Roger Abdelmassih, ex-referência em reprodução humana no Brasil, cumpre atualmente pena de 173 anos de prisão na Penitenciária Dr. José Augusto Salgado, em Tremembé (SP), conhecida como “a prisão dos famosos”. Condenado por estupro de dezenas de pacientes, o ex-médico, hoje com 80 anos, ainda tenta recorrer à Justiça em busca de prisão domiciliar por motivos de saúde.
A história de Abdelmassih voltou ao debate público com a estreia da série Tremembé, produção do Prime Video que revisita casos reais de criminosos de grande notoriedade, incluindo o dele. A trama recria o ambiente e os personagens que transformaram o presídio paulista em palco de alguns dos crimes mais discutidos do país, como os de Suzane von Richthofen, Elize Matsunaga e o próprio ex-médico.
Entre laudos médicos e negativas da Justiça
A defesa de Abdelmassih, liderada por sua esposa e advogada Larissa Sacco Abdelmassih, vem tentando há anos transformar sua pena em prisão domiciliar humanitária. O argumento central é o estado de saúde debilitado do condenado, que sofre de hipertensão, doença coronariana e hiperplasia prostática, além de estar, segundo a defesa, em cuidados paliativos.
No entanto, laudos oficiais solicitados pela Vara de Execuções Criminais de São José dos Campos e pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) têm apontado que o ex-médico mantém quadro clínico estável, com doenças controladas e tratamento adequado dentro da penitenciária.
Mesmo assim, a defesa insiste em novos recursos. O STJ ainda analisa um pedido de habeas corpus alegando “risco de morte iminente”, mas decisões anteriores do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) e da própria corte superior já negaram o benefício, sustentando que não há constrangimento ilegal nem impossibilidade de tratamento médico no cárcere.
O retorno à “prisão dos famosos”
A vida de Abdelmassih é marcada por idas e vindas entre o hospital e a penitenciária. Desde 2020, ele chegou a cumprir prisão domiciliar alegando vulnerabilidade à Covid-19, decisão posteriormente revogada a pedido do Ministério Público. Os promotores argumentaram que o ex-médico não apresentava risco clínico grave e que nenhum cuidado necessário lhe era negado na prisão.
Em agosto de 2021, o TJ-SP reafirmou essa posição, destacando que problemas cardíacos ou de idade avançada não configuram motivo suficiente para transferi-lo ao regime domiciliar. O desembargador José Raul Gavião de Almeida resumiu a decisão dizendo que o benefício é “restrito a quem cumpre pena em regime aberto, o que não se aplica ao caso”.
A revogação levou o ex-médico de volta à Penitenciária 2 de Tremembé, onde divide o espaço com outros nomes de grande repercussão da crônica policial brasileira. A transferência foi acompanhada de exame no Instituto Médico Legal e registro formal no Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).
O médico que fugiu e foi capturado no Paraguai
Condenado em 2010, Roger Abdelmassih não foi preso imediatamente devido a um habeas corpus concedido pelo Supremo Tribunal Federal. Em 2011, após tentar renovar o passaporte, o benefício foi cassado, mas ele já havia fugido do país.
Durante três anos, figurou na lista de procurados da Interpol, até ser capturado em Assunção, no Paraguai, em 2014, em uma operação conjunta com a Polícia Federal brasileira. Desde então, cumpre pena em São Paulo, com curtos períodos de internação hospitalar autorizados pela Justiça.
A sentença e a imagem pública
Além da condenação penal, Abdelmassih teve seu registro profissional cassado em 2009 pelo Conselho Regional de Medicina (Cremesp). O caso abalou a credibilidade de clínicas de fertilização e levantou discussões sobre ética médica, poder e impunidade.
Hoje, aos 80 anos, o ex-médico segue sendo um dos últimos detentos de grande notoriedade ainda vivos em Tremembé. Sua permanência no presídio reforça o caráter simbólico do local, conhecido por abrigar personagens cujos crimes transformaram o imaginário do país sobre o limite entre fama e brutalidade.
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