinatos, acrescentando uma camada profunda com as várias referências bíblicas espalhadas ao longo dos episódios. A trama acompanha a detetive Lois Tryon, interpretada por Niecy Nash-Betts, enquanto investiga uma série de assassinatos grotescos encenados com base em cenas bíblicas, e à medida que o caso avança, a investigação se torna pessoal. Além disso, a freira local Megan Duval (Micaela Diamond) também se envolve no caso, formando uma parceria inesperada com a detetive.
A seguir, analisamos algumas das principais referências bíblicas que moldam o enredo de Grotesquerie, desde os pecados capitais até recriações de cenas icônicas do Novo Testamento.
O Pecado Capital da Gula: Um Motivo Recorrente
No primeiro episódio, somos introduzidos ao tema do pecado capital da gula, que se torna um motivo central na série. Lois Tryon é apresentada como uma detetive emocionalmente exausta, lidando com a condição crítica de seu marido em coma e os problemas de sua filha com distúrbios alimentares. O primeiro crime investigado envolve a morte brutal da família Burnside, progressistas que eram queridos na comunidade. O patriarca da família foi cozido e servido aos sobreviventes, forçados a comer sua carne, o que causou sua morte por choque.
Esse crime inicial reflete o pecado da gula, que aqui simboliza a ideia de “comer os próprios”, uma crítica que o assassino faz aos progressistas sociais. A escolha dessa família para o crime transmite uma mensagem clara sobre os excessos e as consequências de suas crenças, e esse tema continua ao longo dos episódios.
A Recriação da Última Ceia: Um Aviso Final
Outro marco na narrativa religiosa de Grotesquerie é a recriação da Última Ceia. Dentro da igreja onde a irmã Megan e o padre Charlie trabalham, o assassino cria uma cena grotesca inspirada nesse evento bíblico, um momento central para o cristianismo, que deu origem ao sacramento da comunhão. As vítimas são dispostas em uma mesa de altar, mimetizando a disposição de Jesus e seus apóstolos.
Essa cena não é apenas mais um crime horrível, mas um aviso direto para Lois: o tempo para capturar o assassino está acabando. Paralelamente, o episódio apresenta um jantar entre Lois e sua filha, onde o tema da gula retorna, ligando os episódios iniciais ao simbolismo do fim iminente.
O Pecado Capital da Luxúria: Excesso e Punição
No terceiro episódio, o pecado da luxúria é explorado através do assassinato de dançarinas exóticas e trabalhadoras do sexo, vítimas que Lois já havia salvo de overdoses e doenças. A cena do crime faz referência à pintura “Sábado das Bruxas”, de Francisco Goya, uma obra que aborda temas de punição e repressão, especialmente contra mulheres.
A crítica ao pecado da luxúria é destacada por meio da análise da irmã Megan, que sugere que o assassino vê a si mesmo como um profeta, alertando sobre o fim dos tempos. Esse contraste entre os assassinatos e os momentos de indulgência, tanto dos personagens quanto das vítimas, reforça a ideia de que os vícios têm consequências mortais.
Versículos Bíblicos e Inferno: Um Código para o Apocalipse
No decorrer da investigação, Lois e Megan decifram coordenadas que os levam a um local desértico, onde encontram um crescente poço de fogo, que Megan associa a um inferno bíblico. Essa referência às chamas do inferno intensifica a percepção de que o assassino se vê como um agente do julgamento divino, punindo aqueles que ele considera culpados de “pecados”.
Ao citar o Salmo 88:6-7, Megan destaca a conexão entre o estado emocional de Lois, que vive uma espécie de purgatório pessoal devido à situação de seu marido em coma, e o cenário infernal que estão investigando. Esse paralelismo entre o purgatório e o inferno sugere uma jornada espiritual tanto para Lois quanto para Megan, enquanto lutam para desvendar os crimes e lidar com suas próprias questões internas.
Simbolismo do Dia do Julgamento: O Fim se Aproxima
À medida que a série se aproxima de seu clímax, o simbolismo do Dia do Julgamento se torna mais evidente. Em uma cena crítica, Lois e Megan resgatam uma mulher coberta de sangue no meio de uma estrada deserta, enquanto fogem das chamas. Ao chegarem em um motel, descobrem que não há contato com o mundo exterior, e as únicas transmissões na TV mostram cenas de desastres globais, como incêndios florestais e a pandemia de COVID-19. Essas imagens reforçam a ideia do apocalipse bíblico, com o assassino claramente acreditando que os tempos finais estão se aproximando.
O “Glorioso” Final de Lois: Justiça e Revelação
No desenrolar dos eventos, informações sobre a vida pessoal de Lois começam a surgir nas cenas de crime. Um antigo criminoso, conhecido como “Glorioso”, é libertado da prisão e se torna uma peça-chave no mistério. O nome “Glorioso” faz referência às descrições bíblicas das qualidades divinas, e embora ele não seja o verdadeiro assassino, seu papel na trama sugere uma conexão com o julgamento final que está por vir.
Esses momentos simbolizam o ápice do mistério de Grotesquerie, onde os temas religiosos se entrelaçam com a história pessoal de Lois e com a jornada de redenção que tanto ela quanto Megan estão vivenciando.